Flávia Simões
— Ana, onde está a proposta de Roma? — Agnes pergunta para sua secretária, perdida em pilhas de papéis. Ela bufa irritada, quando não encontra o que procura. A secretária abre a porta, adentrando a sala e se põe a procurar a tal proposta. Eu apenas assisto as duas malucas remexendo a papelada, quase que perdendo o juízo. Olho para mesinha de centro e pego o único documento esquecido no tampo de vidro temperado, e me levando do sofá macio, indo de encontro das duas. Paro de frente para Agnes e lhe estendo o papel. A mulher para o que está fazendo e olha o papel e depois para mim. Ela sorri. — Eu já disse que te amo hoje? Deus, achei haver perdido a m*****a proposta! Agnes se j**a, sentando-se na cadeira e respira aliviada. — Pode ir, Ana. — Ela dispensa a secretária, e mete a cara nos papéis.
— Hoje é sexta — digo, me sentando de frente para ela.
— E? — pergunta, sem tirar os olhos do papel.
— Pensei em sair essa noite, você vem?
— Ah! Não dá amiga! Tenho que acordar cedo e começar com os preparativos para mais um evento — diz quase como uma lamentação.
— Ah! Qual é, Agnes? Você precisa sair mulher, precisa se divertir, dá para algum carinha. — Ela para o seu trabalho e me encara séria.
— Sabe o que penso sobre sexo casual, não é?
— Sei o que você acha sobre o sexo em si. Acredite amiga, se você não usar isso aí criará teias — ralho bem séria. Agnes me olha por um tempo e meneia a cabeça em um não lento.
— E quem disse que eu não uso? — Arqueio as sobrancelhas sugestivamente.
— Pênis de borracha não conta, Agnes — resmungo. Ela larga o papel e me encara irritada.
— Quem disse que não conta? É melhor que um namorado possessivo, controlador e…
— Pode parar por aí! Estou falando sério, Agnes, você precisa sair, precisa se divertir, ver gente! Do jeito que você anda, ficará doente.
— Exagero — retruca. Ela volta para os seus papéis e eu volto para o meu celular.
Definitivamente trabalhar como assessora de alguém muito importante é gratificante, mas é muito, muito estressante também. Você tem que estar atenta as suas redes sociais, se livrar das imagens negativas, que surgem em alguma atitude inesperada, desenhar, projetar, arquitetar e moldar a imagem perfeita que levará o seu cliente ao topo. Contudo, com a Agnes, isso está sendo fácil demais. A mulher vive do escritório para casa e de casa para o escritório. O que custa ela manchar só um pouquinho essa reputação, para eu ter algum trabalho a fazer? Solto um suspiro audível. Ok, falei, falei e falei, mas vocês ainda não sabem quem sou eu. Olá, eu me chamo Flávia Simões, sou a assessora da Agnes Ferraço, como podem ver. Ela é uma produtora de moda conhecida mundialmente. Agnes faz eventos dentro e fora do país. É do tipo compulsiva mesmo, ela vive só para isso, mas nem sempre foi assim. Minha amiga já teve uma vida amorosa, com um cara chamado Adam Clive Parker; um empresário e banqueiro americano, que conheceu ainda na faculdade. O cara proporcionou a Agnes uma relação de contos de fadas por dois anos, mas em uma de suas inspeções, ela o pegou no flagra com uma d e suas modelos do Fashion Week, e isso já tem o quê, três anos? E desde então ela desistiu do amor, ou do sexo, ou dos dois. Agnes e eu somos amigas desde sempre, nos conhecemos praticamente no jardim de infância e só nos separamos durante a faculdade. Durante dois longos anos, construí uma carreira impecável, fui assessora de jogadores famosos, de atores de Hollywood, alguns cantores e apresentadores também. Estava ganhando muito, muito bem, até que uma proposta tentadora me trouxe até aqui. Hoje assessoro apenas a Agnes, e ela me paga o triplo do que eu ganhava com toda aquela clientela do meio artístico. Preocupa-me o fato de minha amiga e chefe ter perdido o seu brilho, a sua alegria e de ter desistido de viver o lado divertido da vida, digo de passagem.
