E quando entrou correndo não observou direito, então trombou com seu pai. Dimitry segurou seus ombros, evitando que ela caísse.
— Calma querida, para que tanta pressa? O que houve? Por que você está chorando? Ela abriu a boca para contar. Para gritar a verdade. Mas ao olhar para fora, viu o carro de Viktor se aproximando. Seu coração congelou. — Não se preocupe pai. Falou ela forçando um sorriso, tentando esconder a verdade. — é coisa de menina, estou apenas sentindo uma leve dorzinha aqui e preciso correr para o meu quarto. — Falou ela, fazendo gestos enquanto tocava a própria barriga. O seu pai sorriu-lhe, sem jeito, enquanto Viktor se aproximava por trás dele, e lançou a ela um olhar frio de alerta. Dmitry então disse: — Eee, filha, então se é coisa de menina, papai é um completo ogro. Mas a sua mãe já chegou do trabalho. Vou falar com ela para te ajudar. Mas olha, se estiver com muita dor, posso te levar ao médico, meu anjo. Falou ele, ainda preocupado. — Não, pai, não é necessário. Só preciso de um descanso. Já vai passar. Não se preocupe! Disse ela, saindo de lá apressadamente, Dmitry sorriu suavemente, imaginando que por ser coisa de menina ela não queria falar com ele, sem imaginar que na verdade o próprio diabo estava atrás dele, e era dele que Malú fugia. Porém, enquanto subia as escadas, chorava por se sentir tão fraca e tão covarde e se calar diante daquele monstro. E antes de entrar no seu quarto, ela ainda ouviu a forma cordial como ele cumprimentou o seu pai, enquanto Dmitry demonstrava estar feliz com a sua presença, sem sequer imaginar o monstro que ele era. — Dmitry, que prazer revê-lo! Como está a família? Seu pai, sem suspeitar de nada, respondeu animado, demonstrando alegria com a presença daquele monstro. Malú sentiu um aperto no peito, as pernas trêmulas mal conseguiam sustentá-la, mas ela não podia parar. Subiu os degraus às pressas, com o coração despedaçado e os olhos marejados, tentando ignorar o fato de que Viktor ainda estava ali, se infiltrando na sua vida, manipulando tudo ao seu redor. Ela entrou no quarto e trancou a porta. Encostou-se nela, deslizando até o chão, enquanto o peso do medo esmagava seu peito. Abraçou os próprios joelhos, sentindo as lágrimas quentes deslizarem pelo rosto. E, pela primeira vez, permitiu-se sussurrar para si mesma: — Por que, não tenho coragem de falar nada para os meus pais? Por que tenho tanto medo de Viktor? Queria muito contar para eles, porém já sabia a resposta às suas perguntas. Temia por seus pais e era por isso que não contava nada a eles. Somente ela sabia realmente quem ele era. Seus pais jamais perceberam a maldade por trás da sua aparência cortês e educada. De volta ao presente… Naquele pequeno apartamento abafado, Malú sentiu uma onda de desespero e fúria crescer dentro dela. O medo sempre esteve ali, espreitando, mas ela não fugiria mais. Precisava encontrar um jeito de derrotar Viktor. Malú olhou ao redor, encarando as paredes sujas e os móveis velhos, observa a luz fraca do amanhecer que mal penetrava pela única janela do cômodo que além das cortinas feias e encardidas, ainda era bloqueada por um muro de concreto que impossibilitava tanto a visão como o ar de entrar por ela, tornando aquele ambiente ainda mais pesado, e inapropriado para uma criança. Porém, infelizmente era a única coisa que havia conseguido com seu pouco dinheiro. Ela beijou novamente a testa de May, ouviu o colchão que ficava no canto do cômodo ranger sob o seu peso. — Eu prometo, meu amor, isso vai acabar! — falou ela sorrindo para a garotinha A garotinha sorriu inocentemente lhe sorriu de volta, sem entender a gravidade das palavras dela. O estômago de Malú apertou. Pois infelizmente sabia que não podia enfrentar Viktor sozinha. Precisava de ajuda. Precisava de dinheiro. Precisava proteger a si mesma e a pequena May. Suspirando, voltou a se concentrar nela, ajeitando as roupinhas gastas da menina e penteando seus cabelos macios. Mesmo naquele lugar sufocante, a criança parecia brilhar como um raio de esperança, era como se fosse a sua pequena luz. — Agora sim, meu amor — sorriu Malú, forçando-se a acreditar em suas próprias palavras. — Finalmente poderemos ser felizes. Ela já havia feito amizade com a dona do local, a senhora Moreira, uma mulher de pele enrugada e olhos gentis. A senhora observava Malú com compaixão. Enquanto mexia algumas coisas em sua pequena cozinha apertada. Naquela ambiente Malú podia sentir o cheiro de café fresco e pão amanhecido que pairava no ar, enquanto conversavam, porém podia também sentir uma sensação acolhedora de paz. — Estou procurando emprego — disse Malú, hesitante. — Ainda não sou formada, mas aceito qualquer coisa. Faxineira, doméstica… só preciso de dinheiro para