Eu odeio o natal.
Eu, Isabella Blake, odeio o natal. Ok, talvez não odeie o natal em si. Eu odeio o evento natal. O ato de reunir pessoas para celebrar e criticar o mundo, e eu, sendo o patinho feio da família, sempre sou massacrada. Bem, talvez eu odeie ser massacrada pela minha família? Siiim! Isso sim! Eu nunca fui uma mulher de aparência padrão, diferente de todas as minhas 3 primas. Eu sou baixinha, curvilínea e não herdei nenhum dos genes europeus da minha mãe. Tenho cabelos e olhos comuns, castanhos normais e nenhum traço lindo no meu rosto. Usei aparelho até quase 20 anos e nessa mesma época eu também não era uma mulher muito vaidosa. Eu sempre fui normal e o meu traço mais marcante é que eu sou desastrada, tipo, muito desastrada. Sou capaz de cair mesmo quando estou parada. E isso não mudou. O último natal que passei com a minha família foi em 2019, um mês antes da minha fuga para a Cambridge. Eu nasci e cresci em Nova York e sempre sonhei e estudei para cursar qualquer faculdade em Harvard. Não apenas pela faculdade, mas também pela distância. Eu precisava desesperadamente de distância da minha família. E quando eu consegui, simplesmente não passei nenhum feriado aqui. Nenhum mesmo. Essa é a maior mágoa da minha mãe, afinal, ela teve que escolher entre ir me ver e manter as reuniões de família. Bem, como eu não sou um alecrim dourado, ela escolheu a família. E por isso que estou parada na porta da minha casa, respirando fundo, antes de bater na porta, hoje, 24 de dezembro de 2024. Nada mudou. A minha mãe ainda decora o nosso sobrado com luzes por toda parte, o jardim ainda é minuciosamente cuidado durante todo o ano para esse mês em específico e a guirlanda continua carregando os nomes da minha família. Encaro a guirlanda com o estômago revirado. Paul, Anna, Victor e Bella. Meus pais e o otário do meu irmão. E eu. A família Blake é conhecida pelo formato tradicional, por não se envolver em escândalos e por manter um legado de 4 gerações em um jornal de bairro que está fadado ao fracasso depois da internet. Respiro fundo. Toco a campainha da minha própria casa e respiro fundo de novo. A lasanha nas minhas mãos está começando a ficar gelada por causa dos 6 graus que está fazendo. - FELIZ NATAL! - O ritual não mudou. Meus pais ainda atendem a porta da mesma forma, gritando com os convidados. - Oi pai, oi mãe. - Faz 1 ano que não os vejo, desde a ação de graças do ano anterior, que os dois foram me ver, e leva um segundo inteiro para que eles me reconheçam. - Bella, você está… - O meu pai começa e eu tento não virar os olhos para ele. Sim, estou linda, eu sei. Eu aprendi algumas coisas nesses 4 anos, sobre marketing pessoal. Graças a minha generosa mesada de estudante eu renovei o meu guarda roupa, investi em academia e lutas e criei o hábito de cuidar de mim. Unhas, cabelo, sobrancelha… Coisas assim. E aprendi a me maquiar, o que fez um verdadeiro milagre na minha aparência. - Filha, você está linda! - A minha mãe tira a lasanha das minhas mãos, quase j**a para o meu pai e me envolve com os braços para um abraço de urso. - Feliz natal mãe. - Eu falo quando consigo respirar de novo. Dou um abraço no meu pai, um pouco descoordenada, já que o meu desequilíbrio eu herdei dele, e começo a tirar as camadas de roupas que me cobrem. 6 graus, lembra? - Finalmente você resolveu vir pra casa! - O tom cheio de sarcasmo do meu queridinho irmão me atinge, ele está parado na escada, com os braços cruzados, me encarando com os olhos azuis cheios de raiva. Diferente dos meus pais, ele me ODEIA por nunca voltar pra casa, porque isso o torna o foco, sem a patinha feia para ser massacrada. - Bom te ver também Vi. - Eu respondo com o tom mais educado que consigo para falar com ele. Depois de pendurar o casaco e arrumar o cabelo em frente ao espelho, abro os braços pra ele. Ele me levanta no ar. Lembra que eu disse que não herdei os genes da minha mãe? Bem, o Victor herdou todos. O cabelo loiro, os olhos claros, a beleza clássica europeia e a altura. Mesmo que ele seja 3 anos mais novo que eu, ele é uns 20 centímetros mais alto. - O upgrade não funcionou na sua cara feia. - Ele fala baixinho no meu ouvido. - E você segue com cara de bebe cagão. - A troca de