Capítulo 01 – O Destino

Dizem que na vida só temos a certeza da morte. Mas eu tinha outra: A de que meu destino havia mudado para sempre. 

 Um ano e três meses atrás...

Ele abusou de mim, pai. Eu… eu…

Plaft

Sinto o rosto arder pelo tapa que levei no rosto, mas nada se compara a dor que sinto dentro do peito. 

Meu pai, aquele que deveria me proteger das mazelas do mundo, cuidar de mim, não acreditava no que eu dizia. 

Você é uma dissimulada e mentirosa como sua mãe. Thomás jamais faria isso com você, Luna. Como você pode… saia da minha casa, a partir de hoje não é mais minha filha! 

Encaro a figura alta bem diante de mim. O homem de cabelos loiros iguais aos meus, seus olhos verdes sempre me lembravam um par de esmeraldas. Não consigo exteriorizar a dor dilacerante que corta minha alma. Sem dizer uma única palavra, dei às costas e saí daquela casa. A casa que pertenceu à minha mãe, onde fui feliz até meus oito anos, depois disso o destino cruel levou a levou, vítima de câncer de mama. 

Eu saí sem levar nada, apenas minha bolsa com meus documentos. 

Caminho pelas ruas de Bexley completamente perdida. Nunca me senti tão sozinha, tão desprotegida. Abraço meu corpo na tentativa de aquecê-lo. 

É só fechar os olhos que consigo lembrar de cada detalhe. A maneira que Thomás me abordou na festa, o perfume forte dele misturado com o cheiro do álcool e do cigarro, como seus amigos o ajudaram segurando minhas pernas e meus braços, as fotos comprometedoras que ele tirou, ameaçando espalhar pelas redes sociais se eu abrisse minha boca. Me sinto suja, imunda, mas nada se compara com o vazio que agora, toma conta do meu peito. 

Meu pai, não acreditou em uma única palavra do que disse, acabei descobrindo da pior forma que estou sozinha no mundo. 

A chuva fina cai trazendo consigo a melancolia, nunca me identifiquei tanto com o clima como agora, ele remete exatamente como estou me sentindo por dentro, fria, gelada. 

São três da manhã e o dia que deveria ser especial para mim se transformou no meu pior pesadelo. Minha formatura, que tanto sonhei, terminou em lágrimas e dor. 

Apoiada no parapeito da ponte de Westminster, cogito a possibilidade de dar fim à minha vida, naquele exato instante.  Coloco meus pés sobre o parapeito, fecho os olhos e quando me inclino para pular sinto o meu corpo ser puxado e acabo caindo no chão.

Braços fortes envolvem a minha cintura e quando meus olhos captam o homem alto que me segura, o empurro me levantando assustada.

Por que fez isso?

— Não podia deixar você se jogar. 

— Você não tem nada a ver com isso!

Olha… não sei o que aconteceu, mas se fizer isso, vai destruir não só a sua vida mas vai trazer dor a alguém. 

Eu… eu não tenho ninguém!

Percebo que ele se cala, como se tentasse processar as palavras que acabei de dizer. Ele  me encara e sorri, não um sorriso de alegria, mas um sorriso triste, desesperado como se buscasse por algo que eu não sei decifrar. 

Todos tem alguém, acredite. Talvez ele apenas ainda não a tenha encontrado. 

Não sei porque aquelas palavras me tocam mais do que gostaria. Abaixo a cabeça por uns segundos, e deixo as lagrimas que estavam presas descerem com tudo. Percebo que ele tenta se aproximar e sou mais rápita, levanto a mão para evitar que ele se aproxime. 

Por favor… não! --- grito. 

Sem dizer mais nada, dou as costas e saio correndo deixando o meu salvador para trás. Meu gorro branco que cobre meus cabelos cai e não me importo, só preciso sair daqui o mais rápido possivel. Preciso me sentir segura e já sei onde buscar o meu conforto. 

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