Segunda-feira
- Alô? Regiane?
A voz do outro lado atendeu a ligação meio aborrecida.
- É a Sara. Tudo bem? – A garota tentou passar tranquilidade na voz, mas ela sabia que o tempo corria contra ela.
- Oi, Sara. Estou um pouco ocupada. Em que posso ajudar? – Ouvia-se sons abafados do outro lado da linha.
- Desculpe ligar tão cedo, mas eu preciso saber se houve algum engano na hora que montou a lista de convidados para a sua festa. É possível que você tenha se confundido com os nomes e as fantasias? – Sara tinha urgência na fala. Dava para ouvir vozes agora pelo telefone. Regiane não estava só.
- Não houve erro. Eu coloquei na lista as fantasias que vocês me informaram. Eu só não tive controle das pessoas que resolveram ir de última hora, acompanhando os convidados oficiais. Eu não tinha como sab
Segunda-feira A delegacia estava em polvorosa com a chegada da corregedora-chefe. Vestida com um talleur preto, os cabelos crespos presos para trás e um rosto sisudo, a mulher procurava não perder tempo enquanto investigava a invasão à sala de provas do 14º DP. Havia trocado duas ou três palavras com o delegado Marcondes desde que chegara. Torcera o nariz para a forma como o caso do assassinato na mansão Telles de Mendonça estava sendo conduzido por ele, mas não se envolveu. Seu objetivo era cristalino. Requisitou a presença do escrivão Lopes e se ocupou da sala de provas, onde o fez catalogar item por item guardado lá dentro para saber o que havia sumido – se é que algo havia sumido. Em sua sala, Marcondes sentia como se tivesse voltado para estaca-zero. O principal suspeito tinha argumentos fortes que o desconectavam quase que totalmente do crime e a investigação precisou ser recomeçada com a liberação de Guilherme Ribeiro. Uma batida na p
Noronha estivera sentado diante de um computador de tela amarelada por longas duas horas e a análise dos vídeos das câmeras de segurança do condomínio Arco Verde estava concluída com êxito. Conversou com os policiais Aldo e Jean Carlos que estiveram à cargo da investigação na mansão e os três chegaram à mesma conclusão: O suspeito desconhecia a existência das câmeras do lado externo da casa da família Allegro e do estacionamento.A família Allegro passava pouco tempo na casa luxuosa vizinha dos Telles de Mendonça e exatamente por isso, não fazia muita questão de instalar equipamentos de segurança com câmeras ou alarmes. Seja lá quem ele fosse, o assassino de Jonathan Braga havia estudado bem a mansão onde aconteceria a festa e os arredores, mas ignorava que existiam câmeras no local que ele furtivamente
Sara queria a companhia da amiga naquele momento, mas a encontrou adormecida no sofá da sala, cansada depois da ação do dia. Protetora, apanhou um cobertor no quarto e cobriu a amiga ressonante. Parou diante do mural de evidências que as duas haviam começado a montar na parede, no lugar do quadro de fotos que tinha ali. Notou que as pistas sempre estiveram nítidas à sua frente, mas elas não tinham olhado com atenção. Decidiu sair de casa sozinha. Apanhou apressada algumas imagens que tinha enviado para a impressora via bluetooth, jogou tudo em uma pasta, colocou a mochila nas costas e saiu.Ela não tinha certeza o horário de saída, mas aguardou pacientemente em frente à delegacia. Seu relógio de pulso marcava 21:30. Parecia tarde para alguém terminar o expediente e se ele já tivesse ido embora, teria que aguardar até o dia seguinte. “
Terça-feira Não fora fácil para o delegado Marcondes no meio da noite conseguir um mandado de prisão preventiva para o agora principal suspeito do crime na mansão Telles de Mendonça. De volta ao 14º DP, ele acionou o Ministério Público com a denúncia do homicídio e ficou a aguardar que o Juiz liberasse o tal documento que lhe daria plenos poderes para prender Guilherme Ribeiro. Embora ele soubesse que demoraria, ele impacientou-se sentado em sua cadeira, tendo que aguardar o fim de noite inteiro por um retorno. Toda sua equipe estava em alerta. Noronha e Carvalho estavam de prontidão em frente à casa do suspeito em Moema, dispostos a não o deixar escapar. Lopes e Maria de Fátima tinham retornado para a delegacia para ajudar como pudessem e até o policial Medeiros estava pronto para atender ao chamado do delegado. Sara tomava um café servido por Maria de Fátima na longarina de espera, no saguão de entrada, quando viu um carcereiro conduzir o esquálido
