Capítulo 1 - Parte 2

Olhei para Dylan ao meu lado que tinha o cenho franzido e os lábios em um pequeno bico, apontei para o quarto dele no andar de cima e ele assentiu me seguindo até o cômodo. Ele se sentou no tapete com as pernas cruzadas iguais a de índio e eu me sentei na frente dele fazendo o mesmo, ele ainda estava pensando e quando seu olhar se encontrou com o meu seu rosto de retorceu em uma careta.

— Eu não quero me casar com você, você tem piolho — fez cara de nojo.

— E você é fedido — dei língua a ele.

— Vamos sempre ser amigos ne? — questionou.

— Sim, sempre seremos amigos, mesmo se por acaso a gente se casar — falei a ele.

— Promete? — estendeu o mindinho e eu o enlacei com o meu.

— Prometo.

Dylan e eu não sabíamos que nossa vida iria virar de cabeça para baixo, assim que completamos 10 anos nossos pais ficaram malucos. Dylan acompanhava os mais velhos em reuniões — chatas, segundo ele —, e eu era obrigada pelas matriarcas da família a frequentar festas cheias de frufrus, um pouco tradicional demais porém eu sabia que era um pequeno treino para o futuro. Fui obrigada a fazer balé e o Dylan a fazer alguma arte marcial, pelo menos ele teve a opção de escolher.

Os poucos amigos que tínhamos se afastaram de nós com a desculpa de que não tínhamos tempo para brincar e acabou que nas horas livres que tínhamos, brincávamos sozinhos entre nós. 

Três anos se passaram e eu entrei na tão sonhada adolescência, nem tão sonhada assim pois ela me trouxe; estrias, espinhas e cólicas, muitas cólicas. As meninas da minha classe na minha idade já tinham curvas e seios grandes, enquanto eu não tinha nada além das minhas grandes espinhas. 

Meus pais me proibiram de brincar com Dylan sem um adulto por perto, por que segundo a minha mãe ‘a banana do Miller mais novo estava ficando madura’, ingênua demais para entender, na época eu fiquei muito brava com eles, mas hoje em dia eu entendo muito bem o significado daquela frase. 

Aos 15 anos eu estava indignada por ter dois limões no lugar de seios e comecei a ir à academia com a minha mãe, poderia atrapalhar meu crescimento mas eu queria ter um belo corpo e não me importei com as consequências, mas hoje eu sinto o resultado das inúmeras sessões. Dylan foi para outro pais fazer uma viagem com seu pai e eu só vi ele no natal, ele estava diferente, mais alto e com uma personalidade irritante.

— Não lembro de você ser assim — disse ele do outro lado da mesa de jantar.

— Assim como? — questionei confusa.

— Feia e baixinha — ele disse e começou a rir, ergui meu pé e dei um chute em sua canela.

— Como você ficou irritante depois dessa viagem — ele me deu língua e voltou a se concentrar em sua comida.

Foi nessa idade que eu tive minha primeira paixonite. Pele clara, cabelo negro como a noite, olhos azuis como o céu e o sorriso, ai aquele sorriso. Quando ele sorri, meu mundo muda de cor e eu me derreto quando vejo aquelas covinhas, maldito seja aquele sorriso.

O único problema é que esse garoto perfeito e que me fazia suspirar, era o capitão do time de basquete.

  Ele estudava na mesma sala que eu, era popular e paparicado pelas meninas, nunca que ele iria olhar para mim tendo tantas garotas aos seus pés.

Não que eu fosse feia naquela época, longe disso, eu era um pouco popular entre os garotos e me destacava entre as meninas, por meu cabelo longo ou por minhas curvas. Meu cabelo castanho claro batia no meio das costas, graças a academia eu ganhei seios grandes e muitas curvas, meus olhos são verdes e muitas pessoas já me falaram que quando eu estou brava ou de mal humor, eles ficam mais escuros. Porém eu não ligava muito para ser popular ou não, eu estava ali para estudar e não para ser coroada rainha do baile.

     3 anos se passaram, era dia 9 de Setembro de 2008 e eu estava me preparando mentalmente para voltar a escola. Mas pelo menos esse ano teria uma coisa boa, eu poderia concorrer para ser líder de torcida, só tinha que esperar eu completar 18 anos na proxima semana, essa atividade extra curricular vai me ajudar a manter meu corpo sem ter que ir para a academia e de bonus eu poderia ficar mais perto da minha paixonite. 

   Naquele dia eu levantei mais cedo, tomei meu banho sem pressa e corri para frente do espelho para fazer um penteado bonito; fiz duas tranças laterais medianas e deixei duas mechas fininhas soltas próximo da orelha, prendi o resto do cabelo em um rabo de cavalo junto com as tranças que ficaram soltas. Um pouco de rímel nos cílios e um gloss rosa nos lábios, alguns acessórios e pronto, agora só falta escolher a roupa.

   Entrei no meu closet e peguei; uma calça clara com alguns rasgos, uma blusa cinza de mangas longas e uma echarpe rosa, calcei um tênis de cano alto cinza para combinar com a blusa.

  Depois de pronta desci para tomar café e como sempre, meus pais não estavam em casa. Minha mãe deve estar dormindo ou fazendo massagem no spa, e meu pai provavelmente está trancado em seu escritório pensando em um jeito de aumentar sua fortuna, é tudo que ele tem feito ultimamente.

— Bom dia, Meg — Abigail, nossa cozinheira e governanta, me cumprimentou assim que eu me sentei na mesa da cozinha, ela estava lavando a louça.

   Ela é uma mulher de 42 anos, é uma mulata muito linda e tem os cabelos mais lindos que eu já vi, mesmo estando nessa idade ela ainda é bastante bonita e quase não tem rugas. 

— ‘dia, Abby — saudei a mais velha.

— Está bonita — elogiou ela enquanto secava as mãos em um pano de prato. — Fiz seu preferido — olhei para a mesa onde tinha tudo que eu mais gostava em porções pequenas. Tinha suco de morango, torradas, salada de frutas, cappuccino e o meu preferido, panquecas com calda de chocolate. — Hum, está faltando cor — ela disse se aproximando de mim. Do bolso do avental ela tirou um batom vermelho e com a ponta do dedo, passou em minha bochecha com batidinha. — Pronto, agora está parecendo viva — ela falou sorrindo e eu sorri me olhando no pequeno espelho que tirei da minha mochila.

— Obrigada — agradeci a ela.

— Ansiosa para ser uma líder de torcida popular no colégio? 

— Eu não quero ser popular, quero apenas manter meu corpinho bonito sem ter que ir para a academia — mordi a torrada e bebi um gole do suco em seguida.

— E também para estar mais perto da sua paixonite — ela falou e eu senti minhas bochechas queimarem.

   Abby estava mais presente na minha do que minha mãe e eu sempre contava tudo para ela, as vezes até pedia conselhos a mais velha e ela adorava conversar comigo sobre tudo, mas nosso assunto preferido era os garotos.

— Pronta para voltar ao “ninho de cobras”? — Mike disse ao entrar na cozinha. Mike era marido de Abby, tinha a mesma idade que ela, é negro e alto, segunda própria Abby ele tinha “borogodó”.

Bebi o ultimo gole do meu suco e peguei meu cappuccino me levantando.

— Agora estou — falei e ele sorriu pegando minha mochila no chão.

   

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