Durante o almoço, a atmosfera estava tão carregada que parecia que uma explosão iminente estava prestes a acontecer. E, para minha surpresa, não fui a única a notar a estranha proximidade entre Nadir e Alexander. Minha avó, como sempre, mostrou sua habilidade inigualável de transformar um momento tenso em algo desconfortável, compartilhando suas opiniões com uma franqueza que beirava o constrangimento.— Seu tio deve estar vivendo uma vida difícil, afinal, ele fez uma menina com mãe viver como órfã — disparou ela, enquanto servia mais uma porção de batatas no meu prato. — Seu tio está tratando bem a esposa? Deixou a filha por causa dele? Até os gatos são mães melhores do que algumas mulheres hoje em dia.Nadir, que até então parecia imperturbável, finalmente cedeu. Ele pousou os talheres, limpou a garganta e respondeu de forma seca:— Eles estão divorciados.O silêncio que se seguiu foi ensurdecedor. Eu, que estava prestes a dar uma mordida no pão, congelei no lugar. Era como se o tem
Lily levantou-se abruptamente e saiu do jardim, deixando todos para trás. O som de seus passos ecoando no piso foi a única coisa que restou após sua partida. Finalmente, reuni coragem suficiente para olhar para Pedro. Ele estava sentado, encarando o chão como se o padrão do tapete fosse o mistério mais profundo que já encontrara. Para alguém desavisado, poderia parecer apenas distração. Mas eu sabia. Sabia o que ele sentia. E aquela calma aparente era quase insuportável de assistir. O silêncio dele gritava mais alto que qualquer coisa naquela sala. Talvez eu seja egoísta na maioria das vezes — admito isso sem problemas. Mas há momentos, como este, em que não consigo ignorar o sofrimento de outra pessoa. Não quando está tão evidente.Levantei-me rapidamente, decidida a intervir. Enquanto caminhava em direção à mansão para encontrar Lily, chamei um dos empregados. — Informe ao Pedro que o líder da equipe de segurança precisa falar com ele sobre um assunto urgente. — Minha voz foi
A porta da sala de jantar se abriu de repente, revelando Alexander entrando com passos firmes, seguido por Pedro. Eu quase deixei cair o garfo de tão surpresa. Ele havia insistido que voltaria tarde, alegando estar sobrecarregado de reuniões. — Já terminou suas reuniões? — perguntei, cruzando os braços enquanto ele se sentava ao meu lado com uma tranquilidade que só ele conseguia exibir em momentos de caos. Ele assentiu, verificando o relógio em seu celular antes de lançar um olhar crítico ao meu prato intocado. — As estradas estavam congestionadas. Caso contrário, teríamos chegado mais cedo. — Seus olhos voltaram ao meu prato. — Vejo que não estamos atrasados para o jantar. Você ainda nem começou a comer. Minha avó, com seu radar afiado para intervenções desnecessárias, não perdeu a oportunidade. — Não, você está atrasado, sim! Eu sou uma devoradora lenta e meu prato já está vazio! — Ela apontou o garfo como uma adaga. — As jovens de hoje em dia são fracas de coração. Basta
Alexander ama sua irmã? Bem, sim, claro. Naturalmente. Não sei dizer se ele ainda guarda algum espaço no coração para os pais, mas Lily? Ah, ela definitivamente ocupa um lugar de destaque.Imagino que crescer com pais egocêntricos e negligentes tenha criado esse vínculo forte entre os dois. Eles confiaram um no outro quando ninguém mais parecia importar-se. Não que eu admire particularmente a dinâmica deles — Alexander não é exatamente o irmão do ano —, mas há algo reconfortante em vê-lo demonstrar preocupação, mesmo que de forma… peculiar. Depois de ser deixada sozinha na sala de jantar, ainda tentando digerir (literalmente e figurativamente) a confissão de Pedro, percebi que precisava sair dali. Meu prato ainda estava pela metade, mas comer parecia impossível. Subi as escadas lentamente, ouvindo ao fundo o som de vozes elevadas. Alexander e Lily estavam discutindo no quarto dela, o que não era novidade. Eu poderia ter parado para ouvir, mas a verdade é que meu corpo clamava por d
