Olhei para Dylan ao meu lado que tinha o cenho franzido e os lábios em um pequeno bico, apontei para o quarto dele no andar de cima e ele assentiu me seguindo até o cômodo. Ele se sentou no tapete com as pernas cruzadas iguais a de índio e eu me sentei na frente dele fazendo o mesmo, ele ainda estava pensando e quando seu olhar se encontrou com o meu seu rosto de retorceu em uma careta.
— Eu não quero me casar com você, você tem piolho — fez cara de nojo.
— E você é fedido — dei língua a ele.
— Vamos sempre ser amigos ne? — questionou.
— Sim, sempre seremos amigos, mesmo se por acaso a gente se casar — falei a ele.
— Promete? — estendeu o mindinho e eu o enlacei com o meu.
— Prometo.
Dylan e eu não sabíamos que nossa vida iria virar de cabeça para baixo, assim que completamos 10 anos nossos pais ficaram malucos. Dylan acompanhava os mais velhos em reuniões — chatas, segundo ele —, e eu era obrigada pelas matriarcas da família a frequentar festas cheias de frufrus, um pouco tradicional demais porém eu sabia que era um pequeno treino para o futuro. Fui obrigada a fazer balé e o Dylan a fazer alguma arte marcial, pelo menos ele teve a opção de escolher.
Os poucos amigos que tínhamos se afastaram de nós com a desculpa de que não tínhamos tempo para brincar e acabou que nas horas livres que tínhamos, brincávamos sozinhos entre nós.
Três anos se passaram e eu entrei na tão sonhada adolescência, nem tão sonhada assim pois ela me trouxe; estrias, espinhas e cólicas, muitas cólicas. As meninas da minha classe na minha idade já tinham curvas e seios grandes, enquanto eu não tinha nada além das minhas grandes espinhas.
Meus pais me proibiram de brincar com Dylan sem um adulto por perto, por que segundo a minha mãe ‘a banana do Miller mais novo estava ficando madura’, ingênua demais para entender, na época eu fiquei muito brava com eles, mas hoje em dia eu entendo muito bem o significado daquela frase.
Aos 15 anos eu estava indignada por ter dois limões no lugar de seios e comecei a ir à academia com a minha mãe, poderia atrapalhar meu crescimento mas eu queria ter um belo corpo e não me importei com as consequências, mas hoje eu sinto o resultado das inúmeras sessões. Dylan foi para outro pais fazer uma viagem com seu pai e eu só vi ele no natal, ele estava diferente, mais alto e com uma personalidade irritante.
— Não lembro de você ser assim — disse ele do outro lado da mesa de jantar.
— Assim como? — questionei confusa.
— Feia e baixinha — ele disse e começou a rir, ergui meu pé e dei um chute em sua canela.
— Como você ficou irritante depois dessa viagem — ele me deu língua e voltou a se concentrar em sua comida.
Foi nessa idade que eu tive minha primeira paixonite. Pele clara, cabelo negro como a noite, olhos azuis como o céu e o sorriso, ai aquele sorriso. Quando ele sorri, meu mundo muda de cor e eu me derreto quando vejo aquelas covinhas, maldito seja aquele sorriso.
O único problema é que esse garoto perfeito e que me fazia suspirar, era o capitão do time de basquete.
Ele estudava na mesma sala que eu, era popular e paparicado pelas meninas, nunca que ele iria olhar para mim tendo tantas garotas aos seus pés.
Não que eu fosse feia naquela época, longe disso, eu era um pouco popular entre os garotos e me destacava entre as meninas, por meu cabelo longo ou por minhas curvas. Meu cabelo castanho claro batia no meio das costas, graças a academia eu ganhei seios grandes e muitas curvas, meus olhos são verdes e muitas pessoas já me falaram que quando eu estou brava ou de mal humor, eles ficam mais escuros. Porém eu não ligava muito para ser popular ou não, eu estava ali para estudar e não para ser coroada rainha do baile.
