Sob a Luz da Lua, Brianna galopava velozmente através do Oceano com quatro pesos que certamente não gostaria de estar carregando, entretanto, reclamar não era uma das habilidades que possuía ao estar transformada em um corcel do pélago. As espumas na água se formavam em torno dos seis cascos que bagunçavam o andamento das ondas naquela vastidão infindável onde nada se via aos arredores. Alguns cardumes de espécies variadas de peixes acompanhavam a jornada, formando uma escolta invejável com tubarões arco-íris ao lado garantindo que a viagem fosse segura. Para o ladrão de pele espelhada isso era aterrorizador, ele estava recolhido tentando ao máximo não tocar na água com medo de ser devorado por aquelas criaturas que cintilavam à Luz da noite selvagem. Yew pediu para que a Sacerdotisa parasse de correr, então respirou fundo e se curvou para que pudesse levar suas mãos até o mar calmo daquela noite. Sentiu o balançar da vida, como as ondas se comportavam ao seu toque, em qual ritmo o
Após o fim da batalha e a partida do Arauto da Liberdade de Cylch, eles foram perseguidos pelos humanos que não entendiam sua natureza e deixavam com que o temor falasse mais alto. Os aldyanos que restavam residiam ali, usando os barcos que fabricavam para ainda exercer sua função na terra que o Senhor da Luz tanto amou, apesar de ter ciência das chances que teriam de voltar para casa. Hoje comemoravam com a partida de mais uma nau, indo até Cylch para prestar socorro às vítimas do desequilíbrio espalhado por toda a terra. A animação reinava na ilha inteira, enquanto preparam várias fogueiras para danças circulares e afinavam seus instrumentos curiosamente estranhos para cantarem até o nascer do Sol, quando o grupo de aldyanos zarparia. Todos eles carregavam pedras das Estações consigo de alguma forma, já que eram Embaixadores. Baturinn possuía um colar que segurava a sua pedra da Luz, algo raro demais para ainda existir em Cylch, até mesmo Yew só havia visto uma desse tipo e era ex
Ao nascer do Sol, os aldyanos se despediram dos Embaixadores que iriam peregrinar por Cylch. A rota seria aportar nas terras gélidas do norte, e a partir dali, dividir o grupo por todas as regiões, inclusive por Niwloedd. Gale esperava que pudessem chegar até Masnach e cuidar da vila de seus pais. A filha de Baturinn estava entre os aldyanos voluntários que zarparam àquela manhã no Aliança Vespertina, navio este que haviam construído com suas próprias mãos. O mar estava revolto naquele dia, assim como todos os que o antecederam desde o desequilíbrio. Enquanto a população assistia o navio lutar contra as ondas, puderam ver ao fundo um maremoto imenso se erguer contra Cylch e devastar com a fúria implacável do Oceano grande parte da costa nortenha, para onde os Embaixadores iam. Depois de secar o rosto que fora completamente tomado pelas lágrimas de orgulho e relutância, o guardião de Raegin se responsabilizou por guiar o grupo até o Cemitério de Torres, de onde seguiriam sozinhos para
O fato de se aproximar do destino da jornada não era algo que agradava completamente a todos. Não terem lidado com os tais “monstros” que Baturinn dizia ter por ali os deixava com certo peso no peito, qual ia trincando suas costelas para chegar até o coração à força. Metade das tochas do piso em que chegaram estavam apagadas, que pelos cálculos da cabeça não tão confiáveis de Yew, seria o último antes de chegarem até a relíquia. Nenhum deles precisou abrir a boca para dizer o quão sombria e desnecessária era a atmosfera da sala onde estavam e como o dyninse de cabelos negros tinha medo do escuro. — Isso não está cheirando bem — disse o Sentinela. — Eu não sinto cheiros há uns cinquenta anos, então finjo que tudo cheira mal. — A velha deu de ombros. Com um ganido, a figura alada de pele púrpura se revelou para o grupo de aventureiros, como se nadasse pelo ar. Era um ser de aparência diabólica, com a cabeça esticada e dentes em formato de serra. Seus olhos explodiam em vermelho vivo
