Eu desci e desabafei com as criadas. Até Diana estava sentada na grande mesa de mármore. — Não pode deixar isso acontecer! Não pode deixar ele tirar o seu filho!— Diana disse indignada. Eu bebi um gole do meu chá e retruquei: — Não vou deixar, Diana! Mas vou não ficar aqui e esperar recuperar todos os meus bens. A casa da cidade já foi passada para o meu nome no ato do casamento. Quando o meu filho nascer, recupero a fazenda e já está de bom tamanho, minha mãe que se conforme! Vamos arregaçar as mangas e trabalhar, investir na plantação de soja, é o que sabemos fazer! Zilma deu o seu parecer: — Mas ele não vai querer comprar a sua colheita para te obrigar a voltar para casa! — Vou tentar uma cooperativa, Zilma. Para tudo dar-se um jeito! Diana se serviu de mais chá e disse meneando a cabeça: — Admiro a sua coragem, mas o patrão não é diplomático, ele vai arrancar o seu filho das suas mãos usando o seu poder aquisitivo. — Ninguém pode tirar o
Foi um alvoroço. Victor ficou desesperado. — Nora! Eu vou chamar a Diana! — Não! Diana não, Victor! Vamos para o hospital! Liga para o doutor Sérgio! Eu não sei como podia estar tão calma! Logo o meu quarto foi invadido por várias pessoas. Victor acordou a casa toda. Zilma apareceu com as malas do bebê que já estavam prontas. — Vem menina, vem! Vou te ajudar a descer porque o seu marido está igual uma barata tonta lá no jardim. Amélia também veio me amparar. Elas me levaram para o meu quarto e me vestiram com um vestido confortável. Eu usava só um roupão até então. Mary desceu as coisas do bebê junto com Zilma. Com todo esse movimento, faltava só uma pessoa, Mariela. Ela nos observava da sacada do seu quarto e tinha um olhar misterioso. Eu entrei no carro e Diana ficou falando repetidas vezes para eu ficar calma, que ia dar tudo certo. Quando cheguei no hospital, já éramos esperados. Uma equipe de médicos começou a faze
Victor começou a chegar mais animado em casa depois da chegada do seu filho. Realmente aquela casa estava mais alegre. Eu evitava descer as escadas nos primeiros dias pós-cirúrgico e Victor vinha sempre me ver logo que chegava. Zilma dormia com o Junior todas as noites e o trazia para amamentar sempre que precisava. Foi essa a minha rotina durante quase trinta dias. Depois eu fui descendo mais vezes nas refeições e foi ficando normal. Um pediatra acompanhava o meu filho regularmente. Eu não saía de casa há quase quatro meses. Victor estava trabalhando muito e passou a se fechar na biblioteca nos finais de semana. Mariela finalmente foi embora de casa. Alugou um apartamento e estava animada trabalhando com Victor e ao que tudo indica, Marcel estava flertando com ela. Ele veio fazer a sua mudança. Quando eu já estava me sentindo de volta ao mundo real, querendo chamego com o meu marido, percebi que ele andava muito ausente. F
Eu demorei para me acalmar. Eu tremia e chorava ao mesmo tempo. Zilma tirou Junior dos meus braços e o colocou no berço. Diana foi discutir com Clóvis. Ela estava descontrolada. — Você contou um segredo meu para ela! Você não tinha esse direito! Eu vou embora desta casa, Clovis! Eu vou sumir da sua vida para sempre! Victor nunca vai me perdoar! Ela saiu correndo e Clóvis se desesperou. Ele saiu atrás dela, mas chegando na sala, foi barrado por Amélia. Ele ficou olhando Diana subir as escadas correndo. O quarto dela ficava lá em cima. Amélia falava alterada: — Não pode ficar correndo atrás dela, Clóvis! Você já perdeu muito tempo da sua vida com ela! Acorda! Estamos bem, nós dois! Norma veio saber o que estava acontecendo e Clóvis explicou: — A patroa descobriu que Diana foi amante do pai do meu menino! Ela vai embora daqui! Norma, não deixe, por favor! Norma se aproximou incrédula. — Descobriu tudo! Como ela descobriu tudo, meu Deus!
