Flávia
Os sons dos pássaros, o vento uivante, o som do mar batendo nas pedras. Abro os olhos! O som do mar batendo nas pedras? Meu coração começa a palpitar. Viro-me lentamente, o mais lento e quieto possível, para me deparar com um Oliver adormecido ao meu lado. Não foi um sonho. Constato. O ar me falta, por quê? Santo Deus, desenharei para vocês, tenho certeza de que o ar vai faltar aí também.
Tema do desenho: “Oliver pós coito adormecido.” Os cabelos estão uma bagunça castanha, ridiculamente sexy. A boca carnuda e avermelhada está entreaberta, mostrando parcialmente alguns dentes perfeitos, e enquanto a delícia ressona ao meu lado, seu peitoral forte e firme sobe e desce lentamente, como em um balé, lento e clássico. O cara é moreno e robusto, despenteado e ressonando? Caralho! Meus olhos atrevidos ousaram descer mais um pouco. Ai, ai! Os gominhos do abdômen dele estão expostos e digo mais, há alguns poucos pelinhos, bem lisinhos e negros, que fazem trilhas singelas até o parquinho. E que parquinho! Deus do céu, é um parção, digo de passagem. Com uma diversão completa e garantida. Preciso ir. Penso, afastando os lençóis, devagarinho para não o acorda-lo e saio da cama devagarinho também. Concentro-me em juntar as peças de roupas que estão espalhadas pelo chão. Rio. Conseguimos fazer uma senhora bagunça aqui! Calcinha, calcinha, cadê você? Bora, bichinha, preciso de você. Não achei a calcinha. Onde ela pode estar? Não criou pernas, não é?
— Procurando isso aqui? — Uma voz grossa, imponente e rouca de sono soa pelo quarto e eu fecho os olhos, porque não acredito que ele me pegou no flagra. Pior ainda, não acredito que ele me pegou nessa posição! Nua, completamente nua e de bunda para cima, procurando a porra da calcinha. Que vergonha, meu Deus! Abro os olhos e ergo a cabeça só um pouquinho e lentamente. Meus olhos encontram os olhos negros divertidos, e os dedos polegar e o indicador segurando a m*****a calcinha, a balançando de um lado para o outro. Não tenho coragem de erguer minha cabeça mais do que isso. Ele verá as minhas bochechas vermelhas. Puta que pariu! O homem conseguiu me deixar com vergonha!
— Pode, por favor me devolver minha calcinha? — peço quase sem voz.
— Por que não vem aqui buscá-la? — Oi?! Não! Ele não está… Sim, ele está! Uma rodada? Não, não posso! Só uma rodadinha de nada? Não, não posso! Aí que droga, tenho que ir trabalhar!
— Só… me passa a calcinha, eu realmente preciso. — Ele suspira e quando faz isso, os meus olhos correm para o seu peitoral. Ele sobe e desce, sobe e desce. Que delícia! Oliver me entrega a calcinha e se deixa cair no colchão, o corpo grande e másculo quica levemente. Ai meu Deus! Corro para o banheiro. Sim, eu sei onde fica o banheiro. Não devia mencionar, mas uma das transas rolou bem aqui no banheiro. Minutos depois, saio poderosa de dentro de cômodo. Com os cabelos presos em um coque, os óculos escuros que estavam em minha bolsa, tá? Não me contestem. O jeans agora amarrotado e a blusa mais amarrotada ainda, mas os saltos altos deixam tudo isso para trás. Abro a porta e estou de volta ao quarto, mas o Oliver não está mais lá. Chegamos aqui praticamente arrancando as roupas um do outro. Havia urgência naquilo, então não tive tempo de ver onde estávamos. Principalmente onde tudo rolou. O quarto tem uma ornamentação totalmente masculina, a cama é grande, não, grande não, ela é enorme e ocupa boa parte do centro do quarto. As cores cinza chumbo e branco são predominantes aqui. Está meio escuro, porque as cortinas blecaute estão semifechadas, cobrindo boa parte das janelas.
