Isa
O silêncio na cozinha era uma dádiva.
Eu estava lavando os pratos cantando alguma música da Taylor e não me dei conta que não estava mais sozinha. - Acho que o seu lugar favorito nessa casa é a cozinha. - Eu estava torcendo para ele aparecer, depois da reação dele para o meu biquinho. Eu não ia deixar barato, depois que ele me fez perder totalmente o rumo, o que me colocou no modo desastre e ocasionou o banho do meu irmão. O biquinho foi proposital. - Onde está silêncio é o meu lugar preferido nessa casa. - Eu respondi sem olhar para ele. O único aviso da aproximação dele foi a reação do meu corpo. Eu estava sem suéter, mas o calor percorreu as minhas costas como se eu estivesse envolvida em um casaco de lã. - Desastrada e silenciosa? - A respiração dele bateu no meu pescoço e eu me dei conta que ele estava muito perto. - Sou silenciosa em situações especificas. - Virei o rosto e encarei o par de olhos escuros, pretos como carvão, e brilhantes. - Em algumas situações sou bastante escandalosa. Essa era eu, em uma tentativa terrível de flertar. Os olhos dele abriram um pouco e ele mordeu o lábio, o que me obrigou a arrumar a postura. - Quais são essas situações? - A voz dele estava baixa agora, pouco menos que um sussurro e graças a Deus eu não estava segurando nada, porque sem dúvidas eu derrubaria. - Hum… - Ameacei fazer outro biquinho e os olhos dele correram para a minha boca. - Jogos do Miami Heat, brigas com o meu irmão, trânsito… - Listei em voz alta e depois me aproximei um pouco dele, inclinando perto do ouvido dele. - No sex¢. - Sussurrei. - Isabella! - O meu nome na boca dele era tão doce e perigoso quanto um brigadeiro de panela quente, você quer desesperadamente provar, mesmo que saiba que vai se queimar. - Alguém já te falou que você é muito direta? - Eu me afastei um pouco e olhei para ele de novo. - Bocuda é o termo que normalmente usam… - Eu esclareci. - Dizem que falar o que pensa não é uma qualidade, eu acho uma qual… - Eu perdi a voz, porque a mão dele estava na minha cintura, e ele estava bem perto agora, poucos centímetros separavam a minha boca da dele. - O que eu faço com você? - A pergunta não parecia para mim e mesmo assim, a minha cabeça tinha parado de raciocinar. O calor do corpo dele estava tomando o meu completamente. A mão dele, firme na minha cintura estava me deixando completamente desconcertada, e a boca dele, ali, beijável e perigosa estava me fazendo duvidar da minha sanidade. - Faça o que quiser. - A resposta saiu da minha boca sem que eu planejasse. Com os olhos fixos nos meus ele se aproximou e passou a boca muito de leve na minha e eu abri os lábios, pronta para ele. No segundo seguinte ele se afastou e me soltou, como se tivesse se dado conta do que estava prestes a fazer. - Eu… - Ele começou e eu apoiei as mãos na pia, sentindo uma moleza que não tinha relação nenhuma com a quantidade de vinho que eu tinha tomado. - Se eu encostar em você, não vou parar. Olhei para ele. Ele deu mais um passo para trás. - Péssimo lugar. - Ele explicou. - Tem razão. - Eu estava completamente desconcertada, e o calor dele ainda corria pela minha pele. - Podemos…? - Chrissss - A voz da Luiza ecoou pela cozinha e ela entrou animada, me ignorando completamente. Era claro que ela só teria olhos para ele. - Você já está indo? A sua mãe disse que poderia me dar uma carona… - A voz fina e fingida dela quase me fez vomitar. - Vou em breve. - Ele respondeu, olhando para mim. E acho que a minha prima se deu conta que estava interrompendo alguma coisa, porque ela deu uma risadinha nervosa. - Bella, tem visita para você. - Virei na direção dela, e ali estava, a mágoa que ela carregava fazia anos. Imediatamente eu soube de quem ela falava. Revirei os olhos e suspirei. - Te espero na sala Chris. - Ela falou com a voz fina. - Vou avisar ao Marco que está aqui Bella. A postura do Chris se tornou ameaçadora. Agora ele parecia mais como um Deus predador e assassino do que com um Deus apenas. - Seu ex? - Ele perguntou e encostou na bancada. - Infelizmente. - Eu respondi e virei para ele, esperando que de alguma forma voltássemos ao momento de antes. O meu corpo estava implorando por aquele beijo. - Término recente? - Término