Quando Aline Rooth chegou ao mundo, o hospital inteiro parecia iluminado por uma luz especial.
— É uma menina linda! — exclamou o médico, entregando o pequeno e delicado pacote aos braços dos pais emocionados.
Seus cabelos ruivos, de um tom que lembrava as folhas do outono, formavam suaves ondas ao redor de seu rosto, e os olhos... ah, aqueles olhos eram um espetáculo à parte: verdes, intensos, como se neles se escondesse a profundidade do oceano e o frescor da natureza.
— Ela tem olhos de quem vê além, — comentou sua mãe, enquanto o pai sorria, com o coração transbordando de amor.
Desde o início, Aline trouxe consigo uma aura especial, algo que a fazia diferente. Os vizinhos diziam que aquela menina tinha um brilho no olhar, e logo se tornou a queridinha do bairro. Cada conquista era uma festa; o primeiro sorriso, o primeiro passo, a primeira palavra. E, com o tempo, seu charme e inteligência passaram a se destacar ainda mais.
— Aline, você tem o mundo nas suas mãos, sabia? — dizia o pai, orgulhoso, enquanto ela brincava de resolver problemas que outras crianças nem imaginavam.
A cada dia, ela mostrava uma curiosidade inata e uma inteligência que surpreendiam. Se havia algo que despertava sua atenção, Aline se jogava de cabeça, como uma exploradora em busca de tesouros escondidos. Não demorou muito para superar as crianças de sua idade, tanto nos estudos quanto nas atividades sociais.
Seus pais não escondiam o orgulho que sentiam.
— Nosso orgulho e alegria, — sussurrava a mãe, vendo Aline conquistar mais um prêmio na escola. O amor entre eles era um laço inquebrável, uma união que parecia transcender o tempo e o espaço. No entanto, a vida reservava um golpe que ninguém poderia prever.
Naquela noite fatídica, aos 17 anos, Aline viu seu mundo desmoronar. Seus pais não voltariam mais para casa. Um acidente de carro levou embora as pessoas que ela mais amava, e com elas se foi o aconchego, a segurança, o riso fácil que preenchia o lar. O vazio era indescritível, e o futuro parecia uma estrada sem rumo. Nos dias seguintes ao acidente, Aline ainda esperava acordar desse pesadelo, mas a dura realidade a golpeava todas as manhãs. Após alguns dias, veio uma verdade ainda mais amarga: ela teria de ir morar com sua única parente, a tia Margaret, irmã do seu pai.
Margaret não era, em nada, o tipo de pessoa acolhedora e amorosa que seus pais haviam sido. Rígida, de sobrancelhas sempre franzidas e com um olhar que parecia calculador, ela representava tudo o que Aline temia encontrar em alguém com quem tivesse de conviver.
— Espero que você saiba seguir as regras da minha casa.
Foi a primeira coisa que Margaret disse quando a menina entrou em sua nova morada. A voz era fria, cortante. E foi nesse ambiente que Aline foi forçada a se adaptar.
Margaret era exigente e mesquinha, cada gesto ou palavra parecia impregnado de amargura.
“— Nada de bagunça.”
“— Nada de gente estranha em minha casa.”
“— Nada de sair sem minha permissão.”
A cada ordem, parecia que um pouco mais do espírito alegre e cheio de vida de Aline se apagava. Mas, no fundo de seu coração, algo ainda brilhava: o amor e o legado de seus pais, a chama que, mesmo em meio às adversidades, ela sabia que jamais deixaria apagar.
Aline, que até então sentia sua vida se transformar em uma prisão com a tia Margaret, sabia que, se continuasse naquele ambiente sufocante, acabaria se perdendo de si mesma. Suas notas sempre brilhantes e sua inteligência excepcional abriram portas, e, aos 18 anos, ela foi aceita em uma universidade renomada. A notícia chegou como um raio de esperança.
— Eu não vou me prender a essa casa por mais tempo, — pensou Aline.
— Se eles me aceitaram na universidade, é porque há algo em mim que vale a pena. Tenho que agarrar essa chance com toda a força.
No entanto, para cobrir os custos de seu sonho de independência, Aline sabia que precisaria de um emprego. Tinha o conhecimento e a determinação, mas pouca experiência prática. Ainda assim, estava decidida a enfrentar o desafio de se manter financeiramente, longe das ordens rigorosas da tia Margaret.
Assim, em um dia ensolarado, ela saiu para a rua com o coração cheio de expectativa, pronta para procurar trabalho. Andou por várias lojas e escritórios, deixando seu currículo onde podia, mas sem muita esperança de retorno imediato. Ela já estava quase desistindo por aquele dia, quando ouviu uma voz familiar.
— Aline, é você?
