Adonis
— Se divertindo muito? — pergunto com um tom ríspido. A garota tenta conter o riso, mas me olha com olhos divertidos e gargalha mais uma vez. Rolo os olhos impacientes. — Posso saber qual é a graça?! — rebato irado.
— Você. — Ela diz e volta a rir.
— Maluca! — resmungo.
— Nossa, que mau-humor! Posso? — pede, apontando o banco vazio ao meu lado. Dou de ombros.
— Se prometer não me dá um banho de uísque! — resmungo carrancudo e lhe dou as costas.
— Grossoooo! — cantarola, se acomodando ao meu lado. Tento levar a noite na boa, mas parece que a garota irritante resolveu me chatear ainda mais. Ela pede uma bebida colorida e o tempo todo olha para o meu rosto. Encabulado, finjo que não vejo, mas sério, estou me perguntando o que tanto ela olha para mim?
— Kappas, mas é claro! Você é o Adonis Kappas, não é? — diz, e pronto, ela já tem a minha atenção.
— Sim, te conheço? — Ela abre um sorriso largo e espontâneo.
— Claro que me conhece! Sou a Flávia, Flávia Simões. Estudamos juntos no fundamental. Colégio Marista, lembra? — Definitivamente forço a minha memória e não me lembro da tal Flávia. Isso faz o quê, cinco, seis anos?
— Ah! Qual é, Tigrão? — Ela rir alto. — Lembra do apelido? — Ôh, se lembro! Abro um sorriso, o primeiro em dias.
— Não acredito, você é a…
— Maluquinha, mas ninguém me chama assim há muito tempo. — Levanto-me do banco, de braços abertos, e ela vem para os meus braços. Um abraço forte e cheio de saudades. Definitivamente, Flávia era a maluquinha da turma. A mulher tagarelava e armava para todo mundo. Todo mundo mesmo, nem mesmo o diretor carrancudo e careca do colégio fugia as suas armações. A última que aprontou para o Tigrão aqui, foi inesquecível.
— E a pomba-lesa? — inquire, assim do nada. Não seguro uma boa gargalhada.
— Porra, Flávia! Com tanta coisa para perguntar, você cai de boca nessa? — pergunto baixinho e ela dá de ombros.
— Ué, claro que sim! Você entrou naquele beco escuro com a menina e desde então não te vimos mais. Ela fez? — pergunta. O meu rosto queima na mesma hora.
— Podemos mudar de assunto? Isso não tem graça. — Seus olhos se estreitam para mim, depois uma única sobrancelha se ergue e não, ela não desistirá. Maluquinha do caralho!
— Tá com vergonha de dizer que recebeu um boquete de uma garota? — Puta que pariu! — Adonis você não muda!
— Digo o mesmo de você, maluquinha. — Seu sorriso se amplia.
— E, aí?
— O quê?
— Ela fez ou não fez? — Porra!
— Ok, ela fez? — Flávia faz um “O” com a boca, bebe a sua bebida em um canudo e me sorri em expectativa. — O quê? — ralho, já sabendo o que quer.
— Desembucha Kappas, eu sempre quis saber os detalhes sórdidos daquela brincadeira. Foi uma pura putaria o que fez conosco.
— Olha a boca suja, maluquinha! — A repreendo. Suas sobrancelhas se erguem, me dizendo claramente você-não-vai-me-enrolar-essa-noite. Bufo audivelmente e esvazio o meu copo, fazendo sinal para o barman trazer outra bebida.
— Você não desistirá, não é?
— Não. — Ela responde e eu assinto.
— Ok, foi um dos melhores que já recebi na vida. A garota parecia bobinha, mas de boba, não tinha nada.
— Detalhes Adonis.
— Ah! Vai se foder, maluquinha! — digo. Seus olhos brilham e seu sorriso se alarga. A noite segue animada. Flávia realmente soube me animar com suas loucuras. Não tenho certeza, mas depois do meu quinto copo e do quarto copo dela, fomos dançar. Três músicas bem animadas, que me fizeram sacudir o corpo como a muito não fazia, e depois mais duas músicas lentas, onde pude pela primeira vez, sentir seu corpo delicioso. De brincadeira, deixei minha mão escorregar para sua bunda redonda, e ganhei dois t***s de advertência.
