Sexta-Feira
Daiane Sobral entrou na sala do delegado acompanhada da mãe para o interrogatório. Ainda estava abalada pelo que tinha acontecido com Jonathan Braga durante a festa à fantasia na mansão Telles de Mendonça e seu rosto, sem qualquer resquício de maquiagem, denunciava que não tinha dormido bem aquela madrugada. Os cabelos desgrenhados, presos indisciplinadamente por um elástico, davam a ela um aspecto desleixado que poucas vezes se permitia exibir em público. Sentada a seu lado, a mãe, uma senhora razoavelmente jovem, procurava mantê-la firme ante as perguntas de Marcondes, não permitindo que ela desabasse a chorar.
— Qual seu relacionamento com a vítima? — indagou o delegado com os dedos entrelaçados e os antebraços pousados sobre a mesa.
— Éramos... éramos amigos.
O barulho das teclas digitadas
DomingoSara chegou à porta da loja de fantasias as 08:30. Sabia que o horário de abertura era as 09:00, mas estava ansiosa demais para esperar em casa. Sua mente era incapaz de descansar um só minuto que fosse, povoada pelas lembranças de como aquele Dia das Bruxas tinha começado e principalmente de como ele havia terminado. Banhado em sangue.Procurando se distrair, ela ouvia música em seu celular. Oleddo fone de ouvidobluetoothpiscava incessante. Uma MPB tranquila tocava em seuSpotify, mas a moça estava longe de prestar a atenção em sua letra. Ela precisava desvendar urgentemente os mistérios que rondavam aquele crime na mansão Telles de Mendonça, descobrir as razões que levaram o assassino a cometê-lo e levá-lo à justiça. Ela não conseguiria descansar enquanto aquele pe
Cássia marcou o encontro com Daiane em uma praça pública a fim de que a garota ficasse mais à vontade num local aberto e arejado. Era 09:37 quando a garota desceu do carro do pai, um sedan preto importado e caminhou até o banco onde Cássia tinha indicado por mensagem. Vestida com um short jeans e uma blusa decotada, a garota se aproximou da morena jambo com passos curtos. As duas se cumprimentaram. Quando se sentou no banco, ela tinha expressão séria e olheiras profundas no rosto pálido. Os cabelos loiros estavam como na delegacia, presos desleixadamente com um elástico.- Obrigada por vir, Daiane. – Começou Cássia, com um meio-sorriso. – Sei que não tem sido fácil sair de casa depois do que aconteceu, mas eu precisava conversar com você.A praça estava bastante movimentada naquele começo de dia. Alguns casais passeavam com
Segunda-FeiraUm alvoroço tomava o 14º DP naquela manhã com o relato do delegado Marcondes sobre a tentativa de roubo na sala de arquivos. O sistema de câmeras do local havia sido desativado às 22:32 da sexta-feira pelo que foi chamado pelos técnicos de “pane no sistema de armazenamento de dados”. Nenhuma imagem do invasor havia sido capturada, o que aumentou o clima de desconfiança entre os colegas que trabalhavam na delegacia. Enquanto a Corregedoria era acionada para apurar o caso grave de tentativa de macular provas de crimes, todos andavam se perguntando o que estariam procurando na sala de evidências.A concentração de Marcondes e sua equipe, no entanto, estava em mandar a arma usada no homicídio na mansão Telles de Mendonça para a perícia. A análise de digitais e DNA na espada precisava ser feita o quanto antes. O tempo estav
Carvalho estava ao volante de um sedan preto, usado pela Polícia nas investigações, quando estacionou diante de um rico sobrado no bairro de Moema. A seu lado, Noronha fumava um cigarro, enquanto observava a vizinhança tranquila pela janela aberta do automóvel. - Tem que ter grana pra morar num bairro desses. – Comentou, defenestrando o cigarro para fora do veículo. Carvalho grunhiu algo como uma afirmação. Com o braço apoiado na porta ele observava o alto da janela do sobrado, absorto. - Acha que alguém de dentro tentou atrapalhar a investigação no DP? – A pergunta veio do nada, mas o experiente investigador viera ruminando o assunto em sua cabeça o caminho todo da delegacia até ali. - Não sei. – Noronha baforou nicotina. – Seja lá quem tenha tentado melar a investigação, não fez direito. A arma do crime está sendo analisada pela perícia nesse momento. Carvalho continuou pensativo, mas tratou de apanhar o mandado de condução no porta
