No meu armário, sempre mantive uma troca de roupas para qualquer eventualidade, o que facilitou me livrar daquele cheiro horrível que impregnou minhas roupas. Ao sair do vestiário feminino, sabia que precisava encontrar uma maneira de voltar para casa.
A opção mais segura seria chamar um Uber, mas mesmo assim estava preocupada e assustada em ficar sozinha com o motorista. Peguei meu celular na bolsa, pensando em ligar para a Samantha e pedir que ela viesse me buscar na academia.
No entanto, assim que saí, para minha surpresa, o integrante que havia me defendido estava encostado na parede do vestiário feminino, aguardando aparentemente por mim. Ele já estava de banho tomado e segurava uma mochila.
Ao me ver, sua expressão se transformou em alívio, um leve sorriso brincou em seus lábios, e eu retribuí com um sorriso de gratidão. Foi nesse momento que percebi que ainda não havia agradecido por ele ter me defendido.
— Você está bem? Percebi que você ficou em choque com aquela situação, apesar de ter conseguido chegar até aqui. — O aluno perguntou.
— Estou sim. Nem mesmo eu sei como consegui chegar até aqui. E não tive a oportunidade de agradecer a você por me salvar. Se não fosse por vocês, não sei o que aconteceria comigo. — Ele estendeu a mão e, com um sorriso, se apresentou.
— Meu nome é Hugo Castro.
— Alice. E obrigada por tudo!
— Posso te oferecer uma carona? Saber que você chegou em casa em segurança, vai me trazer um pouco mais de tranquilidade, após o que presenciei. Aceitarei um não se isso lhe causar algum tipo de transtorno.
— Não quero te atrapalhar, mas ficarei muito grata se você puder fazer isso. Depois do que passei, não me sentiria confortável de entrar no carro de um completo estranho. — Disse, constrangida.
— Você não vai me atrapalhar em nada.
Caminhamos até o carro dele, e ele me passou o celular para que eu pudesse inserir meu endereço no GPS. Seguimos o caminho em silêncio, não era um silêncio constrangedor, mas reconfortante. Em alguns momentos, nossos olhares se encontravam, e um pequeno sorriso aparecia em nossos lábios. Eu estava muito grata por estar sendo acompanhada até em casa naquele momento.
— Você tem certeza de que não vou causar nenhum tipo de problema para você? Um namorado ou marido ciumento. — Ele perguntou.
Naquele momento, olhei para ele, analisando se ele queria obter alguma informação minha com aquela insinuação. Mas o que percebi em seu olhar foi apenas sinceridade, acredito que ele também estava temeroso de ter problemas com isso.
— Não se preocupe, as únicas pessoas que estão me esperando em casa são minha amiga e minha filha.
— Não imaginei que você pudesse ter uma filha. Talvez o pai dela possa não entender a situação.
— Não se preocupe, pois não sou comprometida com ninguém além de minha filha. Você está me fazendo um grande favor, levando-me até minha residência. Acredito que eu é que estou dando muito trabalho a você.
Ele me olhou, analisando-me, como se eu pudesse estar omitindo alguma verdade. Mas depois abriu um delicado sorriso. Após isso, me perdi em pensamentos. Quando senti uma mão em meu joelho, involuntariamente dei um pequeno sobressalto.
— Calma, Alice, sou eu, Hugo. Desculpe por te assustar. Chegamos ao seu endereço. Você está bem?
Olhei para ele com um olhar ainda perdido. Meus pensamentos haviam migrado para o que me aconteceu. O medo ainda permeava minha pele. Ainda não estava bem, mas sei que ficaria melhor quando entrasse em minha casa e abraçasse minha filha. Não permitiria que o medo me dominasse.
— Desculpe, Hugo. Mal percebi que já tínhamos chegado. Muito obrigada por ter me acompanhado até aqui e por ter me protegido daqueles caras. Acredito que nunca serei capaz de te agradecer o suficiente.
— Não se preocupe com isso. Apenas tente superar tudo o que passou.
