Naquela noite, foi difícil pegar no sono. Tive vários pesadelos, e em alguns deles aqueles olhos azuis encantadores me salvavam mais uma vez. Acordei de repente, consciente de que não conseguiria mais dormir.
Levantei-me, tomei um banho para afastar o suor e o medo do pesadelo, e comecei a preparar o café. Sabia que não demoraria para minha linda filha se juntar a mim. Tentei seguir normalmente com minha vida e não permiti que aquele fato me afetasse.
No entanto, após aquele episódio que realmente me marcou pelo medo, comecei a prestar mais atenção a tudo ao meu redor. Não voltei a cruzar com o Hugo novamente na academia, embora eu nunca o tivesse notado antes daquela infeliz noite.
Como ele fazia parte da equipe de crossfit, era provável que ele passasse a maioria do tempo na área externa da academia. Havia um galpão construído especificamente para essa finalidade.
Toda manhã, minha maior dificuldade era tirar Melissa da cama. Minha filha não era uma pessoa matinal, dessa forma, o humor dela nunca era dos melhores nas primeiras horas da manhã.
Eu amava meu trabalho. Adorava trabalhar com aqueles alunos, alternando entre aulas práticas e teóricas com eles. A diretora frequentemente elogiava minha turma, afirmando que ela era a mais interativa de toda a escola.
Em poucos meses, me tornei a professora querida por todos, pois meus alunos não viam minhas aulas como uma obrigação, mas como uma forma de obter conhecimento. Como eu trabalhava em tempo integral, naquele dia a escola estava particularmente movimentada devido à preparação da feira de ciências. As horas passaram voando, e assim que terminei o expediente, deixei Mel em casa com Samantha e segui diretamente para a academia.
Na academia, as aulas de aeróbica estavam lotadas, eu passei realmente a gostar muito dessas aulas. Sempre achei que dançava muito mal, mas me saí bem nos exercícios. Era como uma aula de dança, mas com movimentos direcionados para a academia.
Após o término da minha aula, fui direto para o vestiário e, após uma ducha revigorante, me sentia pronta para partir para casa e encontrar minha outra metade da felicidade, Melissa. Ao sair, me deparei novamente com Hugo, que me brindou com um largo sorriso.
Meu Deus, por que ele parecia tão perfeito? Esse homem não parecia ter nascido, mas sim esculpido pelas mãos de um artista.
Olhei para trás para verificar se ele estava sorrindo para outra pessoa, mas logo percebi que a única pessoa ali, além dele, era eu. Agora sabendo quem ele era, me senti constrangida. Ele era alguém importante em seu meio, muito diferente de mim. Além disso, conforme o que Samantha havia me dito, era um dos solteiros mais cobiçados do país.
— Como vai? Você estava ótima na aula de aeróbica. — Hugo me cumprimentou.
— Estou bem, mas como sabe que fui bem na aula? — Perguntei, surpresa.
— Bem, as pessoas comentam. E depois daquela fatalidade, você se tornou um pouco mais conhecida. — Ele disse, enquanto me observava.
Naquele momento, fiquei sem palavras. Na verdade, fiquei constrangida ao descobrir que as pessoas estavam falando sobre mim. A academia era um dos meios que eu encontrava para me manter em forma, mas desde o episódio na faculdade tentava não chamar a atenção para mim.
Meu silêncio começou a se tornar incômodo após ele me dizer de forma tão direta que chamei a sua atenção. Eu simplesmente não conseguia entender o motivo disso, afinal, ao olhar ao redor, você encontraria mulheres consideradas bem mais bonitas do que eu. Eu me via como uma mulher comum.
— Não precisa ficar constrangida, Alice. As pessoas apenas ficaram admiradas com sua força. Outras teriam desistido de frequentar a academia se tivessem passado pelo que passou. E por favor, não me diga que você não se acha linda… — Ele enfatizou.
Eu senti meu rosto ficando ruborizado. A maneira direta como ele mencionou que eu era linda me deixou ainda mais constrangida, porque eu mesma não me via dessa forma, não que eu tivesse uma baixa autoestima, mas me definia como uma beleza normal.
Minha estatura era mediana, claro que tinha algumas curvas e, mesmo após a gravidez, mantive algumas e outras até se acentuaram mais. Achava meus olhos grandes e meus lábios cheios demais. Dado tudo isso, não conseguia acreditar que eu era tudo o que ele estava dizendo.
— Mudando completamente de assunto… posso te oferecer uma carona? — Ele disse.
