8

Flávia

Os sons dos pássaros, o vento uivante, o som do mar batendo nas pedras. Abro os olhos! O som do mar batendo nas pedras? Meu coração começa a palpitar. Viro-me lentamente, o mais lento e quieto possível, para me deparar com um Oliver adormecido ao meu lado.  Não foi um sonho. Constato. O ar me falta, por quê? Santo Deus, desenharei para vocês, tenho certeza de que o ar vai faltar aí também.

Tema do desenho: “Oliver pós coito adormecido.” Os cabelos estão uma bagunça castanha, ridiculamente sexy. A boca carnuda e avermelhada está entreaberta, mostrando parcialmente alguns dentes perfeitos, e enquanto a delícia ressona ao meu lado, seu peitoral forte e firme sobe e desce lentamente, como em um balé, lento e clássico. O cara é moreno e robusto, despenteado e ressonando? Caralho! Meus olhos atrevidos ousaram descer mais um pouco. Ai, ai! Os gominhos do abdômen dele estão expostos e digo mais, há alguns poucos pelinhos, bem lisinhos e negros, que fazem trilhas singelas até o parquinho. E que parquinho! Deus do céu, é um parção, digo de passagem. Com uma diversão completa e garantida. Preciso ir. Penso, afastando os lençóis, devagarinho para não o acorda-lo e saio da cama devagarinho também. Concentro-me em juntar as peças de roupas que estão espalhadas pelo chão. Rio. Conseguimos fazer uma senhora bagunça aqui! Calcinha, calcinha, cadê você? Bora, bichinha, preciso de você. Não achei a calcinha. Onde ela pode estar? Não criou pernas, não é?

— Procurando isso aqui? — Uma voz grossa, imponente e rouca de sono soa pelo quarto e eu fecho os olhos, porque não acredito que ele me pegou no flagra. Pior ainda, não acredito que ele me pegou nessa posição! Nua, completamente nua e de bunda para cima, procurando a porra da calcinha. Que vergonha, meu Deus! Abro os olhos e ergo a cabeça só um pouquinho e lentamente. Meus olhos encontram os olhos negros divertidos, e os dedos polegar e o indicador segurando a m*****a calcinha, a balançando de um lado para o outro. Não tenho coragem de erguer minha cabeça mais do que isso. Ele verá as minhas bochechas vermelhas. Puta que pariu! O homem conseguiu me deixar com vergonha!

— Pode, por favor me devolver minha calcinha? — peço quase sem voz.

— Por que não vem aqui buscá-la? — Oi?! Não! Ele não está… Sim, ele está! Uma rodada? Não, não posso! Só uma rodadinha de nada? Não, não posso! Aí que droga, tenho que ir trabalhar!

— Só… me passa a calcinha, eu realmente preciso. — Ele suspira e quando faz isso, os meus olhos correm para o seu peitoral. Ele sobe e desce, sobe e desce. Que delícia! Oliver me entrega a calcinha e se deixa cair no colchão, o corpo grande e másculo quica levemente. Ai meu Deus! Corro para o banheiro. Sim, eu sei onde fica o banheiro. Não devia mencionar, mas uma das transas rolou bem aqui no banheiro. Minutos depois, saio poderosa de dentro de cômodo. Com os cabelos presos em um coque, os óculos escuros que estavam em minha bolsa, tá? Não me contestem. O jeans agora amarrotado e a blusa mais amarrotada ainda, mas os saltos altos deixam tudo isso para trás. Abro a porta e estou de volta ao quarto, mas o Oliver não está mais lá. Chegamos aqui praticamente arrancando as roupas um do outro. Havia urgência naquilo, então não tive tempo de ver onde estávamos. Principalmente onde tudo rolou. O quarto tem uma ornamentação totalmente masculina, a cama é grande, não, grande não, ela é enorme e ocupa boa parte do centro do quarto. As cores cinza chumbo e branco são predominantes aqui. Está meio escuro, porque as cortinas blecaute estão semifechadas, cobrindo boa parte das janelas.

***

 — Espero que goste de ovos com bacon, eu faço os melhores! — A voz grossa do Deus-grego soa assim que desço o último degrau da casa. Casa, não acredito que ele me trouxe para sua casa, logo na primeira vez. Será que faz isso com todas? Gente, casa é um lugar sagrado!

— Adoro, mas, eu preciso…

— Ah! Qual é, Flávia? Tivemos uma noite maravilhosa e eu sei que suguei todas as suas energias — diz presunçoso. — Então vem comer algo, eu te levo — comenta assim, com a cara mais deslavada do mundo. Bochechas queimando, queimando muito. Segunda vez que me faz sentir vergonha. O que Flávia, vai deixar por isso? Não, não vou! Caminho para dentro da cozinha e me sento em um banco alto, perto do balcão, pego uma maçã na fruteira e dou uma mordida daquela bem sensual, com meus olhos nos olhos escuros e especulativos, que estão acompanhando os meus movimentos minuciosamente.

  — Suponho que quem foi sugado aqui foi você — falo, me referindo ao movimento de pompoarismo, que o puxou para dentro de mim e que o fez gemer literalmente alto no quarto. Oliver cora violentamente, mas abre um sorriso malicioso em seguida.

— Aquilo foi uma perdição, eu gostei… muito! — diz de uma forma devassa. Corei. Porra, eu corei de novo!  — No que você trabalha, Flávia? — Oba! Mudança de assunto, essa eu tiro de letra!

— Sou assessora de uma produtora de modas.

— Hum, interessante! E o que uma assessora faz? — inquire, parece interessado no assunto. Puxo a respiração, essa é fácil.

— Cuido da vida pessoal dela. Agendas sociais, sua imagem, essas coisas, e você? — Ele dá de ombros.

— Sou jogador de basquete e empresário nas horas vagas. — Oliver solta um suspiro audível e parece desanimado de repente.

— Tudo bem aí?

— Sou um péssimo amigo! — diz com pesar.

— O quê, por quê?

— Eu e os caras saímos ontem para animar o Adonis. O homem está meio para baixo — lamenta, eu me ajeito no banco e o olho especulativa.

— O que aconteceu com Adonis? — Oliver respira fundo e se vira de frente para mim.

— Ele tem um sonho.

— É, eu sei esse lance do sonho.

— Pois é, acontece que houve um roubo e agora…

— Um roubo, soube disso também. Ainda não resolveram o caso do roubo?

— Não sei dizer o que aconteceu de verdade, mas entendi que roubaram tudo da conta dele. As economias de cinco anos, e até agora não sabem dizer nada do dinheiro.

— Puxa, que saco! Como isso pode ter acontecido? Pensei que o banco era o único lugar seguro para guardar os nossos bens.

— Deixarei você em sua casa e depois… — Ele para de falar, quando escuta uma sucessão de tosses exasperadas. Pois é, eu me engasguei. Como ele me diz isso assim? Como assim me deixar em casa? Minha casa?!

— É, não precisa me deixar em casa. Você pode pedir um táxi para mim? — peço, encarando os olhos indecifráveis por alguns segundos, que mais parecem uma eternidade e em seguida ele assente e sai da cozinha. Eu disse algo errado? Pergunto-me imediatamente.

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