dificil. - Expliquei e ele levantou as sobrancelhas, como se quisesse saber mais. - Tivemos algumas recaídas… - Tentei explicar e ele pareceu mais tenso. - Enfim. Estou solteira, ele não aceita, a minha família adora ele… Coisas assim. - Eu estava explicando demais, e ele entendendo de menos. - Entendo. - Ele falou, o tom frio, completamente diferente dos minutos anteriores. - Bem, foi um praz£r, Isabella. Ele saiu e eu fiquei ali, mastigando o meu desejo e a evidente rejeição.ChrisEu preciso me afastar dela o mais rápido possível. Esse era o único pensamento que me permiti ter quando senti o gosto do ciúmes na minha boca.Eu senti esse mesmo impulso descontrolado só uma vez, e quebrei a minha cara e o meu coração. Ela é como um livro aberto, se dá conta do meu afastamento de imediato e eu vejo que isso será imperdoável. Qualquer chance que eu pudesse ter de tocá-la se esvai. Ela é encantadora e cheia de vida.E é um problema, imenso e intenso, que eu não estou disposto a lidar. Que eu não quero ter.Nem hoje e nem nunca. Se eu tivesse certeza que ficaríamos no campo sexu4l, eu a levaria embora agora. Só que eu me importei com ela antes de realmente desejá-la, e isso soou um alarme imenso em mim. Ela é o tipo de mulher que é fácil se envolver, se apaixonar e ajoelhar, propondo um compromisso para toda a vida. Certo, pensar em casamento é um sinal definitivo de que eu preciso ir embora. O caminho até a sala é rápido, mas não mais rápido do que a visão
IsaO fim do ano passa na velocidade de um furacão, e eu passo cada minuto livre pesquisando sobre materiais atuais de mkt e organizando o meu apartamento novo. O Ano Novo foi um borrão, passei por ele apenas por obrigação. A Pri praticamente me jogou na rua e me obrigou a ir na Times Square, e uma hora depois, eu estava na minha cama. Sóbria, cansada e frustrada. E eu não posso esperar mais, terei que encarar o meu pai e destruir o coração dele. E só penso nisso. Bem, nisso e em um certo cara frouxo demais. E mesmo que eu tenha voltado a lutar e descontado cada gota de frustração e carência em movimentos violentos, o meu corpo ainda vibra quando eu penso nele. A Pri falou que estou fascinada pela rejeição, e deve ser isso mesmo. Como é possível um cara que eu vi uma vez na vida, por poucas horas, possa ter causado efeitos fortes assim em mim?O dia amanheceu com uma forte nevasca e eu disse para mim mesma que era um sinal de Deus, que hoje não seria o melhor dia para conversar
ChrisFaz 40 minutos que estou em uma reunião sobre o planejamento do segundo trimestre dos meus principais clientes e não consigo prestar atenção. Simplesmente não consigo. - Chris, os novos funcionários iniciam na segunda, quer que eu assuma os clientes que eles vão tocar?- Perfeito. - Essa tem sido a minha resposta padrão nos últimos dias. O meu irmão já me perguntou 3 vezes se eu estou bem e na verdade estou. Apenas o meu orgulho está sangrando, constantemente.Frouxo! Bufo e os presentes olham para mim. Eu apenas ignoro. - Algum outro tema? - Eu sei que me tornei um saco nos últimos dias, e isso está refletido nos olhos da minha equipe, mas eu simplesmente não consigo me controlar. - Apenas algumas definições comerciais, mas tratamos depois da reunião. - A Joana fala com um sorriso no rosto. Por incrível que pareça, a única que não se assusta com o meu humor doentio é a minha cunhada, até mesmo o meu irmão fica me lançando olhares preocupados conforme o meu comportamento va
IsaEssa era uma conversa que eu deveria ter tido assim que decidi fazer publicidade e não jornalismo. E eu fui covarde demais, não queria magoar o meu pai e isso me trouxe até o momento presente. Estou na recepção do jornal, que vejo agora, está melhor do que eu imaginei. O meu irmão realmente está fazendo um bom trabalho aqui. - Bella? - A secretária geral me dá um abraço caloroso. - Kátia, meu pai tá ocupado? - Ela envolve o braço no meu. - Para você? Nunca! - Eu a acompanho e não demora para ela fazer o discurso que eu ouço faz anos.- Finalmente teremos uma mulher cuidando das coisas por aqui. Eu tenho tantas ideias, que apenas você vai entender. Não me entenda mal, eu admiro muito o seu pai, mas esse lugar precisa de um pouco de vida, você sabe disso… - Eu a deixo falar, até porque, não sei bem como interromper. Eu não sabia há 10 anos e não sei agora. Por isso, apenas assinto e me deixo conduzir até a sala do meu pai. Ele não está, e eu sento para esperar, recuso qualquer