— Uma carona? Nossa, Hugo, eu fico muito grata, mas não quero abusar da sua boa vontade. Minha casa não é tão longe e não quero lhe causar qualquer incômodo. Posso solicitar um Uber, de verdade, mas agradeço. — Eu argumentei.
— Você está dispensando minha companhia, Alice? Caramba, passei um tempo enorme esperando você sair desse vestiário. Fiquei até tentado a entrar para verificar se você realmente estava lá dentro. E depois de tudo isso, você simplesmente prefere ir de Uber? Agora me senti ofendido. — Ele respondeu.
Ele fez uma carinha tão meiga, um beicinho que me lembrou a Mel, mas que nele ficou tão sensual e eu não resisti. Então, acabei aceitando a carona dele. Fomos juntos para o seu carro e começamos a conversar sobre assuntos banais.
Ele acabou me revelando ser sócio da academia, que fazia crossfit como um passatempo, para se sentir mais livre e mudar a atmosfera com a qual ele já estava tão acostumado do mundo corporativo. Depois disso, a conversa migrou para profissões, e quando nos demos conta, estávamos em frente ao meu apartamento.
Desci do carro e Hugo fez o mesmo. Como se tivesse uma bola de cristal, Melissa abriu o portão e, quando me viu, correu em minha direção gritando por mim. Samantha apareceu em seguida e também se aproximou.
Hugo assistiu nossa interação sorrindo, e me senti obrigada a apresentar Samantha a ele, e tinha certeza de que era essa a intenção de minha amiga quando ela se aproximou. Ela nunca dava ponto sem nó.
— Hugo, esta é a Samantha, uma grande amiga, ela cuida da Melissa enquanto estou na academia. Samantha, esse é o Hugo, um amigo da academia.
— Prazer em conhecê-lo, Hugo! — Samantha disse toda sorridente.
— O prazer é todo meu, Samantha! — Hugo retribuiu o cumprimento. — E como se chama essa linda princesa?
— Meu nome é Melissa, mas todo mundo me chama de Mel. — Minha filha disse, sorrindo.
— Prazer em conhecer você, Mel.
— Você trabalha com minha mãe na escola?
— Não, princesa. Eu sou apenas amigo da sua mamãe. Fazemos academia juntos.
— A mamãe nunca trouxe um amigo aqui em casa. — Minha filha disse e Hugo me encarou.
Naquele momento, fiquei totalmente sem graça. Mel sempre dizia coisas inesperadas para me deixar numa saia justa. Antes que eu pudesse falar algo para me despedir de Hugo, que me olhava intensamente, Samantha tomou a dianteira.
— Fiquei sabendo através da Alice que você a salvou outro dia. Obrigada por isso. Ela é como uma verdadeira irmã para mim. Gostaria de convidá-lo para jantar conosco qualquer dia desses, para podermos retribuir o que você fez por ela.
Eu olhei para minha amiga, lançando um olhar reprovador. Samantha era realmente atrevida, e eu sabia muito bem qual era a intenção dela ao fazer aquele convite. Um dos passatempos favoritos de minha amiga era analisar as pessoas, e eu tinha que admitir que, na maioria das vezes, ela acertava em suas análises.
— Claro, só peça para a Alice me avisar qual dia, que farei questão de vir. — Ele respondeu à Samantha.
— Eu sei que a Alice às vezes é muito esquecida devido a tantas obrigações que ela tem. Você poderia anotar meu número e me dar um toque, aí eu salvo o seu e te aviso quando marcarmos o jantar. — Samantha argumentou.
Samantha era muito habilidosa em obter o que desejava sutilmente. E, após conseguir o que queria, ela pegou Melissa de meus braços e se despediu de nós, entrando em minha casa.
— Desculpe-me pela forma direta da Samantha. Às vezes acredito que ela esteja na profissão errada, devido à maneira como age. Às vezes, até eu tenho dificuldade em acompanhá-la, e olha que estamos juntas desde a época da escola.
— Hum, é ótimo saber disso. Então, se eu quiser descobrir algo sobre você, só preciso perguntar a ela? Estou ansioso por esse convite. — Ele disse, sorrindo.
— Deixa de ser bobo, Hugo. Tenho certeza de que, se você der abertura a Samantha, é mais provável que ela descubra todos os seus segredos antes de você descobrir algo sobre mim. Depois, não diga que eu não avisei.
E nós dois começamos a rir. Ele me encarou intensamente mais uma vez e se aproximou um pouco mais. O sorriso desapareceu do meu rosto enquanto encarava aqueles olhos fascinantes.
Ele levou sua mão até uma mecha solta do meu cabelo e a colocou atrás da minha orelha. Seu rosto se aproximou ainda mais do meu, e sua mão segurou delicadamente meu queixo, me puxando em sua direção.
