A chuva castigava Londres naquela noite, transformando as ruas em espelhos d’água que refletiam o brilho frio dos relâmpagos. Os trovões ressoavam como um aviso sombrio, como se o próprio universo tentasse alertar sobre o que estava prestes a acontecer.
Dentro da maternidade, os corredores estavam agitados. Médicos entravam e saíam das salas de parto, enfermeiras corriam para lá e para cá, os gritos de mulheres em trabalho de parto se misturavam ao som da tempestade.
Naquele hospital, duas mulheres estavam prestes a dar à luz. Duas mães, dois destinos… e um segredo que jamais poderia ser revelado.
Luna Harrison
O grito escapou dos meus lábios assim que outra contração intensa rasgou meu corpo. Eu me contorcia na maca, segurando o lençol com força enquanto as enfermeiras me levavam às pressas para a sala de parto.
— Respire, Luna. Está indo bem, logo seus bebês estarão nos seus braços. — disse o médico ao meu lado, tentando manter a calma.
Mas eu não conseguia. Era cedo demais, muito cedo para meus bebês nascerem.
Eu estava sozinha, minhas mãos tremiam, sabia que precisava ser forte, que precisava manter o controle… Mas o medo me consumia.
Minha melhor amiga, Kate Stewart, já havia sido informada que eu estava em trabalho de parto, infelizmente, a chuva torrencial impediu dela chegar ao hospital.
— Por favor, meus bebês… salvem meus bebês — murmurei, sentindo as lágrimas quentes deslizarem pelo meu rosto.
E então, a dor me engoliu completamente e eu resolvi confiar.
✲ ✲ ✲
Do outro lado do hospital, Samantha Lancaster também lutava para dar à luz.
Ela segurava a mão de Jacob, seu esposo, com força, a testa coberta de suor, os olhos cheios de pavor.
— Vai dar tudo certo, amor. Logo estaremos com nosso filho nos braços — ele sussurrou contra sua pele, tentando transmitir segurança.
O que ele não sabia era que Samantha não tinha a mesma certeza que ele. Ela sentia que algo não estava bem.
— Você vai ficar comigo, não vai? — sua voz saiu trêmula, baixa.
— Sempre — Jacob segurou seu rosto e sorriu.
Samantha queria acreditar nisso, porém, o destino… esse tinha outros planos.
O parto de Samantha foi longo e exaustivo, os médicos pediram para Jacob esperar em outra sala e Sophia, mãe de Samantha, ficou ao lado da filha durante todo o parto. Ela sentia o corpo inteiro latejar, a exaustão pesando sobre seus ossos e o tão esperado choro do bebê não veio, tornando o ar na sala espesso.
O pediatra trocou olhares tensos com a equipe médica. A enfermeira pressionou o peito da criança, o equipamento apitou… para em seguida o único som que consumiu o ambiente foi o silêncio mortal.
Sophia Taylor, a mãe de Samantha, sentiu o sangue gelar nas veias. Ela havia entendido, o pequeno Benjamin Lancaster não resistiu, era prematuro.
O médico virou para a Samantha, com os olhos carregados de pesar e disse:
— Sra. Lancaster… sentimos muito.
Samantha piscou, tentando processar as palavras e perguntou:
— O quê?
— O seu filho…
— NÃO! — o grito rasgou a sala. A dor atravessou seu peito como um golpe letal, roubando o ar de seus pulmões. — Isso é um erro! Meu bebê está bem! FAÇAM ALGUMA COISA! — ela berrava, tentando se levantar, mas uma enfermeira a segurou, tentando acalmá-la.
— Samantha… — a voz de Sophia veio suave, mas firme. — escute com atenção, Jacob não pode saber.
Samantha desviou o olhar para a mãe confusa e antes de perguntar alguma coisa, Sophia continuou:
— Se Jacob souber, ele nunca mais será o mesmo. Esse bebê… esse filho… é o que sustenta esse casamento. Se Jacob perder esse bebê, você irá perdê-lo!
