4. QUE MULHER!

A noite fora intensa, marcada por uma conexão silenciosa, um misto de desejo e mistério que dispensava palavras. Aline, deitada ao lado do desconhecido, sentia uma exaustão boa, o tipo que apenas momentos verdadeiros de entrega proporcionam. Ele, por sua vez, parecia igualmente satisfeito, mas não disseram nada. Não era o momento para perguntas ou trocas de histórias pessoais. O cansaço finalmente os venceu, e ambos adormeceram, embalados pelo calor um do outro. 

Quando o sol começou a invadir o quarto pelas frestas da cortina, o desconhecido despertou. Seu corpo se moveu lentamente, os olhos pesados pela noite mal dormida. Ele virou a cabeça e a viu. Aline estava ao seu lado, os cabelos ruivos espalhados pelo travesseiro, o rosto sereno como se o mundo lá fora não pudesse tocá-la. 

Ele não conseguiu desviar o olhar. Um sorriso discreto surgiu no canto de sua boca, quase como um reflexo involuntário. Durante longos minutos, permaneceu assim, admirando a beleza daquela mulher que parecia, ao mesmo tempo, forte e vulnerável. Era uma mistura hipnotizante. 

— Quem é você, afinal? — ele pensou, embora não ousasse pronunciar as palavras. 

O silêncio foi interrompido pelo som abafado de seu celular vibrando na bancada próxima. Ele suspirou, relutante, e se levantou com cuidado, tentando não acordá-la. Pegou o aparelho e viu a mensagem que acabara de chegar. 

— Droga! — murmurou baixinho, ao ler o texto enviado por seu assistente pessoal. — Quem marca uma reunião em pleno sábado? Só meu pai mesmo... 

Com um leve movimento de cabeça, demonstrando irritação, ele digitou uma resposta rápida: 

“Estou indo. Chego aí em cinco minutos.” 

Enquanto colocava o celular no bolso, lançou outro olhar para Aline. Ela continuava dormindo profundamente, alheia à urgência que agora tomava conta de sua manhã. Ele começou a se vestir, puxando a camisa de botões e calçando os sapatos apressadamente, mas seus olhos insistiam em voltar para ela. 

— Você é um mistério, sabia? — murmurou, com um sorriso quase imperceptível. 

Antes de sair, algo chamou sua atenção: um pequeno bloco de anotações sobre a mesa de canto. Ele pegou uma caneta e escreveu algumas palavras em uma folha. 

“Meu número. Se quiser saber mais, me ligue. – Clark.” 

Destacando a folha com cuidado, ele a colocou sobre o travesseiro, exatamente ao lado dela. Ficou mais alguns segundos ali, observando-a, como se tentasse gravar aquele momento em sua memória. 

— Espero que você ligue... — disse baixinho, antes de atravessar a porta.

Assim que saiu do quarto, Clark caminhou em passos firmes, mas silenciosos, pelo corredor do hotel. Ele não queria fazer barulho e, menos ainda, ser notado. Apesar do ar confiante que carregava, havia algo diferente naquele momento — um peso, ou talvez um magnetismo, que o mantinha conectado à mulher que deixara para trás. 

Ao chegar ao saguão, ele avistou o concierge ao lado do balcão principal, sempre impecavelmente vestido e com um sorriso discreto que transmitia profissionalismo. Clark aproximou-se, inclinando-se ligeiramente para falar em tom baixo, quase conspiratório. 

— Bom dia. Preciso de um favor. Poderia providenciar um café da manhã para o quarto 305? Algo leve, mas completo. Frutas, suco fresco, e, se possível, croissants quentinhos. 

O concierge, que já o conhecia de outras estadias, assentiu prontamente, sem sequer consultar o sistema. 

— Certamente, senhor Johnson. Será entregue em alguns minutos. 

Clark Johnson sorriu, o tipo de sorriso que parecia carregar uma promessa de boas relações futuras.  Ele era um homem bonito e elegante, com feições perfeitas e sorriso conquistador, seu nome precedia.

— Obrigado, meu amigo. Sempre um prazer contar com sua eficiência. 

— Estamos aqui para servir, senhor. Tenha um excelente dia. 

Clark ergueu a mão em um leve aceno de despedida, mas antes de sair, parou por um instante, como se hesitasse. Virou-se novamente para o concierge e completou:

— Ah, quase me esqueci. Acrescente um bilhete ao pedido. Algo simples. Escreva assim: “Espero que seu dia comece tão bem quanto o meu terminou. – Clark.” 

O concierge sorriu educadamente, mas com um brilho curioso nos olhos.

— Será feito, senhor.

Com isso resolvido, ajeitou o terno com um movimento fluido, respirou fundo e atravessou o saguão em direção à saída. Do lado de fora, o vento matinal o cumprimentou, fresco e revigorante, mas incapaz de dissipar os pensamentos. 

Enquanto caminhava até o carro, seu telefone vibrou novamente. Era outra mensagem, provavelmente do assistente. Ele a ignorou por alguns segundos, encarando o horizonte como se buscasse clareza para as emoções que o consumiam. 

Entrou no veículo e acomodou-se no banco do motorista, mas antes de dar partida, passou as mãos pelo volante, pensativo. A reunião o esperava, o mundo de negócios clamava por sua atenção, mas sua mente permanecia presa naquele quarto. 

“Que mulher arrebatadora...” murmurou para si, enquanto o motor rugia suavemente e ele partia em direção ao compromisso.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo