Alexander ama sua irmã? Bem, sim, claro. Naturalmente. Não sei dizer se ele ainda guarda algum espaço no coração para os pais, mas Lily? Ah, ela definitivamente ocupa um lugar de destaque.Imagino que crescer com pais egocêntricos e negligentes tenha criado esse vínculo forte entre os dois. Eles confiaram um no outro quando ninguém mais parecia importar-se. Não que eu admire particularmente a dinâmica deles — Alexander não é exatamente o irmão do ano —, mas há algo reconfortante em vê-lo demonstrar preocupação, mesmo que de forma… peculiar. Depois de ser deixada sozinha na sala de jantar, ainda tentando digerir (literalmente e figurativamente) a confissão de Pedro, percebi que precisava sair dali. Meu prato ainda estava pela metade, mas comer parecia impossível. Subi as escadas lentamente, ouvindo ao fundo o som de vozes elevadas. Alexander e Lily estavam discutindo no quarto dela, o que não era novidade. Eu poderia ter parado para ouvir, mas a verdade é que meu corpo clamava por d
Depois de muito tempo em silêncio, tentei quebrar a tensão, mesmo que minha voz soasse mais trêmula do que eu gostaria. — Estou bem, Alexander. É só uma febre, nem sinto nada de maisO olhar dele permaneceu fixo, carregado de preocupação, mas era difícil decifrar se ele estava pensando ou tentando decidir se acreditava em mim.— Você também teve uma febre inexplicável depois do acidente — disse ele de repente, sua voz baixa, quase distante.Alexander fechou a torneira, e o som da água parando ecoou no banheiro silencioso. Seus olhos, que antes me encaravam com a intensidade usual, agora pareciam carregados de algo mais… vulnerabilidade?— Os médicos estavam preocupados na época. Pensavam que podia ser sepse, mas todos os testes deram negativo. No fim, concluíram que era algo psicológico, relacionado ao trauma. — Ele respirou fundo antes de continuar: — Não estou dizendo que sua febre agora seja a mesma coisa, mas... é tão parecido.Seus olhos estavam pesados, e aquilo me incomodava m
Alexander ajeitou o casaco, voltando sua atenção para mim com aquele olhar que sempre conseguia me deixar desconcertada. — Vamos. Vista algo quente e me avise imediatamente se não se sentir bem. Assenti, com um suspiro de resignação, e o segui para fora do quarto. Meu destino de repouso estava oficialmente cancelado. Ao chegarmos ao escritório, o líder da equipe de segurança já nos aguardava, a tensão evidente em sua postura rígida. Mas sua próxima frase jogou um balde de água fria em todos os preparativos de Alexander. — Senhor Speredo, encontramos a senhorita Lily. Ela já está a caminho da mansão. Virei-me imediatamente para Alexander com um olhar que dizia: Sério? Fiz tudo isso pra nada?— Onde ela estava? — ele perguntou, ignorando meu descontentamento óbvio. — A caminho do hospital — respondeu o líder, visivelmente confuso. Franzi o cenho. — Por quê? Ela está doente? — Não há indícios de problemas de saúde, senhora. A senhorita Speredo se recusou a explicar. Esta
— Você bateu a porta na minha cara enquanto eu ainda falava com você, então, sim, eu ousei entrar para terminar o que comecei, senhorita Speredo. Respeito próprio é uma via de mão dupla! Alexander estava tão surpreso quanto eu.— Isso foi… Pedro? — Ele sussurrou, o tom incrédulo enquanto seu olhar ainda fixava a porta do banheiro. Balancei a cabeça em confirmação, erguendo a mão para indicar que ele deveria ficar em silêncio. Nosso constrangimento já era iminente assim que saíssemos dali, mas se pudéssemos evitar Pedro como testemunha, seria um pequeno alívio. Alexander entendeu a lógica e, embora não parecesse nada feliz com a situação, manteve-se imóvel. Não que ele estivesse acostumado a se esconder em banheiros, especialmente no quarto da própria irmã. Mas a reputação dele diante dos funcionários claramente valia o desconforto momentâneo. — Que diferença faria se você fosse vê-lo no hospital? — A voz de Pedro reverberou do outro lado da porta, carregada de exasperação. — D
