Dei um pulo da cama ao ouvir batidas na porta do meu quarto, olhei ao redor e de primeira reconheci o cômodo; estou no meu quarto na casa dos meus pais. Minha cama ainda é um colchão no chão que fica do lado da “cama” do meu irmão, a televisão é pequena e velha, nossa sala é junto com a cozinha e não temos quintal ou jardim. Pelo o que vejo, voltei para minha infância.
Duas batidas na porta soaram novamente, me assustei pois estava distraída com o ambiente nostálgico ao meu redor e esqueci que tinha gente do lado de fora. Me levantei da cama e a primeira coisa que eu estranhei foi não ter meus seios, eu malhei tanto na academia durante minha adolescência para ter meus seios e agora eles sumiram. Tico e teco, vou sentir saudades de vocês, até daqui uns anos.
Ao lado da porta do quarto tinha um pequeno espelho e aproveitei que eu já estava passando por ali mesmo, resolvi olhar meu reflexo. Falta dois dentes meus, eu não tenho o cabelo comprido igual ao de quando eu era adulta e sim o cabelo na altura dos ombros que eu tinha quando mais nova.
Sai do quarto depois de bufar, eu não poderia pelo menos ter voltado para a época em que eu tinha 15 anos? Eu era bonita pelo menos. Afinal, quantos anos eu tenho agora?
Procurei por um calendário na sala e para o meu espanto, ele mostrou que eu voltei para 1997, ou seja, eu tenho 7 anos outra vez.
Abri a porta e dei de cara com um ser da minha altura, com um dente faltando e o cabelo bagunçado, na minha frente estava ninguém menos do que Dylan, meu melhor amigo desde que me entendo por gente.
— Por que você ainda está de pijama? — ele perguntou. Tinha esquecido como a voz dele de criança era fofinha.
— Eu acabei de acordar — bocejei.
— Consegui um jeito da gente ter dinheiro para ir ao cinema hoje — falou ele após entrar na minha casa sem nem mesmo ter sido convidado. Sempre abusado.
— Cinema? — perguntei confusa.
— Sim, hoje vai lançar aquele filme de terror que a gente viu na televisão — se sentou no chão mesmo por que não tinha sofá. — Eu tenho 10 dólares que meu pai me deu, você disse que tinha 10 também, ainda falta o dinheiro para as pipocas e os refrigerantes — ele disse.
— E como vamos conseguir o resto? Meu pai não vai me dar — me sentei na frente dele com as pernas cruzadas.
— Podemos varrer o chão de mercados, cabeleireiros ou ajudar o abrigo de animais — falou ele.
— Tudo bem, vou trocar de roupa e vamos conseguir o dinheiro — falei a ele antes de voltar para meu quarto e me trocar.
Durante a manhã inteira, Dylan e eu fizemos tudo que ele sugeriu, no início da tarde já tínhamos dinheiro suficiente para irmos ao cinema, foi um dia divertido igual a todos que eu passei com ele durante minha infância.
Voltamos para casa ao cair da noite, não estava muito seguro ficar nas ruas depois que a noite cai. Entramos na minha casa e encontramos nossas mães assistindo a novela, elas sempre foram boas amigas e sempre assistiam a alguns programas depois que chegavam do trabalho.
Meu pai e o dele trabalhavam muito, eles mal paravam em casa ou tinham tempo para ficar com a gente, por isso a maior parte do tempo que tínhamos livre depois da escola, a gente brincava na rua com alguns vizinhos.
Já meu irmão, ele era 4 anos mais velho que eu e como já tinha idade para fazer parte do time de basquete junior do colegio, Christopher, ou Chris como gosta de ser chamado, passava o dia na quadra.
Se hoje é o dia em que Dylan e eu fomos ao cinema, significa que hoje também foi um dia muito importante para ambas as famílias que moravam em bairro humilde em uma casa mais humilde ainda.
Não demorou muito para meu pai, David, e o pai do Dylan, Richard, entrarem afobados em casa.
— Já começou? — perguntou meu pai.
— O que? — as mulheres perguntaram confusas.
— O sorteio — foi a vez do senhor Miller falar.
Dylan e eu observamos tudo calados.
— Começou — minha mãe disse ao olhar para a televisão e ver que o sorteio começou.
Meu pai e o senhor Miller pegaram papeis em seus bolsos.
— 12 — eles vibraram ao acertar um número. — 23 — mais um. — 01 — e mais um. — 25 — e mais um número.
— 19, por favor fala 19 — ouvi meu pai suplicar baixinho.
— E por último, 19 — e foi uma grande festa em casa quando eles ganharam.
Nossos pais ficaram milionários da noite para o dia, mas eles não fizeram igual as pessoas que ganham e saem gastando com qualquer besteira, eles investiram em ações e multiplicaram suas fortunas. Compraram casas maiores e melhores para que a gente tivesse o conforto que sempre sonhamos em ter, eles tinham empresas e vários carros na garagem.