— Não ouse, Tigrão! — disse sem deixar seu sorriso divertido sumir e agora estamos aqui, do lado de fora do bar, sentados em um banco que concreto e apreciando a brisa fria da noite. São quase uma e meia da madrugada e nós só saímos, porque a Flávia disse que precisa trabalhar em poucas horas.
— O que tem feito da vida, Tigrão? — Sorrio.
— Faz tempo que não me chamam assim — comento, e a olho rapidamente. — Me formei em gastronomia fora do Brasil, quando voltei a algumas semanas, comprei um prédio que em breve será o meu bistrô.
— Bistrô, hein? — Assinto sorrindo, mas solto um suspiro pesado.
— O quê, o que foi? — A olho por um tempo e o meu sorriso se desfaz.
— Era o meu sonho, maluquinha — falo com pesar e pela primeira vez nessa noite, Flávia também perde o seu sorriso.
— Era? — confirmo com a cabeça.
— Cheguei a sonhar tão alto, que não percebi que a queda seria bem maior — informo.
— Como assim, Adonis? — questiona. Sorrio sem vontade.
— Juntei uma grana boa nesses anos. Eu tinha um propósito, mas, perdi tudo.
— Como assim, perdeu tudo? — indaga. Ajeito-me no banco que concreto e encaro o céu escuro e sem estrelas. Até isso me negaram… As estrelas.
— O dinheiro sumiu.
— Não entendi. Dinheiro não some, não sozinho. O que aconteceu?
— Aí é que está, eu não sei! Ele só… sumiu — explico.
— Fez alguma denúncia?
— O banco está cuidando disso — comunico. Eu gostaria de conversar mais, de desabafar, e de verdade Flávia está sendo uma ótima companhia. Mas o seu carro acaba de chegar, então nos despedimos com beijos audaciosos no canto da boca e um abraço demorado e apertado.
— Se precisar de mim, me liga — pede, me oferecendo um cartão. Eu o pego e o olho rapidamente.
“Flávia Simões, assessora particular. Quer mudar sua vida, apagar suas cenas negativas? Ligue para mim.”
Sorrio para a mensagem do cartão de visitas.
— Boa noite, Flávia!
— Boa noite, Tigrão! — diz e entra no táxi. A olho ir embora, para depois ir para o meu carro. Deito minha cabeça no volante por um tempo e penso para aonde ir? Droga!
Chego em meu apartamento pouco mais das três horas da manhã. O céu já começa a receber alguns tímidos raios de sol. Desfaço-me das minhas roupas e sigo para um banho quente e demorado. No chuveiro não consigo evitar pensar nessa noite. A Flávia me salvou e ela nem sabe disso. O seu jeito divertido e descontraído, as conversas, a dança, uma companhia para beber e desabafar, nem que seja um pouquinho. Tudo isso me ajudou a pensar que tenho que tentar. Quando termino o banho, saio do banheiro enrolado em uma toalha pequena e o meu corpo começa a reclamar, pedindo cama. Encaro a janela de vidro transparente e noto que a claridade logo, logo estará aqui dentro. Fecho as cortinas blecaute e me jogo na cama, apagando literalmente em seguida.