***
Uau, isso aqui está tão apertado que mal consigo mexer o meu quadril, para dar uma viradinha! Calor humano é bom, é ótimo, mas isso aqui, Jesus!
— Viu a Agnes? Ela precisa olhar as modelos antes que entrem no palco. — Petrônio, um dos ajudantes de palco da Agnes pergunta, segurando uma prancheta e uma caneta nas mãos. O cheiro do perfume do cara é de deixar as calcinhas molhadas. Ui! O homem é uma delícia!
— Deixa que entrego para ela — peço. Os olhos azuis anises, me encaram e sinto que estou mergulhando em um oceano profundo. Definitivamente preciso pegar o carinha, anseio sentir seu sabor, nem que seja uma lasquinha dele, mas eu preciso! — Tem alguma programação para essa noite? — questiono quando ele me entrega o material. O homem me lança um olhar sugestivo, e eu me derreto todinha por dentro. Delícia de homem! O quê? Não estou morta gente, sou solteira e tenho muito tempo livre para curtir, ok? Não acredito nessa história de príncipe encantado, mas espero encontrar um carinha legal, que bata com o meu perfil e quem sabe em um momento de loucura, nos casamos e temos filhos. Mas, enquanto esse príncipe não chega, eu vou curtindo, fazendo alguns estágios, para não fazer feio quando finalmente encontrá-lo, ou se ele me encontrar primeiro, vai saber?
— Uma danceteria, Voguel — Ele diz, me despertando dos meus loucos e deliciosos pensamentos. Arregalo os olhos. Estou literalmente de boca aberta, o coração chega a alcançar a minha garganta em um pulo só. Voguel, é uma danceteria para troca de casais. Nunca fui lá, até porque não tenho um par para isso. Mas, saber que Petrônio curte esse tipo de coisa me deixou sem ar definitivamente. Minha cabeça chegou a viajar. Petrônio, um moreno alto, forte, com esses malditos olhos azuis, em uma cama redonda, com duas garotas, ou alguns casais… Sacudo minha cabeça de um lado para o outro, jogando os malditos e safados pensamentos para longe. Deus do céu, não adiantou muito o sacolejo, a coisa só piorou a minha situação. Estou vendo a mim, nessa m*****a cama com o delicioso Petrônio, bem atrás de mim, enquanto… Ui! Parou, parou! Não posso pensar nessas coisas agora, não mesmo.
— Ok — digo meio sem jeito, pisco um olho para ele, e me viro de costas, saindo dali sobre os meus potentes saltos altos, rebolando na medida do possível no aperto da multidão de assessores, modelos e agentes no salão mediano. É quando subo as escadas e encontro o hall pequeno e lustroso, que me leva ao escritório da Agnes, que consigo respirar melhor, e pensar melhor também. Porra, eu disse sim, para um programa na Voguel? Tô ficando maluca, só pode!
