Naquela sexta-feira, Clark saiu do escritório com o semblante carregado, seus pensamentos fervendo após mais uma discussão amarga com seu pai. Dominic Johnson tinha o talento único de provocar nele um misto de raiva e frustração que parecia incontrolável. Era como se cada palavra entre eles fosse um duelo velado de egos, ressentimentos e expectativas não atendidas. Enquanto ajustava a gravata ao sair pela porta principal da empresa, ele resmungou para si: — Essa empresa não vai me engolir. Clark sabia que precisava de um escape, um lugar onde pudesse acalmar os ânimos antes que sua raiva transbordasse. Não queria ir a nenhum dos bares sofisticados que frequentava com seus colegas de trabalho ou clientes. Escolheu, ao invés disso, um bar discreto na cidade, um lugar onde poderia ser apenas mais um homem com um copo de uísque nas mãos, sem as pressões de ser Clark Johnson, o herdeiro de um império empresarial. O bar era acolhedor, iluminado de forma sutil e com uma música suave que
Assim que Clark entrou na sala de reuniões, o ambiente estava carregado de tensão. Dominic Johnson, seu pai, o encarava com uma expressão séria, como se estivesse esperando um movimento errático. Clark, no entanto, decidiu tomar as rédeas da situação antes que qualquer conflito ressurgisse. — Vamos esquecer a nossa conversa de ontem e focar no que realmente importa. — Clark disse com firmeza, aproximando-se da mesa de reuniões. — Estou disposto a ir para o Japão, se esse é o seu desejo. Dominic manteve o olhar fixo no filho, os olhos estreitados, avaliando cada palavra. Ele apoiou as mãos na mesa com calma, mas seu tom era carregado de autoridade quando respondeu: — Sobre a nossa conversa de ontem, confesso que não será esquecida. Mas falaremos sobre isso em outro momento. Dominic se acomodou na cadeira com a elegância de quem sabia que estava no controle da situação. Sem rodeios, ele continuou: — Partirá amanhã cedo para o Japão. E levará a Janine com você. Clark arqueou as sob
Quando Clark entrou no hotel, o ambiente elegante parecia contrastar com a inquietação que o dominava. O concierge, sempre atento, o cumprimentou com um sorriso caloroso. — Boa tarde, senhor Johnson! Como foi sua manhã? Clark, sem perder tempo, ignorou a cordialidade habitual e perguntou diretamente: — Fez o que pedi? O concierge, um homem de meia-idade com uma postura impecável, assentiu com um sorriso que parecia misturar profissionalismo e um toque de curiosidade. Aproximando-se discretamente, ele respondeu quase em um cochicho: — Sim, senhor. O café foi enviado como solicitado, mas... ela não tocou em nada. Clark franziu a testa, claramente frustrado. Antes que pudesse dizer algo, o concierge continuou: — Ah, e encontrei isso no chão do quarto. Com um movimento preciso, o homem retirou um pedaço de papel dobrado de seu bolso e o entregou a Clark. O bilhete parecia levemente amassado, como se tivesse sido descartado sem importância. Clark o pegou com certa hesitação e, ao
Estava anoitecendo quando o táxi parou diante da casa onde Aline havia passado uma infância repleta de alegria e momentos inesquecíveis ao lado de seus pais. O motorista olhou pelo retrovisor, curioso com o olhar distante da passageira. Aline pagou a corrida, agradeceu baixinho e saiu do carro, puxando a mala de rodinhas. Ela parou na calçada, encarando a fachada da casa. A pintura desbotada denunciava o tempo que havia passado desde a última vez que alguém cuidara do lugar. As janelas estavam fechadas, mesmo assim parecia que cada canto daquele lar ainda guardava os ecos de risadas e conversas. A rua, antes vibrante e cheia de vozes infantis, agora estava mergulhada em silêncio, com apenas o som distante de um cachorro latindo e as folhas balançando ao vento. Ela se lembrou de como costumava correr por ali com Carla, Beatriz e Jéssica, suas melhores amigas da infância. Lembranças de brincadeiras, risadas e aventuras preenchiam sua mente, e um sorriso involuntário surgiu em seus láb