Eram seis da manhã e naquele momento parecia que toda a imprensa de São Paulo estava diante do 14º DP. Um amontoado de repórteres, cinegrafistas e fotógrafos formava uma verdadeira muralha humana diante do prédio, impossibilitando o tráfego de veículos da avenida e atrapalhando os transeuntes que costumavam passar por aquela calçada. Coberturas ao vivo eram feitas para os jornais televisivos matutinos e quase toda a imprensa escrita já se acotovelava com os colegas em busca de um furo.Sara e Cássia estavam sentadas na mesma longarina da outra vez em que estiveram juntas na delegacia e esperavam ansiosas pelo depoimento de Guilherme. O advogado da família Ribeiro havia chegado ao local por volta das 4:00 e não havia mais saído de dentro da sala do delegado. A morena estivera em cólicas em casa à espera de notícias, mas quando Sara deu-lhe o sinal verde, alegand
A corregedora-chefe chegou à delegacia por volta das 08:00 e a poeira ainda não tinha baixado em frente ao DP. Helicópteros das principais redes de televisão do país sobrevoavam a delegacia em busca de imagens exclusivas e os jornalistas brigavam por notícias frescas acerca da identidade do verdadeiro criminoso do caso que tinha abalado a Alta Sociedade paulista. Sara e Cássia estavam no lugar mais privilegiado que podiam estar naquele momento e trataram de aproveitar de sua vantagem sobre os colegas de profissão lá fora, anotando e registrando tudo que podiam. Era como se os atarefados policiais e funcionários do DP tivessem esquecido as duas ali e enquanto Marcondes segurava uma nova bronca da representante da Corregedoria da Polícia Civil ali presente, as duas trataram de agir. Cássia fora até o balcão e procurou se enturmar com a perita papiloscopista Maria de Fátima e com o escrivão Lopes, tirando deles informações valiosas que pretendia usar em seu artigo. Com uma boa
Quinta-FeiraA missa de sétimo dia rezada em homenagem à Jonathan reuniu boa parte da família do rapaz na Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrate. Parentes dos Braga tinham vindo de muitas partes do Brasil para confortar os pais do estudante, incluindo alguns primos da Bahia, dois tios do Amapá e os avós paternos, que moravam em Minas Gerais. Sara e Cássia se juntaram aos amigos de faculdade ao final da cerimônia, que durou cerca de uma hora. A maioria ainda estava bem triste com tudo que tinha acontecido, se solidarizando com a dor da família, mas já havia aqueles que entendiam que a vida devia continuar e saíam a contar piadas e dando gargalhadas ainda próximo da igreja.Sara teve a oportunidade de trocar algumas palavras com o pai de Jonathan, próximo ao fim da missa. O homem era alto, possuía ombros largos e um peitoral estufado. Os cabelos castanhos j&
Fazia duas semanas que a apelação do advogado Murilo Bonato para que o Juiz concedesse o Habeas Corpus a seu cliente havia sido negada e Guilherme acabou condenado em primeira instância a uma pena inicial de 18 anos pelo assassinato de Jonathan Braga. Embora não tivesse havido o flagrante, as provas apresentadas pela acusação eram bastante expressivas e o Juiz acabou entendendo que, nesse caso, não podia haver prisão domiciliar e que o condenado devia cumprir pena em um presídio do estado. Como faltavam vagas na principal penitenciária da capital, ele aguardaria 6 meses num Centro de Detenção Provisória, para onde seria transferido. Bonato poderia pedir recurso dentro de um ano e outro julgamento poderia ser agendado. Guilherme foi preparado para a transferência naquela tarde e o próprio investigador Noronha fez questão de acompanhá-lo no trajeto do 14º DP até o CDP de Pinheiros, onde o rapaz passaria os próximos 6 meses. A viatura que levava Guilherme estava