A surpresa na voz era inconfundível. Ela se virou e viu uma figura sorridente: Isadora Mesquita, uma amiga do colegial, que sempre fora sua fiel companheira nas travessuras da escola. Isadora também havia mudado muito desde os tempos de criança. Agora, com uma postura confiante e um olhar brilhante, parecia mais madura, alguém que havia também conquistado seus próprios espaços na vida.
— Isadora! Quanto tempo! — Aline exclamou, sentindo uma onda de alegria e nostalgia ao reencontrar a amiga.
Após alguns abraços e risos, as duas logo se encontraram sentadas em uma cafeteria próxima, compartilhando as histórias de seus últimos anos. Entre uma xícara de café e outra, Aline contou sobre a universidade e sua busca por independência, e Isadora, com um olhar compreensivo, fez uma pausa antes de dizer:
— Sabe, Aline, o destino realmente não brinca em serviço. Você sabia que eu estou trabalhando numa empresa que está com uma vaga temporária aberta? Não é exatamente a área em que você quer atuar, mas pode ser um começo. E você é a pessoa ideal para essa chance.
Aline ficou sem palavras por um momento. Parecia que, mesmo nos dias mais sombrios, a vida ainda sabia como trazer oportunidades e reencontros inesperados. Naquele instante, ela sentiu que reencontrar Isadora era o começo de algo novo e promissor.
Aline sempre foi uma mulher determinada, mesmo que a vida nem sempre lhe desse as melhores cartas. Desde muito jovem, aprendeu a lutar pelo que queria, superando obstáculo que muitas pessoas sequer imaginavam. Após três anos de esforço intenso, ela se formou com honras em uma área promissora. Mas a realidade nem sempre corresponde às expectativas. Precisando pagar as contas, Aline continuou no trabalho fora de sua especialidade. — Eu só preciso de um tempo. Logo, logo estarei onde quero estar, — ela dizia para si, todas as manhãs, ao encarar o espelho. O que começou como um sacrifício temporário tornou-se uma oportunidade inesperada. Com dedicação e disciplina, Aline não só se destacou como foi promovida a um cargo efetivo na empresa.Dividindo um apartamento com sua melhor amiga, Isadora, e vivendo um relacionamento aparentemente perfeito com Fred, Aline sentia que, enfim, estava encontrando a estabilidade que sempre buscou. — Você merece, Aline. Trabalhou tanto para isso! — Isado
Aline percebeu a presença de um homem que parecia se destacar em meio à multidão. Ele não era apenas mais um cliente no bar; havia algo nele que a fez parar e observar por um momento mais longo do que deveria. Vestido com um terno impecável, ele caminhava com confiança e um sorriso de canto que parecia esconder algo sedutor. Seus olhos encontraram os dela, e Aline sentiu seu coração disparar. Sem entender o porquê, uma corrente de eletricidade a percorreu.Ela tentou desviar o olhar, voltar a si, mas já era tarde. O homem se aproximava, seus passos firmes ecoando em sua mente. Quando ele parou em sua frente, o mundo ao redor deles pareceu sumir, como se tudo estivesse em câmera lenta.— Eu estava ali sentado e notei que você está sozinha há um bom tempo — disse ele, sua voz suave e envolvente, como uma melodia. — Uma mulher tão linda não pode beber sozinha.Aline piscou, surpresa. Antes que pudesse reagir, ele já havia se sentado ao seu lado, com uma naturalidade desconcertante. Ela t
A noite fora intensa, marcada por uma conexão silenciosa, um misto de desejo e mistério que dispensava palavras. Aline, deitada ao lado do desconhecido, sentia uma exaustão boa, o tipo que apenas momentos verdadeiros de entrega proporcionam. Ele, por sua vez, parecia igualmente satisfeito, mas não disseram nada. Não era o momento para perguntas ou trocas de histórias pessoais. O cansaço finalmente os venceu, e ambos adormeceram, embalados pelo calor um do outro. Quando o sol começou a invadir o quarto pelas frestas da cortina, o desconhecido despertou. Seu corpo se moveu lentamente, os olhos pesados pela noite mal dormida. Ele virou a cabeça e a viu. Aline estava ao seu lado, os cabelos ruivos espalhados pelo travesseiro, o rosto sereno como se o mundo lá fora não pudesse tocá-la. Ele não conseguiu desviar o olhar. Um sorriso discreto surgiu no canto de sua boca, quase como um reflexo involuntário. Durante longos minutos, permaneceu assim, admirando a beleza daquela mulher que parec
