Agnes — Não, você não precisa! — digo, e o medo faz com que a minha voz fria como uma pedra de gelo estremeça um pouco. Adam suspira alto e faz silêncio em seguida. — Tudo bem, se é assim que você quer. Preciso avaliar alguns bens. Você sabe, tudo o que compramos juntos… — Procure um dos meus advogados, e não venha aqui! — falo com irritação e desligo sem esperar a sua resposta. Se arrependeu? Desgraçado! Após longos três anos e agora ele está arrependido? Antes sentia pena de mim mesma, perdi noites e noites de sono, chorei por noites a fio, demorei para me levantar do chão e agora esse imbecil me diz que se arrependeu? Sento na cama e me ponho a chorar. Não sei se de raiva ou se de desespero. Adam não pode vir aqui, ele não pode saber. Com uma respiração profunda, eu me habilito a secar as minhas lágrimas e vou para o banheiro tomar um banho longo e demorado. Depois dessa eu preciso. *** Às cinco da manhã já estou de pé e resolvo sair para uma corrida matinal. O som de Rockabye
Adonis Kappas Uma semana depois… Fazer serviço de carpinteiro não é uma coisa que eu quero para mim, mas nesse momento é necessário. Com a ajuda do Oliver, tiramos praticamente toda a poeira e o lixo que havia se acumulado no prédio. Agora estamos consertando o telhado. Aqui do alto a vista me anima. O prédio antigo fica em uma parte linda da cidade, além de ser bem situado também. Logo mais à frente há um parque florestal, muito visitado. Do lado direito, do outro lado da rua, tem um cinema ao ar livre, daqueles que as pessoas assistem de dentro dos seus carros e um pouco mais a frente, do lado esquerdo do bistrô, há um teatro e uma praça, que além de bela, tem um cloreto de vitral. Sou desperto pelo som do martelo na madeira nova que o Oliver está trocando no teto e volto ao meu trabalho. Quase três horas depois, estamos no prédio e admirando o nosso trabalho.— O teto ficou perfeito! — Oliver diz soltando um suspiro apreciativo.— Perfeito! — repito a palavra.— O que tem para f
Adonis Segunda à noite… Durante o dia não tive muito o que fazer na torre de vidro. A patroa viajou bem cedo, então eu não tinha que cozinhar para ninguém. Como eu disse, dinheiro fácil. Tenho algo comigo em relação a isso. Não gosto de dinheiro fácil, porque eles se vão fácil assim como vieram. Gosto de lutar pelas minhas conquistas e isso está me incomodando muito. O forno faz um sutil sinal sonoro avisando que a lasanha já está pronta. Eu pego as luvas acolchoadas em cima do balcão e após vesti-las, tiro a travessa do forno a levando para o balcão no centro da cozinha. Tiro as luvas e pego um vinho branco na adega. Um par perfeito, para um jantar perfeito. Vinho branco e massa italiana. De repente um cheiro diferente se mistura ao perfume da massa e eu me viro na direção da porta da cozinha e a vejo. A minha chefe, vestida em um elegante conjunto de terninho bege, com singelos detalhes cor de rosa. Ela tem os braços cruzados, rente ao peito, um ombro escorado na soleira da por
Agnes — Sabe o que eu acho? Que você se acha a gostosona, mas você precisa saber, que sem mim, você não é nada! Agnes Ferraço, vive escondida atrás de uma imagem. Olha só para você, Agnes. Está sozinha, e sabe por quê? Porque a única pessoa que te quer, sou eu. — Adam disse mais cedo, quando me parou na entrada do prédio da Fashion e eu não segurei o impulso, e deitei a mão na cara do imbecil, o deixando para trás. Entrei no meu carro em seguida e algumas horas depois, estava trancada no meu quarto, remoendo algo que acabei de fazer bem no meio da minha cozinha. Ainda não estou acreditando que eu fiz aquilo. Não acredito que quase beijei o Adonis, meu Deus! Será que foi pelo que o Adam jogou na minha cara? Eu queria provar algo? Não, eu não preciso provar nada para ninguém. Deve ter sido o vinho, só pode ter sido o vinho. É claro que o culpado foi ele. Eu estava chateada, devido à perseguição irritante do Adam. O filho da mãe, bateu em um dos meus eventos em São Paulo e forçou um