cuidar da minha pequena. A velha senhora franziu os lábios, pensativa, enquanto mexia o café em uma xícara de louça lascada. — Querida, soube que o hotel aqui perto está contratando arrumadeiras. Talvez consiga algo lá. O coração de Malú acelerou. — Acha que me aceitariam? — Não custa tentar. E, se conseguir, posso te ajudar com a menina nos primeiros meses, até você encontrar alguém para ficar com ela enquanto você trabalha. Malú sentiu um nó se formar em sua garganta. — Senhora Moreira, eu… nem sei o que dizer. A senhora conhece-me há tão pouco tempo e já está sendo tão legal comigo? A idosa sorriu, um sorriso cheio de histórias e cicatrizes. — Sei bem como é ser mãe solo, menina. Já passei por isso, mas também tive muita ajuda de amigos. Agora é minha vez de ajudar, pois percebo o quanto cuida bem da sua filha! Malú sorriu novamente e disse agradecida. — Obrigada, senhora Moreira. Então, realmente irei amanhã! — falou ela, com as esperanças renovadas. — Tente. Se não conseguir, não desista. Tente falar diretamente com o dono. Foi assim que Fabiana, a filha da dona Marta, conseguiu. Ela disse que esse senhor é muito compreensivo e bom. Parece que ele também veio de baixo e compreende nós, os pobres. Coisa muito rara de se ver hoje em dia! No dia seguinte, ao acordar, Malú notou que ainda eram seis da manhã, então bem antes do sol nascer completamente Malú se arrumou, vestiu sua melhor roupa — uma blusa simples e calça jeans desbotada — e saiu em busca da vaga. O vento gelado da manhã cortava sua pele, e ela apertou May contra o peito, protegendo-a do frio.Ao chegar ao hotel, um prédio imponente de vidro e mármore, foi direto ao setor de Recursos Humanos. O corredor tinha um cheiro forte de produtos de limpeza e café requentado. Porém, quando foi falar com o encarregado do RH, um sujeito de rosto severo e terno engomado, nem esperou que ela explicasse.— Impossível trabalhar aqui com uma criança. No colo!O coração de Malú afundou. Mas apesar de ter ficado inicialmente triste, ela não desistiria, falaria diretamente com o dono. E se o rapaz do RH não escutaria talvez o dono a escutasse, assim como a senhora Moreira falou. Iria explicar-lhe que daria um jeito e que não levaria a pequena com ela, enquanto estivesse trabalhando. Pois, o rapaz do RH não lhe deu nem oportunidade de lhe explicar direito, já foi logo dispensado-a.Ela soube então que o dono estaria lá à noite. Resolveu que insistiria. Por isso, quando deu nove horas, Malú voltou novamente ao hotel, dessa vez pela entrada principal. O saguão era luxuoso, com lustres brilhantes
Malú sentiu o coração disparar ao perceber que o carro estava em movimento, e provavelmente já havia saído do estacionamento. Afinal, ela podia ouvir o barulho de outros carros à sua volta, o suave balanço da estrada, o som abafado de motores roncando ao redor e as buzinas esporádicas confirmavam que não estavam mais no estacionamento. A angústia apertava seu peito como um laço se fechando. Seu primeiro impulso foi gritar, pedir para parar, mas rapidamente descartou a ideia. Se o motorista fosse o dono do carro, poderia pensar que ela era uma ladra tentando se esconder. E, pior ainda, os homens de Viktor podiam estar nas proximidades. Seu desaparecimento não passaria despercebido por muito tempo, e se a encontrassem... não queria nem imaginar. Sentindo o suor frio escorrer por sua testa, fechou os olhos, então começou a orar pela ajuda de Deus. "Deus, por favor! Nos ajude!", sussurrou baixinho: — Deus, por favor! Nos ajude! No escuro do porta-malas, Malú tentou acalmar a r
Enquanto dirigia suavemente lembrou que quando chegou à festa, Alexandre perguntou se ele havia realmente comprado o carro que tanto desejava, pois sabia do alto valor do tal carro. Mas já sabia a resposta, afinal conhecia a paixão de Ravi por carros modernos e caros. Ao olhar para o painel do carro e todo o seu interior, Ravi levantou a sobrancelha e sorriu, ao lembrar o que conversou algumas horas atrás com Alexandre: — Sim, e ainda está com cheirinho de carro novo! — Se continuar assim, não sei onde irá conseguir estacionamento para tantos carros? — Também não é assim, amigo — respondeu Ravi. — Comprei esse por algo em especial que os outros não têm. — E o que seria? — Perguntou curioso o seu amigo. — Espaço... e conforto — murmurou, lembrando-se do motivo pelo qual havia escolhido aquele modelo específico. — Sou uma pessoa bastante espaçosa e preciso disso para me sentir realmente confortável. Além disso, o vendedor me mostrou o quanto ele era moderno, de toque automático e
