Prólogo - Parte 2

Entrei no primeiro taxi que passou na minha frente, está tão tarde que eu nem imaginei que iria conseguir pegar um, dei meu endereço a ela após me acomodar no banco, o bolinho na minha mão parecia tão apetitoso, mas eu estava sem vontade alguma de comê-lo agora.

— É seu aniversário? — perguntou a mulher no volante. Parando para analisar, essa é a primeira vez que eu pego um taxi com uma mulher dirigindo, pelo menos não é um cara estranho que fica me encarando pelo espelho.

— Sim, 40 anos com um cansaço de 80 — brinquei e ela riu.

— Já fez seu pedido de aniversário? — se referiu a vela apagada do bolinho em minha mão.

— Sim, mas eu não tenho esperança dele se realizar, é meio surreal sabe — comentei.

— A esperança deveria ser a última a morrer — falou ela. De repente o carro começou a andar rápido demais e quando eu percebi já tínhamos passado do caminho até meu apartamento.

— Ei, onde estamos indo? Minha casa já passou — falei desesperada.

— Estamos indo realizar seu desejo — ela desviava de alguns carros e pisava fundo no acelerador.

Uma luz forte me cegou e tudo ficou silencioso. Quando minha visão voltou, notei que estava sentada no chão de uma sala totalmente branca e vazia.

— Eu morri? Ai, meu Deus. Eu morri bem no dia do meu aniversário — me desesperei.

— Você não morreu — disse a taxista aparecendo do meu lado me dando um baita susto.

— Foi você — apontei para ela depois de me levantar. — Você é algum tipo de anjo da morte ou sei lá, uma bruxa maluca que quer roubar minha juventude? — perguntei.

— Roubar sua juventude? Que Juventude querida? — apoiou o peso do corpo em uma perna e cruzou os braços, essa pose dela está me dando uma enorme vontade de bater nela.

— Então o que você é? 

— Eu sou a Cupido, não está obvio? — falou ela apontando para a própria roupa. Eu não tinha notado antes mas ela usava um belo vestido rodado em tons rosa claro e rosa, com vários corações nele, ela tinha uma bolsa com flechas nas costas e arco na mão.

— Os cupidos não são bebés? — perguntei confusa.

— E bebês não crescem? — falou caminhando até mim. Fiz pose de luta para o caso dela ser uma maluca e tenta me atacar.

— Que seja. Por que eu estou aqui? O que quer de mim? — eu quis saber.

— Primeiro sente-se — uma cadeira apareceu magicamente do meu lado. Fiz o que ela pediu. — Como estou feliz hoje, resolvi realizar seu desejo de aniversário — falou ao se sentar em outra cadeira que apareceu, logo uma mesa apareceu também. 

Ok, eu vou fingir que tudo isso é normal e que eu estou acostumada com coisas aparecendo magicamente na minha frente.

— Mas eu nem te contei meu pedido — falei.

— Eu sou uma cupido, querida. Se o pedido é de amor, ele chega até mim — cruzou as pernas e relaxou as costas no encosto da cadeira. — Seu pedido me pareceu divertido — comentou.

— Divertido? Eu não ter sorte alguma no amor é divertido para você?

— Sorte no amor todo mundo tem, você que fez escolhas erradas e acabou sozinha, ou seja, a culpa é sua — falou ela. — Vou realizar seu desejo, vou te dar uma chance de mudar seu passado, uma chance com todos os caras que você já teve a oportunidade de ter uma linda história, espero que dessa vez você faça a escolha certa.

— Com todos?

— Sim, mas tem um pequeno detalhe e essa é a parte divertida, pelo menos para mim.

— E o que seria? — questionei.

— Você só terá suas memorias até o momento em que fez a escolha errada e após fazer a escolha certa você fará seu próprio destino, sua memória só irá voltar depois que você tiver o marco da sua história. Você não vai poder alterar as coisas que disse ou que fez, apenas a escolha errada que fez.  E ai? Topa? — propôs.

— Não tem nada escrito em linhas pequenas no final do contrato? — perguntei desconfiada.

— É um desejo de aniversário lesada, não um contrato — falou ela.

— Nesse caso, eu topo — falei.

— Ótimo — ela se levantou e tudo sumiu, inclusive minha cadeira e eu cai de bunda no chão, mas logo me levantei. — Quase me esqueci, nada antes do momento da escolha poderá ser alterado — ela falou e eu assenti.

— E agora? 

— Agora fique paradinha ai — ela estava com o arco e flecha em mãos e quando eu pensei em dizer algo, ela atirou em meu peito. Tudo ficou escuro e silencioso, mas eu consegui escutar ela dizendo: — Faça a escolha certa dessa vez.

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