Flávia Simões
— Então, lembra do Petrus? — Adonis diz, assim que nos aproximamos da mesa. Olho para o homem dos pés à cabeça. Olhos escuros, petulantes e altivos me encaram, com um conhecido sorriso sacana. Um corpo marrento, sendo oprimido por uma camisa branca, extremamente apertada. O jeans surrado, faz o mesmo com as coxas grossas e com o documento protuberante no meio de suas pernas. Claro que eu me lembro dele!
— Esse é o carinha metido a besta, que andava ao seu lado no colégio? — Solto essa. Ele gargalha alto, mostrando os dentes perfeitos e o pomo de Adão, que dança em sua garganta, em um sobe e desce, enquanto rir do meu comentário.
— E você deve ser a maluquinha da turma — fala com deboche. Rolo os olhos.
— Sabia que iam gostar de se ver! — Adonis diz, achando graça. — Bom, esse não era da turma. Oliver Borbolini, esta é Flávia Simões, uma amiga do colegial. — Ele finalmente nos apresenta. Sorrio lindamente para o par de olhos negros, que me encaram com um brilho que não consigo decifrar.
— Flávia, este é Oliver, o irmão caçula de Petrus. — O carinha me estende sua mão e eu a seguro. O choque eletrizante foi inevitável. Sério, tive que me conter na hora.
— É um prazer, Flávia! — Ele diz com um vozeirão de arrepiar até os cabelos do… e eu? Ah! Eu não deixo por menos, né?
— O prazer é todinho meu! — digo sedutora, sem tirar e nem pôr. Os homens riem.
— Ah! Essa é a Ana, uma amiga de trabalho. — Apresento minha amiga aos meus "amigos" e deixo a noite nos levar.
— Você e o Adonis se conhecem há muito tempo? — Oliver-deus-grego-gostosão pergunta em meio a uma dança agitada, no meio de uma pista lotada de gente. Eu o olho mexer seu corpo bem-vestido em um jeans amarrotado, uma camisa branca e um blazer negro por cima. Abro um sorriso. Sério, Adonis foi bem claro com o "tempo do colegial," mas o bonitinho quer puxar assunto. Ai, ai!
— Desde o colegial.
— Ah! E vocês já…
— O quê? Eu e o Adonis? Ui! Bem que eu queria, mas não. — Uma música lenta começa a tocar e eu fico meio sem jeito. Parece que o Oliver também não sabe o que fazer. Observo o Petrus pegar a Ana de jeito e o Adonis voltar para o balcão. Penso em sair e ir ao encontro do meu amigo, mas logo sinto a pegada firme — digo, na proporção certa — do Oliver segurando o meu braço.
— Quer dançar? — pergunta. Demorou! Penso animada.
— Claro.
Sabe a eletricidade estática, aquela que te deixa de cabelos em pé? É exatamente assim que estou agora. As mãos grandes e firmes do Oliver estão apertando a minha cintura. Nada de tímido e nem receoso, ele tomou posse mesmo. Já eu, não fico por menos. Estou agarrada aos ombros largos, enquanto o seu corpo começa a se mexer com o meu. Mas, o perfume… Papai do céu! Por que você faz essas coisas malvadas comigo? O perfume, esse sim, está me deixando eriçada, zonza. É um cheiro refrescante, amadeirado e forte em simultâneo. Na segunda música, a ousadia do Deus-grego só aumenta. Sua boca roça levemente o meu pescoço e esse beijo faz uma trilha pequena, com destino ao meu maxilar, parando bem no cantinho da minha boca. Ele para e me olha nos olhos. Chego a rir por dentro. Dessa vez eu não sou a caçadora, sou o alimento da caça. Penso mais animada.
— Sei que devia ir direto ao ponto, Flávia, mas eu preciso saber: posso te beijar? — pergunta com educação. Vai fundo gostosão, mete essa língua deliciosa na minha boca, que quero sentir como é o sabor de um Deus-grego! Era o que eu queria dizer.
