Malú tinha medo de estranhos, principalmente se fossem homens, e não costumava confiar neles. Por isso, levantou-se e foi até ele, pedindo a garota:
— Por favor, me devolva a minha May. Posso cuidar dela. Ravi arqueou a sobrancelha, observando-a com atenção, seu olhar afiado captou a tensão em sua postura, e o forte sotaque russo em sua voz o intrigou. —Tem certeza que consegue cuidar dela? — perguntou ele, percebendo o tremor sutil em seus dedos. — Sim! — respondeu ela rapidamente Foi nesse momento que Malú notou que o que estava vestindo. Seu rosto empalideceu ao perceber a camisola leve e absurdamente transparente que cobria seu corpo. O tecido fino revelava muito mais do que deveria, deixando-a exposta de um jeito que a fez sentir-se vulnerável e envergonhada. Seu coração disparou ainda mais forte ao ver o olhar surpreso de Ravi. Ele não disfarçou o impacto de sua visão. Os olhos dele percorreram sua silhueta de forma involuntária, e por um segundo, ele pareceu estupefato. O pavor tomou conta dela. Ela se levantou de um salto e correu de volta para cama, puxando o lençol para cobrir seu corpo completamente. Tinha medo quando os homens a olhavam assim, sentia-se muito mal e suja. Seus lábios tremiam naquele momento e sua voz saiu em um sussurro trêmulo: — Por... por que estou vestida assim? O que aconteceu? foi você quem tirou minha roupa? O que fez comigo? Me dopou? É por isso que estou zonza? Me devolvo a minha May! Seus olhos estavam cheios de desespero e raiva, e sua respiração estava errática. O medo a dominava por completo. Ravi franziu a testa, seu semblante ficando sério. A acusação dela o atingiu como um golpe, ele inspirou profundamente antes de responder com a sua voz grave se intensificando a cada palavra: — Ouça, senhorita! Não é porque é linda que vou te atacar! Não sou nenhum louco abusador. Nunca precisei fazer isso com nenhuma mulher! E não fui eu quem trocou a sua roupa. Foi Camila, a minha governanta. E só está sentindo-se assim porque tive que chamar um médico para lhe atender. Ele te passou alguns calmantes, é por isso que somente agora acordou. Além disso, não entende que, se quisesse me aproveitar de você, teria feito enquanto dormia? Malu abriu a boca para responder mas as palavras não saíram em vez disso lágrimas escorreram silenciosas por seu rosto ela se encolheu tremendo abraçando joelhos sobre o lençol. Ao ver a reação dela, Ravi passou a mão pelos cabelos frustrado consigo mesmo: "Droga, fui um idiota tá na cara que alguém a machucou até a alma. Quem seria o desgraçado capaz de ferir uma mulher tão frágil? Ele suspirou tentando suavizar a sua abordagem, porém ouvi ela sussurrar: — Será que... po... Poderia trazê-la até aqui? — pediu Malú, com a voz trêmula. Ele então se aproximou e lhe entregou a Ravi se levantou e caminhou até a cama, entregando a garotinha com delicadeza. — Aqui está a abelhinha! — disse ele brincando com o macacãozinho de abelha da criança, tentando aliviar a tensão. Malú observou, ainda cautelosa. Sentia-se grata por ter sua filha de volta, mas o medo ainda não a abandonava. Ela abraçou a menina e notou que ele se calou, notou também o olhar dele sobre ela. O quarto ficou em silêncio, e apenas o som suave da respiração da garotinha quebravam o silêncio. Enquanto a luz suave da manhã entrava pelas janelas, e iluminava o quarto com uma tonalidade amarelada. Ela tentou não sentir medo com a presença dele, mas era quase impossível não sentir isso quando algum homem se aproximava dela. O cheiro do perfume dele — uma mistura amadeirada e cítrica preenchia o ar, tornando sua presença ainda mais marcante, fazendo-a se sentir ainda mais desconfortável. Ela acariciou a