ChrisA minha cunhada realmente tem poderes sobre mim.Ela conseguiu, em uma única conversa, me convencer que eu deveria lidar com a situação Isabella. Em poucos minutos eu descobri mais do que deveria sobre ela. Bastou uma ligação para a minha mãe para saber exatamente onde encontrá-la, e ela me enviou o número do celular dela e o endereço.Fiquei tentado em enviar uma mensagem, mas seja lá o que eu tenha para dizer para ela, precisa ser olho no olho. Então, estou sentado na minha moto, na porta do Blake Journal, que fica bem perto da minha empresa, esperando ela aparecer.Segundo a minha mãe, hoje ela teria uma reunião com o pai, por volta das 10 da manhã. Então, dispensei a minha agenda do dia e estou parado aqui para resolver tudo o que eu preciso com ela e voltar ao normal. 10:12 agora.Bem, a reunião deve demorar cerca de uma hora…Levanto os olhos e preciso segurar o queixo para a minha boca não cair. Assim que ela surge na porta de vidro, quase correndo. Talvez eu tenha esc
IsaEu não procurei entender, apenas aceitar, o fato de que eu estou me sentindo segura nos braços dele. Não tentei entender também como vim parar aqui, apenas aproveito o cuidado que ele toma em me acalmar, enquanto o meu coração doía intensamente. Eu magoei o meu pai e isso parece irreversível. Eu deixei que ele sonhasse com a minha presença aqui, para jogar um balde de água fria na cara dele. Eu poderia ter dito antes, poderia ter dito a anos atrás, mas a cada ano que passava eu tinha menos coragem. - Está mais calma? - Respirei fundo absorvendo aquela voz gostosa, e mesmo relutante, eu me afastei. - Sim, obrigada por… - Eu não sabia bem sobre o que eu deveria agradecer. - Enfim, obrigada.Eu levantei o olhar e finalmente estava no controle das minhas emoções o suficiente para observar a beleza dele. Deveria ser proibido ser tão lindo. - Eu preciso ir… - Falei e ele respirou fundo. - Na verdade, esperava conseguir conversar com você. - Acho que ele viu a dúvida na minha expres
Chris- Terra para Christopher??? - O estalo de dedos na minha cara me informou que o meu irmão tinha dito alguma coisa e eu não tinha prestado atenção. De novo.- Foi mal, Char. Eu to com a cabeça cheia. - Ele respirou fundo e continuou falando. Me forcei a prestar atenção, mesmo que os meus pensamentos continuassem voltando na porcaria da discussão que tive com a Isabella. A discussão que repassei na minha cabeça durante todo o final de semana, e que ainda estava me consumindo. Ela achou que eu estava, deliberadamente, dando em cima dela e que eu a ofendi. Ela distorceu tudo, ficou bravinha e me chamou de frouxo.De novo. - … Por isso quero uma transferência para a minha conta pessoal, de 1 milhão de dólares. - Pisquei e olhei para o meu irmão. Ele estava sorrindo. - Como disse? - Ele revirou os olhos. - Importa mesmo? Qualquer coisa que eu fale você não vai ouvir! - Ele bufou. - A recepção para os novos funcionários será em 20 minutos, tente organizar a sua cabeça até lá. To
IsaNada é capaz de abalar a minha alegria hoje. A minha roupa está perfeita. Um conjunto social cinza, não muito ousado e uma camisa branca. Saltos altos e o cabelo preso em um alto rabo de cavalo. A minha maquiagem está leve e profissional e eu não tropecei nenhuma vez, e graças aos céus, o chão é coberto com carpete, o que assegura que eu não escorregue em mim mesma. Quando recebi a confirmação que eu tinha sido contratada eu fiquei feliz e triste, mas depois de enfrentar o meu pai, hoje, estou radiante. E nenhuma frustração, raiva ou tropeço vai atrapalhar o meu dia. Estou em um auditório enorme, com capacidade para quase 100 pessoas e uma grande mesa de café da manhã está disposta no fundo. No telão está escrito um imenso bem vindo e eu não sou a única. Somos 12, 8 mulheres e 4 homens. E vejo mulheres por todos os lados, o que me diz que a empresa é diversa. Mais um ponto para eles. Depois de passar a sexta afundada no sofá eu decidi que assumiria os caminhos da minha vida.