— Claro — É tudo o que consigo falar. Nem tenho certeza se ele ouviu, por conta da música alta, mas ele inclina a cabeça em minha direção e pronto. O mundo se acabou. O beijo começa lento e calmo, posso dizer até preguiçoso, e vai ganhando uma margem deliciosamente faminta. Suas mãos que apertam ainda mais a minha cintura, descem de uma forma considerável e segura firme a minha bunda, por cima do jeans grosso e ainda assim, é possível sentir o seu calor. Enlaço seu pescoço e não sei se é possível, mas, aprofundo ainda mais o nosso beijo. Abaixo da música alta, solto alguns gemidos em sua boca. Eu não ouvi, mas sentir um grunhido alto, reverberar dentro da minha boca. Isso soa tão pervertido! O beijo para abruptamente, e eu encaro um Oliver assanhado e ofegante, de um olhar luxurioso e penetrante.
— Quer sair daqui? — O convite é claro.
E eu quero?
Pode ter certeza que sim! Sem tirar os meus olhos dos seus e sem a menor condição de falar qualquer coisa, faço um sim, com a cabeça — Sim, porque se eu falar, vou gritar e pular bem alto feito uma louca “ESTOU NO OLIMPO PORRAAAA!”
O carinha sorri, e a porra desse sorriso quase me enfarta. Ele segura a minha mão e nós saímos dali o mais rápido possível.
***
— Assim, assim… oh, Deus… que delícia! — gemo descaradamente, de quatro em cima da cama para esse homem. A coitada da cama judiada, reclama fazendo alguns rangidos, por conta dos balanços violentos de vai e vem da nossa farra. Oliver segura firme os meus cabelos e manda ver, metendo com mais força dentro de mim. Começo a sentir um calor, uma demência, um conhecido formigamento e já sinto o orgasmo me arrastando para a beira do abismo.
— Não, não, não, não, não… — resmungo baixinho.
— Não? — Oliver para de se mexer.
— Não é com você. Vai, vai, vai, vai… — retruco.
— Ah, tá! — Ele diz e volta a se mexer com maestria. Está terminando. Não quero que acabe. Oh Deus, que trem bom! Ele larga os meus cabelos, segura firme os meus quadris e com duas arremetidas fortes e seguras, eu grito palavras inteligíveis e gozo gostoso. Oliver puxa o meu corpo suado, colando-o ao seu. Um braço me segura firme, me mantendo colada ao seu corpo e a outra mão puxa o meu rosto para o lado. Ele toma a minha boca, metendo ainda mais forte e me faz engolir seus grunhidos altos e fortes, gozando forte dentro de mim em seguida. O beijo para e eu fico mole e presa a esse homem. Minutos depois, ele deita a cabeça sobre o meu ombro e deixa alguns beijinhos ali. Agora eu só consigo ouvir os sons das nossas respirações.
— Minha nossa! — diz finalmente me soltando. Eu finalmente caio no colchão. Um colchão macio, fofinho, gostosinho. Sono, preciso dormir, estou acabadinha da Silva. Três. Três trepadas das boas, cada minuto delas. Não tenho o que reclamar, o homem realmente me levou a exaustão. Oh Deus, preciso dormir! Preciso renovar as minhas forças. Se quer tenho coragem de abrir os meus olhos. Ainda o sinto se mexer na cama, talvez se livrando da camisinha. Para a minha felicidade e para o bem da minha sanidade mental, Oliver me puxa para perto de si, em uma posição de conchinha e com um leve fungado no meu pescoço, sinto que a tempestade já passou, é hora da bonança.
