Como eu não podia simplesmente jogá-lo contra o banco traseiro do carro e beijá-lo até ele perder o fôlego — o que seria meu plano ideal, diga-se de passagem —, fiz a única coisa que parecia apropriada: lembrei-lhe de algo que precisava ser dito. — Eu te amo, Alexander. De verdade. Eu te amo tanto que às vezes me assusta. Ele parou de me olhar como quem estava tentando decifrar algum enigma complicado e, pela primeira vez em horas, seus lábios se curvaram num sorriso genuíno. O humor dele melhorou instantaneamente, e foi a minha vez de me sentir vitoriosa. — Acho que agora fui eu quem te animou, hein? — provoquei, segurando sua mão e entrelaçando meus dedos nos dele. Como se confirmasse minha declaração, Alexander sugeriu um passeio pelo jardim, dessa vez de mãos dadas. E então, para minha completa surpresa, veio a proposta que me fez quase perder o equilíbrio. — Você deve estar com fome. Vamos comer em algum lugar.Agora, sejamos realistas. Não há absolutamente nenhuma chan
Esperar pela comida em silêncio não era problema para mim. Entre admirar a decoração do restaurante e o som relaxante das ondas do mar, eu estava bem entretida. Mas, claro, minha paz tinha que ser interrompida. A batida na porta foi suave, quase educada demais para o ambiente. Quando olhei, vi uma mulher entrar, e minha primeira impressão foi: “Definitivamente não é uma garçonete.” Ela estava impecável. Um terno branco que parecia ter sido feito sob medida, saltos tão altos que me faziam questionar as leis da física, cabelo preso em um rabo de cavalo perfeito, brincos que brilhavam como pequenos faróis de arrogância. E, para meu desgosto absoluto, ela era… parecida comigo. Mas uma versão mais refinada, como se alguém tivesse me redesenhado com um orçamento ilimitado. Ela caminhou com firmeza até nossa mesa, ignorando minha existência como se eu fosse uma planta decorativa. Então, virou-se para Alexander com um sorriso cheio de confiança. — Quanto tempo, Alexander. Como você es
Eu não estava com ciúmes. Pelo menos, era o que eu repetia para mim mesma. O que me incomodava de verdade era que Alexander tinha mentido. E, honestamente, se ele mentiu sobre isso, o que mais poderia estar escondendo?Quando ele voltou à sala, encontrou um cenário digno de comédia absurda: dois guarda-costas sentados nas cadeiras que deveriam ser nossas, devorando o que restava da comida cara, enquanto eu, a esposa, estava em pé ao lado da janela, parecendo uma estátua de segurança contemplativa. Era óbvio que ele não ia reagir bem.— O que está acontecendo aqui? — Alexander perguntou, a voz carregada de autoridade e confusão.Continuei olhando para o mar, ignorando completamente sua presença. Os guarda-costas, claramente desconfortáveis, levantaram-se às pressas e tentaram se justificar. — A senhora nos pediu para comer, senhor. Alexander cruzou os braços e os encarou com uma expressão que fazia o ar ao redor parecer gelar. — Voltem às suas posições. Agora. Assim que os d
Eu queria desaparecer. Preferencialmente em um buraco profundo e bem longe dali. Alexander, como sempre, era um monumento de controle e intimidação. Enquanto Soraya gaguejava sua explicação, eu me concentrava em qualquer coisa para não encará-lo — e os brincos dela brilhavam tanto que poderiam muito bem ser considerados patrimônios da humanidade. Mas Alexander não estava satisfeito. Era óbvio pelo jeito que apertava a mandíbula e cruzava os braços, como se estivesse decidindo se deveria explodir ou ser apenas cirurgicamente cruel. — Alguns dias depois daquele incidente — ele começou, com a voz tão fria que até o ar pareceu congelar —, um colega da faculdade me perguntou se era verdade que eu estava saindo com a herdeira de uma rede de restaurantes. Embora eu não tivesse ideia de quem fosse, procurei você, senhorita Lavoie, para esclarecer as coisas. — Ele se inclinou para ela, sem nunca tirar os olhos da mulher. — Diga à minha esposa exatamente o que eu disse naquele dia. Soraya
