CAPÍTULO 06

HUGO CASTRO

Depois de um dia estressante de trabalho, não há nada melhor do que descontar minhas frustrações no crossfit. E hoje, mais do que nunca, eu precisava disso. Apesar da minha pouca idade, dediquei-me muito para alcançar a posição em que estou.

Dirigir uma rede de hotéis não é tarefa simples. Gerenciar pessoas é algo que aprecio, mas também é extremamente desafiador. Como presidente, fiz questão de ter conhecimento em todas as áreas.

Meu pai sempre me ensinou que, para ser um profissional excepcional, é fundamental compreender todas as funcionalidades da empresa, não se limitando a se destacar em um único setor.

Se já não é fácil gerenciar pessoas, some a isso uma mãe controladora e uma ex-namorada que não para de me ligar, enviar mensagens, além de importunar a minha secretária.

Além disso, a Dafne é associada da nossa empresa e trabalha na gestão de pessoas, então sempre encontra uma desculpa para nos fazer trabalhar juntos, na tentativa de se aproximar de mim.

Dafne Santiago é filha única de uma família abastada. Tivemos um relacionamento de sete anos, mas o encerrei há seis meses. Ela é uma mulher linda, porém, mimada e bastante fútil, acreditando que o mundo está aos seus pés.

Seus pais, assim como minha mãe, acreditavam formarmos o casal perfeito. Apesar de seus pais serem ricos, eles almejavam ainda mais prestígio, e nada parecia melhor do que ter o CEO da rede Castro casado com sua filha.

Como sou sócio de uma academia conceituada com uma excelente equipe de crossfit, sempre frequento as aulas visando aliviar o estresse do dia a dia. Além disso, construí algumas amizades lá, que não têm nenhum interesse além do esportivo.

No dia em que salvamos a Alice daqueles caras, fiquei impressionado pela força daquela mulher. Provavelmente, se não tivéssemos chegado naquele momento, ela teria seu nome estampado nas manchetes da TV como mais uma vítima de crime de abuso sexual.

Quando a vi sair do vestiário, percebi algo que não havia notado anteriormente: ela era extraordinariamente linda. Seus olhos castanhos, quase da cor de mel, eram os mais expressivos que já vi, além de seus cabelos ruivos que destacavam sua pele alva.

Naquele mesmo dia, a levei até sua residência e depois seguir para a minha, no entanto, ela ocupava meus pensamentos. Dias depois, ainda continuava pensando na garota. Curioso em saber se ela continuava a frequentar a academia, mas devido às constantes reuniões, não estava comparecendo às aulas de crossfit e isso estava me deixando frustrado.

Certa noite, assim que entrei em minha casa, encontrei minha irmã na sala, concentrada no celular. Fui até ela e lhe dei um beijo na testa, sentando-me no sofá ao seu lado.

Em seguida, perguntei sobre o Luan, meu sobrinho. Safira voltou a morar conosco após flagrar o marido na cama com sua melhor amiga. Sempre soube que o cara não prestava, mas minha irmã não me deu ouvido na época.

Encostei minha cabeça no encosto do sofá, fechando os olhos, e a Alice mais uma vez ocupou meus pensamentos. Minha irmã percebeu que algo estava acontecendo comigo e logo me questionou.

— O que houve? Dia puxado?

— Estou pensando numa garota.

— Hum, que garota é essa, para deixar meu irmão desse jeito?

— Não é isso o que você está pensando, sua intrometida. Embora a beleza dela tenha chamado a minha atenção.

Relatei para minha irmã o que havia acontecido e como a Alice havia ficado abalada naquele dia. Apenas com meu relato, minha irmã também ficou sensibilizada pela situação da garota, mesmo sem a conhecer.

Só esperava que a Alice superasse tudo isso e não deixasse de frequentar a academia, pois desejava ter a oportunidade de conhecê-la melhor.

— Nem consigo imaginar como deve estar a cabeça dessa garota agora, Hugo. Acredito que, se fosse comigo, eu não conseguiria nem sair do canto. Espero de coração que ela se recupere.

— Eu também, irmã. Vou falar com o Luan e vou descansar um pouco. Amanhã vou ter uma reunião logo cedo.

Me despedi da minha irmã e fui até o quarto do meu sobrinho. Logo depois, fui para o meu quarto. Tomei um banho relaxante e, quando deitei na minha cama, aquela mulher voltou à minha mente.

Já estive na presença de mulheres realmente lindas, inclusive modelos, mas nenhuma delas me chamou a atenção como aquela garota. Era como se ela possuísse algo especial, algo que me enfeitiçou. Terminei adormecendo com esses pensamentos.

O resto da minha semana parecia conspirar contra mim. Mais reuniões, uma atrás da outra, o que me impediu de ir à academia no horário que costumava frequentar. Antes, eu ficava ansioso para treinar, mas agora agia como um adolescente ansioso para encontrar a garota por quem estava interessado.