Flávia Os sons dos pássaros, o vento uivante, o som do mar batendo nas pedras. Abro os olhos! O som do mar batendo nas pedras? Meu coração começa a palpitar. Viro-me lentamente, o mais lento e quieto possível, para me deparar com um Oliver adormecido ao meu lado. Não foi um sonho. Constato. O ar me falta, por quê? Santo Deus, desenharei para vocês, tenho certeza de que o ar vai faltar aí também. Tema do desenho: “Oliver pós coito adormecido.” Os cabelos estão uma bagunça castanha, ridiculamente sexy. A boca carnuda e avermelhada está entreaberta, mostrando parcialmente alguns dentes perfeitos, e enquanto a delícia ressona ao meu lado, seu peitoral forte e firme sobe e desce lentamente, como em um balé, lento e clássico. O cara é moreno e robusto, despenteado e ressonando? Caralho! Meus olhos atrevidos ousaram descer mais um pouco. Ai, ai! Os gominhos do abdômen dele estão expostos e digo mais, há alguns poucos pelinhos, bem lisinhos e negros, que fazem trilhas singelas até o parquin
Adonis Kappas — Quando disse que precisava falar comigo com urgência, achei realmente que estava morrendo — digo, fazendo graça para uma Flávia que me olha embasbacada. — Quando eu estiver morrendo de verdade, não chamarei você. — Arqueio as sobrancelhas, segurando o riso. — Por que não? — Porque quando eu for morrer, é porque já chegou a minha hora e você só iria atrapalhar. — Agora eu me confundi todo. Eu simplesmente junto as sobrancelhas, demostrando toda a minha confusão. — Como? — Adonis, por favor, não seja inocente — diz irritada. — Homem gostoso e inocente é o fim! — rosna com irritação, eu explodo em uma gargalhada. A Flávia é realmente hilária. Quando saí de casa totalmente desanimado essa manhã, não imaginei que daria boas gargalhadas. Agora estou aqui, almoçando com minha amiga do tempo de colégio, que não tem filtro. — Que bom que faço algumas pessoas rirem — resmunga com um tom irônico. — Sim, você faz. — Ela respira fundo. — Eu soube do roubo. — Flávia diz, ago
Adonis Ponho a mochila nas costas e a maleta de acessórios de culinária apoiada em meu braço e subo na moto. Está na hora de conhecer o meu novo espaço de trabalho. Não demora muito e eu estaciono a moto em frente a um prédio luxuoso. Ok, já estive em muitos prédios de luxo, mas esse aqui é… uau! Chego a sentir receio de entrar no edifício e ser barrado só por conta da minha roupa. Definitivamente um jeans rasgado e desbotado, uma camiseta branca e uma jaqueta de couro cor de caramelo, não é roupa para tal ambiente. Suspiro e sigo, observando as pessoas me olhar torto. Que se danem, roupa não é rótulo, meu bem! Ando em direção da recepção sofisticada e uma moça alta e magra, de cabelos negros e lisos me lança um sorriso profissional. — Boa tarde, eu me chamo Adonis Kappas — Começo a falar, mas sou interrompido. — Hum! o chef. — Ela diz, me olhando de cima a baixo e abre um sorriso satisfeito. — Isso, o chef — confirmo e o seu sorriso se amplia. — Último andar, senhor Kappas. É o
Adonis Kappas O lugar é bem tranquilo e parece que sou a única pessoa nesse imenso castelo de vidro. Daqui do meu quarto é possível ver toda a cidade em vida; o movimento do trânsito, das pessoas, as lojas abertas. Linda e deslumbrante, com todas as suas luzes acesas. Já passam das oito da noite e ainda não há nenhum movimento sequer na casa. Decido preparar algo para comer. Flávia disse que a tal Agnes chegaria bem tarde, por conta de um evento social. Pego meu celular e escolho uma playlist. Rooms, começa a tocar suavemente em meus ouvidos, mas com um ritmo levemente dançante. Ponho um avental branco e começo a distribuir a farinha pelo mármore limpo, quebro alguns ovos e ponho as mãos à obra. Um bom chef faz a sua própria massa e cria os seus próprios molhos. Nada de enlatados e de massas, que ficam nas prateleiras dos supermercados por meses a fio. Uma boa massa, tem que ser fresca e um bom molho, não tem conservantes. Meia hora depois, deixo a massa descansar em um tipo de varal