A batida leve na porta parecia um eco distante para Aline, ainda envolta no calor do sono tranquilo e da cama que parecia abraçá-la. Mas o som insistente logo trouxe-a de volta à realidade. Ela se remexeu lentamente, ainda lutando contra a preguiça que a mantinha imóvel, até que abriu os olhos. A luz suave que entrava pelas cortinas bem-posicionadas a fez semicerrar os olhos enquanto seu corpo despertava aos poucos. Por um breve momento, ela deixou-se relaxar, aproveitando a maciez dos lençóis e a calma daquele espaço. Mas, como uma corrente elétrica, as lembranças da noite anterior começaram a invadi-la, abruptas e intensas. Subitamente, ela pulou da cama, o coração disparado, enquanto agarrava o lençol para cobrir o corpo desnudo. O movimento brusco fez algo cair no chão com um leve som abafado. Aline olhou rapidamente na direção do barulho, mas antes que pudesse examinar o que havia caído, seus olhos foram atraídos para o pequeno sofá no canto do quarto. Lá estavam suas roupas, d
Ao sair do hotel, Aline foi imediatamente envolvida pelo vento fresco daquela manhã. O ar parecia mais leve, mas sua mente estava pesada, confusa. Enquanto caminhava, percebeu a realidade à sua frente: dividia o apartamento com Isadora, sua amiga e cúmplice por tantos anos. No entanto, depois do que havia acontecido, encará-la parecia impossível. "Como vou lidar com isso? Onde eu estava com a cabeça?", pensava enquanto seus passos a levavam, quase automaticamente, em direção ao apartamento. A cada esquina que se aproximava de seu prédio, sua mente formulava cenários diferentes, estratégias para uma conversa que sabia ser inevitável. Mas, na verdade, nenhuma solução parecia satisfatória. Quando chegou à entrada do prédio, avistou o porteiro, seu Alfredo, sentado em sua cadeira habitual. Ele a reconheceu de imediato, levantando-se com um sorriso amigável. — Bom dia, senhorita Aline! — cumprimentou ele, ajeitando o boné. Aline retribuiu o sorriso com gentileza, embora estivesse dist
Aline apertou o casaco ao redor do corpo enquanto o vento gelado cortava a manhã cinzenta. O parque florestal estava praticamente vazio, salvo por alguns corredores dedicados e um ou outro cão passeando com seus donos. Ela escolheu um banco de madeira desgastado pela umidade e se sentou, deixando a mala ao lado. Seus pensamentos estavam desordenados, como as folhas secas espalhadas pelo chão. "Para a casa da tia? Nem pensar," concluiu, cruzando os braços como se defendesse a ideia absurda de voltar para aquela prisão. A convivência com a tia sempre fora insuportável. Aline sabia que sua tia jamais permitiria que ela tivesse paz — cada erro, cada decisão seria questionada e julgada sem piedade. Ela suspirou, encarando os galhos nus das árvores. Precisava de um apartamento.— Tenho o suficiente para começar, — pensou, lembrando do dinheiro que conseguiu juntar com esforço ao longo dos anos.— Se eu economizasse, conseguirei me estabilizar em alguns meses. Pensava ela.Com a decisão fo
Naquela sexta-feira, Clark saiu do escritório com o semblante carregado, seus pensamentos fervendo após mais uma discussão amarga com seu pai. Dominic Johnson tinha o talento único de provocar nele um misto de raiva e frustração que parecia incontrolável. Era como se cada palavra entre eles fosse um duelo velado de egos, ressentimentos e expectativas não atendidas. Enquanto ajustava a gravata ao sair pela porta principal da empresa, ele resmungou para si: — Essa empresa não vai me engolir. Clark sabia que precisava de um escape, um lugar onde pudesse acalmar os ânimos antes que sua raiva transbordasse. Não queria ir a nenhum dos bares sofisticados que frequentava com seus colegas de trabalho ou clientes. Escolheu, ao invés disso, um bar discreto na cidade, um lugar onde poderia ser apenas mais um homem com um copo de uísque nas mãos, sem as pressões de ser Clark Johnson, o herdeiro de um império empresarial. O bar era acolhedor, iluminado de forma sutil e com uma música suave que
Assim que Clark entrou na sala de reuniões, o ambiente estava carregado de tensão. Dominic Johnson, seu pai, o encarava com uma expressão séria, como se estivesse esperando um movimento errático. Clark, no entanto, decidiu tomar as rédeas da situação antes que qualquer conflito ressurgisse. — Vamos esquecer a nossa conversa de ontem e focar no que realmente importa. — Clark disse com firmeza, aproximando-se da mesa de reuniões. — Estou disposto a ir para o Japão, se esse é o seu desejo. Dominic manteve o olhar fixo no filho, os olhos estreitados, avaliando cada palavra. Ele apoiou as mãos na mesa com calma, mas seu tom era carregado de autoridade quando respondeu: — Sobre a nossa conversa de ontem, confesso que não será esquecida. Mas falaremos sobre isso em outro momento. Dominic se acomodou na cadeira com a elegância de quem sabia que estava no controle da situação. Sem rodeios, ele continuou: — Partirá amanhã cedo para o Japão. E levará a Janine com você. Clark arqueou as sob