E assim nos despedimos. Ele seguiu o seu caminho e eu entrei no conforto da minha casa. Nunca ansiei tanto por voltar ao meu humilde lar como naquele dia. Fiquei muito grata quando entrei na sala e ouvi a voz desafinada da minha amiga cantando uma música em inglês, mesmo sem saber falar o idioma, e depois, quando Melissa percebeu minha chegada, correndo para me abraçar.
Foi somente ali que percebi o quanto estava tensa depois do que aconteceu, e não consegui conter as lágrimas. Samantha percebeu minha reação assim que me observou e correu para me confortar.
— O que houve, Alice? Você está me assustando.
— Eu quase fui violentada hoje, Samantha.
— Como assim? Aquele canalha voltou a aparecer na sua vida? Ele voltou a te importunar?
— Não foi ele, amiga. Mas o terror que vivi foi ainda pior do que naquele dia. O que o Lucca fez foi me humilhar, e eu temi pelo meu futuro, não pela minha vida. Hoje, Sammy, eu realmente temi pela minha vida. Minha sorte foi um grupo de alunos da academia que passou no momento e me livrou daqueles canalhas.
— Por que não me ligou? Eu ia te buscar.
— Até pensei nisso, mas lembrei que a Mel estava com você e pensei em todo o transtorno que você teria para chegar até lá.
Ela se aproximou de mim e me abraçou com Melissa ainda em meus braços, sorrindo. Minha filha não tinha nenhuma noção do perigo que eu havia passado.
— Como você conseguiu chegar até aqui? — Ela perguntou, preocupada.
— O Hugo me trouxe até aqui.
— Quem é Hugo? — Samantha perguntou curiosa.
— O aluno que me salvou daqueles caras. — Disse, e ela pareceu bem curiosa com aquele fato.
— Hum, então o Hugo, muito prestativo, veio trazê-la para casa? E como é esse Hugo? — Ela tentou brincar, para me fazer relaxar, mas eu sabia que toda brincadeira tinha um pingo de verdade.
— Nem comece com suas insinuações, Samantha. — Falei, colocando minha filha no chão e ela correu novamente para a TV, enquanto me dirigia até a geladeira, me servindo um copo de suco.
— Pelo menos, você sabe o sobrenome dele?
— Aí, Samantha, quando você quer ser chata, é mesmo! Acredito ser Castro, não tenho certeza.
Ela pegou o celular e começou a digitar o nome dele em algum aplicativo de busca que ela possuía. Samantha parecia mais uma investigadora do que uma advogada. Minha amiga me olhou com um olhar surpreso, segurando seu telefone de última geração.
— Estamos falando desse Hugo Castro?
Ela me mostrou a foto que apareceu em seu celular, e realmente era ele, mas com um porte mais sofisticado e uma expressão mais séria de um homem de negócios. Apenas balancei a cabeça em confirmação.
— Hugo Castro Lira, CEO de uma grande rede de hotéis. O solteiro mais cobiçado da atualidade. Amiga, não acredito que você não o convidou para entrar.
— Samantha, ele foi apenas gentil em se oferecer para me trazer até aqui. Pelo que você leu aí, ele é um homem extremamente ocupado, que poderia ter qualquer mulher que desejasse, e hoje não foi um bom dia para mim. Você realmente acredita que eu estaria com a cabeça para convidá-lo até aqui?
— Desculpa, amiga! Só fiquei empolgada.
Após um tempo, Samantha se despediu de nós e foi para sua casa. Naquele dia, mesmo não demonstrando o quanto estava assustada, aquilo realmente mexeu comigo. Tanto que sugeri à Mel para dormirmos juntas no meu quarto. O que fez minha filha comemorar.
Desde que ela alcançou a idade de dormir em sua própria cama, nunca burlei essa regra. Ela estava tão contagiante que por um momento me fez esquecer o que havia acontecido.
Eu realmente fui muito sortuda por Hugo ter aparecido naquele momento. E ainda mais sortuda por ele ter se oferecido para me trazer até em casa, mesmo sendo uma pessoa tão ocupada e importante.
Eu me lembrei então de seus olhos lindos e do sorriso encantador que ele me dirigiu, totalmente diferente daquela foto que a Samantha me mostrou.
