— Você bateu a porta na minha cara enquanto eu ainda falava com você, então, sim, eu ousei entrar para terminar o que comecei, senhorita Speredo. Respeito próprio é uma via de mão dupla! Alexander estava tão surpreso quanto eu.— Isso foi… Pedro? — Ele sussurrou, o tom incrédulo enquanto seu olhar ainda fixava a porta do banheiro. Balancei a cabeça em confirmação, erguendo a mão para indicar que ele deveria ficar em silêncio. Nosso constrangimento já era iminente assim que saíssemos dali, mas se pudéssemos evitar Pedro como testemunha, seria um pequeno alívio. Alexander entendeu a lógica e, embora não parecesse nada feliz com a situação, manteve-se imóvel. Não que ele estivesse acostumado a se esconder em banheiros, especialmente no quarto da própria irmã. Mas a reputação dele diante dos funcionários claramente valia o desconforto momentâneo. — Que diferença faria se você fosse vê-lo no hospital? — A voz de Pedro reverberou do outro lado da porta, carregada de exasperação. — D
Enquanto caminhávamos de volta para o nosso quarto, Alexander manteve um silêncio que era quase ensurdecedor. Para qualquer outra pessoa, ele pareceria perfeitamente calmo, mas sendo sua esposa, eu sabia que aquele era o tipo de calma que antecedia uma tempestade.Assim que entramos no quarto, ele fechou a porta com uma precisão que parecia calculada demais para ser acidental. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele falou, sua voz baixa e controlada:— Charlotte, ainda agora, você não pareceu surpresa.Eu parei no meio do quarto, minha mão indo automaticamente ao zíper do casaco. Seus olhos estavam fixos em mim, expectantes, como se cada segundo de silêncio fosse um convite para me incriminar. Engoli em seco e me virei para encarar sua figura imponente.— Surpresa? — perguntei, tentando soar confusa. Meu tom não enganava nem a mim mesma. — Alexander, eu… não estou em posição de julgar ninguém. Mas se tenho que ser justa, acho que Pedro não deveria ser responsabilizado. Claramen
Eu deveria estar animada. Quero dizer, meu marido, o iceberg humano, tinha acabado de me convidar para um encontro. Mas, antes que você ache que virei um clichê de comédia romântica, saiba que minha animação tinha camadas — como um bolo. Camadas de expectativas frustradas, memórias desconfortáveis e um leve toque de sarcasmo para finalizar. Assim que desliguei o telefone, me joguei no armário. Literalmente. Meu estoque de roupas chiques, estrategicamente agrupado na seção “presentes caros de Alexander”, parecia uma boa aposta. Acabei optando por um vestido florido. Sempre funciona quando quero parecer mais feminina. Vestidos floridos sempre me lembram da época da faculdade, quando meu guarda-roupa parecia um jardim botânico ambulante. A culpa era do Mattia. Fiz muitas coisas por ele — algumas boas, outras que só podem ser descritas como embaraços monumentais. Por exemplo, foi por causa dele que deixei meu cabelo crescer. Agora, se tem algo que realmente merece elogios no meu corp
Eu não queria continuar me sentindo a mulher mais cruel do planeta, então fiz a única coisa que me ocorreu para desviar o foco. — Alexander, o que aconteceu ontem com Lily e Pedro? Eles deixaram a mansão esta manhã. Tenho certeza de que isso não foi ideia sua. Ele suspirou, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. — Eu não pedi para Pedro sair. Já Lily… — ele hesitou, seus olhos buscando algo que eu não consegui identificar. — Apenas sugeri que ela reconsiderasse sua decisão. — Que decisão? — perguntei, intrigada. — Sobre a proposta do Sr. Dubois. Ah, ouvir histórias de Alexander. Não sei como explicar, mas é como escutar um robô tentando ser poético. Frustrante ao extremo. Trabalhei como jornalista por anos. Já ouvi relatos de pessoas de todas as idades, profissões e níveis de sanidade. Mas nada — nada! — supera a dificuldade de seguir uma história contada pelo meu marido. Ele é vago, seco e detalha só o que ninguém perguntou.Mesmo assim, confesso que minha curio