O silêncio tomou conta da sala. Sophia olhou para o outro lado e viu o exato momento em que uma enfermeira passava com um carrinho e dentro dele haviam duas crianças, um menino e uma menina. Ela correu e ficou diante da enfermeira que a olhou em confusão. Sem pensar, se aproximou do garotinho loirinho e como se percebesse o que acontecia ao seu redor, ele abriu os olhinhos e duas safiras se destacaram reluzentes. Ela sorriu e agradeceu aos céus pelo pequeno milagre e sem hesitar, desviou o olhar para o médido e disse:
— Troque os bebês — sua voz saiu firme.
— Senhora Lancaster, isso não pode ser feito — disse Dr Richard.
— Qual é o seu preço, doutor?
O médico se calou por um instante.
— Isso é uma loucura! — foi a vez da enfermeira se pronunciar.
Sophia se virou para a mulher e disse:
— Quer arruinar a vida da minha filha? Essa mulher terá conforto com o outro que ficará vivo.
— Doutor Richard, o senhor…
— Faça o que a senhora Lancaster ordenou, Chloe.
— Dr Richard…
— Não me questione e que isso não saia daqui.
A enfermeira fechou os olhos, lutando contra a consciência, mas acabou acatando o que lhe foi ordenado.
Benjamin Lancaster “sobreviveu”.
Jacob nunca soube que o filho que segurava nos braços… não era seu.
✲ ✲ ✲
Quando acordei, o quarto parecia um borrão. Minha respiração estava pesada, tudo doía. Mesmo assim, forcei meu corpo a reagir.
— Onde estão meus bebês? — minha voz saiu trêmula, cheia de urgência.
A enfermeira hesitou por um instante e assim eu soube. O pânico se espalhou em meu peito como uma tempestade.
— Senhorita Luna… sua filha, Valentina, está bem.
Meu coração saltou.
— E meu filho? E ele?
— Ele… não resistiu — os olhos da enfermeira desviaram.
O mundo parou. O quarto girou ao meu redor. Senti o ar faltar, minha alma ser arrancada do meu corpo.
— Não… não…
E então… o grito rasgou minha garganta.
— NÃO!
Minhas mãos foram até a barriga, meu corpo tremia, o peito explodia em dor.
— MEU BEBÊ! NÃO! MEU BEBÊ!
A enfermeira tentou me segurar, mas eu me debati.
— QUERO MEU FILHO! DEIXE-ME VER MEU BEBÊ!
— Senhorita Luna… ele se foi — as palavras me atingiram como lâminas afiadas.
Meu pequeno menino se foi. A dor tomou conta de mim, o tipo de dor que nunca desaparece.
Enquanto isso, do outro lado do hospital, Samantha Lancaster sorria, segurando nos braços um bebê que não era dela.
Ela olhou para Jacob, que tocava o pequeno rostinho do menino com adoração e, naquele instante, ela soube que seu casamento estava salvo, mas…
Aquele segredo custaria caro.
Por mais que a verdade seja enterrada, um dia ela sempre encontra uma maneira de voltar à superfície.