ofensas com ele é fácil, natural. Sempre fomos assim. Mesmo que ele sinta raiva por herdar os meus pais e as cobranças depois que fugi, eu sei o quanto ele me ama. Se bem, que dependendo do dia, ele me odeia na mesma proporção. Depois que ele me coloca no chão percebo a minha mãe observando. - Nada de brigas crianças. - Ela está sorrindo. - Esse ano temos convidados importantes. Ouço o Victor bufar e dou uma risadinha leve. Sigo ela pelo corredor que leva até a sala de estar e assim que passo pela porta encontro a visão do paraíso.Chris- Não é justo. - A minha mãe falou pela enésima vez. - O seu pai te vê todos os dias, eu não. Respirei fundo e dei um gole no scoot na minha mão. Os meus planos esse ano deram errado, claro. Por isso estou nessa reunião de uma família, que eu não conheço. E mesmo que eu culpe diretamente a minha mãe aventureira, que largou o meu pai faz dois anos, eu não quero verbalizar isso. - Mãe, depois da ceia eu vou pra casa, tenho muito trabalho…- Mas, é natal Chris! - Teresa Hale não é conhecida por se dar por vencida com facilidade. - 2 da manhã é o meu limite. - O sorriso dela me diz que por enquanto ela se daria por satisfeita. Quando a minha mãe procurou a mim e ao meu irmão e disse que queria se separar do nosso pai o meu mundo quase explodiu. Claro que isso impactaria tudo o que eu conhecia, inclusive a empresa, mas depois que ela saiu de casa e começou a se dedicar a nova carreira, de escritora, ela parece muito mais jovem e feliz. E eu estou feliz por ela. Mesmo que eu cont
IsaDeus.Essa era a definição do homem que estava parado ao lado da imensa árvore de natal. Pela primeira vez na minha vida eu fiquei feliz com o natal, por quase um minuto inteiro. Eu simplesmente não consegui desviar o olhar. Ele estava distraído, conversando com uma moça em voz baixa, mas tudo nele gritava tesã¢!O cabelo dourado que estava bagunçado, mas que ficava completamente lindo nele. O queixo firme, a boca desenhada, o nariz reto e os olhos escuros. E quando eu decidi olhar o conjunto completo precisei prender a respiração. Ele não era só forte, ele era completamente perfeito. O ombro largo, o peitoral completamente demarcado no suéter vermelho e a calça preta ressalta as coxas grossas. Engoli em seco com a visão. - Você está babando maninha! - A voz do meu irmão me atingiu como se fosse um soco na cara e, felizmente, ninguém pareceu ouvir ou perceber que o meu mundo parou com a visão do homem. Ignorei o Victor e comecei a missão de beijar todos os presentes. Minha m
ChrisA reação dela foi completamente diferente do que eu estava acostumado. Ela quase correu daqui. Tudo bem, eu talvez tenha encarado ela demais, ou segurado a mão dela por mais tempo do que eu deveria? Mas, essa não era a reação que eu esperava. Normalmente as mulheres não saem de perto de mim, depois que tem a chance de se aproximar, e ela praticamente correu… - Anna, a sua filha é solteira? - A pergunta da minha mãe me trouxe para o presente. - Infelizmente. - Ela olhou para a filha com um ar de decepção. - Duvido muito que ela queira se relacionar, ela começa a trabalhar logo, acabou de se formar… A minha esperança era a faculdade. - Eu entendo. - A minha mãe me deu uma olhada significativa. - Anna, por favor. Onde é o toalete? - Eu precisava sair de perto daquela conversa que logo se tornaria sobre mim. - Ali, segunda porta a esquerda, querido. - Caminhei até lá, e aproveitei para olhar a Isabella de costas. Bela bund4! Ela nitidamente não gostava de ser chamada
IsaCortei o pudim antes da hora.FOD4-SE.Eu precisava de glicose, desesperadamente. Rápido demais o evento se tornou normal, logo quando eu estava começando a curtir. Primeiro, o tema jornal quase me fez desmaiar. Eu ainda não tinha contado ao meu pai que eu não iria trabalhar lá. O sonho dele era que eu fosse a primeira mulher a assumir o jornal depois de quase 80 anos, e em algum momento vou precisar comunicar pra ele que não vai rolar.Eu começo no meu novo emprego na segunda quinzena de janeiro, em uma empresa imensa de mkt, em um cargo ok, para alguém que acabou de se formar. Sim, eu fiz publicidade ao invés de jornalismo, e o meu pai não estranhou, afinal, comunicação é comunicação e pronto. Esse legado não deveria ser meu e sim do Victor. Esse era o sonho dele, não o meu. Ele estava fazendo jornalismo para isso, afinal.O assunto evoluiu rápido demais para o meu desequilíbrio para finalmente explodir na minha doença. Desmaiei uma vez no natal. Só uma. Logo que eu descobr