Como eu não podia simplesmente jogá-lo contra o banco traseiro do carro e beijá-lo até ele perder o fôlego — o que seria meu plano ideal, diga-se de passagem —, fiz a única coisa que parecia apropriada: lembrei-lhe de algo que precisava ser dito. — Eu te amo, Alexander. De verdade. Eu te amo tanto que às vezes me assusta. Ele parou de me olhar como quem estava tentando decifrar algum enigma complicado e, pela primeira vez em horas, seus lábios se curvaram num sorriso genuíno. O humor dele melhorou instantaneamente, e foi a minha vez de me sentir vitoriosa. — Acho que agora fui eu quem te animou, hein? — provoquei, segurando sua mão e entrelaçando meus dedos nos dele. Como se confirmasse minha declaração, Alexander sugeriu um passeio pelo jardim, dessa vez de mãos dadas. E então, para minha completa surpresa, veio a proposta que me fez quase perder o equilíbrio. — Você deve estar com fome. Vamos comer em algum lugar.Agora, sejamos realistas. Não há absolutamente nenhuma chan
Esperar pela comida em silêncio não era problema para mim. Entre admirar a decoração do restaurante e o som relaxante das ondas do mar, eu estava bem entretida. Mas, claro, minha paz tinha que ser interrompida. A batida na porta foi suave, quase educada demais para o ambiente. Quando olhei, vi uma mulher entrar, e minha primeira impressão foi: “Definitivamente não é uma garçonete.” Ela estava impecável. Um terno branco que parecia ter sido feito sob medida, saltos tão altos que me faziam questionar as leis da física, cabelo preso em um rabo de cavalo perfeito, brincos que brilhavam como pequenos faróis de arrogância. E, para meu desgosto absoluto, ela era… parecida comigo. Mas uma versão mais refinada, como se alguém tivesse me redesenhado com um orçamento ilimitado. Ela caminhou com firmeza até nossa mesa, ignorando minha existência como se eu fosse uma planta decorativa. Então, virou-se para Alexander com um sorriso cheio de confiança. — Quanto tempo, Alexander. Como você es
Eu não estava com ciúmes. Pelo menos, era o que eu repetia para mim mesma. O que me incomodava de verdade era que Alexander tinha mentido. E, honestamente, se ele mentiu sobre isso, o que mais poderia estar escondendo?Quando ele voltou à sala, encontrou um cenário digno de comédia absurda: dois guarda-costas sentados nas cadeiras que deveriam ser nossas, devorando o que restava da comida cara, enquanto eu, a esposa, estava em pé ao lado da janela, parecendo uma estátua de segurança contemplativa. Era óbvio que ele não ia reagir bem.— O que está acontecendo aqui? — Alexander perguntou, a voz carregada de autoridade e confusão.Continuei olhando para o mar, ignorando completamente sua presença. Os guarda-costas, claramente desconfortáveis, levantaram-se às pressas e tentaram se justificar. — A senhora nos pediu para comer, senhor. Alexander cruzou os braços e os encarou com uma expressão que fazia o ar ao redor parecer gelar. — Voltem às suas posições. Agora. Assim que os d
Eu queria desaparecer. Preferencialmente em um buraco profundo e bem longe dali. Alexander, como sempre, era um monumento de controle e intimidação. Enquanto Soraya gaguejava sua explicação, eu me concentrava em qualquer coisa para não encará-lo — e os brincos dela brilhavam tanto que poderiam muito bem ser considerados patrimônios da humanidade. Mas Alexander não estava satisfeito. Era óbvio pelo jeito que apertava a mandíbula e cruzava os braços, como se estivesse decidindo se deveria explodir ou ser apenas cirurgicamente cruel. — Alguns dias depois daquele incidente — ele começou, com a voz tão fria que até o ar pareceu congelar —, um colega da faculdade me perguntou se era verdade que eu estava saindo com a herdeira de uma rede de restaurantes. Embora eu não tivesse ideia de quem fosse, procurei você, senhorita Lavoie, para esclarecer as coisas. — Ele se inclinou para ela, sem nunca tirar os olhos da mulher. — Diga à minha esposa exatamente o que eu disse naquele dia. Soraya