Na sexta-feira, até fui à academia com a intenção de encontrá-la, mas quando cheguei, a última aula de aeróbica já havia terminado, e ela provavelmente já tinha ido embora, o que me deixou mal-humorado.

Nunca estive tão ansioso para o início da semana como desta vez. Hoje teria a aula de crossfit e estava ansioso para encontrar Alice na academia. Sempre fui um cara muito focado no meu trabalho, e poucas coisas conseguiam tirar minha concentração no ambiente empresarial, mas Alice parecia agora ter esse poder.

Assim que cheguei à academia, não a vi, o que me causou um pouco de frustração. No entanto, depois de um tempo, a notei passando apressada, acredito que estava atrasada para a aula. Não pude negar que meu coração estava contente por vê-la, e meu rosto demonstrou isso com um sorriso.

Aguardaria até o final da aula dela para finalmente poder conversar com a mesma. Enquanto isso, concentrei-me no crossfit, precisava manter minha mente no lugar, pois qualquer erro naquele local poderia resultar em um ferimento sério.

O treino daquele dia havia sido intenso, exatamente como eu precisava. Ao final da sessão, passei novamente pela sala onde a vi pela última vez, mas ela já não estava lá. Fiquei frustrado e me dirigi à secretária para me informar se fazia muito tempo que sua aula havia terminado.

Natália me informou haver terminado apenas alguns minutos atrás, então imaginei que ela ainda estivesse nas dependências da academia. Percebendo quem eu procurava, Natália me disse que ela deveria estar na sala de musculação, ela passava alguns minutos lá, após o incidente.

Dirigi-me até lá e a observei à distância enquanto fazia sua série de exercícios. Acreditei que ela devia estar tão concentrada no que fazia que não percebia o que acontecia ao seu redor, melhor dizendo, os olhares que atraia.

Em apenas dois minutos ali, percebi quatro caras a observando, mas nenhum parecia ter coragem para se aproximar. Ela tinha uma aura tão concentrada que não deixava espaço para nenhum outro tipo de abordagem que não estivesse relacionada às máquinas ali presentes.

Fiquei muito surpreso quando ela me falou ter uma filha, jamais poderia deduzir isso apenas olhando para ela. E fiquei mais surpreso quando ela me informou que não tinha namorado e muito menos marido.

Ela devia ser uma mulher esforçada e forte, porque não tenho experiência alguma, mas criar uma criança sozinha não devia ser nada fácil. Minha irmã tinha o Luan e percebia todo seu esforço para atender às necessidades do filho.

Depois de alguns minutos ali, ela pareceu sentir meu olhar, e simplesmente olhou em minha direção. Nossos olhares se cruzaram e ela abriu um lindo sorriso, deu um aceno e voltou aos seus exercícios. Segui para o vestiário e tomei uma rápida ducha.

Na musculação, não há um tempo certo que o aluno permanece fazendo seus exercícios, então sabia que precisava ser rápido e ter paciência para aguardá-la. Rezava apenas para que ela não tivesse saído antes de mim. Queria me aproximar dela e ver aonde isso podia nos levar.

Quando a vi saindo, me perdi em pensamentos. A cada vez que reparava nela, parecia que ela ficava mais linda, mais deslumbrante. Eu estava totalmente fascinado por ela e queria descobrir um pouco mais sobre aquela mulher encantadora.

Ofereci a ela carona novamente, e ela até tentou se esquivar da minha oferta, fiz uma cara triste para comovê-la, apesar de que não desistiria tão facilmente assim.

Então ela novamente sorriu e aceitou minha carona. Conversamos sobre vários assuntos banais da academia. Fiz algumas perguntas pessoais, mas percebi que ela se esquivava um pouco para responder, sempre na defensiva. Só não conseguia entender o porquê.

Ela mencionou que trabalhava o dia inteiro em uma escola, embora não tenha revelado em qual, e, quando seu expediente acabava, deixava a filha com a amiga e ia direto para a academia. O que me surpreendeu foi que ela era formada em dois cursos simultaneamente.

Não eram muitos que conseguiam esse feito de se desdobrar em dois cursos e se formar em ambos. Quando percebi, estávamos em frente à casa dela. E agora estava mais encantado por aquela mulher do que antes.

Quando me despedi dela e entrei no carro, mais uma vez fiquei observando-a pelo retrovisor. Alice realmente era uma mulher que valia a pena. Linda, esforçada, persistente, engraçada e, pelo que pude descobrir da interação com a filha, uma excelente mãe.

Alice estava mexendo comigo de uma forma inesperada, mas eu estava empolgado com tudo que eu descobria dela até aquele momento. Não tinha alternativa senão torcer para que ela pudesse me dar uma chance de conhecê-la melhor, e a pequena Mel também.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo