Enquanto dirigia suavemente lembrou que quando chegou à festa, Alexandre perguntou se ele havia realmente comprado o carro que tanto desejava, pois sabia do alto valor do tal carro. Mas já sabia a resposta, afinal conhecia a paixão de Ravi por carros modernos e caros.
Ao olhar para o painel do carro e todo o seu interior, Ravi levantou a sobrancelha e sorriu, ao lembrar o que conversou algumas horas atrás com Alexandre: — Sim, e ainda está com cheirinho de carro novo! — Se continuar assim, não sei onde irá conseguir estacionamento para tantos carros? — Também não é assim, amigo — respondeu Ravi. — Comprei esse por algo em especial que os outros não têm. — E o que seria? — Perguntou curioso o seu amigo. — Espaço... e conforto — murmurou, lembrando-se do motivo pelo qual havia escolhido aquele modelo específico. — Sou uma pessoa bastante espaçosa e preciso disso para me sentir realmente confortável. Além disso, o vendedor me mostrou o quanto ele era moderno, de toque automático e veloz. E com todo aquele espaço, ele se torna excelente para passear com uma gata, ou quem sabe duas! Afinal, o papai aqui tem o coração tão espaçoso quanto o seu próprio carro! Alexandre deu uma enorme gargalhada. E Ravi ria ao lembrar as gargalhadas do seu amigo, mas realmente nunca escondeu de ninguém quais eram as suas duas maiores paixões: "Carro e mulher!" Pensou ele. E enquanto recordava tudo aquilo manobrava suavemente o carro para fora do estacionamento. Estava ansioso para chegar em casa e relaxar. Porém, enquanto seguia por uma via um pouco movimentada, foi que ele percebeu algo que o fez franzir a testa. Um cheiro adocicado e inesperado se espalhou pelo carro. Ravi respirou fundo, tentando identificar o aroma. Não era couro, nem o cheiro característico do motor. Era algo mais sutil, envolvente... — Perfume de morango? — sussurrou ele. Virou a cabeça levemente, tentando localizar a origem do cheiro. Ravi franziu a testa, tentando lembrar se havia pedido para o seu motorista comprar algum perfume novo para o carro. Mas não se lembrava de nada. Então, de onde vinha aquele perfume? O sinal vermelho fez Ravi reduzir a velocidade. Por reflexo, olhou pelo retrovisor, franzindo o cenho ao perceber que o perfume doce ainda impregnava o ar dentro do carro. Não era um aroma qualquer—era feminino, envolvente, como morangos frescos misturados com um toque suave de baunilha. Ele inspirou novamente, ao sentir a fragrância se intensificar. "Será que algum ladrão, ou melhor, ladra entrou no meu carro?", pensou enquanto olhava em todas direção do interior do carro pra ver se não havia nenhum frasco de perfume lá. Mas descartou a ideia imediatamente. O sistema de segurança não havia acusado nenhuma invasão, e o estacionamento do prédio possuía câmeras. Se algo suspeito tivesse acontecido, ele já teria sido avisado. Além disso, não havia qualquer sinal de arrombamento. O sinal abriu, e ele seguiu adiante, mas o incômodo permaneceu. Havia algo errado. Cerca de uma hora depois, ao entrar na propriedade de sua mansão, ele ainda não conseguia se livrar da estranha sensação. O longo caminho até a entrada principal estava escuro, iluminado apenas pelas discretas luzes do jardim, e a garoa fina que sobrara da tempestade anterior ainda umedecia a estrada de pedras. Foi quando um som inesperado cortou o silêncio. O corpo de Ravi tencionou. Ele pisou no freio de uma vez, o carro deslizou alguns centímetros antes de parar completamente. "Ouvi certo?" Se perguntou ele com um olhar tenso e fixo no espelho retrovisor. Então o som veio de novo, um choro abafado e trêmulo. Dessa vez, o som estava um pouco mais claro. — É um... choro de bebê realmente! — Confirmou ele