Porém, naquele momento pensando rápido, Malú apertou os lábios e, com um leve tremor na voz, respondeu em russo:
— Извините, господин, я не понимаю, что вы говорите. (Desculpe, senhor, não compreendo o que diz.) Ravi piscou, de queixo caído, pensou: " Russo?! A garota está falando em russo? É isso mesmo, ou estou ficando louco?" Ele se inclinou ligeiramente para frente, os olhos fixos nela. A mulher, por sua vez, deu um passo para trás instintivamente, apertando ainda mais o bebê contra o peito, e olhando em todas as direções, parecia estar procurando uma possível rota de fuga. Mas Ravi sabia que era impossível ela sair de lá, visto que o portão já estava fechado, e na frente havia três seguranças. No entanto, ela também tentava proteger o bebê do vento e da garoa que havia ficado depois da chuva, enquanto balançava o bebê que gradativamente calou-se. Por isso, Ravi falou novamente: — Perguntei quem é você e ainda não ouvi sua resposta! E novamente ela falou em russo, dizendo: — Господин, я вас не понимаю! (Senhor, não o compreendo!) Ravi sorriu de lado, então, aborrecido, falou também em russo: — Возможно, теперь ты понимаешь, что я устал от твоих игр, мисс. Если ты не скажешь сейчас, кто ты и что делаешь с ребенком в моей машине, я немедленно вызову полицию! (Talvez agora compreenda, já cansei dos seus joguinhos, senhorita. Se não disser agora quem é você e o que faz com um bebê dentro do meu carro, chamarei a polícia imediatamente!) O choque estampou-se no rosto da mulher. Ravi percebeu o instante em que ela percebeu que ele também falava russo fluentemente. Sua reação foi automática: — Maldição! — ela murmurou, agora em português. Ravi teria rido, se a situação não fosse tão absurda. — Ora, vejam só — disse ele, cruzando os braços. — Não é que você fala português perfeitamente? Achou que me enganaria? Agora, vou perguntar pela última vez: quem é você e o que faz no meu carro? Se não me responder o que perguntei, chamarei a polícia imediatamente. Vamos, responda logo! Disse ele, pegando o celular e novamente crivando-a de novas perguntas: — É uma ladra? Queria roubar o meu carro? Esse bebê é seu ou o roubou também? Como se chama? Malú apenas sacudia a cabeça em negativo, para ele. No entanto, ao invés de responder-lhe, aproveitou a sua distração e enquanto ele tentava discar o celular, ela se lançou em uma corrida desesperada na direção do portão. Mesmo com o bebê no colo, ela se movia com rapidez impressionante, o seu tênis quase não fazia som contra a pedra molhada. Ravi reagiu no mesmo instante. Com poucos passos largos, alcançou-a e segurou seu ombro. A reação dela foi imediata—todo o seu corpo se encolheu violentamente, como se o simples toque dele fosse uma ameaça mortal. — Não! Por favor, não me toque! Não me faça mal! O grito dela ecoou pelo pátio, gelando Ravi até os ossos. Ele ergueu as mãos no mesmo instante, alarmado com a intensidade do pavor nos olhos da mulher. Ela tremia, os dedos crispados ao redor da criança, e o bebê começou a chorar de novo, contagiado pelo desespero da mãe. — Senhor Castellani, essa moça tentou roubá-lo? — perguntou um dos seguranças, aproximando-se com cautela. — O senhor precisa de ajuda? Ravi lançou um olhar severo. — Afastem-se. Os seguranças obedeceram, mas permaneceram alertas. Ele então voltou sua atenção para a mulher. — Ninguém vai te machucar — disse, suavizando a voz. — Mas preciso de respostas. Ao observar todos eles à sua volta, Malú ficou ainda mais apavorada, encostando a costa no portão, toda encolhida, enquanto abraçava a sua bebê e chorava junto com ela, que também voltou a chorar convulsivamente, com os gritos de Malú e o frio. Ela então falou: — Por favor, não! Eu não fiz nada, eu juro, senhor, não chame a polícia! — disse Malú, com