Quando Aline abriu a porta, seu coração deu um salto ao ver Jéssica parada ali, com a mesma expressão calorosa e acolhedora de sempre. Era como se o tempo tivesse recuado, apagando os anos de distância e trazendo de volta uma parte de sua infância. — Jéssica... é você mesmo? — A voz de Aline tremeu de incredulidade e emoção. Antes que Jéssica pudesse responder, Aline a puxou para um abraço apertado. As duas começaram a rir, dando pulinhos de alegria, como se fossem novamente as meninas despreocupadas que costumavam ser. — Não acredito que você está aqui! — Aline disse, finalmente se afastando o suficiente para encarar o rosto da amiga. — Eu estava passando e vi uma luz acesa. Não podia acreditar que era você! — respondeu Jéssica, sua voz transbordando entusiasmo. — Você voltou! Aline olhou ao redor, seus olhos repousando brevemente na casa que guardava tantas memórias. Um sorriso suave apareceu em seu rosto, misturado com uma ponta de melancolia. — Voltei... — ela murmurou
Na manhã seguinte, o sol dourado já atravessava as cortinas quando Aline despertou. O aroma inconfundível de café fresco misturado ao perfume suave e aconchegante de biscoitos de canela invadiu o quarto, trazendo-lhe um calor familiar que parecia envolvê-la em um abraço do passado. Ela espreguiçou-se lentamente, sentindo o conforto de estar novamente em um lugar tão carregado de memórias. Aceitar o convite de Jéssica para dormir em sua casa fora uma decisão acertada. Contudo, a tranquilidade daquela manhã não apagava a razão de sua visita àquela cidade. A missão que a trouxera ali estava mais clara do que nunca, e ela sabia que era hora de enfrentá-la. Descendo para o café da manhã, Aline foi recebida por Jéssica e sua mãe com um sorriso caloroso. A mesa estava posta com xícaras fumegantes de café, um prato cheio de biscoitos dourados e uma cesta de pães fresquinhos. — Dormiu bem? — perguntou Jéssica, enquanto passava manteiga em uma fatia de pão. — Sim, como uma pedra — respondeu
O primeiro passo estava dado. Aline sentia-se aliviada por avançar, mas sabia que o caminho à frente seria difícil. O próximo desafio seria enfrentar Isadora, a amiga que havia traído sua confiança. Aline tentava não pensar no passado, mas, às vezes, a lembrança de seu ex-namorado e Isadora aos beijos voltava como um golpe inesperado. A dor em seu peito era inevitável, um lembrete de tudo o que havia perdido e do quanto precisaria de força para seguir em frente.Depois de um banho rápido, Aline vestiu seu pijama e preparou-se para dormir. Em frente ao espelho, com os cabelos ainda úmidos, começou a penteá-los lentamente, permitindo que sua mente vagasse. Foi inevitável: seus pensamentos a levaram até o homem desconhecido e a noite intensa que haviam compartilhado.Ela parou o movimento do pente por um instante, encarando seu reflexo no espelho. As emoções que sentia eram confusas. Por um lado, havia o arrependimento de não ter se despedido adequadamente ou deixado um meio de contato m
Enquanto Aline ainda lutava para digerir a surpreendente notícia da gravidez, a milhares de quilômetros de distância, Clark saía de mais uma reunião de negócios. O contrato que acabara de fechar era impressionante, mas seu semblante não refletia nenhum traço de satisfação. Enquanto flocos de neve caíam suavemente do céu, ele atravessou a calçada em direção ao carro que o aguardava, mergulhado em pensamentos sombrios.— Tudo certo, senhor? — perguntou o motorista, um homem mais velho, leal à família há anos, enquanto abria a porta do carro. Clark suspirou, ajeitando o sobretudo. — Apenas dirija, Arthur. Vamos para a mansão. O motorista assentiu e o carro deslizou pelas ruas de Chicago cobertas de neve. A cidade, embora linda sob a neve constante, parecia refletir o estado de espírito de Clark: fria e opressiva. Por mais que sua carreira fosse um exemplo de sucesso, sua vida pessoal parecia ser um emaranhado de decepções e ressentimentos. Ao chegar à mansão da família, uma construçã