aborrecido e incrédulo, enquanto sentia o seu coração acelerar, e uma corrente de adrenalina disparar por suas veias, misturando raiva e indignação. Ainda parado dentro do carro pensou: "Seria realmente possível alguém ter colocado um bebê dentro do meu porta-malas?” Porém o choro que veio, baixo inicialmente, em questão de segundos, se tornou um grito claro e desesperado. — O que diabos estava acontecendo? — sussurrou ele. Sem perder tempo, saiu do carro e caminhou até a traseira, cada passo dele que ecoava no silêncio da noite misturado a umidade do ar tornava a atmosfera pesada, bem como tudo muito inusitado. Porém ao ouvir o choro infantil com ainda mais nitidez, Ravi sentiu o seu coração bater acelerado enquanto se aproximava da traseira do carro. Com a mão firme, hesitou por um instante antes de abrir o porta-malas. Engolindo em seco, destravou-o. A tampa se ergueu suavemente, revelando uma visão que fez seu corpo congelar... E seus olhos se arregalar, enquanto fixava-se na figura dentro do compartimento, e por um momento, sua mente recusou-se a processar o que via. Uma jovem mulher, encolhida, segurava um bebê contra o peito. Seus olhos verdes estavam arregalados, refletindo um misto de medo, alívio e confusão. O bebê, de pele rosada e cabelos escuros, chorava com desespero, as mãozinhas pequenas se fechando e abrindo freneticamente. Ravi piscou, tentando se convencer de que não estava delirando. Seu cérebro lutando para juntar as peças. "Como isso é possível?!", pensou. A mulher diante dele respirava ofegante, segurando a criança com força, como se o pequeno corpo frágil fosse sua única âncora na realidade. Mas algo mais capturou sua atenção — o perfume. Era dela. O mesmo cheiro doce que o atormentara durante todo o trajeto. Por um instante, o tempo pareceu desacelerar. Ele observou cada detalhe da desconhecida. Os cabelos longos e escuros grudados na pele úmida, a roupa amarrotada, os lábios trêmulos. Seus olhos, grandes e expressivos, eram idênticos aos do bebê. Quando Malú ainda dentro do porta malas do carro viu o dono observando-a com um olhar totalmente incrédulo, foi como se seu mundo tivesse parado. Na sua mente, criou-se um misto de medo e alívio: medo porque não sabia qual seria o próximo passo dele, alívio por ter saído daquele sufoco e poder sentir a pequena finalmente se consolar em seus braços Por outro lado, para Ravi também não era diferente. Diante dos seus olhos, ele viu uma bela mulher de olhos verdes e assustados sair do seu porta-malas com um bebê. Tudo parecia tão irreal. Quando a mulher toda encolhida saiu de vez do porta-malas com o bebê no colo. Ele piscou novamente, afastando o torpor e perguntou: — Quem é você? — Sua voz saiu firme, mas sem agressividade. — O que faz no meu carro? E como conseguiu entrar? A mulher o encarou com uma mistura de espanto e medo. Seu peito subia e descia de forma irregular, e Ravi viu as lágrimas brilhando em seus olhos, como se estivesse à beira do colapso. Ele sentiu um impulso estranho de protegê-la, mas sua razão gritava mais alto, e ainda estava confuso e intrigado com a situação, por isso falou novamente: — Perguntei quem é você?Porém, naquele momento pensando rápido, Malú apertou os lábios e, com um leve tremor na voz, respondeu em russo: — Извините, господин, я не понимаю, что вы говорите. (Desculpe, senhor, não compreendo o que diz.) Ravi piscou, de queixo caído, pensou: " Russo?! A garota está falando em russo? É isso mesmo, ou estou ficando louco?" Ele se inclinou ligeiramente para frente, os olhos fixos nela. A mulher, por sua vez, deu um passo para trás instintivamente, apertando ainda mais o bebê contra o peito, e olhando em todas as direções, parecia estar procurando uma possível rota de fuga. Mas Ravi sabia que era impossível ela sair de lá, visto que o portão já estava fechado, e na frente havia três seguranças. No entanto, ela também tentava proteger o bebê do vento e da garoa que havia ficado depois da chuva, enquanto balançava o bebê que gradativamente calou-se. Por isso, Ravi falou novamente: — Perguntei quem é você e ainda não ouvi sua resposta! E novamente ela falou em russo, di