ChrisEu fiquei de p¢u duro! Ainda estava encarando o pudim enquanto as pessoas se serviam, pensando na boca dela, carnuda, vermelha e completamente deliciosa. Eu duvidei que poderia me sentir mais atraído por ela, e precisei pagar para ver. Ela é linda, mas quando sorri fica deslumbrante. E as reações dela são hipnotizantes. Eu deveria ter mordido aquela boca, assim que o biquinho surgiu. Deveria não, eu queria morder. Foi uma boa decisão me afastar, ela é o tipo de mulher encantadora que teria a capacidade de virar o meu mundo de ponta cabeça. - Vou pegar o pavê, antes que a Bella coma. - O Victor levantou. - Se ela desmaiar eu vou embora. - Ouvi a menina maldosa comentar. - Ela não vai desmaiar. - A prima defendeu, a que estava ao lado dela. - Ela se cuida, e você é muito maldosa Luiza. - Ela nunca superou ser trocada pela Bella. - O Jonas atacou. - Eu não fui trocada! - A menina rebateu. - Eu dispensei o Marco, ela pegou porque eu não quis. - Iludida! - A Pri fa
IsaO silêncio na cozinha era uma dádiva. Eu estava lavando os pratos cantando alguma música da Taylor e não me dei conta que não estava mais sozinha. - Acho que o seu lugar favorito nessa casa é a cozinha. - Eu estava torcendo para ele aparecer, depois da reação dele para o meu biquinho. Eu não ia deixar barato, depois que ele me fez perder totalmente o rumo, o que me colocou no modo desastre e ocasionou o banho do meu irmão. O biquinho foi proposital. - Onde está silêncio é o meu lugar preferido nessa casa. - Eu respondi sem olhar para ele.O único aviso da aproximação dele foi a reação do meu corpo. Eu estava sem suéter, mas o calor percorreu as minhas costas como se eu estivesse envolvida em um casaco de lã. - Desastrada e silenciosa? - A respiração dele bateu no meu pescoço e eu me dei conta que ele estava muito perto. - Sou silenciosa em situações especificas. - Virei o rosto e encarei o par de olhos escuros, pretos como carvão, e brilhantes. - Em algumas situações sou ba
ChrisEu preciso me afastar dela o mais rápido possível. Esse era o único pensamento que me permiti ter quando senti o gosto do ciúmes na minha boca.Eu senti esse mesmo impulso descontrolado só uma vez, e quebrei a minha cara e o meu coração. Ela é como um livro aberto, se dá conta do meu afastamento de imediato e eu vejo que isso será imperdoável. Qualquer chance que eu pudesse ter de tocá-la se esvai. Ela é encantadora e cheia de vida.E é um problema, imenso e intenso, que eu não estou disposto a lidar. Que eu não quero ter.Nem hoje e nem nunca. Se eu tivesse certeza que ficaríamos no campo sexu4l, eu a levaria embora agora. Só que eu me importei com ela antes de realmente desejá-la, e isso soou um alarme imenso em mim. Ela é o tipo de mulher que é fácil se envolver, se apaixonar e ajoelhar, propondo um compromisso para toda a vida. Certo, pensar em casamento é um sinal definitivo de que eu preciso ir embora. O caminho até a sala é rápido, mas não mais rápido do que a visão
IsaO fim do ano passa na velocidade de um furacão, e eu passo cada minuto livre pesquisando sobre materiais atuais de mkt e organizando o meu apartamento novo. O Ano Novo foi um borrão, passei por ele apenas por obrigação. A Pri praticamente me jogou na rua e me obrigou a ir na Times Square, e uma hora depois, eu estava na minha cama. Sóbria, cansada e frustrada. E eu não posso esperar mais, terei que encarar o meu pai e destruir o coração dele. E só penso nisso. Bem, nisso e em um certo cara frouxo demais. E mesmo que eu tenha voltado a lutar e descontado cada gota de frustração e carência em movimentos violentos, o meu corpo ainda vibra quando eu penso nele. A Pri falou que estou fascinada pela rejeição, e deve ser isso mesmo. Como é possível um cara que eu vi uma vez na vida, por poucas horas, possa ter causado efeitos fortes assim em mim?O dia amanheceu com uma forte nevasca e eu disse para mim mesma que era um sinal de Deus, que hoje não seria o melhor dia para conversar