Capitulo 2

Não tinha muitos amigos, e os poucos que eu tinha, às vezes, me faziam questionar se eram mesmo amigos. Giovanni estava rindo sem parar há uns dois minutos.

— Isso nem sequer teve graça — respondi, tentando esconder meu mau humor.

— Como você ainda consegue ter contato com o sexo feminino? Você é o próprio repelente de mulher! — Giovanni, meu capitão da polícia militar, sempre tinha um jeito de me cutucar. Como primeiro tenente, eu andava com ele para todo lado. O cara era o mais inteligente da turma, e não era surpresa que subisse de cargo mais rápido que qualquer um.

— Como se você fosse um ímã para mulheres — retruquei, tentando manter a seriedade, mas ele sorriu de um jeito que achei divertido, mesmo que nunca fosse admitir.

— E mesmo sendo gay, atraio mais que você, porque eu consigo sorrir para as mulheres — ele disse, com um brilho maroto nos olhos. Era verdade; Giovanni era simpático até demais para o meu gosto. Alto, musculoso, negro, com olhos castanhos claros, e sempre com o cabelo no corte zero quando estava de farda. As mulheres suspiravam por ele, mas, como ele mesmo disse, isso não fazia diferença.

— Isso não importa — respondi, revirando os olhos.

— Por que você foi tão grosso com a moça? Garanto que ela não fez por mal.

Revirei os olhos de novo. Não era algo que costumava fazer, mas Giovanni tinha o dom de me fazer perder a paciência.

— Fazendo por mal ou não, já deixei claro que não quero barulho.

— Como ela é? — ele perguntou, parando ao meu lado.

— Simples — respondi, pegando a comida.

— Simples? Quero mais detalhes. Ela é alta? Magra? Cheia? A cor dos cabelos? — insistiu, e eu resmunguei antes de responder.

— Eu lá que sei, Giovanni. Não reparei nisso. — Mentira! Nos poucos minutos de conversa, percebi que ela era muito bonita, mas também muito triste. Não era baixa; eu não precisava me abaixar muito para falar com ela. O cabelo dela, curto e na altura dos ombros, era da cor de chocolate. O rosto redondo, a pele levemente bronzeada, com pintinhas abaixo da linha dos olhos. A sobrancelha bem arqueada e da mesma cor do cabelo, mas os olhos... ah, os olhos! Eram verdes, mas não um verde comum; eram como a mistura de verde e castanho das folhas no outono. Os lábios, cheios e com um formato quase de coração, e o corpo curvilíneo e voluptuoso. Ela era realmente linda, mas havia uma tristeza profunda nos olhos.

— Não reparou? Sei... — Giovanni me tirou dos pensamentos.

— Por que eu repararia? — perguntei, e ele deu de ombros.

Seguimos em silêncio até uma mesa e começamos a comer.

— Sei lá, você devia começar a procurar alguém — ele disse, quebrando o silêncio.

Respirei fundo, pensando que ele tinha deixado essa conversa de lado. 

— Por que? — perguntei, curioso.

— Porque você anda muito mal humorado e sempre está com essa cara insuportável — ele respondeu, e não pude negar que ele estava certo. Mas não seria uma mulher a resolver isso.

— Não vejo como uma mulher vai resolver isso — disse, pensando em voz alta.

— Talvez a certa sim — ele insistiu, erguendo uma sobrancelha.

— Mulher não é um centro de reabilitação onde eu possa me enfiar e sair melhor.

Ele me olhou sério.

— Quando digo que você precisa de uma mulher, é por dois motivos — começou, levantando o dedo indicador. — Primeiro: para aquecer sua cama — ele fez uma pausa, como se estivesse esperando uma reação.

— E o segundo? — perguntei, desafiador.

— Para aquecer seu coração — ele disse, com um sorriso no rosto. 

Mastiguei lentamente, sem saber se devia responder. 

— Você precisa superar a Roberta — ele acrescentou, e eu o olhei, desafiador. 

— Sabe que só ficou assim depois do que aconteceu — ele continuou, e eu não pude evitar um suspiro. 

Talvez ele tivesse razão. Talvez! Mas a última coisa que eu queria naquele momento era discutir sobre Roberta. Já deixei isso no passado, onde deveria ficar. 

— Olha, Giovanni, não estou pronto para isso agora — disse, tentando mudar de assunto. — Vamos falar de outra coisa. O que você achou do jogo do último domingo? 

Ele sorriu, percebendo que eu queria mudar de assunto. 

— Ah, isso sim! Você viu a jogada do Lucas? Ele realmente está se destacando! — E assim, a conversa mudou, pelo menos por enquanto.

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