Flávia Meia hora de evento… A música eletrônica dita os passos firmes e, simultaneamente, graciosos das modelos, que exibem os novos passos da moda. Há uma onda gigante de flashes, inundando a todos no evento e eu só consigo pensar que em algumas horas estarei dentro da Voguel, com um belo par de olhos azuis anis e nem sei se tiro uma lasquinha dele, ou se ele tirará de mim… Ou se alguém fará isso por mim. Pai do céu, e se eu não gostar da troca? Sou desperta por um burburinho agitado no meio da multidão e olho imediatamente para o alto do palco. Agnes… Entro em pânico quando a vejo caída ao chão de madeira branca, lustrosa e imediatamente passo um rádio para os seguranças, seguindo apressada para o palco. — Ponham ela aqui — peço, apontando para o sofá que fica por trás das cortinas. — Wall, continue com o evento, eu cuido da Agnes — peço para a assistente de palco. Ela me mataria se soubesse que não levaram o evento adiante. — Ok. *** — Senhorita Agnes Ferraço — O médico diz, e
Flávia Simões — Então, lembra do Petrus? — Adonis diz, assim que nos aproximamos da mesa. Olho para o homem dos pés à cabeça. Olhos escuros, petulantes e altivos me encaram, com um conhecido sorriso sacana. Um corpo marrento, sendo oprimido por uma camisa branca, extremamente apertada. O jeans surrado, faz o mesmo com as coxas grossas e com o documento protuberante no meio de suas pernas. Claro que eu me lembro dele! — Esse é o carinha metido a besta, que andava ao seu lado no colégio? — Solto essa. Ele gargalha alto, mostrando os dentes perfeitos e o pomo de Adão, que dança em sua garganta, em um sobe e desce, enquanto rir do meu comentário. — E você deve ser a maluquinha da turma — fala com deboche. Rolo os olhos. — Sabia que iam gostar de se ver! — Adonis diz, achando graça. — Bom, esse não era da turma. Oliver Borbolini, esta é Flávia Simões, uma amiga do colegial. — Ele finalmente nos apresenta. Sorrio lindamente para o par de olhos negros, que me encaram com um brilho que não
Flávia Os sons dos pássaros, o vento uivante, o som do mar batendo nas pedras. Abro os olhos! O som do mar batendo nas pedras? Meu coração começa a palpitar. Viro-me lentamente, o mais lento e quieto possível, para me deparar com um Oliver adormecido ao meu lado. Não foi um sonho. Constato. O ar me falta, por quê? Santo Deus, desenharei para vocês, tenho certeza de que o ar vai faltar aí também. Tema do desenho: “Oliver pós coito adormecido.” Os cabelos estão uma bagunça castanha, ridiculamente sexy. A boca carnuda e avermelhada está entreaberta, mostrando parcialmente alguns dentes perfeitos, e enquanto a delícia ressona ao meu lado, seu peitoral forte e firme sobe e desce lentamente, como em um balé, lento e clássico. O cara é moreno e robusto, despenteado e ressonando? Caralho! Meus olhos atrevidos ousaram descer mais um pouco. Ai, ai! Os gominhos do abdômen dele estão expostos e digo mais, há alguns poucos pelinhos, bem lisinhos e negros, que fazem trilhas singelas até o parquin
Adonis Kappas — Quando disse que precisava falar comigo com urgência, achei realmente que estava morrendo — digo, fazendo graça para uma Flávia que me olha embasbacada. — Quando eu estiver morrendo de verdade, não chamarei você. — Arqueio as sobrancelhas, segurando o riso. — Por que não? — Porque quando eu for morrer, é porque já chegou a minha hora e você só iria atrapalhar. — Agora eu me confundi todo. Eu simplesmente junto as sobrancelhas, demostrando toda a minha confusão. — Como? — Adonis, por favor, não seja inocente — diz irritada. — Homem gostoso e inocente é o fim! — rosna com irritação, eu explodo em uma gargalhada. A Flávia é realmente hilária. Quando saí de casa totalmente desanimado essa manhã, não imaginei que daria boas gargalhadas. Agora estou aqui, almoçando com minha amiga do tempo de colégio, que não tem filtro. — Que bom que faço algumas pessoas rirem — resmunga com um tom irônico. — Sim, você faz. — Ela respira fundo. — Eu soube do roubo. — Flávia diz, ago