3 anos se passaram, era dia 9 de Setembro de 2008 e eu estava me preparando mentalmente para voltar a escola. Mas pelo menos esse ano teria uma coisa boa, eu poderia concorrer para ser líder de torcida, só tinha que esperar eu completar 18 anos na proxima semana, essa atividade extra curricular vai me ajudar a manter meu corpo sem ter que ir para a academia e de bonus eu poderia ficar mais perto da minha paixonite.
Naquele dia eu levantei mais cedo, tomei meu banho sem pressa e corri para frente do espelho para fazer um penteado bonito; fiz duas tranças laterais medianas e deixei duas mechas fininhas soltas próximo da orelha, prendi o resto do cabelo em um rabo de cavalo junto com as tranças que ficaram soltas. Um pouco de rímel nos cílios e um gloss rosa nos lábios, alguns acessórios e pronto, agora só falta escolher a roupa.
Entrei no meu closet e peguei; uma calça clara com alguns rasgos, uma blusa cinza de mangas longas e uma echarpe rosa, calcei um tênis de cano alto cinza para combinar com a blusa.
Depois de pronta desci para tomar café e como sempre, meus pais não estavam em casa. Minha mãe deve estar dormindo ou fazendo massagem no spa, e meu pai provavelmente está trancado em seu escritório pensando em um jeito de aumentar sua fortuna, é tudo que ele tem feito ultimamente.
— Bom dia, Meg — Abigail, nossa cozinheira e governanta, me cumprimentou assim que eu me sentei na mesa da cozinha, ela estava lavando a louça.
Ela é uma mulher de 42 anos, é uma mulata muito linda e tem os cabelos mais lindos que eu já vi, mesmo estando nessa idade ela ainda é bastante bonita e quase não tem rugas.
— ‘dia, Abby — saudei a mais velha.
— Está bonita — elogiou ela enquanto secava as mãos em um pano de prato. — Fiz seu preferido — olhei para a mesa onde tinha tudo que eu mais gostava em porções pequenas. Tinha suco de morango, torradas, salada de frutas, cappuccino e o meu preferido, panquecas com calda de chocolate. — Hum, está faltando cor — ela disse se aproximando de mim. Do bolso do avental ela tirou um batom vermelho e com a ponta do dedo, passou em minha bochecha com batidinha. — Pronto, agora está parecendo viva — ela falou sorrindo e eu sorri me olhando no pequeno espelho que tirei da minha mochila.
— Obrigada — agradeci a ela.
— Ansiosa para ser uma líder de torcida popular no colégio?
— Eu não quero ser popular, quero apenas manter meu corpinho bonito sem ter que ir para a academia — mordi a torrada e bebi um gole do suco em seguida.
— E também para estar mais perto da sua paixonite — ela falou e eu senti minhas bochechas queimarem.
Abby estava mais presente na minha do que minha mãe e eu sempre contava tudo para ela, as vezes até pedia conselhos a mais velha e ela adorava conversar comigo sobre tudo, mas nosso assunto preferido era os garotos.
— Pronta para voltar ao “ninho de cobras”? — Mike disse ao entrar na cozinha. Mike era marido de Abby, tinha a mesma idade que ela, é negro e alto, segunda própria Abby ele tinha “borogodó”.
Bebi o ultimo gole do meu suco e peguei meu cappuccino me levantando.
— Agora estou — falei e ele sorriu pegando minha mochila no chão.