Flávia Simões — Ana, onde está a proposta de Roma? — Agnes pergunta para sua secretária, perdida em pilhas de papéis. Ela bufa irritada, quando não encontra o que procura. A secretária abre a porta, adentrando a sala e se põe a procurar a tal proposta. Eu apenas assisto as duas malucas remexendo a papelada, quase que perdendo o juízo. Olho para mesinha de centro e pego o único documento esquecido no tampo de vidro temperado, e me levando do sofá macio, indo de encontro das duas. Paro de frente para Agnes e lhe estendo o papel. A mulher para o que está fazendo e olha o papel e depois para mim. Ela sorri. — Eu já disse que te amo hoje? Deus, achei haver perdido a m*****a proposta! Agnes se j**a, sentando-se na cadeira e respira aliviada. — Pode ir, Ana. — Ela dispensa a secretária, e mete a cara nos papéis. — Hoje é sexta — digo, me sentando de frente para ela. — E? — pergunta, sem tirar os olhos do papel. — Pensei em sair essa noite, você vem? — Ah! Não dá amiga! Tenho que acordar
Flávia Meia hora de evento… A música eletrônica dita os passos firmes e, simultaneamente, graciosos das modelos, que exibem os novos passos da moda. Há uma onda gigante de flashes, inundando a todos no evento e eu só consigo pensar que em algumas horas estarei dentro da Voguel, com um belo par de olhos azuis anis e nem sei se tiro uma lasquinha dele, ou se ele tirará de mim… Ou se alguém fará isso por mim. Pai do céu, e se eu não gostar da troca? Sou desperta por um burburinho agitado no meio da multidão e olho imediatamente para o alto do palco. Agnes… Entro em pânico quando a vejo caída ao chão de madeira branca, lustrosa e imediatamente passo um rádio para os seguranças, seguindo apressada para o palco. — Ponham ela aqui — peço, apontando para o sofá que fica por trás das cortinas. — Wall, continue com o evento, eu cuido da Agnes — peço para a assistente de palco. Ela me mataria se soubesse que não levaram o evento adiante. — Ok. *** — Senhorita Agnes Ferraço — O médico diz, e
Flávia Simões — Então, lembra do Petrus? — Adonis diz, assim que nos aproximamos da mesa. Olho para o homem dos pés à cabeça. Olhos escuros, petulantes e altivos me encaram, com um conhecido sorriso sacana. Um corpo marrento, sendo oprimido por uma camisa branca, extremamente apertada. O jeans surrado, faz o mesmo com as coxas grossas e com o documento protuberante no meio de suas pernas. Claro que eu me lembro dele! — Esse é o carinha metido a besta, que andava ao seu lado no colégio? — Solto essa. Ele gargalha alto, mostrando os dentes perfeitos e o pomo de Adão, que dança em sua garganta, em um sobe e desce, enquanto rir do meu comentário. — E você deve ser a maluquinha da turma — fala com deboche. Rolo os olhos. — Sabia que iam gostar de se ver! — Adonis diz, achando graça. — Bom, esse não era da turma. Oliver Borbolini, esta é Flávia Simões, uma amiga do colegial. — Ele finalmente nos apresenta. Sorrio lindamente para o par de olhos negros, que me encaram com um brilho que não
Flávia Os sons dos pássaros, o vento uivante, o som do mar batendo nas pedras. Abro os olhos! O som do mar batendo nas pedras? Meu coração começa a palpitar. Viro-me lentamente, o mais lento e quieto possível, para me deparar com um Oliver adormecido ao meu lado. Não foi um sonho. Constato. O ar me falta, por quê? Santo Deus, desenharei para vocês, tenho certeza de que o ar vai faltar aí também. Tema do desenho: “Oliver pós coito adormecido.” Os cabelos estão uma bagunça castanha, ridiculamente sexy. A boca carnuda e avermelhada está entreaberta, mostrando parcialmente alguns dentes perfeitos, e enquanto a delícia ressona ao meu lado, seu peitoral forte e firme sobe e desce lentamente, como em um balé, lento e clássico. O cara é moreno e robusto, despenteado e ressonando? Caralho! Meus olhos atrevidos ousaram descer mais um pouco. Ai, ai! Os gominhos do abdômen dele estão expostos e digo mais, há alguns poucos pelinhos, bem lisinhos e negros, que fazem trilhas singelas até o parquin