***
— Espero que goste de ovos com bacon, eu faço os melhores! — A voz grossa do Deus-grego soa assim que desço o último degrau da casa. Casa, não acredito que ele me trouxe para sua casa, logo na primeira vez. Será que faz isso com todas? Gente, casa é um lugar sagrado!
— Adoro, mas, eu preciso…
— Ah! Qual é, Flávia? Tivemos uma noite maravilhosa e eu sei que suguei todas as suas energias — diz presunçoso. — Então vem comer algo, eu te levo — comenta assim, com a cara mais deslavada do mundo. Bochechas queimando, queimando muito. Segunda vez que me faz sentir vergonha. O que Flávia, vai deixar por isso? Não, não vou! Caminho para dentro da cozinha e me sento em um banco alto, perto do balcão, pego uma maçã na fruteira e dou uma mordida daquela bem sensual, com meus olhos nos olhos escuros e especulativos, que estão acompanhando os meus movimentos minuciosamente.
— Suponho que quem foi sugado aqui foi você — falo, me referindo ao movimento de pompoarismo, que o puxou para dentro de mim e que o fez gemer literalmente alto no quarto. Oliver cora violentamente, mas abre um sorriso malicioso em seguida.
— Aquilo foi uma perdição, eu gostei… muito! — diz de uma forma devassa. Corei. Porra, eu corei de novo! — No que você trabalha, Flávia? — Oba! Mudança de assunto, essa eu tiro de letra!
— Sou assessora de uma produtora de modas.
— Hum, interessante! E o que uma assessora faz? — inquire, parece interessado no assunto. Puxo a respiração, essa é fácil.
— Cuido da vida pessoal dela. Agendas sociais, sua imagem, essas coisas, e você? — Ele dá de ombros.
— Sou jogador de basquete e empresário nas horas vagas. — Oliver solta um suspiro audível e parece desanimado de repente.
— Tudo bem aí?
— Sou um péssimo amigo! — diz com pesar.
— O quê, por quê?
— Eu e os caras saímos ontem para animar o Adonis. O homem está meio para baixo — lamenta, eu me ajeito no banco e o olho especulativa.
— O que aconteceu com Adonis? — Oliver respira fundo e se vira de frente para mim.
— Ele tem um sonho.
— É, eu sei esse lance do sonho.
— Pois é, acontece que houve um roubo e agora…
— Um roubo, soube disso também. Ainda não resolveram o caso do roubo?
— Não sei dizer o que aconteceu de verdade, mas entendi que roubaram tudo da conta dele. As economias de cinco anos, e até agora não sabem dizer nada do dinheiro.
— Puxa, que saco! Como isso pode ter acontecido? Pensei que o banco era o único lugar seguro para guardar os nossos bens.
— Deixarei você em sua casa e depois… — Ele para de falar, quando escuta uma sucessão de tosses exasperadas. Pois é, eu me engasguei. Como ele me diz isso assim? Como assim me deixar em casa? Minha casa?!
— É, não precisa me deixar em casa. Você pode pedir um táxi para mim? — peço, encarando os olhos indecifráveis por alguns segundos, que mais parecem uma eternidade e em seguida ele assente e sai da cozinha. Eu disse algo errado? Pergunto-me imediatamente.