Dei um beijo em Abby e segui Mike até o carro, ouvimos uma música com batida agitada e bagunçando muito, seguimos caminho para o colégio e assim que chegamos fizemos nosso toque se despedindo.Entrei no colégio e fui até meu armário pegar alguns livros, não tinha muita gente por ainda estar cedo mas ainda sim tinha alguns e o pouco que tinha me cumprimentava ao passar por mim. Esse ano eu estaria em uma sala nova, o diretor misturou as turmas para separar os grupos bagunceiros e isso foi a melhor coisa que ele fez pois eu jurei que se esse ano alguma bolinha de papel atingisse minha cabeça, eu seria presa por fazer alguém engolir uma delas.Assim que entrei na minha nova sala, cumprimentei alguns conhecidos e fui para o meu lugar, a penúltima cadeira na fila da janela. Eu gostava daquele lugar por que eu tinha uma vista privilegiada do jardim e eu amava ficar olhando aquelas rosas de várias cores, a minha preferida era a azul. Fiquei olhando para uma borboleta que pousou em uma da
Assim que o sinal tocou ele foi o primeiro a sair da sala, deve ter ido encontrar com os outros jogadores time. Um menino muito fofo com óculos estilo geek parou ao meu lado, ele não era feio e sim muito fofo, gordinho e sempre que falava comigo suas bochechas ficavam vermelhinhas, seu nome era Tommy. Já joguei algumas partidas de RPG com ele durante o intervalo e devo dizer que isso estimulava e muito minha imaginação.— Permita-me acompanha-la, milady — falou ele com o braço nas costas e um pouco curvado.— Será uma honra, milorde — enlacei meu braço no seu e saímos rindo da sala. Chegamos no refeitório e nossa mesa embaixo da arvore já estava esperando por nós, assim como meus outros amigos. Tommy colocou uma bandeja com meu almoço na minha frente assim que me sentei e os demais me encaravam com os olhinhos brilhando, somos 5 ao todo.— O que foi? — perguntei sentindo minhas bochechas queimarem, não gosto de tanta atenção assim.— Estamos esperando para ouvir a continuação da su
Corri para meu quarto e me joguei na cama aos prantos, eu achava injusto o modo como ele estava me tratando, eu não era mais um de seus negócios e sim sua filha que ele dizia amar. Mas esse não parece mais com meu pai, o homem que chegava do trabalho com um pirulito grande havia desaparecido já fazia muito tempo e no lugar dele esse ser hediondo e ganancioso nasceu. — Com licença, Meg? — ouvi Abby fala da porta após dar duas batidinhas na madeira. — Posso entrar, querida? — perguntou ela, me sentei na cama e passei a manga da blusa no nariz. — Trouxe seu cappuccino querida — ela deixou a bebida em minha escrivaninha e se sentou ao meu lado me abraçando.— Porque, Abby? Porque ele fez isso comigo? — perguntei chorando outra vez. Abby não falou nada, apenas me apertou mais em seus braços e afagou meus cabelos para me acalmar. O jeito que ela me tratava, fazia meu coração se acalmar pois ela transmitia uma sensação de amor materno que fazia tempo que eu não sinto com a minha mãe.Dep
Um cheiro forte queimou meu nariz e eu abri os olhos para saber o que era aquilo, parecia ser álcool, ao abrir os olhos encontrei Abby me olhando de cima, senti um leve aperto na minha mão e levei meus olhos até quem a segurava, era Chris, meu irmão e ele demonstrava preocupação.— Você está bem? — ele perguntou.— Eu falei para você comer alguma coisa — falou Abby.— O que aconteceu? — perguntei me sentando no sofá. Ela e Chris se olharam, Abby deu um beijo na minha cabeça e saiu do comodo. — Você está noiva — ele falou e eu arregalei os olhos. — Você aceitou o pedido e nossos pais sairam com os Johnson para comemorar.— Bom saber que eu sou importante para eles — falei emburada. — Não se preocupa com isso, está melhor? — perguntou ele ainda segurando minha mão.— Acho que sim — passei a mão livre em meu cabelo e percebi que meu penteado estava desfeito.— Tem certeza que quer isso? Ainda da tempo de fugir — era uma ideia tentadora mas eu não sei o que meu pai é capaz de fazer e