Mas dois anos se passaram e com isso o dinheiro subiu à cabeça deles, eles queriam mais. Certo dia, Dylan e eu estávamos em sua casa brincando de caça ao tesouro, a governanta da casa dele tinha escondido o tesouro e nossa missão era acha-lo, mas acabamos no lugar errado e na hora errada. Ao passar pelo escritório do senhor Miller, escutamos a conversa deles.
— E se, a gente juntasse nossos impérios? — Richard disse.
— Apenas juntar nossas fortunas não vai funcionar, o que sugere? — questionou meu pai.
— Pensei em fazer a moda antiga, um casamento arranjado — falou Richard.
Dylan e eu que estávamos espiando na porta, se olhamos confusos e demos de ombros. Mal sabíamos que isso era apenas o início.
— Nossos filhos são muito novos ainda.
— Podemos esperar até eles completarem a maior idade — senhor Miller se levantou e foi até o mini bar que tinha no cômodo.
— Eles jamais iriam concordar com isso e tenho certeza que nossas esposas vão se opor a essa ideia — aceitou de bom grado o copo de Whisky que o outro lhe ofereceu.
— Nossos filhos são bons amigos, podemos dar um jeito de aproxima-los sem que percebam — senhor Miller se sentou na poltrona ao lado do meu pai. — Nossas esposas não precisam saber, vamos deixar isso apenas entre nós — bebeu um gole de Whisky. — O que me diz?
— Seremos uma família muito feliz — falou meu pai. Eles riram e brindaram.
Olhei para Dylan ao meu lado que tinha o cenho franzido e os lábios em um pequeno bico, apontei para o quarto dele no andar de cima e ele assentiu me seguindo até o cômodo. Ele se sentou no tapete com as pernas cruzadas iguais a de índio e eu me sentei na frente dele fazendo o mesmo, ele ainda estava pensando e quando seu olhar se encontrou com o meu seu rosto de retorceu em uma careta.— Eu não quero me casar com você, você tem piolho — fez cara de nojo.— E você é fedido — dei língua a ele.— Vamos sempre ser amigos ne? — questionou.— Sim, sempre seremos amigos, mesmo se por acaso a gente se casar — falei a ele.— Promete? — estendeu o mindinho e eu o enlacei com o meu.— Prometo.Dylan e eu não sabíamos que nossa vida iria virar de cabeça para baixo, assim que completamos 10 anos nossos pais ficaram malucos. Dylan acompanhava os mais velhos em reuniões — chatas, segundo ele —, e eu era obrigada pelas matriarcas da família a frequentar festas cheias de frufrus, um pouco tradicional
Dei um beijo em Abby e segui Mike até o carro, ouvimos uma música com batida agitada e bagunçando muito, seguimos caminho para o colégio e assim que chegamos fizemos nosso toque se despedindo.Entrei no colégio e fui até meu armário pegar alguns livros, não tinha muita gente por ainda estar cedo mas ainda sim tinha alguns e o pouco que tinha me cumprimentava ao passar por mim. Esse ano eu estaria em uma sala nova, o diretor misturou as turmas para separar os grupos bagunceiros e isso foi a melhor coisa que ele fez pois eu jurei que se esse ano alguma bolinha de papel atingisse minha cabeça, eu seria presa por fazer alguém engolir uma delas.Assim que entrei na minha nova sala, cumprimentei alguns conhecidos e fui para o meu lugar, a penúltima cadeira na fila da janela. Eu gostava daquele lugar por que eu tinha uma vista privilegiada do jardim e eu amava ficar olhando aquelas rosas de várias cores, a minha preferida era a azul. Fiquei olhando para uma borboleta que pousou em uma da
Assim que o sinal tocou ele foi o primeiro a sair da sala, deve ter ido encontrar com os outros jogadores time. Um menino muito fofo com óculos estilo geek parou ao meu lado, ele não era feio e sim muito fofo, gordinho e sempre que falava comigo suas bochechas ficavam vermelhinhas, seu nome era Tommy. Já joguei algumas partidas de RPG com ele durante o intervalo e devo dizer que isso estimulava e muito minha imaginação.— Permita-me acompanha-la, milady — falou ele com o braço nas costas e um pouco curvado.— Será uma honra, milorde — enlacei meu braço no seu e saímos rindo da sala. Chegamos no refeitório e nossa mesa embaixo da arvore já estava esperando por nós, assim como meus outros amigos. Tommy colocou uma bandeja com meu almoço na minha frente assim que me sentei e os demais me encaravam com os olhinhos brilhando, somos 5 ao todo.— O que foi? — perguntei sentindo minhas bochechas queimarem, não gosto de tanta atenção assim.— Estamos esperando para ouvir a continuação da su