Segunda-feira- Alô? Regiane?A voz do outro lado atendeu a ligação meio aborrecida.- É a Sara. Tudo bem? – A garota tentou passar tranquilidade na voz, mas ela sabia que o tempo corria contra ela.- Oi, Sara. Estou um pouco ocupada. Em que posso ajudar? – Ouvia-se sons abafados do outro lado da linha.- Desculpe ligar tão cedo, mas eu preciso saber se houve algum engano na hora que montou a lista de convidados para a sua festa. É possível que você tenha se confundido com os nomes e as fantasias? – Sara tinha urgência na fala. Dava para ouvir vozes agora pelo telefone. Regiane não estava só.- Não houve erro. Eu coloquei na lista as fantasias que vocês me informaram. Eu só não tive controle das pessoas que resolveram ir de última hora, acompanhando os convidados oficiais. Eu não tinha como sab
Segunda-feira A delegacia estava em polvorosa com a chegada da corregedora-chefe. Vestida com um talleur preto, os cabelos crespos presos para trás e um rosto sisudo, a mulher procurava não perder tempo enquanto investigava a invasão à sala de provas do 14º DP. Havia trocado duas ou três palavras com o delegado Marcondes desde que chegara. Torcera o nariz para a forma como o caso do assassinato na mansão Telles de Mendonça estava sendo conduzido por ele, mas não se envolveu. Seu objetivo era cristalino. Requisitou a presença do escrivão Lopes e se ocupou da sala de provas, onde o fez catalogar item por item guardado lá dentro para saber o que havia sumido – se é que algo havia sumido. Em sua sala, Marcondes sentia como se tivesse voltado para estaca-zero. O principal suspeito tinha argumentos fortes que o desconectavam quase que totalmente do crime e a investigação precisou ser recomeçada com a liberação de Guilherme Ribeiro. Uma batida na p
Noronha estivera sentado diante de um computador de tela amarelada por longas duas horas e a análise dos vídeos das câmeras de segurança do condomínio Arco Verde estava concluída com êxito. Conversou com os policiais Aldo e Jean Carlos que estiveram à cargo da investigação na mansão e os três chegaram à mesma conclusão: O suspeito desconhecia a existência das câmeras do lado externo da casa da família Allegro e do estacionamento.A família Allegro passava pouco tempo na casa luxuosa vizinha dos Telles de Mendonça e exatamente por isso, não fazia muita questão de instalar equipamentos de segurança com câmeras ou alarmes. Seja lá quem ele fosse, o assassino de Jonathan Braga havia estudado bem a mansão onde aconteceria a festa e os arredores, mas ignorava que existiam câmeras no local que ele furtivamente
Sara queria a companhia da amiga naquele momento, mas a encontrou adormecida no sofá da sala, cansada depois da ação do dia. Protetora, apanhou um cobertor no quarto e cobriu a amiga ressonante. Parou diante do mural de evidências que as duas haviam começado a montar na parede, no lugar do quadro de fotos que tinha ali. Notou que as pistas sempre estiveram nítidas à sua frente, mas elas não tinham olhado com atenção. Decidiu sair de casa sozinha. Apanhou apressada algumas imagens que tinha enviado para a impressora via bluetooth, jogou tudo em uma pasta, colocou a mochila nas costas e saiu.Ela não tinha certeza o horário de saída, mas aguardou pacientemente em frente à delegacia. Seu relógio de pulso marcava 21:30. Parecia tarde para alguém terminar o expediente e se ele já tivesse ido embora, teria que aguardar até o dia seguinte. “