Eu planejei minha vida toda desde pequena; eu iria morar em uma grande casa na floresta, com trilha para a cachoeira e vista para as montanhas, iria andar descalça todo dia, iria trabalhar em casa como roteirista de histórias em quadrinhos e escrever encantadores romances.
Mas nada saiu como planejado e hoje estou presa em um escritório bem no dia do meu aniversário. Roteiro para revisar, reunião para participar, ideias novas para apresentar e uma pessoa cansada de trabalhar. Será que falta muito para eu me aposentar?
— Meg, preciso de você na reunião em cinco minutos — meu superior disse.
E lá vou eu, participar de mais uma reunião chata.
Meu corpo estava sentado naquela cadeira, mas minha mente viajava para outro lugar, o que eu estaria fazendo se ainda tivesse um namorado? Ou se eu tivesse me casado como a maioria das mulheres da minha idade? Eu teria uns 5 filhos e um marido barrigudo no sofá pedindo cerveja. Casar está fora de cogitação.
— Meg, o que você acha? — fui trazida de volta para a realidade quando meu nome foi citado pelo meu chefe.
— Desculpe, sobre o que? — perguntei.
— Meg, eu sei que é seu aniversário, mas precisamos da sua ajuda para decidir se devemos ou não publicar este livro — ele disse.
Olhei para o livro na minha frente, o autor se empenhou muito para escrever este romance e acredito que apresentá-lo para o mundo é o meu dever como revisora chefe e ilustradora.
— Acredito que vai ser uma boa publicá-lo —Dei minha opinião sobre a obra.
Todos concordaram comigo e a reunião chegou ao fim, sai da sala de reunião e voltei para minha mesa, olhei ao redor para ver se alguém estava me olhando e tirei discretamente meus saltos. Odeio usar saltos, eles machucam meu pé.
— Parabéns para você — um bolinho foi colocado em minha mesa e minha colega de trabalho começou a cantar a famosa música de aniversário. Valerie, minha melhor amiga, nunca esquece meu aniversário. Nem mesmo minha família lembra. — Faça um pedido — ele disse.
Um pedido. Qual pedido eu deveria fazer? Não tem nada que eu mais almeje do que uma chance, uma chance de refazer minha vida amorosa com todos que me envolvi. É isso.
Fechei meus olhos e fiz o pedido que meu coração apontava como o melhor e mais perfeito, mesmo que não fosse se tornar real, pelo menos eu não deixei o pedido de aniversario ir embora com o vento.
— Como se sente agora que entrou para a geração dos idosos de New York? — provocou. Lhe dei um tapa no braço. — Ai — resmungou de dor. — Pensei que com o passar dos anos as mulheres fossem perdendo suas forças — me provocou outra vez.
— Eu juro que se não estivesse com meus pés doendo, iria te dar uma surra — massageei minhas têmporas com as pontas dos dedos.
Valerie ficou atrás de mim e começou a massagear meus ombros, resmunguei em aprovação e relaxei sob seu toque, ela sempre teve mão boa para massagem.
— Fala logo o que você aprontou — falei e ela riu baixinho.
— É chato você me conhecer tanto — eu não posso ver ela mas sei que ela negou com a cabeça. — Promete não ficar chateada? — assenti. — Meu namorado quer passar um tempo comigo hoje, não vou poder comemorar seu aniversário com você ou ele vai me colocar para dormir na casinha de cachorro — falou ele.
— Eu não estou afim de comemorar, estou tão cansada, parece que os 40 anos caíram sobre mim todos de uma vez — falei. Resmunguei quando ela parou a massagem e girou minha cadeira para que eu ficasse de frente para ela.
— Você é a senhora mais gostosa que eu conheço — isso me fez rir. — Prometo que vou te comprar o melhor presente do mundo e vou te compensar por não te fazer companhia hoje — beijou minha testa e voltou para sua mesa depois que eu assenti.
Eu não ligo de ter que dividir ela, afinal, eles só estão juntos por que eu juntei os dois. Mas bem que ele poderia deixar ela passar o resto da noite comigo, poxa, é meu aniversário de 40 anos, sou quase uma idosa.
Olhei para o bolinho em minha mesa e suspirei, já fizeram um bolo enorme para mim no meu aniversário, ele tinha 3 andares e muito chocolate.
