Dizem que na vida só temos a certeza da morte. Mas eu tinha outra: A de que meu destino havia mudado para sempre.
Um ano e três meses atrás...
— Ele abusou de mim, pai. Eu… eu…
Plaft
Sinto o rosto arder pelo tapa que levei no rosto, mas nada se compara a dor que sinto dentro do peito.
Meu pai, aquele que deveria me proteger das mazelas do mundo, cuidar de mim, não acreditava no que eu dizia.
— Você é uma dissimulada e mentirosa como sua mãe. Thomás jamais faria isso com você, Luna. Como você pode… saia da minha casa, a partir de hoje não é mais minha filha!
Encaro a figura alta bem diante de mim. O homem de cabelos loiros iguais aos meus, seus olhos verdes sempre me lembravam um par de esmeraldas. Não consigo exteriorizar a dor dilacerante que corta minha alma. Sem dizer uma única palavra, dei às costas e saí daquela casa. A casa que pertenceu à minha mãe, onde fui feliz até meus oito anos, depois disso o destino cruel levou a levou, vítima de câncer de mama.
Eu saí sem levar nada, apenas minha bolsa com meus documentos.
Caminho pelas ruas de Bexley completamente perdida. Nunca me senti tão sozinha, tão desprotegida. Abraço meu corpo na tentativa de aquecê-lo.
É só fechar os olhos que consigo lembrar de cada detalhe. A maneira que Thomás me abordou na festa, o perfume forte dele misturado com o cheiro do álcool e do cigarro, como seus amigos o ajudaram segurando minhas pernas e meus braços, as fotos comprometedoras que ele tirou, ameaçando espalhar pelas redes sociais se eu abrisse minha boca. Me sinto suja, imunda, mas nada se compara com o vazio que agora, toma conta do meu peito.
Meu pai, não acreditou em uma única palavra do que disse, acabei descobrindo da pior forma que estou sozinha no mundo.
A chuva fina cai trazendo consigo a melancolia, nunca me identifiquei tanto com o clima como agora, ele remete exatamente como estou me sentindo por dentro, fria, gelada.
São três da manhã e o dia que deveria ser especial para mim se transformou no meu pior pesadelo. Minha formatura, que tanto sonhei, terminou em lágrimas e dor.
Apoiada no parapeito da ponte de Westminster, cogito a possibilidade de dar fim à minha vida, naquele exato instante. Coloco meus pés sobre o parapeito, fecho os olhos e quando me inclino para pular sinto o meu corpo ser puxado e acabo caindo no chão.
Braços fortes envolvem a minha cintura e quando meus olhos captam o homem alto que me segura, o empurro me levantando assustada.
— Por que fez isso?
— Não podia deixar você se jogar.
— Você não tem nada a ver com isso!
— Olha… não sei o que aconteceu, mas se fizer isso, vai destruir não só a sua vida mas vai trazer dor a alguém.
— Eu… eu não tenho ninguém!
Percebo que ele se cala, como se tentasse processar as palavras que acabei de dizer. Ele me encara e sorri, não um sorriso de alegria, mas um sorriso triste, desesperado como se buscasse por algo que eu não sei decifrar.
— Todos tem alguém, acredite. Talvez ele apenas ainda não a tenha encontrado.
Não sei porque aquelas palavras me tocam mais do que gostaria. Abaixo a cabeça por uns segundos, e deixo as lagrimas que estavam presas descerem com tudo. Percebo que ele tenta se aproximar e sou mais rápita, levanto a mão para evitar que ele se aproxime.
— Por favor… não! --- grito.
Sem dizer mais nada, dou as costas e saio correndo deixando o meu salvador para trás. Meu gorro branco que cobre meus cabelos cai e não me importo, só preciso sair daqui o mais rápido possivel. Preciso me sentir segura e já sei onde buscar o meu conforto.
Existe um ditado que diz “Palavras confortam a mais profunda dor”. Eu discordo, acredito que um abraço envolvente,sincero, vale mais que mil palavras. Saio da ponte de Westminster correndo e deixo o homem que acabou de me impedir de fazer uma burrada para trás. “Meu Deus, o que eu ia fazer?”Não posso dar fim à minha vida, preciso ser forte e sobreviver a tudo isso, não por mim, mas pela memória de minha mãe! Fecho o sobretudo no meu corpo e vou para o único lugar onde sei que serei acolhida: a casa da minha melhor amiga, Kate. Desde pequena somos melhores amigas, apesar das tentativas da minha madrasta de nos afastar. Segundo ela, Kate não era do meu “nível social”, tolice. Sempre duvidei dos verdadeiros sentimentos de Ingrid em relação ao meu pai. Não que fossemos ricos mas, comparado a ela, tínhamos uma condição de vida muito superior. Depois da morte da minha mãe, passados seis meses, ela chegou na nossa casa. Quando a vi, pensei que pudesse amá-la como uma mãe, mas a decepção
Jacob Alexander LancasterÉ incrível como sua vida é capaz de mudar de uma hora para outra, em fração de segundos, principalmente quando existe dinheiro envolvido. O relógio marcava sete da noite, mas eu ainda estava preso na minha sala, encarando a cidade iluminada pela vista panorâmica do meu escritório. Meu maxilar ainda estava tenso, e a caneta em minha mão girava entre os dedos em um movimento automático.Eu estava puto.As palavras do meu pai ainda ecoavam na minha mente, irritantes e constantes, como uma maldita martelada. “Você tem que pensar na imagem da empresa, Jacob. Você precisa de estabilidade. Precisa de uma esposa.”Soltei uma risada seca, amarga e repeti:--- Precisa de uma esposa.Como se casamento fosse uma maldita estratégia de marketing.Fechei os olhos, respirando fundo. Meu pai e seu sócio estavam determinados a forçar essa união para promover minha imagem no mercado internacional. Investidores tradicionais valorizavam líderes com “vida pessoal estável”, e, ap
