Eram seis da manhã e naquele momento parecia que toda a imprensa de São Paulo estava diante do 14º DP. Um amontoado de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos formava uma verdadeira muralha humana diante do prédio, impossibilitando o tráfego de veículos da avenida e atrapalhando os transeuntes que costumavam passar por aquela calçada. Coberturas ao vivo eram feitas para os jornais televisivos matutinos e quase toda a imprensa escrita já se acotovelava com os colegas em busca de um furo.
Sara e Cássia estavam sentadas na mesma longarina da outra vez em que estiveram juntas na delegacia e esperavam ansiosas pelo depoimento de Guilherme. O advogado da família Ribeiro havia chegado ao local por volta das 4:00 e não havia mais saído de dentro da sala do delegado. A morena estivera em cólicas em casa à espera de notícias, mas quando Sara deu-lhe o sinal verde, alegand
A corregedora-chefe chegou à delegacia por volta das 08:00 e a poeira ainda não tinha baixado em frente ao DP. Helicópteros das principais redes de televisão do país sobrevoavam a delegacia em busca de imagens exclusivas e os jornalistas brigavam por notícias frescas acerca da identidade do verdadeiro criminoso do caso que tinha abalado a Alta Sociedade paulista. Sara e Cássia estavam no lugar mais privilegiado que podiam estar naquele momento e trataram de aproveitar de sua vantagem sobre os colegas de profissão lá fora, anotando e registrando tudo que podiam. Era como se os atarefados policiais e funcionários do DP tivessem esquecido as duas ali e enquanto Marcondes segurava uma nova bronca da representante da Corregedoria da Polícia Civil ali presente, as duas trataram de agir. Cássia fora até o balcão e procurou se enturmar com a perita papiloscopista Maria de Fátima e com o escrivão Lopes, tirando deles informações valiosas que pretendia usar em seu artigo. Com uma boa
Quinta-FeiraA missa de sétimo dia rezada em homenagem à Jonathan reuniu boa parte da família do rapaz na Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrate. Parentes dos Braga tinham vindo de muitas partes do Brasil para confortar os pais do estudante, incluindo alguns primos da Bahia, dois tios do Amapá e os avós paternos, que moravam em Minas Gerais. Sara e Cássia se juntaram aos amigos de faculdade ao final da cerimônia, que durou cerca de uma hora. A maioria ainda estava bem triste com tudo que tinha acontecido, se solidarizando com a dor da família, mas já havia aqueles que entendiam que a vida devia continuar e saíam a contar piadas e dando gargalhadas ainda próximo da igreja.Sara teve a oportunidade de trocar algumas palavras com o pai de Jonathan, próximo ao fim da missa. O homem era alto, possuía ombros largos e um peitoral estufado. Os cabelos castanhos j&
Fazia duas semanas que a apelação do advogado Murilo Bonato para que o Juiz concedesse o Habeas Corpus a seu cliente havia sido negada e Guilherme acabou condenado em primeira instância a uma pena inicial de 18 anos pelo assassinato de Jonathan Braga. Embora não tivesse havido o flagrante, as provas apresentadas pela acusação eram bastante expressivas e o Juiz acabou entendendo que, nesse caso, não podia haver prisão domiciliar e que o condenado devia cumprir pena em um presídio do estado. Como faltavam vagas na principal penitenciária da capital, ele aguardaria 6 meses num Centro de Detenção Provisória, para onde seria transferido. Bonato poderia pedir recurso dentro de um ano e outro julgamento poderia ser agendado. Guilherme foi preparado para a transferência naquela tarde e o próprio investigador Noronha fez questão de acompanhá-lo no trajeto do 14º DP até o CDP de Pinheiros, onde o rapaz passaria os próximos 6 meses. A viatura que levava Guilherme estava
