Ao nascer do Sol, os aldyanos se despediram dos Embaixadores que iriam peregrinar por Cylch. A rota seria aportar nas terras gélidas do norte, e a partir dali, dividir o grupo por todas as regiões, inclusive por Niwloedd. Gale esperava que pudessem chegar até Masnach e cuidar da vila de seus pais. A filha de Baturinn estava entre os aldyanos voluntários que zarparam àquela manhã no Aliança Vespertina, navio este que haviam construído com suas próprias mãos. O mar estava revolto naquele dia, assim como todos os que o antecederam desde o desequilíbrio. Enquanto a população assistia o navio lutar contra as ondas, puderam ver ao fundo um maremoto imenso se erguer contra Cylch e devastar com a fúria implacável do Oceano grande parte da costa nortenha, para onde os Embaixadores iam. Depois de secar o rosto que fora completamente tomado pelas lágrimas de orgulho e relutância, o guardião de Raegin se responsabilizou por guiar o grupo até o Cemitério de Torres, de onde seguiriam sozinhos para
O fato de se aproximar do destino da jornada não era algo que agradava completamente a todos. Não terem lidado com os tais “monstros” que Baturinn dizia ter por ali os deixava com certo peso no peito, qual ia trincando suas costelas para chegar até o coração à força. Metade das tochas do piso em que chegaram estavam apagadas, que pelos cálculos da cabeça não tão confiáveis de Yew, seria o último antes de chegarem até a relíquia. Nenhum deles precisou abrir a boca para dizer o quão sombria e desnecessária era a atmosfera da sala onde estavam e como o dyninse de cabelos negros tinha medo do escuro. — Isso não está cheirando bem — disse o Sentinela. — Eu não sinto cheiros há uns cinquenta anos, então finjo que tudo cheira mal. — A velha deu de ombros. Com um ganido, a figura alada de pele púrpura se revelou para o grupo de aventureiros, como se nadasse pelo ar. Era um ser de aparência diabólica, com a cabeça esticada e dentes em formato de serra. Seus olhos explodiam em vermelho vivo
— Não deveríamos nos preocupar com… “isso”? — o dyninse questionou ao olhar o extremo vazio. A extensão abissal ao redor não era somente uma representação da grande força responsável por dizimar mundos, mas também trazia consigo uma infinita quantidade de sentimentos estranhos quais os aventureiros nunca haviam tido o infortúnio de experimentar. O grande vazio parecia transbordar para fora da prisão e infestar os corações daqueles indivíduos, os fazendo se sentirem fracos, impotentes, pequenos. Alabaster, que olhava para a flecha compenetrado, pôde jurar que, por um instante, escutara algo vindo de lá. — Parece até que estamos na prisão de Gallag e Wintanag. Onde o tempo não corre. Um lugar entre o dia e a noite. — Gale procurava algo no vácuo, se perguntando qual o motivo de ter um artefato tão importante em outro plano onde a maior ameaça à vida residia. — O próprio Abismo. — Vamos lá buscar então! — Guido se apressou, mas fora segurado por Yew, que começou a falar. — É burro p
Todos subiram até o andar seguinte o mais depressa que conseguiram, chegando até o mais completo breu. Yew improvisava uma tocha quando o jovem humano sentiu Samhain pulsar repetidamente.— Esperem — alertou ele. — O Outono está inquieto.Brianna tossiu mais poeira de monstro.Uma chama branca se acendeu no centro do salão. Então veio o gemido conjunto do tremer da torre inteira conforme essa chama se elevava até próxima ao teto. O local se iluminou com o Sol do fim de tarde pela força do urro que despedaçou duas partes das paredes, revelando a imensa criatura de olhos claros e uma mandíbula dura com presas de marfim. Ela se esticou e forçou a aparição espinhos que tomavam os musculosos braços e pernas, a cabeça e das costas até o final da cauda.— Será que era desse monstro que o azulzinho estava falando? — questionou a velha.— Gostaria de lembrar que poderíamos ter ido embora. — Guido estava indignado. — Poderíamos ter ido embora…O Sentinela sacou sua espada.— Me cobre? — pergunt