Naquela noite, foi difícil pegar no sono. Tive vários pesadelos, e em alguns deles aqueles olhos azuis encantadores me salvavam mais uma vez. Acordei de repente, consciente de que não conseguiria mais dormir.Levantei-me, tomei um banho para afastar o suor e o medo do pesadelo, e comecei a preparar o café. Sabia que não demoraria para minha linda filha se juntar a mim. Tentei seguir normalmente com minha vida e não permiti que aquele fato me afetasse.No entanto, após aquele episódio que realmente me marcou pelo medo, comecei a prestar mais atenção a tudo ao meu redor. Não voltei a cruzar com o Hugo novamente na academia, embora eu nunca o tivesse notado antes daquela infeliz noite.Como ele fazia parte da equipe de crossfit, era provável que ele passasse a maioria do tempo na área externa da academia. Havia um galpão construído especificamente para essa finalidade.Toda manhã, minha maior dificuldade era tirar Melissa da cama. Minha filha não era uma pessoa matinal, dessa forma, o hu
HUGO CASTRODepois de um dia estressante de trabalho, não há nada melhor do que descontar minhas frustrações no crossfit. E hoje, mais do que nunca, eu precisava disso. Apesar da minha pouca idade, dediquei-me muito para alcançar a posição em que estou.Dirigir uma rede de hotéis não é tarefa simples. Gerenciar pessoas é algo que aprecio, mas também é extremamente desafiador. Como presidente, fiz questão de ter conhecimento em todas as áreas.Meu pai sempre me ensinou que, para ser um profissional excepcional, é fundamental compreender todas as funcionalidades da empresa, não se limitando a se destacar em um único setor.Se já não é fácil gerenciar pessoas, some a isso uma mãe controladora e uma ex-namorada que não para de me ligar, enviar mensagens, além de importunar a minha secretária.Além disso, a Dafne é associada da nossa empresa e trabalha na gestão de pessoas, então sempre encontra uma desculpa para nos fazer trabalhar juntos, na tentativa de se aproximar de mim.Dafne Santia
ALICE FONSECAOs dias passaram rápido demais, e eu não tinha mais encontrado o Hugo na academia. Sem perceber, me vi decepcionada. Esse sentimento, que eu não conseguia explicar direito, estava me incomodando, pois, afinal de contas, eu não sabia exatamente quem era Hugo, além do que os tabloides falavam a respeito dele.Não poderia criar expectativas em relação a uma pessoa que eu não conhecia muito bem. Depois de tudo que passei com o Lucca, não poderia permitir que um estranho bagunçasse minha vida assim, ainda mais agora que tinha Melissa. De forma alguma, poderia baixar a guarda em relação aos meus sentimentos.Na escola, estava organizando um trabalho com meus alunos para a feira de ciências. Organizar uma feira dessas com crianças de seis anos era transformar tudo em uma verdadeira brincadeira.Por mais que eu tivesse controle sobre a turma, as crianças seriam sempre crianças. Cada pequeno naquela sala tinha uma personalidade única. Enquanto alguns eram retraídos, outros pareci
Ele apenas balançou a cabecinha, então segurei sua mãozinha e nos dirigimos até a sala da Melissa. Chegando lá, falei com a professora dela, que permitiu que minha filha saísse da sala de aula por alguns instantes.Segurei também a mãozinha da Melissa e a conduzi até onde estava com o Luan. Mesmo com apenas quatro anos, eu sabia que a explicação vinda da Melissa poderia ser reconfortante para o Luan, mostrando que não havia motivo para ele ficar triste.— Mel, esse é o Luan. Ele é aluno da mamãe, e ele está um pouco triste porque os pais dele estão se separando. Eu estava explicando a ele que você é feliz, mesmo apenas com a mamãe. — Dei a oportunidade para a Melissa interagir com o Luan.— É verdade, Luan. A mamãe me ama por ela e pelo papai. Não precisa ficar triste, porque seu papai e sua mamãe vão continuar amando você. E se sua mamãe for igual à minha, ela pode amar pelos dois. — Ela olhou para mim e pude perceber o orgulho que ela sentia por isso.— Mas você não sente falta de s
