5. QUEM ERA ELE?

A batida leve na porta parecia um eco distante para Aline, ainda envolta no calor do sono tranquilo e da cama que parecia abraçá-la. Mas o som insistente logo trouxe-a de volta à realidade. Ela se remexeu lentamente, ainda lutando contra a preguiça que a mantinha imóvel, até que abriu os olhos. A luz suave que entrava pelas cortinas bem-posicionadas a fez semicerrar os olhos enquanto seu corpo despertava aos poucos. 

Por um breve momento, ela deixou-se relaxar, aproveitando a maciez dos lençóis e a calma daquele espaço. Mas, como uma corrente elétrica, as lembranças da noite anterior começaram a invadi-la, abruptas e intensas. Subitamente, ela pulou da cama, o coração disparado, enquanto agarrava o lençol para cobrir o corpo desnudo. 

O movimento brusco fez algo cair no chão com um leve som abafado. Aline olhou rapidamente na direção do barulho, mas antes que pudesse examinar o que havia caído, seus olhos foram atraídos para o pequeno sofá no canto do quarto. Lá estavam suas roupas, dobradas cuidadosamente, quase como um gesto delicado de despedida. 

Foi só então que ela notou, de fato, o ambiente à sua volta. Aline percorreu o quarto com o olhar, absorvendo cada detalhe. Era um espaço luxuoso, com uma cama imensa de lençóis brancos impecáveis, um sofá de um e dois lugares, uma bancada elegante de madeira escura e espelhos estrategicamente posicionados que amplificavam a luz do sol, fazendo o quarto brilhar em um tom quente e acolhedor. 

— Meu Deus... Onde eu estou? — sussurrou, levando a mão à boca, como se dizer em voz alta fosse confirmar que aquilo não era um sonho. 

Enquanto tentava processar a situação, uma voz feminina veio do outro cômodo, fazendo-a congelar no lugar. 

— Senhorita, trouxe seu café. Vou deixá-la sozinha para desfrutar da refeição. Tenha um bom dia. 

Era a camareira. Aline permaneceu imóvel, segurando o lençol firmemente contra o peito, enquanto ouvia os passos leves da mulher e, em seguida, o som da porta se fechando suavemente. 

Assim que se deu conta de que estava sozinha novamente, soltou o ar que nem percebera estar prendendo. Respirando fundo, correu até o sofá e começou a vestir suas roupas o mais rápido que podia. A cada peça ajustada, sua mente era um turbilhão de pensamentos. 

“Quem era ele?” 

“Como vim parar aqui?” 

“Por que isso parece tão... surreal?” 

“E que homem maravilhoso era ele...” 

Enquanto colocava a blusa, um aroma marcante invadiu seus sentidos: o perfume dele ainda impregnava sua pele. Era um cheiro intenso, um misto de madeira e algo levemente adocicado, um aroma que parecia tão único quanto ele. Aline fechou os olhos por um instante, como se pudesse capturar aquele momento em sua memória. 

De repente, lembrou-se do que a camareira havia dito sobre o café. Curiosa, caminhou em direção ao outro cômodo. Era uma sala ampla, igualmente sofisticada, com móveis que pareciam sair de uma revista de decoração. Sobre uma pequena mesa de centro, repousava uma bandeja impecavelmente arrumada com frutas, croissants, suco fresco e uma xícara de café fumegante. 

Aline aproximou-se devagar e, ao lado da bandeja, notou um pedaço de papel dobrado. Pegou-o com cuidado, e ao abrir, deparou-se com uma caligrafia impecável que dizia: 

“Espero que seu dia comece tão bem quanto o meu terminou. – Clark.” 

Ela piscou, surpresa. Clark. Esse era o nome dele. O som ecoou em sua mente enquanto ela repetia baixinho: 

— Clark... 

Era um nome forte, simples, mas carregado de mistério, assim como o homem que a havia arrebatado na noite anterior. As memórias voltavam em flashes confusos: olhares intensos, toques que a faziam arrepiar, a conexão instantânea que os havia envolvido como uma tempestade... Mas tudo ainda parecia nebuloso, quase irreal. 

Aline olhou para o bilhete mais uma vez antes de dobrá-lo cuidadosamente e guardá-lo no bolso da calça. Seu coração ainda batia rápido, mas dessa vez, não era por medo ou confusão — era por algo mais profundo, uma curiosidade inquietante e uma sensação de que algo havia mudado em sua vida. 

Ela não tocou na bandeja de café da manhã. Não tinha fome, nem ânimo para ficar naquele lugar por mais um minuto. Vestida e com os pensamentos girando como um redemoinho, Aline saiu do quarto com passos apressados. 

Enquanto caminhava pelo corredor, decidiu que, pelo menos naquele instante, não iria pensar na traição de Fred e Isadora. Essa dor ela deixaria para mais tarde. Agora, tudo o que queria lembrar era do momento maravilhoso que vivera com aquele desconhecido chamado Clark. 

E com isso, um pequeno sorriso escapou de seus lábios enquanto a porta do elevador se fechava atrás dela. 

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