Adonis Kappas — Quando disse que precisava falar comigo com urgência, achei realmente que estava morrendo — digo, fazendo graça para uma Flávia que me olha embasbacada. — Quando eu estiver morrendo de verdade, não chamarei você. — Arqueio as sobrancelhas, segurando o riso. — Por que não? — Porque quando eu for morrer, é porque já chegou a minha hora e você só iria atrapalhar. — Agora eu me confundi todo. Eu simplesmente junto as sobrancelhas, demostrando toda a minha confusão. — Como? — Adonis, por favor, não seja inocente — diz irritada. — Homem gostoso e inocente é o fim! — rosna com irritação, eu explodo em uma gargalhada. A Flávia é realmente hilária. Quando saí de casa totalmente desanimado essa manhã, não imaginei que daria boas gargalhadas. Agora estou aqui, almoçando com minha amiga do tempo de colégio, que não tem filtro. — Que bom que faço algumas pessoas rirem — resmunga com um tom irônico. — Sim, você faz. — Ela respira fundo. — Eu soube do roubo. — Flávia diz, ago
Adonis Ponho a mochila nas costas e a maleta de acessórios de culinária apoiada em meu braço e subo na moto. Está na hora de conhecer o meu novo espaço de trabalho. Não demora muito e eu estaciono a moto em frente a um prédio luxuoso. Ok, já estive em muitos prédios de luxo, mas esse aqui é… uau! Chego a sentir receio de entrar no edifício e ser barrado só por conta da minha roupa. Definitivamente um jeans rasgado e desbotado, uma camiseta branca e uma jaqueta de couro cor de caramelo, não é roupa para tal ambiente. Suspiro e sigo, observando as pessoas me olhar torto. Que se danem, roupa não é rótulo, meu bem! Ando em direção da recepção sofisticada e uma moça alta e magra, de cabelos negros e lisos me lança um sorriso profissional. — Boa tarde, eu me chamo Adonis Kappas — Começo a falar, mas sou interrompido. — Hum! o chef. — Ela diz, me olhando de cima a baixo e abre um sorriso satisfeito. — Isso, o chef — confirmo e o seu sorriso se amplia. — Último andar, senhor Kappas. É o
Adonis Kappas O lugar é bem tranquilo e parece que sou a única pessoa nesse imenso castelo de vidro. Daqui do meu quarto é possível ver toda a cidade em vida; o movimento do trânsito, das pessoas, as lojas abertas. Linda e deslumbrante, com todas as suas luzes acesas. Já passam das oito da noite e ainda não há nenhum movimento sequer na casa. Decido preparar algo para comer. Flávia disse que a tal Agnes chegaria bem tarde, por conta de um evento social. Pego meu celular e escolho uma playlist. Rooms, começa a tocar suavemente em meus ouvidos, mas com um ritmo levemente dançante. Ponho um avental branco e começo a distribuir a farinha pelo mármore limpo, quebro alguns ovos e ponho as mãos à obra. Um bom chef faz a sua própria massa e cria os seus próprios molhos. Nada de enlatados e de massas, que ficam nas prateleiras dos supermercados por meses a fio. Uma boa massa, tem que ser fresca e um bom molho, não tem conservantes. Meia hora depois, deixo a massa descansar em um tipo de varal
Adonis Dirijo com cuidado o carro designado para o meu trabalho. No porta-malas há uma bolsa térmica com o almoço da minha chefe. Uma deliciosa salada burguesa, com uma mistura de cores e um sabor agridoce, salmão defumado ao molho de laranja e um risoto de camarão, e para adoçar a sua vida, uma generosa fatia de torta de avelã com chocolate. Puxo a respiração quando paro em frente a um prédio muito… muito alto, com duas enormes letras negras e lustrosas no topo do edifício espelhado M. F. Não me perguntem o significado, porque eu não sei. Saio do carro e pego a bolsa no porta-malas e uma maleta com alguns acessórios que precisarei e sigo para dentro do prédio imponente e elegante. O hall não é tão diferente da fachada; tem um ar de poder, de delicadeza e do feminismo ao mesmo tempo. Atrás do balcão tem duas palavras cheias e prateadas, em um fundo totalmente escuro: Model Fashion. Ok, agora sei o significado das siglas. — Bom dia, eu sou… — Adonis Kappas, eu sei, pode ir. Último an