Enquanto caminhávamos de volta para o nosso quarto, Alexander manteve um silêncio que era quase ensurdecedor. Para qualquer outra pessoa, ele pareceria perfeitamente calmo, mas sendo sua esposa, eu sabia que aquele era o tipo de calma que antecedia uma tempestade.Assim que entramos no quarto, ele fechou a porta com uma precisão que parecia calculada demais para ser acidental. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele falou, sua voz baixa e controlada:— Charlotte, ainda agora, você não pareceu surpresa.Eu parei no meio do quarto, minha mão indo automaticamente ao zíper do casaco. Seus olhos estavam fixos em mim, expectantes, como se cada segundo de silêncio fosse um convite para me incriminar. Engoli em seco e me virei para encarar sua figura imponente.— Surpresa? — perguntei, tentando soar confusa. Meu tom não enganava nem a mim mesma. — Alexander, eu… não estou em posição de julgar ninguém. Mas se tenho que ser justa, acho que Pedro não deveria ser responsabilizado. Claramen
Eu deveria estar animada. Quero dizer, meu marido, o iceberg humano, tinha acabado de me convidar para um encontro. Mas, antes que você ache que virei um clichê de comédia romântica, saiba que minha animação tinha camadas — como um bolo. Camadas de expectativas frustradas, memórias desconfortáveis e um leve toque de sarcasmo para finalizar. Assim que desliguei o telefone, me joguei no armário. Literalmente. Meu estoque de roupas chiques, estrategicamente agrupado na seção “presentes caros de Alexander”, parecia uma boa aposta. Acabei optando por um vestido florido. Sempre funciona quando quero parecer mais feminina. Vestidos floridos sempre me lembram da época da faculdade, quando meu guarda-roupa parecia um jardim botânico ambulante. A culpa era do Mattia. Fiz muitas coisas por ele — algumas boas, outras que só podem ser descritas como embaraços monumentais. Por exemplo, foi por causa dele que deixei meu cabelo crescer. Agora, se tem algo que realmente merece elogios no meu corp
Eu não queria continuar me sentindo a mulher mais cruel do planeta, então fiz a única coisa que me ocorreu para desviar o foco. — Alexander, o que aconteceu ontem com Lily e Pedro? Eles deixaram a mansão esta manhã. Tenho certeza de que isso não foi ideia sua. Ele suspirou, como se carregasse o peso do mundo nos ombros. — Eu não pedi para Pedro sair. Já Lily… — ele hesitou, seus olhos buscando algo que eu não consegui identificar. — Apenas sugeri que ela reconsiderasse sua decisão. — Que decisão? — perguntei, intrigada. — Sobre a proposta do Sr. Dubois. Ah, ouvir histórias de Alexander. Não sei como explicar, mas é como escutar um robô tentando ser poético. Frustrante ao extremo. Trabalhei como jornalista por anos. Já ouvi relatos de pessoas de todas as idades, profissões e níveis de sanidade. Mas nada — nada! — supera a dificuldade de seguir uma história contada pelo meu marido. Ele é vago, seco e detalha só o que ninguém perguntou.Mesmo assim, confesso que minha curio
Como eu não podia simplesmente jogá-lo contra o banco traseiro do carro e beijá-lo até ele perder o fôlego — o que seria meu plano ideal, diga-se de passagem —, fiz a única coisa que parecia apropriada: lembrei-lhe de algo que precisava ser dito. — Eu te amo, Alexander. De verdade. Eu te amo tanto que às vezes me assusta. Ele parou de me olhar como quem estava tentando decifrar algum enigma complicado e, pela primeira vez em horas, seus lábios se curvaram num sorriso genuíno. O humor dele melhorou instantaneamente, e foi a minha vez de me sentir vitoriosa. — Acho que agora fui eu quem te animou, hein? — provoquei, segurando sua mão e entrelaçando meus dedos nos dele. Como se confirmasse minha declaração, Alexander sugeriu um passeio pelo jardim, dessa vez de mãos dadas. E então, para minha completa surpresa, veio a proposta que me fez quase perder o equilíbrio. — Você deve estar com fome. Vamos comer em algum lugar.Agora, sejamos realistas. Não há absolutamente nenhuma chan