Adonis Kappas — Quando disse que precisava falar comigo com urgência, achei realmente que estava morrendo — digo, fazendo graça para uma Flávia que me olha embasbacada. — Quando eu estiver morrendo de verdade, não chamarei você. — Arqueio as sobrancelhas, segurando o riso. — Por que não? — Porque quando eu for morrer, é porque já chegou a minha hora e você só iria atrapalhar. — Agora eu me confundi todo. Eu simplesmente junto as sobrancelhas, demostrando toda a minha confusão. — Como? — Adonis, por favor, não seja inocente — diz irritada. — Homem gostoso e inocente é o fim! — rosna com irritação, eu explodo em uma gargalhada. A Flávia é realmente hilária. Quando saí de casa totalmente desanimado essa manhã, não imaginei que daria boas gargalhadas. Agora estou aqui, almoçando com minha amiga do tempo de colégio, que não tem filtro. — Que bom que faço algumas pessoas rirem — resmunga com um tom irônico. — Sim, você faz. — Ela respira fundo. — Eu soube do roubo. — Flávia diz, ago
Adonis Ponho a mochila nas costas e a maleta de acessórios de culinária apoiada em meu braço e subo na moto. Está na hora de conhecer o meu novo espaço de trabalho. Não demora muito e eu estaciono a moto em frente a um prédio luxuoso. Ok, já estive em muitos prédios de luxo, mas esse aqui é… uau! Chego a sentir receio de entrar no edifício e ser barrado só por conta da minha roupa. Definitivamente um jeans rasgado e desbotado, uma camiseta branca e uma jaqueta de couro cor de caramelo, não é roupa para tal ambiente. Suspiro e sigo, observando as pessoas me olhar torto. Que se danem, roupa não é rótulo, meu bem! Ando em direção da recepção sofisticada e uma moça alta e magra, de cabelos negros e lisos me lança um sorriso profissional. — Boa tarde, eu me chamo Adonis Kappas — Começo a falar, mas sou interrompido. — Hum! o chef. — Ela diz, me olhando de cima a baixo e abre um sorriso satisfeito. — Isso, o chef — confirmo e o seu sorriso se amplia. — Último andar, senhor Kappas. É o
Adonis Kappas O lugar é bem tranquilo e parece que sou a única pessoa nesse imenso castelo de vidro. Daqui do meu quarto é possível ver toda a cidade em vida; o movimento do trânsito, das pessoas, as lojas abertas. Linda e deslumbrante, com todas as suas luzes acesas. Já passam das oito da noite e ainda não há nenhum movimento sequer na casa. Decido preparar algo para comer. Flávia disse que a tal Agnes chegaria bem tarde, por conta de um evento social. Pego meu celular e escolho uma playlist. Rooms, começa a tocar suavemente em meus ouvidos, mas com um ritmo levemente dançante. Ponho um avental branco e começo a distribuir a farinha pelo mármore limpo, quebro alguns ovos e ponho as mãos à obra. Um bom chef faz a sua própria massa e cria os seus próprios molhos. Nada de enlatados e de massas, que ficam nas prateleiras dos supermercados por meses a fio. Uma boa massa, tem que ser fresca e um bom molho, não tem conservantes. Meia hora depois, deixo a massa descansar em um tipo de varal
Adonis Dirijo com cuidado o carro designado para o meu trabalho. No porta-malas há uma bolsa térmica com o almoço da minha chefe. Uma deliciosa salada burguesa, com uma mistura de cores e um sabor agridoce, salmão defumado ao molho de laranja e um risoto de camarão, e para adoçar a sua vida, uma generosa fatia de torta de avelã com chocolate. Puxo a respiração quando paro em frente a um prédio muito… muito alto, com duas enormes letras negras e lustrosas no topo do edifício espelhado M. F. Não me perguntem o significado, porque eu não sei. Saio do carro e pego a bolsa no porta-malas e uma maleta com alguns acessórios que precisarei e sigo para dentro do prédio imponente e elegante. O hall não é tão diferente da fachada; tem um ar de poder, de delicadeza e do feminismo ao mesmo tempo. Atrás do balcão tem duas palavras cheias e prateadas, em um fundo totalmente escuro: Model Fashion. Ok, agora sei o significado das siglas. — Bom dia, eu sou… — Adonis Kappas, eu sei, pode ir. Último an
Agnes Ferraço Horas antes do almoço… — Tô só notificando. — Ela diz insistindo no assunto. — Flávia, isso não tem lógica. Um chef especialmente para fazer as minhas refeições, pirou? — Pirei, pirei todinha. Pirei quando vi você caída no chão no meio de um evento. Vivo te dizendo, Agnes pausa. Para um pouco...— Bufo de modo audível. Lá vem ela com aquela ladainha. Sério, escuto isso diariamente, às vezes dá vontade ignorar ela assim, tampando os ouvidos e cantarolando qualquer coisa, só para não a ouvir reclamar. — E você ouviu o médico? — Ok, acabou? — Acabei. — Que bom, ótimo! Quer contratar um chef? Contrata um chef. Fazer o quê? Você é impossível mesmo — resmungo e ela abre um sorriso vitorioso. Saco! — Quando ele começa? — pergunto vencida. — Seria hoje à noite, se você não tivesse essa festinha com o Hernandes. — Pisca um olho e morde levemente a pontinha da língua. Às vezes penso que a Flávia tem algum distúrbio sexual. Sério mesmo, tudo para ela gira em torno disso.