Eu subi as escadas em passos indecisos. O coração apertado, o medo de descobrir algo que me magoasse, mas se o meu marido estava distante, eu não poderia continuar fingindo não perceber. Eu dei dois toques na porta e abri. Ele estava lá na varanda com o pescoço inclinado, na intenção de ver quem era. — Nora! É você?— ele tinha um sorriso inocente no rosto, que me desmontou. — Não acha que está distante demais?— eu disse me aproximando. — De quem? — De tudo! Do seu filho, de mim, da casa! Victor me olhava como se eu estivesse falando de algo que só existisse na minha cabeça. — Sinto falta de você! — eu disse chorosa. — Só está carente porque não podemos fazer amor!— ele disse, voltando-se para o notebook na mesa de centro. — Eu posso! Victor ergueu os olhos subitamente surpresos. — Pode? — Nosso filho já fez quatro nesses!— expliquei. Victor ficou confuso. Eu indaguei curiosa: — Quando Rafaella teve nenê, quanto tempo ficara
Eu voltei para o meu quarto e fiquei muito tempo amadurecendo a ideia de ir embora daquela casa. Eu me sentia derrotada. Eu pensava em tudo o que tive que enfrentar por amor ao meu marido, sem nunca poder conquistá-lo. No máximo, eu o tinha na cama, eu o seduzia mas nunca teria o seu amor. Eu estava mendigando o seu ódio, porque quando eu o xingava, ele me punia me dominando na cama, mas até quando eu iria suportar aquilo? O meu corpo carente não me ajudava a manter o meu orgulho de pé. Se Victor chegasse naquele instante e me tomasse nos braços, eu seria sua, do jeito que ele quisesse. Eu havia voltado ao meu corpo, eu me sentia mais sensual, mas ele não me via. O meu resguardo pós nascimento do Junior nos afastou. Eu usava uma camisola preta transparente e curta e o meu corpo queimava de desejo. Levantei algumas vezes na intenção de ir para o quarto de Victor, mas desisti da porta. Andei pelo quarto muitas vezes impaciente. Eu queria aquele homem, nem
Desci para o desjejum na intenção de fazer a última refeição ao lado do meu marido. Victor estava faminto. Ele comia e por vezes olhava o relógio de pulso. Eu não vi Durval o esperando, como sempre o fazia. Ele costumava ficar parado na porta segurando o seu quepe. — Está preocupado com alguma coisa, Victor?— eu quis saber. — Não, não! Claro que não! — ele falava agitado. Eu dei de ombros e voltei a comer minha salada de frutas com iogurte. De repente, uma visita, uma voz conhecida: — Bom dia! Eu ergui os olhos sem acreditar. Era a minha mãe! Victor se levantou animado para recebê-la. Dona Armênia estava eufórica. Olhava todos os cantos da casa, enquanto se aproximava da mesa. Eu fui recebê-la sorrindo, mas aquilo me pareceu, no mínimo, estranho. — Ainda bem que cheguei a tempo para o café! Estou faminta! Minha mãe encheu a casa de alegria. Durval sorria na porta de entrada. Eu imaginei que ele a pengou no aero
Dona Armênia entrou em pânico e pôs-se a me seguir até o banheiro falando sem parar: — Então resolveu mesmo aceitar o destino cruel que nos resta? Um quarto de pensão, um balcão no comércio! — Pare com isso, mãe! Eu já recuperei a nossa casa e a fazenda, esqueceu?— eu disse parando na porta do banheiro. Minha mãe não desistiria tão fácil. — Está bem! Quando sair desse banheiro, vamos conversar na piscina. Eu vou trocar de roupa. Quero nadar um pouco! Eu suspirei olhando o espelho. Estava tão magra. Eu fiz uma pose, querendo parecer elegante, depois ri de mim mesma. Victor me pegava de qualquer jeito, porque eu queria me parecer com suas possíveis amantes? Eu prendi o cabelo e lavei o rosto. Eu gostava de mim assim, sem maquiagem, com um rosto angelical. Eu me vi na minha cidade do interior, onde sempre fui feliz. Suspirei saudosa. Se pudesse, nunca teria saído de lá. Eu estava machucada, essa era a verdade. Eu podia aceitar aquela vida de rainha