Adonis Dirijo com cuidado o carro designado para o meu trabalho. No porta-malas há uma bolsa térmica com o almoço da minha chefe. Uma deliciosa salada burguesa, com uma mistura de cores e um sabor agridoce, salmão defumado ao molho de laranja e um risoto de camarão, e para adoçar a sua vida, uma generosa fatia de torta de avelã com chocolate. Puxo a respiração quando paro em frente a um prédio muito… muito alto, com duas enormes letras negras e lustrosas no topo do edifício espelhado M. F. Não me perguntem o significado, porque eu não sei. Saio do carro e pego a bolsa no porta-malas e uma maleta com alguns acessórios que precisarei e sigo para dentro do prédio imponente e elegante. O hall não é tão diferente da fachada; tem um ar de poder, de delicadeza e do feminismo ao mesmo tempo. Atrás do balcão tem duas palavras cheias e prateadas, em um fundo totalmente escuro: Model Fashion. Ok, agora sei o significado das siglas. — Bom dia, eu sou… — Adonis Kappas, eu sei, pode ir. Último an
Agnes Ferraço Horas antes do almoço… — Tô só notificando. — Ela diz insistindo no assunto. — Flávia, isso não tem lógica. Um chef especialmente para fazer as minhas refeições, pirou? — Pirei, pirei todinha. Pirei quando vi você caída no chão no meio de um evento. Vivo te dizendo, Agnes pausa. Para um pouco...— Bufo de modo audível. Lá vem ela com aquela ladainha. Sério, escuto isso diariamente, às vezes dá vontade ignorar ela assim, tampando os ouvidos e cantarolando qualquer coisa, só para não a ouvir reclamar. — E você ouviu o médico? — Ok, acabou? — Acabei. — Que bom, ótimo! Quer contratar um chef? Contrata um chef. Fazer o quê? Você é impossível mesmo — resmungo e ela abre um sorriso vitorioso. Saco! — Quando ele começa? — pergunto vencida. — Seria hoje à noite, se você não tivesse essa festinha com o Hernandes. — Pisca um olho e morde levemente a pontinha da língua. Às vezes penso que a Flávia tem algum distúrbio sexual. Sério mesmo, tudo para ela gira em torno disso.
Agnes — Não, você não precisa! — digo, e o medo faz com que a minha voz fria como uma pedra de gelo estremeça um pouco. Adam suspira alto e faz silêncio em seguida. — Tudo bem, se é assim que você quer. Preciso avaliar alguns bens. Você sabe, tudo o que compramos juntos… — Procure um dos meus advogados, e não venha aqui! — falo com irritação e desligo sem esperar a sua resposta. Se arrependeu? Desgraçado! Após longos três anos e agora ele está arrependido? Antes sentia pena de mim mesma, perdi noites e noites de sono, chorei por noites a fio, demorei para me levantar do chão e agora esse imbecil me diz que se arrependeu? Sento na cama e me ponho a chorar. Não sei se de raiva ou se de desespero. Adam não pode vir aqui, ele não pode saber. Com uma respiração profunda, eu me habilito a secar as minhas lágrimas e vou para o banheiro tomar um banho longo e demorado. Depois dessa eu preciso. *** Às cinco da manhã já estou de pé e resolvo sair para uma corrida matinal. O som de Rockabye
Adonis Kappas Uma semana depois… Fazer serviço de carpinteiro não é uma coisa que eu quero para mim, mas nesse momento é necessário. Com a ajuda do Oliver, tiramos praticamente toda a poeira e o lixo que havia se acumulado no prédio. Agora estamos consertando o telhado. Aqui do alto a vista me anima. O prédio antigo fica em uma parte linda da cidade, além de ser bem situado também. Logo mais à frente há um parque florestal, muito visitado. Do lado direito, do outro lado da rua, tem um cinema ao ar livre, daqueles que as pessoas assistem de dentro dos seus carros e um pouco mais a frente, do lado esquerdo do bistrô, há um teatro e uma praça, que além de bela, tem um cloreto de vitral. Sou desperto pelo som do martelo na madeira nova que o Oliver está trocando no teto e volto ao meu trabalho. Quase três horas depois, estamos no prédio e admirando o nosso trabalho.— O teto ficou perfeito! — Oliver diz soltando um suspiro apreciativo.— Perfeito! — repito a palavra.— O que tem para f