lágrimas nos olhos. Ravi, ao observar isso, fez sinal para os seguranças se afastarem novamente. A reação da mulher indicava claro sinais de traumas. Por isso, gradativamente, tentou se aproximar dela, que disse: — Por favor, senhor, não faça isso comigo! De novo, não! Não vou suportar! — Isso o quê, moça? — perguntou Ravi, com uma voz suave. — Se levar-me para a polícia, eles me entregarão a ele, e também a May. Por favor, não! — respondeu Malú, com um tom de desespero. — Psiu... calma, moça. Do que está falando? — perguntou Ravi, enquanto começava a desabotoar os botões do seu paletó. Malú estava tão assustada que nem sequer percebeu quando ele começou a fazer isso. Ele queria apenas cobri-las para protegê-las do frio. Porém, quando ela levantou o olhar e o viu fazer isso, entendeu algo totalmente diferente. Então, soltou outro grito de terror. Ravi aproximou-se dela de uma vez, quando viu que iria desmaiar. A segurando em seus braços, então gritou para um dos seus seguranças: — Bruno, segure a criança…! Ao amanhecer… Malú despertou lentamente, sentindo o seu corpo pesado, como se estivesse envolta numa névoa densa. Sua cabeça latejava, e uma leve sensação de torpor dominava seus sentidos. O colchão macio sob seu corpo era diferente de tudo que estava acostumada ultimamente — tinha um toque aveludado, confortável demais para ser um lugar familiar. Um perfume floral e amadeirado pairava no ar misturando-se ao cheiro fresco de lençóis recém-lavados. Com esforço, ela abriu os olhos e piscou algumas vezes para se acostumar à claridade difusa do quarto. O ambiente a sua volta era sofisticado e moderno, como se tivesse saído diretamente de um filme. As paredes eram pintadas em um tom creme elegante, e detalhes dourados refletiam a luz suave que entrava pela grande janela de vidro. O lustre pendurado no teto irradiava um brilho delicado, conferindo ao local uma área de requinte. Por um breve momento, Malú sentiu-se perdida, como se estivesse vivendo um sonho irreal. Mas então, o pânico atingiu em cheio. Seu peito se apertou quando a lembrança da noite anterior surgiu em sua mente, e seu coração disparou descontroladamente. — O que aconteceu? Onde estou? Meu Deus, será que estou nas mãos de Viktor novamente? Então, percebeu que May não estava ao seu lado, e ficou ainda mais aterrorizada. Seu corpo reagiu antes mesmo de sua mente processar a situação. Tentou se erguer abruptamente, mas sua cabeça girou violentamente, e uma tontura esmagadora a obrigou a se apoiar nos travesseiros. Sua respiração estava acelerada, e um frio intenso percorreu sua espinha. Foi então que sua visão se voltou para a janela, e o que viu fez seu sangue gelar. A pequena May dormia plácidamente no colo de um homem desconhecido. Ele estava sentado em um sofá próximo à janela, sua cabeça apoiada no encosto, e seu peito subia e descia em uma respiração tranquila. Os traços bem definidos do seu rosto foram iluminados por um feixe de luz dourada que atravessava a cortina entreaberta. Seu cabelo loiro estava levemente bagunçado, e sua expressão serena contrastava com a tempestade de medo que se formava no peito de Malú. Ela levou as mãos à boca, abafando o soluço. Seus olhos arregalados se fixaram nele, e, aos poucos, as memórias voltaram como flashes desordenados. O homem se aproximou dela, seu corpo cedendo a exaustão, e a inconsciência engolindo…Um arrepio percorreu sua pele quando percebeu que estranho também estava acordando. Ele abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de focar nela. Um sorriso suave curvou seus lábios, e, ao contrário do que esperava, sua expressão não demonstrava ameaça, apenas um misto de curiosidade e gentileza. — Bom dia, senhorita! Por favor, não precisa ter medo. Está segura aqui. Está se