CAPÍTULO 04

No meu armário, sempre mantive uma troca de roupas para qualquer eventualidade, o que facilitou me livrar daquele cheiro horrível que impregnou minhas roupas. Ao sair do vestiário feminino, sabia que precisava encontrar uma maneira de voltar para casa.

A opção mais segura seria chamar um Uber, mas mesmo assim estava preocupada e assustada em ficar sozinha com o motorista. Peguei meu celular na bolsa, pensando em ligar para a Samantha e pedir que ela viesse me buscar na academia.

No entanto, assim que saí, para minha surpresa, o integrante que havia me defendido estava encostado na parede do vestiário feminino, aguardando aparentemente por mim. Ele já estava de banho tomado e segurava uma mochila.

Ao me ver, sua expressão se transformou em alívio, um leve sorriso brincou em seus lábios, e eu retribuí com um sorriso de gratidão. Foi nesse momento que percebi que ainda não havia agradecido por ele ter me defendido.

— Você está bem? Percebi que você ficou em choque com aquela situação, apesar de ter conseguido chegar até aqui. — O aluno perguntou.

— Estou sim. Nem mesmo eu sei como consegui chegar até aqui. E não tive a oportunidade de agradecer a você por me salvar. Se não fosse por vocês, não sei o que aconteceria comigo. — Ele estendeu a mão e, com um sorriso, se apresentou.

— Meu nome é Hugo Castro.

— Alice. E obrigada por tudo!

— Posso te oferecer uma carona? Saber que você chegou em casa em segurança, vai me trazer um pouco mais de tranquilidade, após o que presenciei. Aceitarei um não se isso lhe causar algum tipo de transtorno.

— Não quero te atrapalhar, mas ficarei muito grata se você puder fazer isso. Depois do que passei, não me sentiria confortável de entrar no carro de um completo estranho. — Disse, constrangida.

— Você não vai me atrapalhar em nada.

Caminhamos até o carro dele, e ele me passou o celular para que eu pudesse inserir meu endereço no GPS. Seguimos o caminho em silêncio, não era um silêncio constrangedor, mas reconfortante. Em alguns momentos, nossos olhares se encontravam, e um pequeno sorriso aparecia em nossos lábios. Eu estava muito grata por estar sendo acompanhada até em casa naquele momento.

— Você tem certeza de que não vou causar nenhum tipo de problema para você? Um namorado ou marido ciumento. — Ele perguntou.

Naquele momento, olhei para ele, analisando se ele queria obter alguma informação minha com aquela insinuação. Mas o que percebi em seu olhar foi apenas sinceridade, acredito que ele também estava temeroso de ter problemas com isso.

— Não se preocupe, as únicas pessoas que estão me esperando em casa são minha amiga e minha filha.

— Não imaginei que você pudesse ter uma filha. Talvez o pai dela possa não entender a situação.

— Não se preocupe, pois não sou comprometida com ninguém além de minha filha. Você está me fazendo um grande favor, levando-me até minha residência. Acredito que eu é que estou dando muito trabalho a você.

Ele me olhou, analisando-me, como se eu pudesse estar omitindo alguma verdade. Mas depois abriu um delicado sorriso. Após isso, me perdi em pensamentos. Quando senti uma mão em meu joelho, involuntariamente dei um pequeno sobressalto.

— Calma, Alice, sou eu, Hugo. Desculpe por te assustar. Chegamos ao seu endereço. Você está bem?

Olhei para ele com um olhar ainda perdido. Meus pensamentos haviam migrado para o que me aconteceu. O medo ainda permeava minha pele. Ainda não estava bem, mas sei que ficaria melhor quando entrasse em minha casa e abraçasse minha filha. Não permitiria que o medo me dominasse.

— Desculpe, Hugo. Mal percebi que já tínhamos chegado. Muito obrigada por ter me acompanhado até aqui e por ter me protegido daqueles caras. Acredito que nunca serei capaz de te agradecer o suficiente.

— Não se preocupe com isso. Apenas tente superar tudo o que passou.

