Capítulo 02

Liz

Assim que nos sentamos, a aula começou, mas não prestei atenção em nada do que ele falava. Apenas conseguia observar a sua beleza, em como sua boca era tentadora e pensar no fato de que aquilo tudo ali, na frente, perante a lei, me pertencia.

E, pelo jeito que as minhas colegas de turma sussurravam e soltavam risos, não tinha sido somente eu que notei o quanto aquele homem era gostoso. Sua postura séria e seu meio sorriso discreto me diziam que ele sabia bem a reação que estava causando, mas não se deixou levar por isso, continuou sua aula que, ainda que eu não prestasse atenção, estava melhor do que as anteriores.

Sentia-me tranquila, até que ele me encarou. Pelos olhos semicerrados na minha direção, me questionei se ele sabia quem eu quem era de verdade. Não, óbvio que não! Eu esperava mesmo que não! 

— Vamos, Liz. A aula já acabou. — Ana me balançou de leve. 

— Era mesmo! — Tentei manter o meu autocontrole. 

— Agora, limpa a baba e vamos para a próxima aula. — Ana riu. 

Saímos em direção à porta e, naquele momento, eu tropecei nos meus próprios pés. Acabei caindo e derrubando todos os meus livros.

Que merda! Até parece um maldito clichê. Agora ele virá me ajudar a recolher o meu material.

— Você está bem? — Henry perguntou, se aproximando. 

Tentei dizer algo, mas as palavras ficaram entaladas na minha garganta. Com a minha falta de resposta, ele se agachou e me ajudou com os livros. Nossos olhares se encontraram por uma fração de segundos.

Ele estendeu sua mão e eu aceitei, claro! Só aí percebi que Ana estava paralisada ao meu lado, observando tudo com uma cara bem esquisita. 

— O-o-obrigada! — Não gagueje, Liz, me recriminei.

— Disponha! Só tente prestar mais atenção da próxima vez.

— Vamos, Ana! — Foi tudo o que falei. Sem respondê-lo, apenas saí, arrastando-a pelo braço. 

— Você viu o tipo dele?! — indaguei assim que saímos da sala. 

— Ele faz o meu tipo, Liz! — Ana suspirou, parecendo sonhadora.  

— Era mal-educado! — retruquei.

— Claro que não. Ele te ajudou. — disse empolgada.

Agradeci em pensamentos quando ouvi gritos de alguns alunos no corredor.

— Vamos! — Puxei minha amiga outra vez, fazendo-a parar de encarar o professor, ou seria melhor o chamar de “meu marido”?

***

 Não dizer prestei atenção em nenhuma das outras aulas. Só conseguia pensar naqueles olhos verdes. Ele era bem mais lindo do que na foto que havia visto. E, além de tudo, era meu marido. Tinha certeza de que ele não sabia quem eu era, e esperava que continuasse assim até ele assinar o divórcio. 

Saí do meu devaneio quando ouvi a voz da Ana. 

— Você está bem, Liz? — Olhava fixamente para a lousa mais a frente, mas, sem prestar atenção em nada.

— Sim — menti.

— Então, vamos. Foi a nossa última aula. 

Olhei ao redor da sala, que estava vazia.

— Vamos! 

— Hoje vai ter uma festa na casa da Samantha, quer ir? 

— Não estou muito bem. — Franzi o cenho, dando-lhe um olhar triste. 

— O professor gostosão te deixou assim? — Ela começou a rir. 

— Claro que não — tentei mentir. — Estou com cólica. Ou acho que foi algo que comi e não me fez muito bem. 

Seguimos para fora do corredor. 

— Amiga, queria muito te fazer companhia, mas vou tentar dar uns beijos no Igor — ela afirmou, sem me surpreender. Ana sempre foi atirada. 

— Boa sorte com ele. 

Igor era a paixão platônica dela, uma vez que não se interessava nem um pouco pela minha amiga. Infelizmente, todos viam isso, menos ela.

— Tá bom, obrigada. Até segunda. — Ana me abraçou e seguiu em direção ao portão.  

Fiquei ali, parada, apenas observando-a se afastar. 

— Você está bem, senhorita... — Ouvi aquela voz rouca e sexy atrás de mim.

Ainda que eu percebesse que ele não fazia a mínima ideia de que era casado comigo, meu corpo se arrepiou. 

— Navarro! Liz Navarro — falei ao me virar, com um ar de ironia. Se ele pensou que me esqueci o quão grosseiro foi comigo, estava muito enganado! 

— Desculpa. Levará um tempo até eu aprender o nome de todos os alunos.

Que voz maravilhosa a desse homem! Mas por que ele me tratou como uma simples aluna?

Não respondi nada, apenas me virei e segui em direção ao portão, sem olhar para trás. 

— Senhorita Navarro? Senhorita? 

Afastei-me enquanto o ouvia chamar por mim, mas me neguei a virar. Ao passar pelo portão, senti um alívio descomunal ao ver o carro do Petter parado à frente, e agradeci por ele ser tão pontual. Entrei de súbito. 

— Aconteceu alguma coisa, Liz? –– Questionou preocupado.

— Nada não, Petter. — Tentei disfarçar, mas ele continuou a me encarar pelo retrovisor. — Acho que comi algo que não me fez bem. 

— Quer ir ao médico? 

— Não precisa. Um chá da Sandra já será o suficiente. 

— Ok. 

— Ligou o carro e seguimos. 

Passei o caminho todo pensando no professor. Assim que cheguei em casa, Bruno estava me esperando. O homem sempre tinha as feições sisudas, como se estivesse com um humor infernal.

 — Bruno?! — Senti um alívio em vê-lo.

— Oi, minha menina. — Sandra veio ao meu encontro. — Você está pálida. Aconteceu alguma coisa? 

 — Comi algo que não me fez bem. — Fiz uma careta para ela acreditar em minha mentira. 

 — Vou fazer um chá para você — proferiu, indo até a cozinha. 

 — Obrigada. — Coloquei minha bolsa no chão e me sentei no sofá oposto ao que o advogado estava. 

 — Tudo bem, Liz? 

— Ele nunca teve interesse nenhum em saber quem eu era, e agora, do nada, apenas para assinar o divórcio, ele quer? Nem no nosso casamento ele veio. Não vejo necessidade de continuar com essa palhaçada, pois já durou mais do que deveria. Só mandar os papéis que eu assino, não era assim que funciona? — declarei em um único fio de voz. 

 — Ele virá à cidade para fazer isso — explicou sisudo. 

 — Ele já está na cidade! — comentei. Às vezes, não conseguia controlar a língua. 

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