Sexta-FeiraAquela tarde não podia estar mais agitada no 14º DP de Pinheiros. O delegado Marcondes de Sá acomodava o corpanzil em sua cadeira quando viu as novas testemunhas adentrarem sua sala. O investigador Noronha os acompanhou até a mesa, esperou que se sentassem e em seguida saiu, ajeitando o aviador acima do nariz. Marcondes viu à sua frente um senhor grisalho aparentando uns quarenta e poucos anos. Estava muito bem trajado de ternoArmanipreto, camisaHugo Bossbranca e sem gravata. Seu olhar incisivo marcava o rosto ovalado. Seus olhos verdes pareciam escanear cada centímetro quadrado da mesa, onde pilhas indisciplinadas de relatórios brigavam por espaço com um porta-retratos velho, uma luminária, um telefone sem fio e uma caneca fumegante de café. Ao lado
Quinta-feiraSara Jane se admirava diante do espelho do armário uma última vez, dando voltas e conferindo se não havia nada de errado com sua fantasia. Aquela devia ser a milésima vez que ela olhava o próprio reflexo curvilíneo dentro do traje de policialsexy, mas ainda não estava suficientemente convencida de que estava linda. Cássia, a amiga com a qual ela dividia o apartamento modesto num prédio de esquina da Cunha Gago, gritava da sala para que ela se apressasse. Olhou no relógio do celular, já eram quase 19:00 horas. Deu um último retoque na maquiagem que usava, ajeitou os cabelos negros, colocou o quepe e saiu do quarto. Tinha meia hora para chegar até a casa luxuosa do Jardim Paulistano, onde ela e Cássia encontrariam os colegas de faculdade para um bai
SábadoSara acordou em sua cama com a luz do sol incidindo através da janela em seu rosto, naquela manhã de feriado. Era Dia de Finados. Sua primeira lembrança foi do sonho macabro que tivera com aquele havaiano brutalmente assassinado na despensa da mansão Telles de Mendonça. Só de camiseta e calcinha, como dormira, foi até o banheiro do apartamento modesto, tentando afastar aquela imagem da cabeça jogando uma água no rosto. Encontrou Cássia sentada no sofá da sala com seunotebookno colo. Sua expressão não era das mais felizes olhando para a tela.— Já explodiu na imprensa. Só se fala do assassinato na festa à fantasia nas mídias sociais. – A moça deu uma
Sexta-FeiraO delegado Marcondes estava em sua sala na presença do investigador Noronha, do investigador Carvalho e do estagiário administrativo Felipe enquanto os vídeos da câmera de segurança da mansão Telles de Mendonça rodavam no computador em velocidade acelerada. Os arquivos tinham sido copiados para um pendrive e entregues para Noronha na madrugada após a festa à fantasia, mas a Polícia ainda não tinha tido a chance de olhar as imagens com calma. Os depoimentos daquele extenuante expediente tinham acabado. Marcondes tinha uma pilha de relatórios para assinar e ainda tinha que rever os depoimentos por escrito antes que o dia terminasse, mas fez uma pausa para analisar os vídeos com seus mais eficientes investigadores.— Já estamos há duas horas aqui e nada. Só um bando de adolescente tarado se pegando no sofá de couro dos grã-finos. &mdas
Sábado— “É um erro grave formular teorias antes de conhecer os fatos. Sem querer, começamos a mudar os fatos para que se adaptem às teorias, em vez de formular teorias que se ajustem aos fatos. ”— Quem disse isso? — indagou Sara, sentada no sofá da sala pronta a abocanhar mais uma fatia da pizza de atum que havia acabado de ser entregue.— Sherlock Holmes. — respondeu Cássia, mastigando um pedaço generoso da pizza ao mesmo tempo. — vou dar um jeito de acrescentar essa citação no nosso artigo sobre o crime da rapieira.— “Crime da rapieira”? É assim que quer chamar nossa matéria? Ninguém sabe o que é uma rapieira! Por que não chamamos de “Um crime quase perfeito”?