Depois de muito tempo em silêncio, tentei quebrar a tensão, mesmo que minha voz soasse mais trêmula do que eu gostaria. — Estou bem, Alexander. É só uma febre, nem sinto nada de maisO olhar dele permaneceu fixo, carregado de preocupação, mas era difícil decifrar se ele estava pensando ou tentando decidir se acreditava em mim.— Você também teve uma febre inexplicável depois do acidente — disse ele de repente, sua voz baixa, quase distante.Alexander fechou a torneira, e o som da água parando ecoou no banheiro silencioso. Seus olhos, que antes me encaravam com a intensidade usual, agora pareciam carregados de algo mais… vulnerabilidade?— Os médicos estavam preocupados na época. Pensavam que podia ser sepse, mas todos os testes deram negativo. No fim, concluíram que era algo psicológico, relacionado ao trauma. — Ele respirou fundo antes de continuar: — Não estou dizendo que sua febre agora seja a mesma coisa, mas... é tão parecido.Seus olhos estavam pesados, e aquilo me incomodava m
Alexander ajeitou o casaco, voltando sua atenção para mim com aquele olhar que sempre conseguia me deixar desconcertada. — Vamos. Vista algo quente e me avise imediatamente se não se sentir bem. Assenti, com um suspiro de resignação, e o segui para fora do quarto. Meu destino de repouso estava oficialmente cancelado. Ao chegarmos ao escritório, o líder da equipe de segurança já nos aguardava, a tensão evidente em sua postura rígida. Mas sua próxima frase jogou um balde de água fria em todos os preparativos de Alexander. — Senhor Speredo, encontramos a senhorita Lily. Ela já está a caminho da mansão. Virei-me imediatamente para Alexander com um olhar que dizia: Sério? Fiz tudo isso pra nada?— Onde ela estava? — ele perguntou, ignorando meu descontentamento óbvio. — A caminho do hospital — respondeu o líder, visivelmente confuso. Franzi o cenho. — Por quê? Ela está doente? — Não há indícios de problemas de saúde, senhora. A senhorita Speredo se recusou a explicar. Esta
— Você bateu a porta na minha cara enquanto eu ainda falava com você, então, sim, eu ousei entrar para terminar o que comecei, senhorita Speredo. Respeito próprio é uma via de mão dupla! Alexander estava tão surpreso quanto eu.— Isso foi… Pedro? — Ele sussurrou, o tom incrédulo enquanto seu olhar ainda fixava a porta do banheiro. Balancei a cabeça em confirmação, erguendo a mão para indicar que ele deveria ficar em silêncio. Nosso constrangimento já era iminente assim que saíssemos dali, mas se pudéssemos evitar Pedro como testemunha, seria um pequeno alívio. Alexander entendeu a lógica e, embora não parecesse nada feliz com a situação, manteve-se imóvel. Não que ele estivesse acostumado a se esconder em banheiros, especialmente no quarto da própria irmã. Mas a reputação dele diante dos funcionários claramente valia o desconforto momentâneo. — Que diferença faria se você fosse vê-lo no hospital? — A voz de Pedro reverberou do outro lado da porta, carregada de exasperação. — D
Enquanto caminhávamos de volta para o nosso quarto, Alexander manteve um silêncio que era quase ensurdecedor. Para qualquer outra pessoa, ele pareceria perfeitamente calmo, mas sendo sua esposa, eu sabia que aquele era o tipo de calma que antecedia uma tempestade.Assim que entramos no quarto, ele fechou a porta com uma precisão que parecia calculada demais para ser acidental. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele falou, sua voz baixa e controlada:— Charlotte, ainda agora, você não pareceu surpresa.Eu parei no meio do quarto, minha mão indo automaticamente ao zíper do casaco. Seus olhos estavam fixos em mim, expectantes, como se cada segundo de silêncio fosse um convite para me incriminar. Engoli em seco e me virei para encarar sua figura imponente.— Surpresa? — perguntei, tentando soar confusa. Meu tom não enganava nem a mim mesma. — Alexander, eu… não estou em posição de julgar ninguém. Mas se tenho que ser justa, acho que Pedro não deveria ser responsabilizado. Claramen