E assim nos despedimos. Ele seguiu o seu caminho e eu entrei no conforto da minha casa. Nunca ansiei tanto por voltar ao meu humilde lar como naquele dia. Fiquei muito grata quando entrei na sala e ouvi a voz desafinada da minha amiga cantando uma música em inglês, mesmo sem saber falar o idioma, e depois, quando Melissa percebeu minha chegada, correndo para me abraçar. 

Foi somente ali que percebi o quanto estava tensa depois do que aconteceu, e não consegui conter as lágrimas. Samantha percebeu minha reação assim que me observou e correu para me confortar.

— O que houve, Alice? Você está me assustando.

— Eu quase fui violentada hoje, Samantha.

— Como assim? Aquele canalha voltou a aparecer na sua vida? Ele voltou a te importunar?

— Não foi ele, amiga. Mas o terror que vivi foi ainda pior do que naquele dia. O que o Lucca fez foi me humilhar, e eu temi pelo meu futuro, não pela minha vida. Hoje, Sammy, eu realmente temi pela minha vida. Minha sorte foi um grupo de alunos da academia que passou no momento e me livrou daqueles canalhas.

— Por que não me ligou? Eu ia te buscar.

— Até pensei nisso, mas lembrei que a Mel estava com você e pensei em todo o transtorno que você teria para chegar até lá.

Ela se aproximou de mim e me abraçou com Melissa ainda em meus braços, sorrindo. Minha filha não tinha nenhuma noção do perigo que eu havia passado.

— Como você conseguiu chegar até aqui? — Ela perguntou, preocupada.

— O Hugo me trouxe até aqui.

— Quem é Hugo? — Samantha perguntou curiosa.

— O aluno que me salvou daqueles caras. — Disse, e ela pareceu bem curiosa com aquele fato.

— Hum, então o Hugo, muito prestativo, veio trazê-la para casa? E como é esse Hugo? — Ela tentou brincar, para me fazer relaxar, mas eu sabia que toda brincadeira tinha um pingo de verdade.

— Nem comece com suas insinuações, Samantha. — Falei, colocando minha filha no chão e ela correu novamente para a TV, enquanto me dirigia até a geladeira, me servindo um copo de suco.

— Pelo menos, você sabe o sobrenome dele?

— Aí, Samantha, quando você quer ser chata, é mesmo! Acredito ser Castro, não tenho certeza.

Ela pegou o celular e começou a digitar o nome dele em algum aplicativo de busca que ela possuía. Samantha parecia mais uma investigadora do que uma advogada. Minha amiga me olhou com um olhar surpreso, segurando seu telefone de última geração.

— Estamos falando desse Hugo Castro?

Ela me mostrou a foto que apareceu em seu celular, e realmente era ele, mas com um porte mais sofisticado e uma expressão mais séria de um homem de negócios. Apenas balancei a cabeça em confirmação.

— Hugo Castro Lira, CEO de uma grande rede de hotéis. O solteiro mais cobiçado da atualidade. Amiga, não acredito que você não o convidou para entrar.

— Samantha, ele foi apenas gentil em se oferecer para me trazer até aqui. Pelo que você leu aí, ele é um homem extremamente ocupado, que poderia ter qualquer mulher que desejasse, e hoje não foi um bom dia para mim. Você realmente acredita que eu estaria com a cabeça para convidá-lo até aqui?

— Desculpa, amiga! Só fiquei empolgada.

Após um tempo, Samantha se despediu de nós e foi para sua casa. Naquele dia, mesmo não demonstrando o quanto estava assustada, aquilo realmente mexeu comigo. Tanto que sugeri à Mel para dormirmos juntas no meu quarto. O que fez minha filha comemorar.

Desde que ela alcançou a idade de dormir em sua própria cama, nunca burlei essa regra. Ela estava tão contagiante que por um momento me fez esquecer o que havia acontecido.

Eu realmente fui muito sortuda por Hugo ter aparecido naquele momento. E ainda mais sortuda por ele ter se oferecido para me trazer até em casa, mesmo sendo uma pessoa tão ocupada e importante.

Eu me lembrei então de seus olhos lindos e do sorriso encantador que ele me dirigiu, totalmente diferente daquela foto que a Samantha me mostrou.

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