Fazia duas semanas que a apelação do advogado Murilo Bonato para que o Juiz concedesse o Habeas Corpus a seu cliente havia sido negada e Guilherme acabou condenado em primeira instância a uma pena inicial de 18 anos pelo assassinato de Jonathan Braga. Embora não tivesse havido o flagrante, as provas apresentadas pela acusação eram bastante expressivas e o Juiz acabou entendendo que, nesse caso, não podia haver prisão domiciliar e que o condenado devia cumprir pena em um presídio do estado. Como faltavam vagas na principal penitenciária da capital, ele aguardaria 6 meses num Centro de Detenção Provisória, para onde seria transferido. Bonato poderia pedir recurso dentro de um ano e outro julgamento poderia ser agendado.
Guilherme foi preparado para a transferência naquela tarde e o próprio investigador Noronha fez questão de acompanhá-lo no trajeto do 14º DP até o CDP de Pinheiros, onde o rapaz passaria os próximos 6 meses. A viatura que levava Guilherme estava
Sexta-FeiraAquela tarde não podia estar mais agitada no 14º DP de Pinheiros. O delegado Marcondes de Sá acomodava o corpanzil em sua cadeira quando viu as novas testemunhas adentrarem sua sala. O investigador Noronha os acompanhou até a mesa, esperou que se sentassem e em seguida saiu, ajeitando o aviador acima do nariz. Marcondes viu à sua frente um senhor grisalho aparentando uns quarenta e poucos anos. Estava muito bem trajado de ternoArmanipreto, camisaHugo Bossbranca e sem gravata. Seu olhar incisivo marcava o rosto ovalado. Seus olhos verdes pareciam escanear cada centímetro quadrado da mesa, onde pilhas indisciplinadas de relatórios brigavam por espaço com um porta-retratos velho, uma luminária, um telefone sem fio e uma caneca fumegante de café. Ao lado
Quinta-feiraSara Jane se admirava diante do espelho do armário uma última vez, dando voltas e conferindo se não havia nada de errado com sua fantasia. Aquela devia ser a milésima vez que ela olhava o próprio reflexo curvilíneo dentro do traje de policialsexy, mas ainda não estava suficientemente convencida de que estava linda. Cássia, a amiga com a qual ela dividia o apartamento modesto num prédio de esquina da Cunha Gago, gritava da sala para que ela se apressasse. Olhou no relógio do celular, já eram quase 19:00 horas. Deu um último retoque na maquiagem que usava, ajeitou os cabelos negros, colocou o quepe e saiu do quarto. Tinha meia hora para chegar até a casa luxuosa do Jardim Paulistano, onde ela e Cássia encontrariam os colegas de faculdade para um bai
SábadoSara acordou em sua cama com a luz do sol incidindo através da janela em seu rosto, naquela manhã de feriado. Era Dia de Finados. Sua primeira lembrança foi do sonho macabro que tivera com aquele havaiano brutalmente assassinado na despensa da mansão Telles de Mendonça. Só de camiseta e calcinha, como dormira, foi até o banheiro do apartamento modesto, tentando afastar aquela imagem da cabeça jogando uma água no rosto. Encontrou Cássia sentada no sofá da sala com seunotebookno colo. Sua expressão não era das mais felizes olhando para a tela.— Já explodiu na imprensa. Só se fala do assassinato na festa à fantasia nas mídias sociais. – A moça deu uma
Sexta-FeiraO delegado Marcondes estava em sua sala na presença do investigador Noronha, do investigador Carvalho e do estagiário administrativo Felipe enquanto os vídeos da câmera de segurança da mansão Telles de Mendonça rodavam no computador em velocidade acelerada. Os arquivos tinham sido copiados para um pendrive e entregues para Noronha na madrugada após a festa à fantasia, mas a Polícia ainda não tinha tido a chance de olhar as imagens com calma. Os depoimentos daquele extenuante expediente tinham acabado. Marcondes tinha uma pilha de relatórios para assinar e ainda tinha que rever os depoimentos por escrito antes que o dia terminasse, mas fez uma pausa para analisar os vídeos com seus mais eficientes investigadores.— Já estamos há duas horas aqui e nada. Só um bando de adolescente tarado se pegando no sofá de couro dos grã-finos. &mdas
Sábado— “É um erro grave formular teorias antes de conhecer os fatos. Sem querer, começamos a mudar os fatos para que se adaptem às teorias, em vez de formular teorias que se ajustem aos fatos. ”— Quem disse isso? — indagou Sara, sentada no sofá da sala pronta a abocanhar mais uma fatia da pizza de atum que havia acabado de ser entregue.— Sherlock Holmes. — respondeu Cássia, mastigando um pedaço generoso da pizza ao mesmo tempo. — vou dar um jeito de acrescentar essa citação no nosso artigo sobre o crime da rapieira.— “Crime da rapieira”? É assim que quer chamar nossa matéria? Ninguém sabe o que é uma rapieira! Por que não chamamos de “Um crime quase perfeito”?
Sexta-FeiraDaiane Sobral entrou na sala do delegado acompanhada da mãe para o interrogatório. Ainda estava abalada pelo que tinha acontecido com Jonathan Braga durante a festa à fantasia na mansão Telles de Mendonça e seu rosto, sem qualquer resquício de maquiagem, denunciava que não tinha dormido bem aquela madrugada. Os cabelos desgrenhados, presos indisciplinadamente por um elástico, davam a ela um aspecto desleixado que poucas vezes se permitia exibir em público. Sentada a seu lado, a mãe, uma senhora razoavelmente jovem, procurava mantê-la firme ante as perguntas de Marcondes, não permitindo que ela desabasse a chorar.— Qual seu relacionamento com a vítima? — indagou o delegado com os dedos entrelaçados e os antebraços pousados sobre a mesa.— Éramos... éramos amigos.O barulho das teclas digitadas
DomingoSara chegou à porta da loja de fantasias as 08:30. Sabia que o horário de abertura era as 09:00, mas estava ansiosa demais para esperar em casa. Sua mente era incapaz de descansar um só minuto que fosse, povoada pelas lembranças de como aquele Dia das Bruxas tinha começado e principalmente de como ele havia terminado. Banhado em sangue.Procurando se distrair, ela ouvia música em seu celular. Oleddo fone de ouvidobluetoothpiscava incessante. Uma MPB tranquila tocava em seuSpotify, mas a moça estava longe de prestar a atenção em sua letra. Ela precisava desvendar urgentemente os mistérios que rondavam aquele crime na mansão Telles de Mendonça, descobrir as razões que levaram o assassino a cometê-lo e levá-lo à justiça. Ela não conseguiria descansar enquanto aquele pe
Cássia marcou o encontro com Daiane em uma praça pública a fim de que a garota ficasse mais à vontade num local aberto e arejado. Era 09:37 quando a garota desceu do carro do pai, um sedan preto importado e caminhou até o banco onde Cássia tinha indicado por mensagem. Vestida com um short jeans e uma blusa decotada, a garota se aproximou da morena jambo com passos curtos. As duas se cumprimentaram. Quando se sentou no banco, ela tinha expressão séria e olheiras profundas no rosto pálido. Os cabelos loiros estavam como na delegacia, presos desleixadamente com um elástico.- Obrigada por vir, Daiane. – Começou Cássia, com um meio-sorriso. – Sei que não tem sido fácil sair de casa depois do que aconteceu, mas eu precisava conversar com você.A praça estava bastante movimentada naquele começo de dia. Alguns casais passeavam com