Senti meu coração acelerar e quase tinha certeza de que Hugo podia ouvir as batidas aceleradas dele. Quando pensei que ele beijaria meus lábios, ele inclinou o rosto e beijou suavemente minha bochecha.
— Infelizmente, preciso ir. Tenho um compromisso logo cedo amanhã. Mas diga a Samantha que estarei aguardando o convite que ela me fez e a Mel que adorei conhecê-la. Estou ansioso para descobrir mais sobre a misteriosa Alice.
— Não tenho nada de misteriosa… apenas prefiro ouvir mais do que falar.
Ele bateu o dedo indicador no meu nariz, como se eu fosse uma garota insolente, e começou a sorrir enquanto entrava no seu carro.
Ele me observou pelo retrovisor e fiquei sem jeito. Em seguida, entrei em minha casa, sendo recebida por uma Samantha contagiante.
HUGO CASTRODepois de um dia estressante de trabalho, não há nada melhor do que descontar minhas frustrações no crossfit. E hoje, mais do que nunca, eu precisava disso. Apesar da minha pouca idade, dediquei-me muito para alcançar a posição em que estou.Dirigir uma rede de hotéis não é tarefa simples. Gerenciar pessoas é algo que aprecio, mas também é extremamente desafiador. Como presidente, fiz questão de ter conhecimento em todas as áreas.Meu pai sempre me ensinou que, para ser um profissional excepcional, é fundamental compreender todas as funcionalidades da empresa, não se limitando a se destacar em um único setor.Se já não é fácil gerenciar pessoas, some a isso uma mãe controladora e uma ex-namorada que não para de me ligar, enviar mensagens, além de importunar a minha secretária.Além disso, a Dafne é associada da nossa empresa e trabalha na gestão de pessoas, então sempre encontra uma desculpa para nos fazer trabalhar juntos, na tentativa de se aproximar de mim.Dafne Santia
ALICE FONSECAOs dias passaram rápido demais, e eu não tinha mais encontrado o Hugo na academia. Sem perceber, me vi decepcionada. Esse sentimento, que eu não conseguia explicar direito, estava me incomodando, pois, afinal de contas, eu não sabia exatamente quem era Hugo, além do que os tabloides falavam a respeito dele.Não poderia criar expectativas em relação a uma pessoa que eu não conhecia muito bem. Depois de tudo que passei com o Lucca, não poderia permitir que um estranho bagunçasse minha vida assim, ainda mais agora que tinha Melissa. De forma alguma, poderia baixar a guarda em relação aos meus sentimentos.Na escola, estava organizando um trabalho com meus alunos para a feira de ciências. Organizar uma feira dessas com crianças de seis anos era transformar tudo em uma verdadeira brincadeira.Por mais que eu tivesse controle sobre a turma, as crianças seriam sempre crianças. Cada pequeno naquela sala tinha uma personalidade única. Enquanto alguns eram retraídos, outros pareci
Ele apenas balançou a cabecinha, então segurei sua mãozinha e nos dirigimos até a sala da Melissa. Chegando lá, falei com a professora dela, que permitiu que minha filha saísse da sala de aula por alguns instantes.Segurei também a mãozinha da Melissa e a conduzi até onde estava com o Luan. Mesmo com apenas quatro anos, eu sabia que a explicação vinda da Melissa poderia ser reconfortante para o Luan, mostrando que não havia motivo para ele ficar triste.— Mel, esse é o Luan. Ele é aluno da mamãe, e ele está um pouco triste porque os pais dele estão se separando. Eu estava explicando a ele que você é feliz, mesmo apenas com a mamãe. — Dei a oportunidade para a Melissa interagir com o Luan.— É verdade, Luan. A mamãe me ama por ela e pelo papai. Não precisa ficar triste, porque seu papai e sua mamãe vão continuar amando você. E se sua mamãe for igual à minha, ela pode amar pelos dois. — Ela olhou para mim e pude perceber o orgulho que ela sentia por isso.— Mas você não sente falta de s
HUGO CASTROMinha única vontade era destituir Dafne de sua função na minha empresa. No entanto, havia um contrato que eu precisava honrar, uma vez que ela era uma associada.Os erros que ela cometia eram inaceitáveis, sem mencionar os riscos de potenciais problemas de indenização, caso não fossem abordados com extrema cautela.Dafne causou um verdadeiro caos na filial de Portugal. Tudo começou com um problema de comunicação entre ela e o engenheiro da obra em um de nossos hotéis, resultando em uma grande infiltração que nos obrigou a fazer upgrades para acomodar alguns hóspedes.Além disso, ela fez alterações indevidas na planilha de horários dos nossos colaboradores, fazendo com que trabalhassem mais do que suas cargas horárias regulares. Faz quase uma semana que estou trabalhando nessa filial, tentando solucionar esses problemas e evitar ações indenizatórias.Além de toda essa dor de cabeça, tive que conviver com ela durante toda aquela semana para entender onde ela havia cometido o