As estrelas permaneciam nos céus apontando para o horizonte noturno à frente. O barco, entregue a Gale e os outros em forma de presente por Baturinn e todos os aldyanos, balançava ao navegar sobre as ondas. O Sentinela do Outono remava em um ritmo exaustivamente contínuo através das camadas de água, que se sobrepunham e batiam violentamente contra suas hastes de madeira, entalhadas com cautela para terem o melhor desempenho possível em sua tarefa: Levá-lo até onde o Senhor da Luz repousava. As batidas do novo coração de Gale estavam completamente descontroladas pelo nervosismo de simplesmente imaginar seu encontro com o Pai das Estações. Esses batimentos lembravam a natureza do fornecedor de vida daquele Sentinela, qual ficava ciente de que a cada pulsada do mesmo, se aproximava da última. A sensação de morrer era indescritível, mas a de sentir a morte mais próxima a cada vez que se enchia os pulmões de vida era o suficiente para atormentá-lo. O rapaz ainda não conhecia nada sobre o
À medida que chegavam mais próximos do topo da montanha do centro, era mais difícil de escutar os próprios pensamentos com o misto das intensas ondas espirituais e dos estrondos da tormenta acima deles, que permanecia inabalável. Perto do pico havia uma entrada, em meio aos trovões e relâmpagos disparados pelas nuvens escuras. Uma caverna que parecia se estender até o outro lado da montanha. Os aventureiros apostaram suas estrelas que aquele seria o lugar em que o Senhor da Luz repousava. Guido se sentou cansado no meio do caminho. — Não aguento mais andar! — queixou-se. — Só estamos fazendo isso há dias! — Esperava que viéssemos até aqui para fazer o quê? Apreciar as andorinhas? — a velha Brianna retrucou sem paciência. Era carregada por Gale. — Deixem para brigar quando estivermos indo embora, temos que alcançar aquela caverna primeiro! — disse Yew, apontando para o local. — Como será que ele é? — questionou-se Alabaster. — Digo, o Senhor da Luz. A ansiedade de todos já era in
Ele estava sentado à beira da montanha, com os pés suspensos, fitando o horizonte à frente. Era o mesmo homem, ou deus, que havia encontrado há pouco tempo. Trajava sua armadura gravada de folhas e deixava os longos cachos soltos ao vento, seus olhos casavam com a cor dos céus, cheios de melancolia. — Onde está Luxord? — perguntou o rapaz. — Veio para me buscar? — Acalme-se, garoto. Uma pergunta de cada vez, por favor. — Samhain chegou para o lado, dando espaço para que se sentasse próximo a ele. — Venha cá. Meu pai me enviou em seu lugar, pois, ele está bem ocupado agora. E espero que não tenha dado muito trabalho para Lucy lá embaixo, ela é bem sentimental — referia-se ao dragão. Gale se aproximou com cautela da borda, não desejando nem um pouco olhar para baixo, já que desconhecia como estava lidando com seu medo de altura no momento, então primeiramente se agachou e deixou que as pernas se sentissem livres ao pendê-las como as da divindade. O Filho do Outono assistiu ao espetá
Guido chutou uma pedra montanha abaixo, estava impaciente com a demora do Sentinela. À beira da caverna, os quatro companheiros podiam escutar os trovões descontrolados acima de suas cabeças. — Ainda vai demorar muito? Não tem nada para fazermos nesse lugar enquanto esperamos! — Nós acabamos de parar aqui, seu idiota! — retrucou Brianna. Yew se aproximou do garoto de cabelos negros, que estava sentado e encarava a grande Cylch sendo destruída aos poucos. Os desastres ficaram mais avassaladores desde quando a espada sagrada se partira por culpa dele, com tornados vermelhos, chuvas de gelo, terremotos e erupções vulcânicas. Sabia que era sua culpa. — Ei, garoto. — O elfo lhe estendeu uma tira de carne, que havia furtado em Raegin, e se sentou ao seu lado. — O “E se?” é sempre uma droga, não? Alabaster, sem entender muito bem, encarou-o confuso. — Sabe que ficar se martirizando não vai ajudar, não sabe? Entrar nessa eterna busca pelas atitudes diferentes que poderia tomado, ou uma