sentindo melhor? — perguntou Ravi, a sua voz estava ainda rouca pelo sono, mas ainda assim firme e acolhedora. Malú engoliu em seco, porém a sua garganta seca dificultava a sua fala naquele momento. O medo ainda pulsava em suas veias, principalmente ao lembrar-se da ameaça anterior dele de chamar a polícia, ela inicialmente ficou sem saber o que responder. Não entendia por que ele estava sendo tão gentil agora. Mas a preocupação com May era maior, por isso respondeu: — Bom dia si... sim estou! — murmurou ela hesitante. Seus olhos não desgrudavam da pequena que estava nos braços dele, seu instin
Naquele momento, ao sentir o olhar afiado de Ravi a tensão de Malú era visível, ela engoliu em seco ao ouvir as palavras dele, sentindo seu coração acelerar. O olhar firme dele a atravessava como se pudesse ver além das suas palavras hesitantes, Ravi a encarou e respondeu com franqueza: — É visível que está fugindo de alguém, porém, tenho toda a certeza de que não é da polícia. Malú sentiu um frio na espinha. Apertou instintivamente os dedos contra a barra do lençol que ainda a cobria. — Por que diz isso? — Sua voz soou mais fraca do que ela gostaria. Ravi inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos, sem desviar o olhar. — Porque esse alguém a machucou. Muito. E, pelo jeito, ainda quer machucá-la. Ela arregalou os olhos e, sem perceber, segurou a respiração. A mente dela disparava, tentando encontrar uma resposta convincente. — Não, senhor Castellani, acredite está enganado, não é bem assim eu... eu estava fugindo sim, mas não… — começou a dizer M
Malú corou e murmurou um "obrigada", ainda sentindo-se deslocada. Porém, gostou muito de Gabriela e percebeu que May olhava a todos com os olhinhos curiosos, como se já os conhecesse também. Então, baixando a cabeça, falou envergonhada: — Podem me chamar somente de Malú! — Agora que estamos todos apresentados, posso te chamar só de Malú também? — perguntou Ravi. Ela hesitou, então baixou a cabeça e falou num fio de voz: — Sim, Pode sem problemas… — Ótimo! Prefiro assim, Malú. Também pode me chamar somente de Ravi — falou ele, sorrindo. Camila então falou: — Quanto a mim, prefiro Cami. Mas diga-me, Malú, está melhor? — Sim, senhora estou e... aham... poderia ajudar-me a fazer algo para a minha bebê comer? Ela está com fome e... — Claro, Gabriela pode ajudá-la?! — disse Camila. — Sim, claro! Venha, vamos ver o que temos na geladeira de bem nutritivo para essa garotinha ficar ainda mais forte! — falou Gabriela, olhando para a bebê que já estava novamente no colo de
Ravi notou o silêncio dela por alguns instantes, como se estivesse lutando contra seus próprios pensamentos. Com delicadeza, ela pegou a garotinha dos braços dele, beijando-lhe a cabecinha adormecida. Sentiu a leveza do corpinho infantil se aconchegando e, então, tentou lhe dar uma justificativa aceitável: — Por causa de May. Acredito que o interior seja um lugar melhor para criá-la.Mas Lara Ravi aquelas palavras soaram falsas. Percebeu no mesmo instante que era uma mentira. Não uma mentira qualquer, mas uma que parecia gritar por socorro. Era como se conseguisse enxergar através dela, como se a conhecesse há anos e cada uma de suas mentiras estivesse escrita em sua expressão. Ravi se inclinou ligeiramente para frente, fitando-a com intensidade. — E sobre seu patrão abusivo? Não pretende procurar seus direitos? Posso te ajudar com isso, conheço bons advogados trabalhistas… Malú balançou a cabeça apressadamente, quase como um reflexo automático. — Não! Não é necessário. Já decid