Adonis Ponho a mochila nas costas e a maleta de acessórios de culinária apoiada em meu braço e subo na moto. Está na hora de conhecer o meu novo espaço de trabalho. Não demora muito e eu estaciono a moto em frente a um prédio luxuoso. Ok, já estive em muitos prédios de luxo, mas esse aqui é… uau! Chego a sentir receio de entrar no edifício e ser barrado só por conta da minha roupa. Definitivamente um jeans rasgado e desbotado, uma camiseta branca e uma jaqueta de couro cor de caramelo, não é roupa para tal ambiente. Suspiro e sigo, observando as pessoas me olhar torto. Que se danem, roupa não é rótulo, meu bem! Ando em direção da recepção sofisticada e uma moça alta e magra, de cabelos negros e lisos me lança um sorriso profissional. — Boa tarde, eu me chamo Adonis Kappas — Começo a falar, mas sou interrompido. — Hum! o chef. — Ela diz, me olhando de cima a baixo e abre um sorriso satisfeito. — Isso, o chef — confirmo e o seu sorriso se amplia. — Último andar, senhor Kappas. É o
Adonis Kappas O lugar é bem tranquilo e parece que sou a única pessoa nesse imenso castelo de vidro. Daqui do meu quarto é possível ver toda a cidade em vida; o movimento do trânsito, das pessoas, as lojas abertas. Linda e deslumbrante, com todas as suas luzes acesas. Já passam das oito da noite e ainda não há nenhum movimento sequer na casa. Decido preparar algo para comer. Flávia disse que a tal Agnes chegaria bem tarde, por conta de um evento social. Pego meu celular e escolho uma playlist. Rooms, começa a tocar suavemente em meus ouvidos, mas com um ritmo levemente dançante. Ponho um avental branco e começo a distribuir a farinha pelo mármore limpo, quebro alguns ovos e ponho as mãos à obra. Um bom chef faz a sua própria massa e cria os seus próprios molhos. Nada de enlatados e de massas, que ficam nas prateleiras dos supermercados por meses a fio. Uma boa massa, tem que ser fresca e um bom molho, não tem conservantes. Meia hora depois, deixo a massa descansar em um tipo de varal
Adonis Dirijo com cuidado o carro designado para o meu trabalho. No porta-malas há uma bolsa térmica com o almoço da minha chefe. Uma deliciosa salada burguesa, com uma mistura de cores e um sabor agridoce, salmão defumado ao molho de laranja e um risoto de camarão, e para adoçar a sua vida, uma generosa fatia de torta de avelã com chocolate. Puxo a respiração quando paro em frente a um prédio muito… muito alto, com duas enormes letras negras e lustrosas no topo do edifício espelhado M. F. Não me perguntem o significado, porque eu não sei. Saio do carro e pego a bolsa no porta-malas e uma maleta com alguns acessórios que precisarei e sigo para dentro do prédio imponente e elegante. O hall não é tão diferente da fachada; tem um ar de poder, de delicadeza e do feminismo ao mesmo tempo. Atrás do balcão tem duas palavras cheias e prateadas, em um fundo totalmente escuro: Model Fashion. Ok, agora sei o significado das siglas. — Bom dia, eu sou… — Adonis Kappas, eu sei, pode ir. Último an
Agnes Ferraço Horas antes do almoço… — Tô só notificando. — Ela diz insistindo no assunto. — Flávia, isso não tem lógica. Um chef especialmente para fazer as minhas refeições, pirou? — Pirei, pirei todinha. Pirei quando vi você caída no chão no meio de um evento. Vivo te dizendo, Agnes pausa. Para um pouco...— Bufo de modo audível. Lá vem ela com aquela ladainha. Sério, escuto isso diariamente, às vezes dá vontade ignorar ela assim, tampando os ouvidos e cantarolando qualquer coisa, só para não a ouvir reclamar. — E você ouviu o médico? — Ok, acabou? — Acabei. — Que bom, ótimo! Quer contratar um chef? Contrata um chef. Fazer o quê? Você é impossível mesmo — resmungo e ela abre um sorriso vitorioso. Saco! — Quando ele começa? — pergunto vencida. — Seria hoje à noite, se você não tivesse essa festinha com o Hernandes. — Pisca um olho e morde levemente a pontinha da língua. Às vezes penso que a Flávia tem algum distúrbio sexual. Sério mesmo, tudo para ela gira em torno disso.