Um arrepio percorreu sua pele quando percebeu que estranho também estava acordando. Ele abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de focar nela. Um sorriso suave curvou seus lábios, e, ao contrário do que esperava, sua expressão não demonstrava ameaça, apenas um misto de curiosidade e gentileza. — Bom dia, senhorita! Por favor, não precisa ter medo. Está segura aqui. Está se sentindo melhor? — perguntou Ravi, a sua voz estava ainda rouca pelo sono, mas ainda assim firme e acolhedora. Malú engoliu em seco, porém a sua garganta seca dificultava a sua fala naquele momento. O medo ainda pulsava em suas veias, principalmente ao lembrar-se da ameaça anterior dele de chamar a polícia, ela inicialmente ficou sem saber o que responder. Não entendia por que ele estava sendo tão gentil agora. Mas a preocupação com May era maior, por isso respondeu: — Bom dia si... sim estou! — murmurou ela hesitante. Seus olhos não desgrudavam da pequena que estava nos braços dele, seu instin
Naquele momento, ao sentir o olhar afiado de Ravi a tensão de Malú era visível, ela engoliu em seco ao ouvir as palavras dele, sentindo seu coração acelerar. O olhar firme dele a atravessava como se pudesse ver além das suas palavras hesitantes, Ravi a encarou e respondeu com franqueza: — É visível que está fugindo de alguém, porém, tenho toda a certeza de que não é da polícia. Malú sentiu um frio na espinha. Apertou instintivamente os dedos contra a barra do lençol que ainda a cobria. — Por que diz isso? — Sua voz soou mais fraca do que ela gostaria. Ravi inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos, sem desviar o olhar. — Porque esse alguém a machucou. Muito. E, pelo jeito, ainda quer machucá-la. Ela arregalou os olhos e, sem perceber, segurou a respiração. A mente dela disparava, tentando encontrar uma resposta convincente. — Não, senhor Castellani, acredite está enganado, não é bem assim eu... eu estava fugindo sim, mas não… — começou a dizer M
Malú corou e murmurou um "obrigada", ainda sentindo-se deslocada. Porém, gostou muito de Gabriela e percebeu que May olhava a todos com os olhinhos curiosos, como se já os conhecesse também. Então, baixando a cabeça, falou envergonhada: — Podem me chamar somente de Malú! — Agora que estamos todos apresentados, posso te chamar só de Malú também? — perguntou Ravi. Ela hesitou, então baixou a cabeça e falou num fio de voz: — Sim, Pode sem problemas… — Ótimo! Prefiro assim, Malú. Também pode me chamar somente de Ravi — falou ele, sorrindo. Camila então falou: — Quanto a mim, prefiro Cami. Mas diga-me, Malú, está melhor? — Sim, senhora estou e... aham... poderia ajudar-me a fazer algo para a minha bebê comer? Ela está com fome e... — Claro, Gabriela pode ajudá-la?! — disse Camila. — Sim, claro! Venha, vamos ver o que temos na geladeira de bem nutritivo para essa garotinha ficar ainda mais forte! — falou Gabriela, olhando para a bebê que já estava novamente no colo de