Não entendia como uma mulher tinha me cativado tão profundamente em tão pouco tempo, mas estava absolutamente encantado por Alice. Mantive o olhar fixo nela, aguardando a minha resposta.— Senti, Hugo, pronto, falei. Agora, pare de me encarar assim, você está me deixando sem graça. — Ela respondeu, rindo levemente.Abri o maior sorriso que tinha. Aquilo me deixou verdadeiramente feliz. A simples resposta dela havia alegrado o meu dia. Ela também tinha sentido minha falta.Quando chegamos à casa de seus pais, ela não me convidou a descer, apenas disse que voltaria rapidamente, então aguardei no carro. Realmente, ela não demorou muito, e uma Melissa muito animada entrou no carro.— Oi, titio! — Ela me cumprimentou feliz.— Oi, princesa, como vai?— Esse carro é seu? — Ela perguntou, admirada.— Sim, e hoje ele vai ser sua carruagem. — Disse sorrindo para ela e ela me devolveu o sorriso.— Hugo, vou aqui atrás com a Mel. Acho mais seguro para ela devido a não ter a cadeira adequada para
ALICE FONSCAO fim de semana havia chegado. No domingo, resolvi visitar meus pais e convidei Samantha para ir conosco. Como havia falado, minha amizade com ela já tinha anos e meus pais a tratavam como se fosse sua filha também.Após o nascimento de Melissa, Samantha cuidava de Mel como se fosse sua própria filha. Muitas vezes, quando Mel não conseguiu o que queria comigo, tentava com a tia Sammy, que terminava me convencendo depois de um pouco de conversa, e meus pais admiravam minha amiga por nunca ter soltado minha mão no momento mais difícil de minha vida.Meus pais, quando souberam que passaríamos o dia lá, mimaram Mel com todo tipo de sobremesa de que ela gostava. Mamãe adorava Samantha, dizia que ela já era considerada sua filha adotiva. E, como sempre, tentava arrancar de Sammy algumas informações sobre mim.Samantha, como uma fiel amiga, tirava minha mãe de tempo com outras questões. Infelizmente, o domingo passou mais rápido do que eu queria. Gostava de ter minha independênc
Olhei para minha amiga, incrédula com a ideia de interrogar o Hugo. Antes que eu conseguisse dizer qualquer coisa, ele entrou na cozinha e perguntou se precisávamos de mais alguma ajuda. Minha amiga negou, pegou a travessa e a levou até a mesa.Peguei Melissa e a coloquei em sua cadeira e nós nos sentamos e começamos a nos servir. Quando estávamos todos comendo e já na metade do prato, Hugo elogiou a Samantha. Isso foi o suficiente para dar início à conversa da minha amiga. Claro que ela não esperaria até o final do jantar e, como uma boa advogada, precisava ser direta.— Que bom que você gostou, Hugo. Eu tentei caprichar ao máximo, considerando que você está acostumado a comer pratos preparados por chefs renomados. Pelo que pude perceber, você costuma participar de muitos eventos.— Sou um homem de negócios, Samantha. Então, sim, participo de muitos eventos. Mas nem todos têm uma comida tão deliciosa quanto a que você preparou.— Obrigada, Hugo. Sabe, o que me surpreendeu é que nas f
A segunda-feira, dia da feira de ciências, havia finalmente chegado. Eu estava tão empolgada com o evento de hoje que mal podia conter a minha ansiedade. Precisei chegar mais cedo à escola para finalizar tudo o que precisava antes dos alunos chegarem.A Samantha ficou responsável por trazer Melissa, e claro que a tia babona ficaria para assistir à apresentação, afinal, ela também era a madrinha de minha filha e, como meus pais não poderiam comparecer, pediram que ela filmasse tudo.Na minha sala de aula, tínhamos nove vulcões para as apresentações, e cada um deles seria compartilhado por três alunos, o que significava que teríamos nove apresentações diferentes. Tudo estava organizado nos lugares onde cada um deveria ficar.Mantive o vinagre escondido, já que com aquela turminha, não poderia dar bobeira. Esperava que tudo o que havíamos planejado desse certo. Dividimos os grupos de forma estratégica, considerando as diferenças e dificuldades de cada um dos meus queridos alunos.Lentame