garotinha, que acordou e sorriu para ela, emitindo um som doce de bebê. O coração de Malú apertou, e um sorriso involuntário escapou de seus lábios molhados de lágrimas. Ravi assistiu a cena em silêncio. Havia algo hipnotizante na forma como uma luz segurava o bebê, como se May fosse o bem mais precioso da sua vida. “Ela é uma boa mãe” pensou ela, então falou novamente: — Por favor, desculpe-me por falar assim com você, como se chama? — perguntou ele com a voz mais calma, tentando fazer a garota confiar um pouco mais nele. Porém, mesmo ainda assustada,e hesitante lhe respondeu: — Maria Luiza Martinez mas me chamam de Malú, também me peço desculpas por ter lhe julgado tão mal. Ele sorriu levemente antes de responder: — É um belo nome, muito prazer, senhorita Malú. Meu nome é Ravi Castellani. — Prazer, senhor Castellani. Bem... aham... O que aconteceu depois que... desmaiei? — perguntou ela, enquanto abraçava a criança com carinho e beijava o seu rosto. — Bem, como lhe falei, chamei um médico que disse que provavelmente estava com um nível de estresse elevadíssimo, por isso teve uma síncope e desmaiou! — respondeu ele, sério. Malú então abaixou a cabeça, pensativa, mas nada falou sobre o assunto. Depois, perguntou: — E por que a May estava com você? — Ela estava inconsolável enquanto você estava desmaiada e chorava muito no colo de Camila. Porém, quando a peguei, ela calou-se e dormiu. Por isso, não quis correr o risco dela acordar novamente e acabei dormindo com ela no meu colo! — explicou Ravi. — Obrigada, senhor Castellani! — falou a garota, de forma envergonhada. — Obrigada pelo o quê, senhorita? — perguntou ele, intrigado. — Por tudo, principalmente por não ter chamado a polícia. Eu... — começou a dizer Malú. — Por favor, senhorita Martinez, esqueça aquela bobagem que eu disse, sim? Fui um completo idiota por ameaçar você daquela forma. Afinal, é visível que não é uma ladra, nem tão pouco uma sequestradora de bebês. — disse Ravi. — Por que tem... tem agora tanta certeza? — perguntou Malú. — Bem, você de alguma forma mágica conseguiu burlar o alarme de um dos carros mais caros e seguros que tenho e nada roubou. A única coisa que fez foi ter se escondido com a sua bebê nele, porque sei agora que ela realmente é sua. — explicou Ravi. — Sabe?! — perguntou novamente ela, com as sobrancelhas levantadas. — Sim, quando Camila vestiu você e trocou as roupas da bebê também, observou nas coxas dela o mesmo sinal em forma de coração que você tem abaixo dos seios! — falou ele, de forma suave. Malú estremeceu levemente por ele saber algo tão íntimo no seu corpo. Ela queria lhe falar algo, no entanto, ele continuou: — Desculpe por ter julgado você erroneamente, embora ainda não entenda totalmente os motivos que a levaram a entrar no meu carro, porém posso imaginar. — disse Ravi. Malú engoliu em seco. Nesse momento, Ravi inclinou a cabeça, observando atentamente as reações dela. Ela então o perguntou: — Pode… imaginar?! Seus olhos se fixaram nele, e naquele instante, percebeu que Ravi não era apenas um homem bonito, também era muito inteligente e perigosamente perspicaz, talvez até demais…Lembranças de Camila… Camila lembrava-se, vívidamente, da noite anterior. Quando Ravi chegou com Malú desacordada nos braços, seus olhos estavam carregados de preocupação. Ele a deitou com delicadeza no sofá e, sem perder tempo, pediu que ela ligasse para o doutor Fonseca.Também ficou preocupado com a sua filha, que não parava de chorar, pedindo o colo da mãe. May chorava sem parar, ficando com seu rostinho manchado de lágrimas, chamando pela mãe. — Shhh, pequena… já vai passar… — murmurou Camila, embalando-a nos braços. Ela preparou uma mamadeira, na esperança de acalmá-la, e por alguns instantes conseguiu. Mas logo May começou a se remexer, inquieta, buscando o calor materno. Foi então que Ravi pegou a garotinha nos braços. Para surpresa de todos, o choro cessou imediatamente. Não só isso, mas um sorriso tímido iluminou o rostinho da pequena, como se, de alguma forma, ela já confiasse nele. — Que coisa incrível! Parece que a garota adorou o patrãozinho! — comentou Camila pa
Na cozinha... Ao descer, ele levou-as para a cozinha, onde apresentou Camila a Malú: — Bem, senhorita Martinez, essa é a dona Camila, para os mais íntimos, apenas Cami! — falou ele sorrindo. O cheiro de café fresco e pão recém-assado misturava-se ao aroma amanteigado dos bolos e à doçura do leite quente. O ambiente era aconchegante, com móveis modernos e uma mesa posta com elegância. Camila sempre agradecia a forma como toda a família Sampaio a tratava, como se fosse membro da família. Ela era, uma mulher de meia-idade de cabelos grisalhos presos em um coque simples, lançou um olhar afetuoso para Ravi e cruzou os braços e falou brincando: — O patrãozinho continua o mesmo. Aposto que esqueceu de convidá-las para o café e agora está tentando se redimir com um charme barato. Ravi riu e beijou o topo da cabeça da governanta. — Sempre tão perspicaz, Cami! Camila virou-se para Malú e sorriu. — Seja bem-vinda, minha querida. Como se chama? — Malú… Malú Martinez — falou ela
Ravi notou o silêncio dela por alguns instantes, como se estivesse lutando contra seus próprios pensamentos. Com delicadeza, ela pegou a garotinha dos braços dele, beijando-lhe a cabecinha adormecida. Sentiu a leveza do corpinho infantil se aconchegando e, então, ouviu a justificativa dela: — Por causa de May. Acredito que o interior seja um lugar melhor para criá-la. Aquelas palavras soaram falsas. Ele percebeu no mesmo instante que era uma mentira. Não uma mentira qualquer, mas uma que parecia gritar por socorro. Era como se conseguisse enxergar através dela, como se a conhecesse há anos e cada uma de suas mentiras estivesse escrita em sua expressão. Ravi se inclinou ligeiramente para frente, fitando-a com intensidade. — E sobre seu patrão abusivo? Não pretende procurar seus direitos? Posso te ajudar com isso, conheço bons advogados trabalhistas… Malú balançou a cabeça apressadamente, quase como um reflexo automático. — Não! Não é necessário. Já decidi. Vou embora. Afinal, tenh
Enquanto isso, longe dali... — Maldição, maldição! Como assim não a encontraram? Como podem ser tão burros! A ponto de ser enganados por aquela criança?! — disse Viktor, jogando o seu copo contra a parede enquanto vociferava para os seus homens que estavam de cabeça baixa para eles. Então, um deles se atreveu a falar: — Senhor, a ga… garota fugiu de nós do hotel, porém não voltou para o apartamento que estava, para buscar as suas coisas. Então, não fazemos ideia de on.. onde esteja, porém, sabemos que agora ela está realmente sem nada. Tudo que tinha deixou para trás! — E julgam que ela seria tão burra a ponto de voltar por meros trapos velhos? A minha menina é muito esperta e não idiota como vocês. É tão esperta que já enganou vocês várias vezes, seus imbecis! Droga! E agora, por suas incompetências, terei que refazer as investigações para saber para onde ela foi! — falou Viktor, aborrecido, segurando o homem pelo colarinho. Então o jogou no chão e com a faca que havia em sua mão