Agnes — Não, você não precisa! — digo, e o medo faz com que a minha voz fria como uma pedra de gelo estremeça um pouco. Adam suspira alto e faz silêncio em seguida. — Tudo bem, se é assim que você quer. Preciso avaliar alguns bens. Você sabe, tudo o que compramos juntos… — Procure um dos meus advogados, e não venha aqui! — falo com irritação e desligo sem esperar a sua resposta. Se arrependeu? Desgraçado! Após longos três anos e agora ele está arrependido? Antes sentia pena de mim mesma, perdi noites e noites de sono, chorei por noites a fio, demorei para me levantar do chão e agora esse imbecil me diz que se arrependeu? Sento na cama e me ponho a chorar. Não sei se de raiva ou se de desespero. Adam não pode vir aqui, ele não pode saber. Com uma respiração profunda, eu me habilito a secar as minhas lágrimas e vou para o banheiro tomar um banho longo e demorado. Depois dessa eu preciso. *** Às cinco da manhã já estou de pé e resolvo sair para uma corrida matinal. O som de Rockabye
Adonis Kappas Uma semana depois… Fazer serviço de carpinteiro não é uma coisa que eu quero para mim, mas nesse momento é necessário. Com a ajuda do Oliver, tiramos praticamente toda a poeira e o lixo que havia se acumulado no prédio. Agora estamos consertando o telhado. Aqui do alto a vista me anima. O prédio antigo fica em uma parte linda da cidade, além de ser bem situado também. Logo mais à frente há um parque florestal, muito visitado. Do lado direito, do outro lado da rua, tem um cinema ao ar livre, daqueles que as pessoas assistem de dentro dos seus carros e um pouco mais a frente, do lado esquerdo do bistrô, há um teatro e uma praça, que além de bela, tem um cloreto de vitral. Sou desperto pelo som do martelo na madeira nova que o Oliver está trocando no teto e volto ao meu trabalho. Quase três horas depois, estamos no prédio e admirando o nosso trabalho.— O teto ficou perfeito! — Oliver diz soltando um suspiro apreciativo.— Perfeito! — repito a palavra.— O que tem para f
Adonis Segunda à noite… Durante o dia não tive muito o que fazer na torre de vidro. A patroa viajou bem cedo, então eu não tinha que cozinhar para ninguém. Como eu disse, dinheiro fácil. Tenho algo comigo em relação a isso. Não gosto de dinheiro fácil, porque eles se vão fácil assim como vieram. Gosto de lutar pelas minhas conquistas e isso está me incomodando muito. O forno faz um sutil sinal sonoro avisando que a lasanha já está pronta. Eu pego as luvas acolchoadas em cima do balcão e após vesti-las, tiro a travessa do forno a levando para o balcão no centro da cozinha. Tiro as luvas e pego um vinho branco na adega. Um par perfeito, para um jantar perfeito. Vinho branco e massa italiana. De repente um cheiro diferente se mistura ao perfume da massa e eu me viro na direção da porta da cozinha e a vejo. A minha chefe, vestida em um elegante conjunto de terninho bege, com singelos detalhes cor de rosa. Ela tem os braços cruzados, rente ao peito, um ombro escorado na soleira da por