Bom, hora de ir para casa. Calcei meus saltos novamente e peguei minha bolsa após levantar, ajeitei minha saia e segui caminho para o elevador. Peguei meu celular na bolsa na esperança de ter alguma mensagem dos meus pais ou de algum ex-namorado me desejando feliz aniversário, mas não tinha nada.
Entrei no primeiro taxi que passou na minha frente, está tão tarde que eu nem imaginei que iria conseguir pegar um, dei meu endereço a ela após me acomodar no banco, o bolinho na minha mão parecia tão apetitoso, mas eu estava sem vontade alguma de comê-lo agora.— É seu aniversário? — perguntou a mulher no volante. Parando para analisar, essa é a primeira vez que eu pego um taxi com uma mulher dirigindo, pelo menos não é um cara estranho que fica me encarando pelo espelho.— Sim, 40 anos com um cansaço de 80 — brinquei e ela riu.— Já fez seu pedido de aniversário? — se referiu a vela apagada do bolinho em minha mão.— Sim, mas eu não tenho esperança dele se realizar, é meio surreal sabe — comentei.— A esperança deveria ser a última a morrer — falou ela. De repente o carro começou a andar rápido demais e quando eu percebi já tínhamos passado do caminho até meu apartamento.— Ei, onde estamos indo? Minha casa já passou — falei desesperada.— Estamos indo realizar seu desejo — ela desv
Dei um pulo da cama ao ouvir batidas na porta do meu quarto, olhei ao redor e de primeira reconheci o cômodo; estou no meu quarto na casa dos meus pais. Minha cama ainda é um colchão no chão que fica do lado da “cama” do meu irmão, a televisão é pequena e velha, nossa sala é junto com a cozinha e não temos quintal ou jardim. Pelo o que vejo, voltei para minha infância. Duas batidas na porta soaram novamente, me assustei pois estava distraída com o ambiente nostálgico ao meu redor e esqueci que tinha gente do lado de fora. Me levantei da cama e a primeira coisa que eu estranhei foi não ter meus seios, eu malhei tanto na academia durante minha adolescência para ter meus seios e agora eles sumiram. Tico e teco, vou sentir saudades de vocês, até daqui uns anos. Ao lado da porta do quarto tinha um pequeno espelho e aproveitei que eu já estava passando por ali mesmo, resolvi olhar meu reflexo. Falta dois dentes meus, eu não tenho o cabelo comprido igual ao de quando eu era adulta e sim o
Olhei para Dylan ao meu lado que tinha o cenho franzido e os lábios em um pequeno bico, apontei para o quarto dele no andar de cima e ele assentiu me seguindo até o cômodo. Ele se sentou no tapete com as pernas cruzadas iguais a de índio e eu me sentei na frente dele fazendo o mesmo, ele ainda estava pensando e quando seu olhar se encontrou com o meu seu rosto de retorceu em uma careta.— Eu não quero me casar com você, você tem piolho — fez cara de nojo.— E você é fedido — dei língua a ele.— Vamos sempre ser amigos ne? — questionou.— Sim, sempre seremos amigos, mesmo se por acaso a gente se casar — falei a ele.— Promete? — estendeu o mindinho e eu o enlacei com o meu.— Prometo.Dylan e eu não sabíamos que nossa vida iria virar de cabeça para baixo, assim que completamos 10 anos nossos pais ficaram malucos. Dylan acompanhava os mais velhos em reuniões — chatas, segundo ele —, e eu era obrigada pelas matriarcas da família a frequentar festas cheias de frufrus, um pouco tradicional
Dei um beijo em Abby e segui Mike até o carro, ouvimos uma música com batida agitada e bagunçando muito, seguimos caminho para o colégio e assim que chegamos fizemos nosso toque se despedindo.Entrei no colégio e fui até meu armário pegar alguns livros, não tinha muita gente por ainda estar cedo mas ainda sim tinha alguns e o pouco que tinha me cumprimentava ao passar por mim. Esse ano eu estaria em uma sala nova, o diretor misturou as turmas para separar os grupos bagunceiros e isso foi a melhor coisa que ele fez pois eu jurei que se esse ano alguma bolinha de papel atingisse minha cabeça, eu seria presa por fazer alguém engolir uma delas.Assim que entrei na minha nova sala, cumprimentei alguns conhecidos e fui para o meu lugar, a penúltima cadeira na fila da janela. Eu gostava daquele lugar por que eu tinha uma vista privilegiada do jardim e eu amava ficar olhando aquelas rosas de várias cores, a minha preferida era a azul. Fiquei olhando para uma borboleta que pousou em uma da