Jacob Alexander Lancaster O néon vermelho e azul piscava incessantemente, refletindo nas paredes escuras do clube exclusivo onde minha despedida de solteiro estava acontecendo. O ar cheirava a whisky caro, perfume doce e tentação.A música pulsava em um ritmo lento e sensual, enquanto dançarinas se moviam nos palcos com uma desenvoltura calculada. Era exatamente o tipo de festa que meus amigos achavam que eu queria.Eles não me conhecem, na verdade, eu odiava.— Vamos lá, Jacob, só um showzinho particular… nada demais! — dizia Kaleb, um dos meus melhores amigos e o mais insistente, enquanto me empurrava em direção a um canto mais reservado, onde um grupo de strippers nos olhava como predadoras famintas.Rolei os olhos.— Não estou interessado.— Não seja um puritano, cara! É sua última noite de liberdade!— Liberdade? --- soltei uma risada seca. — Apenas serei um homem realmente livre daqui três anos. — Cara, pelo menos é a Samantha, e se fosse outra mulher?— A Samantha… pode casa
Jacob Alexander Lancaster Apoiei as costas contra a parede fria do corredor dos fundos, soltando um suspiro pesado. O barulho da boate ainda vibrava ao fundo, abafado pelas paredes grossas, mas ali estava um pouco mais silencioso. Então, percebi algo estranho: Eu estava sorrindo.Não era um daqueles sorrisos treinados, forçados, que eu usava em reuniões de negócios ou eventos sociais, era um sorriso genuíno. O mais impressionante é que foi tudo por causa de uma bartender atrevida que me olhou nos olhos e disse, sem hesitar, que eu era um riquinho mimado, imagina se ela soubesse que eu sou o noivo? Noivo…É incrível que nos dias de hoje ainda existam casamentos por contrato, ao invés de evoluirmos, estamos dando um passo para trás. Patético isso, não? Levo o copo aos lábios e degusto a minha bebida. — Que porra é essa que estou tomando? — olho para meu copo tentando decifrar o que estou tomando e não consigo deixar de pensar nela. “Luna”… O nome dela ecoou na minha mente e
Jacob Alexander LancasterEu não devia estar fazendo isso. Definitivamente, não.Quando voltei ao bar e vi Luna inclinada sobre o balcão, rindo de algo que a cliente dizia, minha decisão foi instantânea.O sorriso dela era aberto, iluminado, completamente despreocupado. Diferente de tudo que eu estava acostumado. Diferente da minha vida sufocante, das regras e obrigações que me cercavam.Ela me viu antes que pudesse me aproximar, um sorrisinho travesso surgiu em seus lábios rosados.— Ora, ora… O melhor amigo do herdeiro mimado voltou para mais um drink?Cruzei os braços e me apo
Jacob Alexander LancasterO motel não era exatamente dos mais luxuosos. Longe disso, mas eu não dava a mínima, porque naquele momento eu apenas a desejava. Luna estava colada a mim e tudo, absolutamente tudo, parecia certo.Assim que cruzamos a porta do quarto, minhas mãos deslizaram por sua cintura fina, puxando-a para outro beijo. Dessa vez, sem hesitação, sem controle, sem volta.Luna riu contra a minha boca, os dedos ágeis já deslizando pelo tecido da minha camisa, antes de empurrá-la para fora do meu corpo. Seus olhos azuis fitaram meu peitoral e minha tatuagem fazendo um sorriso surgir em seus lábios. e ela logo disse:— Não sab
Luna HarrisonO primeiro pensamento que tive ao acordar foi que aquele travesseiro era quente demais.O segundo… Era que eu não estava deitada em um travesseiro.Meus olhos se abriram devagar, a luz do amanhecer entrando pelas frestas das cortinas do quarto de motel. O ar estava morno, carregado de um cheiro masculino misturado ao meu perfume. Foi aí que percebi: Eu estava deitada sobre ele!Meu coração disparou quando ergui a cabeça e vi o rosto adormecido de Jacob, ou Kaleb, nem sabia mais.Droga!Meu corpo estava completamente aninhado ao dele, como se fosse o lugar mais natural do mundo. Como se tivéssemos feito isso milhares de vezes
Luna Harrison — Você o quê?!A voz de Kate quase fez meu café escapar da xícara.— Fale baixo, pelo amor de Deus! — sussurrei, olhando ao redor do pequeno café onde estávamos sentadas.Kate não estava nem um pouco preocupada com a discrição. Ela me encarava como se eu tivesse acabado de confessar um crime.— Luna, isso é inacreditável! — ela continuou, gesticulando exageradamente. — Você, saindo com um riquinho que nem sabe ao certo o nome verdadeiro e terminando a noite num quarto de motel? Isso não é algo que minha amiga Luna faria! Isso é algo que EU faria! O que foi que aconteceu com você?Eu revirei os olhos, corando ao levar a xícara aos lábios.— Pare com isso! — murmurei, desviando o olhar.— Não! Eu exijo saber o que fizeram com a minha amiga! — ela estava se divertindoSuspirei, mordendo o lábio inferior, hesitante. Como eu poderia explicar para Kate algo que nem eu mesma conseguia entender?— Eu não sei… foi diferente.— Diferente como? — Kate ergueu uma sobrancelha, intere