Enquanto isso, longe dali... — Maldição, maldição! Como assim não a encontraram? Como podem ser tão burros! A ponto de ser enganados por aquela criança?! — disse Viktor, jogando o seu copo contra a parede enquanto vociferava para os seus homens que estavam de cabeça baixa para eles. Então, um deles se atreveu a falar: — Senhor, a ga… garota fugiu de nós do hotel, porém não voltou para o apartamento que estava, para buscar as suas coisas. Então, não fazemos ideia de on.. onde esteja, porém, sabemos que agora ela está realmente sem nada. Tudo que tinha deixou para trás! — E julgam que ela seria tão burra a ponto de voltar por meros trapos velhos? A minha menina é muito esperta e não idiota como vocês. É tão esperta que já enganou vocês várias vezes, seus imbecis! Droga! E agora, por suas incompetências, terei que refazer as investigações para saber para onde ela foi! — falou Viktor, aborrecido, segurando o homem pelo colarinho. Então o jogou no chão e com a faca que havia em sua mã
CAPÍTULO 12 – ISSO É DESEJO DOENTIO! Quando Malú finalmente alcançou a mansão de Dmitry, ele já estava lá, como uma sombra que não podia ser escapada. Antes que ela pudesse gritar, ele a agarrou pelo pulso, puxando-a com força brutal para um canto escuro do jardim. Seus lábios encontraram os dela com uma luxúria que parecia consumir tudo ao redor. Ele queria mais—muito mais. Cada pedaço dela, cada suspiro, cada tremor. E quanto mais ela resistia, mais o desejo sombrio dentro dele crescia, alimentado pela luta inútil dela.Mas, como se o destino insistisse em brincar com ele, outra interrupção surgiu. Uma voz familiar ecoou pelo jardim, cortando o ar pesado como uma faca.— Malú, onde você está, querida? Eu vi você chegar, mas não vi você entrar na mansão! — Era Olga, a governanta, com um tom de preocupação que Viktor achou irritantemente falso.Olga era a única naquela casa que não caía em seu charme. Ele sabia que aquela velha intrometida havia aparecido de propósito, como se senti
Viktor olhava para Malú com um olhar fixo, como se ela fosse uma posse sua. — Você é minha, Malú e nunca mais tente escapar de mim porque seja onde for, vou te encontrar, e você vai pagar muito caro por sua fuga entendeu?! — ele disse isso, com o tom de voz baixo e ameaçador. Malú sentiu um arrepio na espinha, seu medo surreal crescendo a cada segundo. Ela tentou se soltar dos seus braços com desespero e nojo, mas Viktor a segurou, com ainda mais força. — Sinto muito, coelhinha, mas jamais vou deixar você partir. Você é minha agora e será para sempre! — Sua voz ecoou pelo quarto, carregada de uma obsessão que fez o ar parecer mais pesado. Malú sentiu o coração acelerar, as paredes se fechando ao seu redor. Não havia escapatória.Ele avançou, às mãos ávidas, rasgando seu vestido em um movimento brusco. As peças menores seguiram o mesmo destino, caindo em farrapos ao chão. Malú se debatia, os olhos inundados de lágrimas, as unhas arranhando sua pele enquanto socava o peito dele com to
Ravi estava em seu escritório, imerso no trabalho. A manhã havia sido exaustiva, mas ele não reclamava. Afinal, desde a fusão das duas empresas Baby Bliss e Green Valley, há dois anos, sua carga de trabalho triplicou. Ele sorriu ao se lembrar da vídeo chamada que tivera minutos antes com Eduardo, seu pai, e Natália, sua cunhada. — Ué, filho, por que reclamar? — disse Eduardo, com um sorriso maroto. — Não é você mesmo quem sempre diz: “O trabalho dignifica o homem”... Pois então, aproveite e seja o homem mais digno do mundo! — Ele riu, piscando para Natália, que logo acrescentou:— É, cunhado, ninguém disse que seria fácil! — falou ela, com um tom desafiador, mas carinhoso.Ravi sorriu, sentindo-se aquecido pela leveza daquela conversa. — Me sinto o Hércules ultimamente — respondeu, brincando. — Agora, me digam: como faço para descasar você e o Heitor, hein?Era uma piada recorrente entre eles. Ravi sempre dizia que fora graças ao casamento de Natália e Heitor que as duas empresas r