Assim que o sinal tocou ele foi o primeiro a sair da sala, deve ter ido encontrar com os outros jogadores time. Um menino muito fofo com óculos estilo geek parou ao meu lado, ele não era feio e sim muito fofo, gordinho e sempre que falava comigo suas bochechas ficavam vermelhinhas, seu nome era Tommy. Já joguei algumas partidas de RPG com ele durante o intervalo e devo dizer que isso estimulava e muito minha imaginação.— Permita-me acompanha-la, milady — falou ele com o braço nas costas e um pouco curvado.— Será uma honra, milorde — enlacei meu braço no seu e saímos rindo da sala. Chegamos no refeitório e nossa mesa embaixo da arvore já estava esperando por nós, assim como meus outros amigos. Tommy colocou uma bandeja com meu almoço na minha frente assim que me sentei e os demais me encaravam com os olhinhos brilhando, somos 5 ao todo.— O que foi? — perguntei sentindo minhas bochechas queimarem, não gosto de tanta atenção assim.— Estamos esperando para ouvir a continuação da su
Corri para meu quarto e me joguei na cama aos prantos, eu achava injusto o modo como ele estava me tratando, eu não era mais um de seus negócios e sim sua filha que ele dizia amar. Mas esse não parece mais com meu pai, o homem que chegava do trabalho com um pirulito grande havia desaparecido já fazia muito tempo e no lugar dele esse ser hediondo e ganancioso nasceu. — Com licença, Meg? — ouvi Abby fala da porta após dar duas batidinhas na madeira. — Posso entrar, querida? — perguntou ela, me sentei na cama e passei a manga da blusa no nariz. — Trouxe seu cappuccino querida — ela deixou a bebida em minha escrivaninha e se sentou ao meu lado me abraçando.— Porque, Abby? Porque ele fez isso comigo? — perguntei chorando outra vez. Abby não falou nada, apenas me apertou mais em seus braços e afagou meus cabelos para me acalmar. O jeito que ela me tratava, fazia meu coração se acalmar pois ela transmitia uma sensação de amor materno que fazia tempo que eu não sinto com a minha mãe.Dep
Um cheiro forte queimou meu nariz e eu abri os olhos para saber o que era aquilo, parecia ser álcool, ao abrir os olhos encontrei Abby me olhando de cima, senti um leve aperto na minha mão e levei meus olhos até quem a segurava, era Chris, meu irmão e ele demonstrava preocupação.— Você está bem? — ele perguntou.— Eu falei para você comer alguma coisa — falou Abby.— O que aconteceu? — perguntei me sentando no sofá. Ela e Chris se olharam, Abby deu um beijo na minha cabeça e saiu do comodo. — Você está noiva — ele falou e eu arregalei os olhos. — Você aceitou o pedido e nossos pais sairam com os Johnson para comemorar.— Bom saber que eu sou importante para eles — falei emburada. — Não se preocupa com isso, está melhor? — perguntou ele ainda segurando minha mão.— Acho que sim — passei a mão livre em meu cabelo e percebi que meu penteado estava desfeito.— Tem certeza que quer isso? Ainda da tempo de fugir — era uma ideia tentadora mas eu não sei o que meu pai é capaz de fazer e
Minha mãe se parecia comigo, desde os cabelos até o tom de pele, mas a única diferença fora a idade, era a cor dos seus olho, eles eram negros como a noite.— Foi uma surpresa para todos nós — disse meu pai abaixando o jornal para pegar sua xicara de café.É pai, foi uma surpresa para a gente também.— Decidimos que era melhor manter em segredo — falei. Vi meu pai assentindo antes de abrir o jornal novamente.— Ainda não acredito que minha menininha vai se casar — eu também não, mamãe. — Já imaginou como quer seu vestido? — perguntou ela.— Vou deixar para penar nisso depois da formatura, minha prioridade agora é os estudos — respondi. Não me importo de ter sido um pouco grossa com ela, mesmo que ela seja minha mãe e eu a ame, sei que ela só se importa com o que suas amigas riquinhas pensam.— Depois do seu casamento, os negocios da familia ficarão sob sua responsabilidade — falou meu pai.David, meu pai, era um homem bonito por fora, tinha os cabelos castanhos claros como os meus e