Ravi notou o silêncio dela por alguns instantes, como se estivesse lutando contra seus próprios pensamentos. Com delicadeza, ela pegou a garotinha dos braços dele, beijando-lhe a cabecinha adormecida. Sentiu a leveza do corpinho infantil se aconchegando e, então, tentou lhe dar uma justificativa aceitável: — Por causa de May. Acredito que o interior seja um lugar melhor para criá-la.Mas Lara Ravi aquelas palavras soaram falsas. Percebeu no mesmo instante que era uma mentira. Não uma mentira qualquer, mas uma que parecia gritar por socorro. Era como se conseguisse enxergar através dela, como se a conhecesse há anos e cada uma de suas mentiras estivesse escrita em sua expressão. Ravi se inclinou ligeiramente para frente, fitando-a com intensidade. — E sobre seu patrão abusivo? Não pretende procurar seus direitos? Posso te ajudar com isso, conheço bons advogados trabalhistas… Malú balançou a cabeça apressadamente, quase como um reflexo automático. — Não! Não é necessário. Já decid
Enquanto isso, longe dali... — Maldição, maldição! Como assim não a encontraram? Como podem ser tão burros! A ponto de ser enganados por aquela criança?! — disse Viktor, jogando o seu copo contra a parede enquanto vociferava para os seus homens que estavam de cabeça baixa para eles. Então, um deles se atreveu a falar: — Senhor, a ga… garota fugiu de nós do hotel, porém não voltou para o apartamento que estava, para buscar as suas coisas. Então, não fazemos ideia de on.. onde esteja, porém, sabemos que agora ela está realmente sem nada. Tudo que tinha deixou para trás! — E julgam que ela seria tão burra a ponto de voltar por meros trapos velhos? A minha menina é muito esperta e não idiota como vocês. É tão esperta que já enganou vocês várias vezes, seus imbecis! Droga! E agora, por suas incompetências, terei que refazer as investigações para saber para onde ela foi! — falou Viktor, aborrecido, segurando o homem pelo colarinho. Então o jogou no chão e com a faca que havia em sua mã
CAPÍTULO 12 – ISSO É DESEJO DOENTIO! Quando Malú finalmente alcançou a mansão de Dmitry, ele já estava lá, como uma sombra que não podia ser escapada. Antes que ela pudesse gritar, ele a agarrou pelo pulso, puxando-a com força brutal para um canto escuro do jardim. Seus lábios encontraram os dela com uma luxúria que parecia consumir tudo ao redor. Ele queria mais—muito mais. Cada pedaço dela, cada suspiro, cada tremor. E quanto mais ela resistia, mais o desejo sombrio dentro dele crescia, alimentado pela luta inútil dela.Mas, como se o destino insistisse em brincar com ele, outra interrupção surgiu. Uma voz familiar ecoou pelo jardim, cortando o ar pesado como uma faca.— Malú, onde você está, querida? Eu vi você chegar, mas não vi você entrar na mansão! — Era Olga, a governanta, com um tom de preocupação que Viktor achou irritantemente falso.Olga era a única naquela casa que não caía em seu charme. Ele sabia que aquela velha intrometida havia aparecido de propósito, como se senti
Viktor olhava para Malú com um olhar fixo, como se ela fosse uma posse sua. — Você é minha, Malú e nunca mais tente escapar de mim porque seja onde for, vou te encontrar, e você vai pagar muito caro por sua fuga entendeu?! — ele disse isso, com o tom de voz baixo e ameaçador. Malú sentiu um arrepio na espinha, seu medo surreal crescendo a cada segundo. Ela tentou se soltar dos seus braços com desespero e nojo, mas Viktor a segurou, com ainda mais força. — Sinto muito, coelhinha, mas jamais vou deixar você partir. Você é minha agora e será para sempre! — Sua voz ecoou pelo quarto, carregada de uma obsessão que fez o ar parecer mais pesado. Malú sentiu o coração acelerar, as paredes se fechando ao seu redor. Não havia escapatória.Ele avançou, às mãos ávidas, rasgando seu vestido em um movimento brusco. As peças menores seguiram o mesmo destino, caindo em farrapos ao chão. Malú se debatia, os olhos inundados de lágrimas, as unhas arranhando sua pele enquanto socava o peito dele com to