CAPÍTULO 05

Naquela noite, foi difícil pegar no sono. Tive vários pesadelos, e em alguns deles aqueles olhos azuis encantadores me salvavam mais uma vez. Acordei de repente, consciente de que não conseguiria mais dormir.

Levantei-me, tomei um banho para afastar o suor e o medo do pesadelo, e comecei a preparar o café. Sabia que não demoraria para minha linda filha se juntar a mim. Tentei seguir normalmente com minha vida e não permiti que aquele fato me afetasse.

No entanto, após aquele episódio que realmente me marcou pelo medo, comecei a prestar mais atenção a tudo ao meu redor. Não voltei a cruzar com o Hugo novamente na academia, embora eu nunca o tivesse notado antes daquela infeliz noite.

Como ele fazia parte da equipe de crossfit, era provável que ele passasse a maioria do tempo na área externa da academia. Havia um galpão construído especificamente para essa finalidade.

Toda manhã, minha maior dificuldade era tirar Melissa da cama. Minha filha não era uma pessoa matinal, dessa forma, o humor dela nunca era dos melhores nas primeiras horas da manhã.

Eu amava meu trabalho. Adorava trabalhar com aqueles alunos, alternando entre aulas práticas e teóricas com eles. A diretora frequentemente elogiava minha turma, afirmando que ela era a mais interativa de toda a escola.

Em poucos meses, me tornei a professora querida por todos, pois meus alunos não viam minhas aulas como uma obrigação, mas como uma forma de obter conhecimento. Como eu trabalhava em tempo integral, naquele dia a escola estava particularmente movimentada devido à preparação da feira de ciências. As horas passaram voando, e assim que terminei o expediente, deixei Mel em casa com Samantha e segui diretamente para a academia.

Na academia, as aulas de aeróbica estavam lotadas, eu passei realmente a gostar muito dessas aulas. Sempre achei que dançava muito mal, mas me saí bem nos exercícios. Era como uma aula de dança, mas com movimentos direcionados para a academia.

Após o término da minha aula, fui direto para o vestiário e, após uma ducha revigorante, me sentia pronta para partir para casa e encontrar minha outra metade da felicidade, Melissa. Ao sair, me deparei novamente com Hugo, que me brindou com um largo sorriso.

Meu Deus, por que ele parecia tão perfeito? Esse homem não parecia ter nascido, mas sim esculpido pelas mãos de um artista.

Olhei para trás para verificar se ele estava sorrindo para outra pessoa, mas logo percebi que a única pessoa ali, além dele, era eu. Agora sabendo quem ele era, me senti constrangida. Ele era alguém importante em seu meio, muito diferente de mim. Além disso, conforme o que Samantha havia me dito, era um dos solteiros mais cobiçados do país.

— Como vai? Você estava ótima na aula de aeróbica. — Hugo me cumprimentou.

— Estou bem, mas como sabe que fui bem na aula? — Perguntei, surpresa.

— Bem, as pessoas comentam. E depois daquela fatalidade, você se tornou um pouco mais conhecida. — Ele disse, enquanto me observava.

Naquele momento, fiquei sem palavras. Na verdade, fiquei constrangida ao descobrir que as pessoas estavam falando sobre mim. A academia era um dos meios que eu encontrava para me manter em forma, mas desde o episódio na faculdade tentava não chamar a atenção para mim.

Meu silêncio começou a se tornar incômodo após ele me dizer de forma tão direta que chamei a sua atenção. Eu simplesmente não conseguia entender o motivo disso, afinal, ao olhar ao redor, você encontraria mulheres consideradas bem mais bonitas do que eu. Eu me via como uma mulher comum.

— Não precisa ficar constrangida, Alice. As pessoas apenas ficaram admiradas com sua força. Outras teriam desistido de frequentar a academia se tivessem passado pelo que passou. E por favor, não me diga que você não se acha linda… — Ele enfatizou.

Eu senti meu rosto ficando ruborizado. A maneira direta como ele mencionou que eu era linda me deixou ainda mais constrangida, porque eu mesma não me via dessa forma, não que eu tivesse uma baixa autoestima, mas me definia como uma beleza normal.

Minha estatura era mediana, claro que tinha algumas curvas e, mesmo após a gravidez, mantive algumas e outras até se acentuaram mais. Achava meus olhos grandes e meus lábios cheios demais. Dado tudo isso, não conseguia acreditar que eu era tudo o que ele estava dizendo.

— Mudando completamente de assunto… posso te oferecer uma carona? — Ele disse.

— Uma carona? Nossa, Hugo, eu fico muito grata, mas não quero abusar da sua boa vontade. Minha casa não é tão longe e não quero lhe causar qualquer incômodo. Posso solicitar um Uber, de verdade, mas agradeço. — Eu argumentei.

— Você está dispensando minha companhia, Alice? Caramba, passei um tempo enorme esperando você sair desse vestiário. Fiquei até tentado a entrar para verificar se você realmente estava lá dentro. E depois de tudo isso, você simplesmente prefere ir de Uber? Agora me senti ofendido. — Ele respondeu.