Corri para meu quarto e me joguei na cama aos prantos, eu achava injusto o modo como ele estava me tratando, eu não era mais um de seus negócios e sim sua filha que ele dizia amar. Mas esse não parece mais com meu pai, o homem que chegava do trabalho com um pirulito grande havia desaparecido já fazia muito tempo e no lugar dele esse ser hediondo e ganancioso nasceu. — Com licença, Meg? — ouvi Abby fala da porta após dar duas batidinhas na madeira. — Posso entrar, querida? — perguntou ela, me sentei na cama e passei a manga da blusa no nariz. — Trouxe seu cappuccino querida — ela deixou a bebida em minha escrivaninha e se sentou ao meu lado me abraçando.— Porque, Abby? Porque ele fez isso comigo? — perguntei chorando outra vez. Abby não falou nada, apenas me apertou mais em seus braços e afagou meus cabelos para me acalmar. O jeito que ela me tratava, fazia meu coração se acalmar pois ela transmitia uma sensação de amor materno que fazia tempo que eu não sinto com a minha mãe.Dep
Um cheiro forte queimou meu nariz e eu abri os olhos para saber o que era aquilo, parecia ser álcool, ao abrir os olhos encontrei Abby me olhando de cima, senti um leve aperto na minha mão e levei meus olhos até quem a segurava, era Chris, meu irmão e ele demonstrava preocupação.— Você está bem? — ele perguntou.— Eu falei para você comer alguma coisa — falou Abby.— O que aconteceu? — perguntei me sentando no sofá. Ela e Chris se olharam, Abby deu um beijo na minha cabeça e saiu do comodo. — Você está noiva — ele falou e eu arregalei os olhos. — Você aceitou o pedido e nossos pais sairam com os Johnson para comemorar.— Bom saber que eu sou importante para eles — falei emburada. — Não se preocupa com isso, está melhor? — perguntou ele ainda segurando minha mão.— Acho que sim — passei a mão livre em meu cabelo e percebi que meu penteado estava desfeito.— Tem certeza que quer isso? Ainda da tempo de fugir — era uma ideia tentadora mas eu não sei o que meu pai é capaz de fazer e
Minha mãe se parecia comigo, desde os cabelos até o tom de pele, mas a única diferença fora a idade, era a cor dos seus olho, eles eram negros como a noite.— Foi uma surpresa para todos nós — disse meu pai abaixando o jornal para pegar sua xicara de café.É pai, foi uma surpresa para a gente também.— Decidimos que era melhor manter em segredo — falei. Vi meu pai assentindo antes de abrir o jornal novamente.— Ainda não acredito que minha menininha vai se casar — eu também não, mamãe. — Já imaginou como quer seu vestido? — perguntou ela.— Vou deixar para penar nisso depois da formatura, minha prioridade agora é os estudos — respondi. Não me importo de ter sido um pouco grossa com ela, mesmo que ela seja minha mãe e eu a ame, sei que ela só se importa com o que suas amigas riquinhas pensam.— Depois do seu casamento, os negocios da familia ficarão sob sua responsabilidade — falou meu pai.David, meu pai, era um homem bonito por fora, tinha os cabelos castanhos claros como os meus e
Sai da sala de aula com ele na minha frente, o chão parece ter sumido e eu estava andando sobre pregos, cada passo eu parecia estar mais perto de ter um ataque cardíaco. Eric Adams, minha paixonite estava ali, bem na minha frente e eu não sei nem como puxar um assunto legal.Viramos o corredor que levava a enfermaria e no caminho passamos na frente da diretoria, pelo pequeno vidro que tinha na porta, eu vi apenas Oliver mas nenhum sinal de Dylan na sala e isso me deixou mais aliviada, ele deve estar tratando dos machucados na enfermaria.— Está procurando pelo seu “amigo”? — quase gritei ao ouvir sua voz quebrar o silencio entre nós. Não soube o que responder e ao não receber uma resposta, ele parou e se virou ficando de frente pra mim no meio do corredor. — É... — as palavras estavam emboladas na minha língua e eu sinto meu coração bater mais forte a cada segundos. Devo dizer algo a ele logo antes de morrer de ataque cardíaco. —, azul bonita blusa — ele me encarou com a sobracelha a
— Obrigada, Margarett, por cuidar do meu namorado — ela disse dando ênfase em algumas palavras.— Que isso, Janet, eu gosto de cuidar do meu melhor amigo — devolvi sua provocação e ela me olhou com um olhar carregado de ódio.— Você não tem aula agora, querida? — ouvir isso foi como ouvir ela dizer “saia daqui, não suporto olhar para sua cara”.— Obrigada por cuidar de mim, Meg. Te vejo mais tarde em casa — ele disse. Sai da enfermaria com um sorriso nos lábios só por poder ver ela com a cara vermelha de raiva.Eu não consigo entender, por que Dylan aceitou se casar comigo se ele tem a insuportável, digo amável, Jane ao lado dele? Talvez eu lhe pergunte sobre isso mais tarde.~~~~~~(...)~~~~~~~O tempo parecia estar passando devagar apenas para me deixar mais ansiosa, era a ultima aula antes do intervalo e eu estava ansiosa para mostrar aos meninos o planeta que Mirabela encontrou, mas hoje os ponteiros do relógio estavam mais devagar do que o costume. Quando o sinal finalmente tocou