— Não deveríamos nos preocupar com… “isso”? — o dyninse questionou ao olhar o extremo vazio. A extensão abissal ao redor não era somente uma representação da grande força responsável por dizimar mundos, mas também trazia consigo uma infinita quantidade de sentimentos estranhos quais os aventureiros nunca haviam tido o infortúnio de experimentar. O grande vazio parecia transbordar para fora da prisão e infestar os corações daqueles indivíduos, os fazendo se sentirem fracos, impotentes, pequenos. Alabaster, que olhava para a flecha compenetrado, pôde jurar que, por um instante, escutara algo vindo de lá. — Parece até que estamos na prisão de Gallag e Wintanag. Onde o tempo não corre. Um lugar entre o dia e a noite. — Gale procurava algo no vácuo, se perguntando qual o motivo de ter um artefato tão importante em outro plano onde a maior ameaça à vida residia. — O próprio Abismo. — Vamos lá buscar então! — Guido se apressou, mas fora segurado por Yew, que começou a falar. — É burro p
Todos subiram até o andar seguinte o mais depressa que conseguiram, chegando até o mais completo breu. Yew improvisava uma tocha quando o jovem humano sentiu Samhain pulsar repetidamente.— Esperem — alertou ele. — O Outono está inquieto.Brianna tossiu mais poeira de monstro.Uma chama branca se acendeu no centro do salão. Então veio o gemido conjunto do tremer da torre inteira conforme essa chama se elevava até próxima ao teto. O local se iluminou com o Sol do fim de tarde pela força do urro que despedaçou duas partes das paredes, revelando a imensa criatura de olhos claros e uma mandíbula dura com presas de marfim. Ela se esticou e forçou a aparição espinhos que tomavam os musculosos braços e pernas, a cabeça e das costas até o final da cauda.— Será que era desse monstro que o azulzinho estava falando? — questionou a velha.— Gostaria de lembrar que poderíamos ter ido embora. — Guido estava indignado. — Poderíamos ter ido embora…O Sentinela sacou sua espada.— Me cobre? — pergunt
As estrelas permaneciam nos céus apontando para o horizonte noturno à frente. O barco, entregue a Gale e os outros em forma de presente por Baturinn e todos os aldyanos, balançava ao navegar sobre as ondas. O Sentinela do Outono remava em um ritmo exaustivamente contínuo através das camadas de água, que se sobrepunham e batiam violentamente contra suas hastes de madeira, entalhadas com cautela para terem o melhor desempenho possível em sua tarefa: Levá-lo até onde o Senhor da Luz repousava. As batidas do novo coração de Gale estavam completamente descontroladas pelo nervosismo de simplesmente imaginar seu encontro com o Pai das Estações. Esses batimentos lembravam a natureza do fornecedor de vida daquele Sentinela, qual ficava ciente de que a cada pulsada do mesmo, se aproximava da última. A sensação de morrer era indescritível, mas a de sentir a morte mais próxima a cada vez que se enchia os pulmões de vida era o suficiente para atormentá-lo. O rapaz ainda não conhecia nada sobre o
À medida que chegavam mais próximos do topo da montanha do centro, era mais difícil de escutar os próprios pensamentos com o misto das intensas ondas espirituais e dos estrondos da tormenta acima deles, que permanecia inabalável. Perto do pico havia uma entrada, em meio aos trovões e relâmpagos disparados pelas nuvens escuras. Uma caverna que parecia se estender até o outro lado da montanha. Os aventureiros apostaram suas estrelas que aquele seria o lugar em que o Senhor da Luz repousava. Guido se sentou cansado no meio do caminho. — Não aguento mais andar! — queixou-se. — Só estamos fazendo isso há dias! — Esperava que viéssemos até aqui para fazer o quê? Apreciar as andorinhas? — a velha Brianna retrucou sem paciência. Era carregada por Gale. — Deixem para brigar quando estivermos indo embora, temos que alcançar aquela caverna primeiro! — disse Yew, apontando para o local. — Como será que ele é? — questionou-se Alabaster. — Digo, o Senhor da Luz. A ansiedade de todos já era in