HUGO CASTROMinha única vontade era destituir Dafne de sua função na minha empresa. No entanto, havia um contrato que eu precisava honrar, uma vez que ela era uma associada.Os erros que ela cometia eram inaceitáveis, sem mencionar os riscos de potenciais problemas de indenização, caso não fossem abordados com extrema cautela.Dafne causou um verdadeiro caos na filial de Portugal. Tudo começou com um problema de comunicação entre ela e o engenheiro da obra em um de nossos hotéis, resultando em uma grande infiltração que nos obrigou a fazer upgrades para acomodar alguns hóspedes.Além disso, ela fez alterações indevidas na planilha de horários dos nossos colaboradores, fazendo com que trabalhassem mais do que suas cargas horárias regulares. Faz quase uma semana que estou trabalhando nessa filial, tentando solucionar esses problemas e evitar ações indenizatórias.Além de toda essa dor de cabeça, tive que conviver com ela durante toda aquela semana para entender onde ela havia cometido o
Não entendia como uma mulher tinha me cativado tão profundamente em tão pouco tempo, mas estava absolutamente encantado por Alice. Mantive o olhar fixo nela, aguardando a minha resposta.— Senti, Hugo, pronto, falei. Agora, pare de me encarar assim, você está me deixando sem graça. — Ela respondeu, rindo levemente.Abri o maior sorriso que tinha. Aquilo me deixou verdadeiramente feliz. A simples resposta dela havia alegrado o meu dia. Ela também tinha sentido minha falta.Quando chegamos à casa de seus pais, ela não me convidou a descer, apenas disse que voltaria rapidamente, então aguardei no carro. Realmente, ela não demorou muito, e uma Melissa muito animada entrou no carro.— Oi, titio! — Ela me cumprimentou feliz.— Oi, princesa, como vai?— Esse carro é seu? — Ela perguntou, admirada.— Sim, e hoje ele vai ser sua carruagem. — Disse sorrindo para ela e ela me devolveu o sorriso.— Hugo, vou aqui atrás com a Mel. Acho mais seguro para ela devido a não ter a cadeira adequada para
ALICE FONSCAO fim de semana havia chegado. No domingo, resolvi visitar meus pais e convidei Samantha para ir conosco. Como havia falado, minha amizade com ela já tinha anos e meus pais a tratavam como se fosse sua filha também.Após o nascimento de Melissa, Samantha cuidava de Mel como se fosse sua própria filha. Muitas vezes, quando Mel não conseguiu o que queria comigo, tentava com a tia Sammy, que terminava me convencendo depois de um pouco de conversa, e meus pais admiravam minha amiga por nunca ter soltado minha mão no momento mais difícil de minha vida.Meus pais, quando souberam que passaríamos o dia lá, mimaram Mel com todo tipo de sobremesa de que ela gostava. Mamãe adorava Samantha, dizia que ela já era considerada sua filha adotiva. E, como sempre, tentava arrancar de Sammy algumas informações sobre mim.Samantha, como uma fiel amiga, tirava minha mãe de tempo com outras questões. Infelizmente, o domingo passou mais rápido do que eu queria. Gostava de ter minha independênc
Olhei para minha amiga, incrédula com a ideia de interrogar o Hugo. Antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa, ele entrou na cozinha e perguntou se precisávamos de mais alguma ajuda. Minha amiga negou, pegou a travessa e a levou até a mesa.Peguei Melissa e a coloquei em sua cadeira e nós nos sentamos e começamos a nos servir. Quando estávamos todos comendo e já na metade do prato, Hugo elogiou a Samantha. Isso foi o suficiente para dar início à conversa da minha amiga. Claro que ela não esperaria até o final do jantar e, como uma boa advogada, precisava ser direta.— Que bom que você gostou, Hugo. Eu tentei caprichar ao máximo, considerando que você está acostumado a comer pratos preparados por chefs renomados. Pelo que pude perceber, você costuma participar de muitos eventos.— Sou um homem de negócios, Samantha. Então, sim, participo de muitos eventos. Mas nem todos têm uma comida tão deliciosa quanto a que você preparou.— Obrigada, Hugo. Sabe, o que me surpreendeu é que nas f