Quatro

Elliot Garden

Eu só podia ter jogado pedra na cruz em outra vida. 

Estava  tudo ruindo. 

E o pior e a preocupação, a preocupação me domina assim que falo com o médico só de o estado do meu pai. 

Já estava antes e agora piorou mil vezes. Meu estava internado, passou mal na tarde de domingo. 

— Ele não quer o transplante.— falo ao médico.— Não tem outra coisa que poderia ser feito? Algo que pudesse melhorar? 

Estou praticamente desesperado. 

— Sinto muito.— ele fala me confortando.— O que é possível fazer além do transplante já estamos fazendo. Estamos dando o nosso melhor para a recuperação do seu pai.— ele continua.— Mas a condição dele é preocupante e delicada, e a idade não contribui. 

— Ele vai poder ir para casa? — pergunto, minha vontade era chorar, mas precisava ser forte. 

— Vou liberar ele, ficar em casa com a família é muito melhor, já que os medicamentos são orais não irá afetar o tratamento.— fala e vai saindo, mas antes que dê muitos passos volta.— Mas a qualquer sinal de alguma coisa, o traga rapidamente para o hospital. Sem nem pensar duas vezes. 

— No mesmo instante.— galo.

— Então estamos combinados.

Concordo e vou para o quarto onde meu pai está. 

— Filho..— ele fala com sua voz em um tom forte. — Vou poder ir para casa? 

Meu pai foi um belo rapaz em sua juventude, acho que se o envelhecimento não tivesse chegado tão rápido ele seria até hoje, mesmo com seus 70 anos. O rosto aparentava todo o cansaço das dores que sentiu no dia anterior. 

— Sim.— falo também cansado.— Mas cuidado dobrado, e pai, por favor, se sentir qualquer coisa me fale.— suplico a ele. 

Meu pai não me falava quando estava sentindo alguma coisa. Quando eu vi, ele já estava sem conseguir respirar e segurando forte o peito. 

Ele tinha essa mania teimosa.

— Eu não quero preocupar você com alarmes falsos.— ele fala. — E você também precisa descansar. 

— Pai, em relação a você e sua saúde nunca são alarmes falsos. — falo o olhando. — O médico deu alta então vamos para casa, irei procurar alguém para ficar com você.

— Não precisa fi.....

— Isso não está em discussão. — corto ele, tento não ser tão duro, mas se deixar ele com essas ideias, ele insiste até o fim.

Suspiro.

— Só estou preocupado pai.— falo e vou até ele e seguro sua mão.

— Eu sei filho, eu sei.— ele fala.

Então arrumamos as coisas dele, as enfermeiras vêm preparar ele para ir para casa, tirar o aparelhos, depois recebemos a alta e a receita dos medicamentos.

Algum tempo depois que saímos do hospital, chegamos em casa. Lídia, a governanta da casa do meu pai, nos recebe. 

Lídia era como uma segunda mãe, na casa dos 60 anos, mas ainda tinha todo seu espírito de vida.

Depois de acomodarmos meu pai no quarto dele. Desço com ela para a cozinha. 

— Ele está bem agora? — ela pergunta preocupada. — Se perguntar a ele, ele sempre fala que está bem. 

Lídia conhece meu pai desde que era criança, já que sua família também trabalhou para meus avós. 

Eles se consideravam irmãos. 

— Não muito Lídia, mas espero que ele fique.— falo me sentando na mesa da cozinha e apoiando meus braços nela. — O que você acha de contratar alguém para ficar com ele aqui?  

— Acho que dou conta.— ela fala se sentando ao meu lado. — Não tem nenhum procedimento complexo, mas se for mais seguro para você contratar. 

— Eu confio em você e sei que sabe agir.— falo e suspiro lentamente.— Acho que vou voltar a morar aqui. 

Estava com essa decisão desde que ele adoeceu, e agora só se confirma. 

— Eu acho muito bom isso filho. Ele ter você por perto.— ela fala e segura minha mão, olho para ela e vejo seus olhos cheios de água. 

Dou um abraço nela. 

Lídia era uma pessoa muito sensível, mas quando eu e meu pai precisamos do seu apoio na morte da minha mãe ela foi a pessoa mais forte do mundo.

Mas agora dava para perceber que ela não aguentaria ser forte.

— Você está uma manteiga derretida Lídia.— brinco com ela para tirar a tensão. — Vou subir para dar tchau a ele, e vou na empresa. Qualquer coisa você me avisa. 

— Vá, cuidado. 

Dou tchau a ela e subo as escadas para o quarto do meu pai. 

A casa do meu pai era uma mansão, muito grande mesmo, toda branca, com área de piscina, de lazer, sala de música e muita coisa que se imaginar. 

Cheguei ao quarto que meu pai agora ficava, depois que minha mãe morreu, ele mudou de quarto, não conseguiu dormir no quarto que viveu com ela, com todas as lembranças. 

— Pai? — o chamo quando vejo ele sentado ao lado da janela. Ele se vira para mim. — Vou para empresa, então qualquer coisa me liga, qualquer coisa mesmo. 

— Vai tranquilo filho.— ele me dá um sorriso. 

— Mais tarde quando sair da empresa — começo a falar ainda em pé escorado na porta. — Vou passar em casa e pegar algumas roupas e minhas coisas, vou passar um tempo aqui. 

— Filho, já falei que.....

— Eu só quero que melhore, como vou trazer minha namorada aqui se o senhor não melhorar? 

Ele arregala os olhos na hora. 

— Uma namorada? — ele fala e vejo um sorriso no seu rosto. 

Olha só o que deixa o velho feliz. 

— Isso te deixa feliz né meu velho? — eu ri.

— Claro filho,— ele fala sentado me olhando rindo.— Eu vou partir feliz sabendo que não estará sozinho nesse mundo.

— Pai....

— Eu quero que você encontre o mesmo amor que eu encontrei em sua mãe.— ele fala e dá um sorriso com os olhos fechados, provavelmente lembrando dela.— Um dia você vai saber do que eu estou falando, e quero que isso aconteça antes que eu parta dessa vida. 

— Não fale em parti, vai dar certo, ainda vou ver você correndo com meus filhos no quintal. — falo e ele sorri mais ainda.

— Meu sonho filho, meu sonho. — fala caminhando até onde estou, seguro meu ombro e completa: — Agora cá trabalhar, tem um futuro para garantir. 

Até me sinto mal de mentir para meu pai sobre uma namorada, mas ele fica tão feliz que desmentir não é uma opção. 

Eu vou arrumar alguma pessoa que finja só por um tempo, um contrato onde ela não irá perder. 

Eu só quero ver meu pai feliz. 

Já perdi minha mãe, perder outra pessoa não quero por tão cedo sentir a mesma dor novamente. 

Assim que penso como fazer para isso dar certo. 

Ela vem a minha mente, a Feiticeira. 

Dou um sorriso. 

Agora quem vai te enfeitiçar sou eu. 

Antes só preciso resolver algumas coisas em minha vida. 

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