Ele fez uma carinha tão meiga, um beicinho que me lembrou a Mel, mas que nele ficou tão sensual e eu não resisti. Então, acabei aceitando a carona dele. Fomos juntos para o seu carro e começamos a conversar sobre assuntos banais.

Ele acabou me revelando ser sócio da academia, que fazia crossfit como um passatempo, para se sentir mais livre e mudar a atmosfera com a qual ele já estava tão acostumado do mundo corporativo. Depois disso, a conversa migrou para profissões, e quando nos demos conta, estávamos em frente ao meu apartamento. 

Desci do carro e Hugo fez o mesmo. Como se tivesse uma bola de cristal, Melissa abriu o portão e, quando me viu, correu em minha direção gritando por mim. Samantha apareceu em seguida e também se aproximou. 

Hugo assistiu nossa interação sorrindo, e me senti obrigada a apresentar Samantha a ele, e tinha certeza de que era essa a intenção de minha amiga quando ela se aproximou. Ela nunca dava ponto sem nó. 

— Hugo, esta é a Samantha, uma grande amiga, ela cuida da Melissa enquanto estou na academia. Samantha, esse é o Hugo, um amigo da academia.

— Prazer em conhecê-lo, Hugo! — Samantha disse toda sorridente.

— O prazer é todo meu, Samantha! — Hugo retribuiu o cumprimento. — E como se chama essa linda princesa?

— Meu nome é Melissa, mas todo mundo me chama de Mel. — Minha filha disse, sorrindo.

— Prazer em conhecer você, Mel.

— Você trabalha com minha mãe na escola?

— Não, princesa. Eu sou apenas amigo da sua mamãe. Fazemos academia juntos.

— A mamãe nunca trouxe um amigo aqui em casa. — Minha filha disse e Hugo me encarou.

Naquele momento, fiquei totalmente sem graça. Mel sempre dizia coisas inesperadas para me deixar numa saia justa. Antes que eu pudesse falar algo para me despedir de Hugo, que me olhava intensamente, Samantha tomou a dianteira.

— Fiquei sabendo através da Alice que você a salvou outro dia. Obrigada por isso. Ela é como uma verdadeira irmã para mim. Gostaria de convidá-lo para jantar conosco qualquer dia desses, para podermos retribuir o que você fez por ela.

Eu olhei para minha amiga, lançando um olhar reprovador. Samantha era realmente atrevida, e eu sabia muito bem qual era a intenção dela ao fazer aquele convite. Um dos passatempos favoritos de minha amiga era analisar as pessoas, e eu tinha que admitir que, na maioria das vezes, ela acertava em suas análises.

— Claro, só peça para a Alice me avisar qual dia, que farei questão de vir. — Ele respondeu à Samantha.

— Eu sei que a Alice às vezes é muito esquecida devido a tantas obrigações que ela tem. Você poderia anotar meu número e me dar um toque, aí eu salvo o seu e te aviso quando marcarmos o jantar. — Samantha argumentou.

Samantha era muito habilidosa em obter o que desejava sutilmente. E, após conseguir o que queria, ela pegou Melissa de meus braços e se despediu de nós, entrando em minha casa.

— Desculpe-me pela forma direta da Samantha. Às vezes acredito que ela esteja na profissão errada, devido à maneira como age. Às vezes, até eu tenho dificuldade em acompanhá-la, e olha que estamos juntas desde a época da escola.

— Hum, é ótimo saber disso. Então, se eu quiser descobrir algo sobre você, só preciso perguntar a ela? Estou ansioso por esse convite. — Ele disse, sorrindo.

— Deixa de ser bobo, Hugo. Tenho certeza de que, se você der abertura a Samantha, é mais provável que ela descubra todos os seus segredos antes de você descobrir algo sobre mim. Depois, não diga que eu não avisei.

E nós dois começamos a rir. Ele me encarou intensamente mais uma vez e se aproximou um pouco mais. O sorriso desapareceu do meu rosto enquanto encarava aqueles olhos fascinantes.

Ele levou sua mão até uma mecha solta do meu cabelo e a colocou atrás da minha orelha. Seu rosto se aproximou ainda mais do meu, e sua mão segurou delicadamente meu queixo, me puxando em sua direção.

Senti meu coração acelerar e quase tinha certeza de que Hugo podia ouvir as batidas aceleradas dele. Quando pensei que ele beijaria meus lábios, ele inclinou o rosto e beijou suavemente minha bochecha.

— Infelizmente, preciso ir. Tenho um compromisso logo cedo amanhã. Mas diga a Samantha que estarei aguardando o convite que ela me fez e a Mel que adorei conhecê-la. Estou ansioso para descobrir mais sobre a misteriosa Alice.

— Não tenho nada de misteriosa… apenas prefiro ouvir mais do que falar.

Ele bateu o dedo indicador no meu nariz, como se eu fosse uma garota insolente, e começou a sorrir enquanto entrava no seu carro.

Ele me observou pelo retrovisor e fiquei sem jeito. Em seguida, entrei em minha casa, sendo recebida por uma Samantha contagiante.

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