Porém, naquele momento pensando rápido, Malú apertou os lábios e, com um leve tremor na voz, respondeu em russo: — Извините, господин, я не понимаю, что вы говорите. (Desculpe, senhor, não compreendo o que diz.) Ravi piscou, de queixo caído, pensou: " Russo?! A garota está falando em russo? É isso mesmo, ou estou ficando louco?" Ele se inclinou ligeiramente para frente, os olhos fixos nela. A mulher, por sua vez, deu um passo para trás instintivamente, apertando ainda mais o bebê contra o peito, e olhando em todas as direções, parecia estar procurando uma possível rota de fuga. Mas Ravi sabia que era impossível ela sair de lá, visto que o portão já estava fechado, e na frente havia três seguranças. No entanto, ela também tentava proteger o bebê do vento e da garoa que havia ficado depois da chuva, enquanto balançava o bebê que gradativamente calou-se. Por isso, Ravi falou novamente: — Perguntei quem é você e ainda não ouvi sua resposta! E novamente ela falou em russo, di
Um arrepio percorreu sua pele quando percebeu que estranho também estava acordando. Ele abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de focar nela. Um sorriso suave curvou seus lábios, e, ao contrário do que esperava, sua expressão não demonstrava ameaça, apenas um misto de curiosidade e gentileza. — Bom dia, senhorita! Por favor, não precisa ter medo. Está segura aqui. Está se sentindo melhor? — perguntou Ravi, a sua voz estava ainda rouca pelo sono, mas ainda assim firme e acolhedora. Malú engoliu em seco, porém a sua garganta seca dificultava a sua fala naquele momento. O medo ainda pulsava em suas veias, principalmente ao lembrar-se da ameaça anterior dele de chamar a polícia, ela inicialmente ficou sem saber o que responder. Não entendia por que ele estava sendo tão gentil agora. Mas a preocupação com May era maior, por isso respondeu: — Bom dia si... sim estou! — murmurou ela hesitante. Seus olhos não desgrudavam da pequena que estava nos braços dele, seu instin
Naquele momento, ao sentir o olhar afiado de Ravi a tensão de Malú era visível, ela engoliu em seco ao ouvir as palavras dele, sentindo seu coração acelerar. O olhar firme dele a atravessava como se pudesse ver além das suas palavras hesitantes, Ravi a encarou e respondeu com franqueza: — É visível que está fugindo de alguém, porém, tenho toda a certeza de que não é da polícia. Malú sentiu um frio na espinha. Apertou instintivamente os dedos contra a barra do lençol que ainda a cobria. — Por que diz isso? — Sua voz soou mais fraca do que ela gostaria. Ravi inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos, sem desviar o olhar. — Porque esse alguém a machucou. Muito. E, pelo jeito, ainda quer machucá-la. Ela arregalou os olhos e, sem perceber, segurou a respiração. A mente dela disparava, tentando encontrar uma resposta convincente. — Não, senhor Castellani, acredite está enganado, não é bem assim eu... eu estava fugindo sim, mas não… — começou a dizer M
Malú corou e murmurou um "obrigada", ainda sentindo-se deslocada. Porém, gostou muito de Gabriela e percebeu que May olhava a todos com os olhinhos curiosos, como se já os conhecesse também. Então, baixando a cabeça, falou envergonhada: — Podem me chamar somente de Malú! — Agora que estamos todos apresentados, posso te chamar só de Malú também? — perguntou Ravi. Ela hesitou, então baixou a cabeça e falou num fio de voz: — Sim, Pode sem problemas… — Ótimo! Prefiro assim, Malú. Também pode me chamar somente de Ravi — falou ele, sorrindo. Camila então falou: — Quanto a mim, prefiro Cami. Mas diga-me, Malú, está melhor? — Sim, senhora estou e... aham... poderia ajudar-me a fazer algo para a minha bebê comer? Ela está com fome e... — Claro, Gabriela pode ajudá-la?! — disse Camila. — Sim, claro! Venha, vamos ver o que temos na geladeira de bem nutritivo para essa garotinha ficar ainda mais forte! — falou Gabriela, olhando para a bebê que já estava novamente no colo de
Ravi notou o silêncio dela por alguns instantes, como se estivesse lutando contra seus próprios pensamentos. Com delicadeza, ela pegou a garotinha dos braços dele, beijando-lhe a cabecinha adormecida. Sentiu a leveza do corpinho infantil se aconchegando e, então, tentou lhe dar uma justificativa aceitável: — Por causa de May. Acredito que o interior seja um lugar melhor para criá-la.Mas Lara Ravi aquelas palavras soaram falsas. Percebeu no mesmo instante que era uma mentira. Não uma mentira qualquer, mas uma que parecia gritar por socorro. Era como se conseguisse enxergar através dela, como se a conhecesse há anos e cada uma de suas mentiras estivesse escrita em sua expressão. Ravi se inclinou ligeiramente para frente, fitando-a com intensidade. — E sobre seu patrão abusivo? Não pretende procurar seus direitos? Posso te ajudar com isso, conheço bons advogados trabalhistas… Malú balançou a cabeça apressadamente, quase como um reflexo automático. — Não! Não é necessário. Já decid