Agnes O ambiente é bem aconchegante, mas é bem agitado também. Danceteria Ekkos, faz anos que não piso nesse lugar. Da última vez que vim aqui, namorava o capitão de um time de futebol do colegial. A Flávia saía com um dos amigos do meu namorado. Naquela noite, nós aprontamos todas. Lembro-me que a Flávia armou para um garoto... Como era mesmo o nome dele? Sigo uma Flávia dançante, pelo meio da multidão, segurando em seus ombros. Sério, dá um nervoso estar aqui de novo. Aquela história de que é como andar de bicicleta, não me parece viável. Depois que atravessamos praticamente toda a danceteria, ela para em uma mesa bem lá no canto, na lateral do balcão, onde tem alguns caras animados. Chego a puxar a respiração. — Agnes, esses são Petrus, Oliver e esse eu não conheço — Flávia diz animada. — Sou Mikael, amigo de Oliver. — Amigo? — Ela olha de um homem para o outro. — Prazer, eu sou a Flávia! — Lhe estende a mão. O cara a segura e o contrário de um aperto amigável, ele beija a mão
Adonis Mensagem do Oliver para Adonis. Adonis cadê você? Todos já estão aqui, cara. Adonis é sério. Se você não vier, eu mesmo irei te buscar. Adonis? Estou ficando preocupado. ... As mensagens da Flávia e do Oliver não param. Eu estou a mais de uma hora, sentado em um dos bancos do meu tão sonhado bistrô, secando uma garrafa de uísque. Estou para baixo, totalmente desanimado e justo hoje, é aniversário da morte do meu pai. Definitivamente não tenho clima para ficar no meio da turma, seria uma péssima companhia para essa noite. A situação seria bem diferente se ao menos eu tivesse concretizado o meu sonho, o nosso sonho. Após esvaziar mais um copo, peguei as chaves do carro dentro do meu bolso e resolvo ir para o Ekkos. Dirijo atento, mas sentindo a cabeça levemente zonza e minutos depois, eu paro o carro e adentro a casa noturna, sentindo a música vibrar nos meus tímpanos. Respiro fundo, sentindo o ritmo da música me relaxar imediatamente. Caminho direto para os fundos da boate
Adonis Adentro o escritório da senhora Agnes e como de rotina, começo a organizar a mesa para o seu almoço. Me chame apenas de Agnes. Hoje não sou senhora, nem sua, nem de ninguém. — Agnes. — Experimento o som da palavra na minha boca e sorrio por dentro. É muito bom chamá-la assim. Ponho um último retoque. Um vaso de cristal transparente, com uma única flor dentro dele, bem no centro da refeição. A porta se abre e pela primeira vez ela vem sozinha. Agnes fecha a porta atrás de si e quando se vira de frente para mim, os nossos olhos se encontram. Ela respira fundo e desvia o olhar, indo direto para a mesa, se acomoda, põe o guardanapo de linho branco no colo e abre a primeira bandeja, encontrando uma salada de cogumelos. Tudo isso sem olhar para mim. Reprimo um suspiro audível. Em seguida, ela abre a segunda bandeja, onde um arroz à grega comparece, fazendo-a morder o lábio inferior e por fim, a última bandeja com um delicioso filé de carne acebolado e ao molho de mostarda. Este e
Agnes Ferraço Instantes antes da verdade… Estou a mais de meia hora, com a cabeça inclina para trás e deitada no encosto da cadeira do meu escritório. Aí você pode me perguntar: O que porra você está fazendo Agnes? Aí eu te respondo, deitando o cérebro. Isso mesmo, deitando o cérebro. Cara, eu preciso me lembrar de algum detalhe daquela noite. Após ver pessoalmente o que Adonis guarda dentro das calças, eu fiquei pensando. Como eu não me lembro disso? Então quando a Flávia saiu para fazer o seu trabalho. Trabalho… Porra, não consegui fazer nada ainda nessa mesa. Mesa… O que Adonis faria comigo sobre essa mesa? Entenderam por que não fiz nada ainda aqui em meu escritório? Eu não tenho foco. Voltando ao assunto que fritou o meu cérebro, me lembrei da dança, dos toques, dos beijos em minha pele. Aí veio as imagens de nós dois se pegando como animais no cio no elevador. Ai meu Deus, nunca fiz sexo no elevador! Preciso fazer isso um dia desses. Estou ficando pervertida e culpa é da Flávia