Capitulo 3

Eu estava exausta! Depois de um mês de férias em casa, acostumada a não fazer nada, o primeiro dia de trabalho sempre parecia o mais difícil. Estacionei meu carro na portaria e fui até o porta-malas pegar minhas coisas. Foi quando ouvi o rugido de uma moto estacionando ao lado do meu carro. Ao abaixar a porta, vi quem era. Bufei, pegando minhas coisas e decidindo passar por aquele insuportável sem cumprimentá-lo. Minha educação se recusava a entrar em prática com ele.

— Ah, então foi você que pegou minha vaga! — ele disse, tirando o capacete com um sorriso que, para meu desagrado, era extremamente charmoso.

— O que foi agora? — não iria ser educada com ele; ele nem se esforçou para ser gentil comigo.

— Essa vaga é minha — apontou para o meu carro, como se isso fosse uma verdade universal.

— Acha que eu estacionei aqui porque quis, seu espertalhão? — retruquei, tentando manter a calma.

— Vindo de alguém tão sem noção quanto você, não é de se esperar menos — ele fez uma careta, e a irritação começou a crescer dentro de mim.

— Antes ser sem noção do que mal-educada — respondi, desafiadora.

— Como se os dois fossem alguma coisa boa! — Ele estava pedindo para levar um soco.

— Não é, mas pelo menos não fui eu que comecei essa relação de ser um idiota mal-educado. E quem deu a vaga foi o porteiro. Quer reclamar? Vai reclamar com ele ou com a síndica, inferno de homem! — Ele parecia nervoso, mas pouco me importava.

— Idiota? Sério? Quantos anos vocês têm? — coloquei as mãos na cintura, já irritada.

— Quer saber? Se quer resolver isso, por que não vamos os dois na portaria? — perguntei, e ele sorriu de um jeito irônico.

— Excelente ideia! — Ele marchou em direção à portaria, e eu, sendo a adulta que sou, acelerei o passo atrás dele. Ele realmente achava que eu iria pegar a vaga dele por pura vontade? Eu estava certa: ele era um idiota!

Assim que chegamos à portaria, ele falou com toda a doçura do mundo:

— Boa noite, eu gostaria de saber quem foi que passou a vaga de estacionamento para essa senhora.

Eu o olhei com raiva. 

— Senhorita! — corrigi, e ele revirou os olhos, ainda por cima era mal-educado!

— Boa noite, senhor Miguel. O que está acontecendo? — perguntou o porteiro, todo gentil.

— Ah, então seu nome é Miguel? — disse, e ele se virou para mim com uma expressão de desprezo.

— Viu o que dá ouvir o som naquela altura? Está te deixando surda — ele apontou para a orelha, e eu o olhei, furiosa.

— Além de idiota, você é um imbecil! — retorqui, já sem paciência.

— Não tenho apreço pela sua figura também, estressadinha — ele sorriu, e eu abri a boca indignada.

— Estressada? Você que bateu na minha porta e foi todo mal-educado comigo, nem se apresentou! — Um pigarro do porteiro interrompeu nossa discussão.

— O que está acontecendo? — perguntou ele, parecendo se divertir com a situação.

— A surda aqui roubou minha vaga do estacionamento — Miguel disse, e eu fiquei chocada.

— Eu não sou surda! — gritei para ele.

— Falando alto desse jeito só prova o contrário — ele provocou, e eu fechei a mão, tentando não socá-lo.

— Seu Aguinaldo, esse imbecil está jurando de pé junto que eu roubei a vaga dele! — disse, apontando para Miguel.

O porteiro olhou para a tabelinha que tinha.

— Qual vaga a senhorita está estacionando? — perguntou ele, educado.

— 43 — respondi, e ele olhou para Miguel.

— Senhor, está certo, a vaga dela é essa mesmo — a expressão de choque no rosto de Miguel foi impagável.

— Há, bem na sua cara! — gritei, apontando para ele, e a carranca dele piorou.

— Mas o seu Júlio me disse que essa vaga era a minha! — Miguel protestou, e Aguinaldo prendeu o riso.

— Perdão, ele fez bastante confusão nos últimos dias, mas a sua vaga é a 44 — eu sorri vitoriosa. De qualquer jeito, ele estava estacionando na vaga dele mesmo.

— Muito bem, como está tudo resolvido, tenha uma boa noite, seu Aguinaldo — disse, sorrindo, e ele sorriu de volta.

— Boa noite, senhorita. — Saí antes que o mal-humorado dissesse mais alguma coisa. Os passos dele atrás de mim eram como uma marcha, e isso era música para os meus ouvidos.

— Creio que me deve desculpas — disse para ele quando chegamos à porta do meu apartamento. Ele me olhou como se pudesse me enforcar.

— Não vou me desculpar pelo erro daquele velho gagá — abri a boca, surpresa.

— Você é muito maldoso! — protestei.

— Espero não ouvir sua TV hoje de novo — ele disse, fechando a porta com força.

— Insuportável! — resmunguei para mim mesma, já me preparando para o que mais aquele idiota poderia fazer.

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