Nem por um momento parei de pensar nele. Sentia falta de Alexander em tudo. Até do irritante “Você está acordada?” que ele dizia toda manhã, mesmo sabendo que eu odiava conversas matinais. Sentia falta de sua frieza calculada, de como ele explicava qualquer coisa com o tom mais seco do planeta. E, sim, até de suas conversas sobre trabalho e da ocasional menção a Olivia, que me deixava desconfortável. Mas, acima de tudo, sentia falta dele. Do seu toque. Dos seus beijos. Da maneira como ele ainda me desejava, mesmo depois de anos de casamento. Apenas um olhar, o menor gesto, e lá estava aquele fogo dele, queimando tudo ao redor. Como não sentir dor quando tudo isso estava fora do meu alcance? Meu coração doía de um jeito insuportável nos últimos dias, e nenhum clichê seria suficiente para descrever o quanto eu estava mal. Então, quando finalmente toquei nele, foi como se algo dentro de mim explodisse. Lágrimas escorreram, e eu me deixei afundar no calor do seu abraço. Adormeci ali
Eu estava afundada no meu desânimo habitual, encarando o jardim como se as árvores pudessem, magicamente, me oferecer algum tipo de iluminação emocional. O mundo parecia mais cinza do que nunca. Então, ouvi alguém chamar meu nome.Quando me virei, encontrei Lily parada ali. Seu olhar avaliador percorreu meu rosto, e antes mesmo de um “oi” educado, ela disparou: — A vovó estava certa, você está horrível. Suspirei, decidindo não cair na provocação. Havia níveis de maturidade que eu ainda tentava alcançar. — Como vai? — perguntei, ignorando seu comentário. Ela se aproximou, sentando ao meu lado com um ar teatralmente cansado. — Já tive dias melhores. — Sua mãe está te dando trabalho? Imagino que ela esteja enlouquecendo com os preparativos do casamento. — Provoquei, tentando arrancar alguma reação que não fosse a de alguém claramente preocupada comigo. Ela ficou em silêncio por um instante, o que era estranho. Depois respondeu, olhando para as árvores como se estivessem con
Quando finalmente chegamos à mesa de Pedro, o rosto dele entregou um espetáculo de emoções que nem ele conseguiu esconder: surpresa, desconforto e, por fim, descontentamento. Era como assistir a um filme mudo. — Que coincidência, senhor Hodiri! Nos encontramos aqui! Como vai? — Lily começou, com aquele tom animado que só ela conseguia usar de maneira quase ameaçadora. — Estou bem, senhorita Speredo. Senhora Speredo, tudo certo? — Sim — respondi, sorrindo de um jeito que deixava claro que a palavra “coincidência” não se aplicava aqui. A mulher ao lado dele, que até então se limitava a um desconforto educado, teve os olhos iluminados assim que Pedro mencionou nossos nomes. A animação dela ao olhar para ele era tão óbvia que até Pedro, com sua postura sempre reservada, captou a mensagem. — Esta é a senhorita Maida Kareem, porta-voz da empresa de entretenimento Jazzy Media — apresentou ele, em um tom formal. — É uma honra conhecê-las, senhorita e senhora Speredo! — respondeu M
Sentindo-me ainda mais desapontada, abri o navegador no celular para entender o alarde. A imprensa, sempre exagerada, me transformou em uma heroína que tentou salvar uma donzela em perigo e acabou gravemente ferida no processo. Algumas manchetes chegaram ao ponto de especular que eu poderia ter sofrido uma lesão grave na cabeça.— Como a mídia ficou sabendo disso? — perguntei, tentando não soar irritada. Minha sogra me lançou aquele olhar gélido que só ela sabia fazer. — O que você esperava? Você é uma figura pública agora. Agir de forma imprudente em um lugar público significa que nem seus guarda-costas podem impedir que as notícias se espalhem. Sorte a sua que nada aconteceu de verdade, ou poderia ter sido muito pior. Antes que eu pudesse rebater — ou me encolher mais na cama — a porta se abriu, e Lily entrou acompanhada do meu sogro. Claro que a primeira coisa que ouviram foi o sermão de minha sogra. Lily caminhou até mim com passos cuidadosos e uma expressão preocupada, ag