Minha mãe se parecia comigo, desde os cabelos até o tom de pele, mas a única diferença fora a idade, era a cor dos seus olho, eles eram negros como a noite.— Foi uma surpresa para todos nós — disse meu pai abaixando o jornal para pegar sua xicara de café.É pai, foi uma surpresa para a gente também.— Decidimos que era melhor manter em segredo — falei. Vi meu pai assentindo antes de abrir o jornal novamente.— Ainda não acredito que minha menininha vai se casar — eu também não, mamãe. — Já imaginou como quer seu vestido? — perguntou ela.— Vou deixar para penar nisso depois da formatura, minha prioridade agora é os estudos — respondi. Não me importo de ter sido um pouco grossa com ela, mesmo que ela seja minha mãe e eu a ame, sei que ela só se importa com o que suas amigas riquinhas pensam.— Depois do seu casamento, os negocios da familia ficarão sob sua responsabilidade — falou meu pai.David, meu pai, era um homem bonito por fora, tinha os cabelos castanhos claros como os meus e
Sai da sala de aula com ele na minha frente, o chão parece ter sumido e eu estava andando sobre pregos, cada passo eu parecia estar mais perto de ter um ataque cardíaco. Eric Adams, minha paixonite estava ali, bem na minha frente e eu não sei nem como puxar um assunto legal.Viramos o corredor que levava a enfermaria e no caminho passamos na frente da diretoria, pelo pequeno vidro que tinha na porta, eu vi apenas Oliver mas nenhum sinal de Dylan na sala e isso me deixou mais aliviada, ele deve estar tratando dos machucados na enfermaria.— Está procurando pelo seu “amigo”? — quase gritei ao ouvir sua voz quebrar o silencio entre nós. Não soube o que responder e ao não receber uma resposta, ele parou e se virou ficando de frente pra mim no meio do corredor. — É... — as palavras estavam emboladas na minha língua e eu sinto meu coração bater mais forte a cada segundos. Devo dizer algo a ele logo antes de morrer de ataque cardíaco. —, azul bonita blusa — ele me encarou com a sobracelha a
— Obrigada, Margarett, por cuidar do meu namorado — ela disse dando ênfase em algumas palavras.— Que isso, Janet, eu gosto de cuidar do meu melhor amigo — devolvi sua provocação e ela me olhou com um olhar carregado de ódio.— Você não tem aula agora, querida? — ouvir isso foi como ouvir ela dizer “saia daqui, não suporto olhar para sua cara”.— Obrigada por cuidar de mim, Meg. Te vejo mais tarde em casa — ele disse. Sai da enfermaria com um sorriso nos lábios só por poder ver ela com a cara vermelha de raiva.Eu não consigo entender, por que Dylan aceitou se casar comigo se ele tem a insuportável, digo amável, Jane ao lado dele? Talvez eu lhe pergunte sobre isso mais tarde.~~~~~~(...)~~~~~~~O tempo parecia estar passando devagar apenas para me deixar mais ansiosa, era a ultima aula antes do intervalo e eu estava ansiosa para mostrar aos meninos o planeta que Mirabela encontrou, mas hoje os ponteiros do relógio estavam mais devagar do que o costume. Quando o sinal finalmente tocou
Embaixo da escada tem uma porta, é um espaço pequeno e eu duvido que caibam duas pessoas ali dentro, eu tenho a chave dessa porta e lá eu deixo coisas que eu não quero perder ou que roubem, um exemplo disso é eu deixar meu radio lá dentro, é tão precioso que as vezes eu até levo para a minha casa.— Lar doce lar — falei ao ligar a cafeteira e preparar um pouco de café para mim.Abri a porta embaixo da escada com um pouco de dificuldade pois ela vive emperrando e peguei meu radio, ele era pequeno e lilás, parece uma pequena bola. O liguei na tomada que tinha perto da porta e coloquei na musica 12 do CD player que eu sempre deixo aqui.O bom desse lugar e talvez nem tão bom assim, é que tem que ser algo extremamente alto para que alguém lá fora escute, como uma explosão, mas isso não é o caso do meu pequeno radio.Me posicionei no meio do comodo iluminado pelas luzes coloridas que rodopiavam no teto, 4 acordes de guitarra soaram dando introdução a musica e eu esperei pacientemente a dei