Dizem que na vida só temos a certeza da morte. Mas eu tinha outra: A de que meu destino havia mudado para sempre. — Ele abusou de mim, pai. Eu… eu…PlaftSinto o rosto arder pelo tapa que levei no rosto, mas nada se compara a dor que sinto dentro do peito. Meu pai, aquele que deveria me proteger das mazelas do mundo, cuidar de mim, não acreditava no que eu dizia. — Você é uma dissimulada e mentirosa como sua mãe. Thomás jamais faria isso com você, Luna. Como você pode… saia da minha casa, a partir de hoje não é mais minha filha! Encaro a figura alta bem diante de mim. O homem de cabelos loiros iguais aos meus, seus olhos verdes sempre me lembravam um par de esmeraldas. Não consigo exteriorizar a dor dilacerante que corta minha alma. Sem dizer uma única palavra, dei às costas e saí daquela casa. A casa que pertenceu à minha mãe, onde fui feliz até meus oito anos, depois disso o destino cruel levou a levou, vítima de câncer de mama. Eu saí sem levar nada, apenas minha bolsa com meu
Existe um ditado que diz “Palavras confortam a mais profunda dor”. Eu discordo, acredito que um abraço envolvente,sincero, vale mais que mil palavras. Saio da ponte de Westminster correndo e deixo o homem que acabou de me impedir de fazer uma burrada para trás. “Meu Deus, o que eu ia fazer?”Não posso dar fim à minha vida, preciso ser forte e sobreviver a tudo isso, não por mim, mas pela memória de minha mãe! Fecho o sobretudo no meu corpo e vou para o único lugar onde sei que serei acolhida: a casa da minha melhor amiga, Kate. Desde pequena somos melhores amigas, apesar das tentativas da minha madrasta de nos afastar. Segundo ela, Kate não era do meu “nível social”, tolice. Sempre duvidei dos verdadeiros sentimentos de Ingrid em relação ao meu pai. Não que fossemos ricos mas, comparado a ela, tínhamos uma condição de vida muito superior. Depois da morte da minha mãe, passados seis meses, ela chegou na nossa casa. Quando a vi, pensei que pudesse amá-la como uma mãe, mas a decepçã
Jacob Alexander LancasterÉ incrível como sua vida é capaz de mudar de uma hora para outra, em fração de segundos, principalmente quando existe dinheiro envolvido. O relógio marcava sete da noite, mas eu ainda estava preso na minha sala, encarando a cidade iluminada pela vista panorâmica do meu escritório. Meu maxilar ainda estava tenso, e a caneta em minha mão girava entre os dedos em um movimento automático.Eu estava puto.As palavras do meu pai ainda ecoavam na minha mente, irritantes e constantes, como uma maldita martelada. “Você tem que pensar na imagem da empresa, Jacob. Você precisa de estabilidade. Precisa de uma esposa.”Soltei uma risada seca, amarga e repeti:--- Precisa de uma esposa.Como se casamento fosse uma maldita estratégia de marketing.Fechei os olhos, respirando fundo. Meu pai e seu sócio estavam determinados a forçar essa união para promover minha imagem no mercado internacional. Investidores tradicionais valorizavam líderes com “vida pessoal estável”, e, ap
Jacob Alexander Lancaster O néon vermelho e azul piscava incessantemente, refletindo nas paredes escuras do clube exclusivo onde minha despedida de solteiro estava acontecendo. O ar cheirava a whisky caro, perfume doce e tentação.A música pulsava em um ritmo lento e sensual, enquanto dançarinas se moviam nos palcos com uma desenvoltura calculada. Era exatamente o tipo de festa que meus amigos achavam que eu queria.Eles não me conhecem, na verdade, eu odiava.— Vamos lá, Jacob, só um showzinho particular… nada demais! — dizia Kaleb, um dos meus melhores amigos e o mais insistente, enquanto me empurrava em direção a um canto mais reservado, onde um grupo de strippers nos olhava como predadoras famintas.Rolei os olhos.— Não estou interessado.— Não seja um puritano, cara! É sua última noite de liberdade!— Liberdade? --- soltei uma risada seca. — Apenas serei um homem realmente livre daqui três anos. — Cara, pelo menos é a Samantha, e se fosse outra mulher?— A Samantha… pode casa
Jacob Alexander Lancaster Apoiei as costas contra a parede fria do corredor dos fundos, soltando um suspiro pesado. O barulho da boate ainda vibrava ao fundo, abafado pelas paredes grossas, mas ali estava um pouco mais silencioso. Então, percebi algo estranho: Eu estava sorrindo.Não era um daqueles sorrisos treinados, forçados, que eu usava em reuniões de negócios ou eventos sociais, era um sorriso genuíno. O mais impressionante é que foi tudo por causa de uma bartender atrevida que me olhou nos olhos e disse, sem hesitar, que eu era um riquinho mimado, imagina se ela soubesse que eu sou o noivo? Noivo…É incrível que nos dias de hoje ainda existam casamentos por contrato, ao invés de evoluirmos, estamos dando um passo para trás. Patético isso, não? Levo o copo aos lábios e degusto a minha bebida. — Que porra é essa que estou tomando? — olho para meu copo tentando decifrar o que estou tomando e não consigo deixar de pensar nela. “Luna”… O nome dela ecoou na minha mente e