Ravi estava em seu escritório, imerso no trabalho. A manhã havia sido exaustiva, mas ele não reclamava. Afinal, desde a fusão das duas empresas Baby Bliss e Green Valley, há dois anos, sua carga de trabalho triplicou. Ele sorriu ao se lembrar da vídeo chamada que tivera minutos antes com Eduardo, seu pai, e Natália, sua cunhada. — Ué, filho, por que reclamar? — disse Eduardo, com um sorriso maroto. — Não é você mesmo quem sempre diz: “O trabalho dignifica o homem”... Pois então, aproveite e seja o homem mais digno do mundo! — Ele riu, piscando para Natália, que logo acrescentou: — É, cunhado, ninguém disse que seria fácil! — falou ela, com um tom desafiador, mas carinhoso. Ravi sorriu, sentindo-se aquecido pela leveza daquela conversa. — Me sinto o Hércules ultimamente — respondeu, brincando. — Agora, me digam: como faço para descasar você e o Heitor, hein? Era uma piada recorrente entre eles. Ravi sempre dizia que fora graças ao casamento de Natália e Heitor que as duas empresas
Ravi sabia que Alexandre tinha um fraco por mulheres bonitas, assim como ele. Mas, ao contrário dele, Ravi, era mais seletivo, não saia com mulheres casadas, Alexandre, no entanto não media esforços quando se tratava de uma conquista. E, muitas vezes, isso o colocava em situações complicadas. Olhando para o rosto aflito do amigo, Ravi perguntou, já suspeitando da resposta: — Não me diga que você foi tão indiscreto a ponto de Lívia e Ruana descobrirem? Alexandre coçou a cabeça, em um gesto nervoso, e respondeu: — Elas têm fotos e vídeos... muito comprometedores de Ângela e eu. E isso... — E isso só prova que devemos nos manter muito longe delas! — interrompeu Ravi, firme. — Não quero essas mulheres na minha casa, ainda mais sabendo que... — Sabendo, que o quê? — indagou Alexandre, com a sobrancelha arqueada. Ravi hesitou por um momento, mas logo se recuperou. — Sabendo que... os meus verdadeiros amigos estarão lá. Eu simplesmente não desejo essas mulheres na minh
Antes de Malú descer, Ravi não resistiu e perguntou a Camila: — Como ela passou o dia? Desceu, conseguiu interagir com vocês? Sentiu-se bem aqui? Camila sorriu, notando a preocupação do patrão com a jovem, e respondeu: — Sim, ela se sentiu muito bem. Mas ninguém conseguiu convencê-la a não ajudar. No fim, ela acabou preparando o jantar no lugar de Fernanda. Acho que queria se sentir útil de alguma forma. Desculpe, não pudemos negar! Ravi sorriu, acenando com a cabeça. — Tudo bem, Camila. Ela é livre para fazer o que quiser. Se ela se sentiu bem ajudando, não há problema. — Não é só isso, Ravi — continuou Camila, animada. — A senhorita Malú é incrível na cozinha! Quando provar a comida dela, vai entender o que estou dizendo. Ela também adorou a estufa e passou a manhã inteira lá com a May. Ravi sorriu novamente, agradecendo pela informação. Enquanto Camila subia as escadas para encontrar Malú antes que ela descesse, Ravi ficou pensativo, segurando um sorriso discreto. Al
Quando Malú percebeu que Ravi não estava disposto a desfazer o mal-entendido, encarou-o com os olhos arregalados e cheios de dúvidas. Ele se aproximou dela, puxando-a suavemente pela cintura, e, naquele momento, para Malú, foi como se o mundo tivesse parado. Ela sentiu o calor subir às suas bochechas, corando intensamente. Ravi sorriu ao ver o rosto dela ruborizar. Virou-se para os amigos e disse com deboche: — Acham que sou idiota o suficiente para apresentar minha namorada a vocês dois, conhecendo a “boa índole” de amigos fura-olho que têm? Que tal pararem de secar minha garota e voltarem ao trabalho? Ele olhava com ar aborrecido para os amigos, mas, ao virar-se para Malú e perceber a dúvida em seus olhos, suavizou a voz e disse: — Malú, meu amor, pode me esperar na sala com nossa filha? Estou quase terminando aqui, ok? Ela acenou, embora não entendesse por que Ravi mentira para os amigos sobre a relação deles. Decidiu não contestar, mas, em vez de esperar na sala, subiu pa