Um arrepio percorreu sua pele quando percebeu que estranho também estava acordando. Ele abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de focar nela. Um sorriso suave curvou seus lábios, e, ao contrário do que esperava, sua expressão não demonstrava ameaça, apenas um misto de curiosidade e gentileza.
— Bom dia, senhorita! Por favor, não precisa ter medo. Está segura aqui. Está se sentindo melhor? — perguntou Ravi, a sua voz estava ainda rouca pelo sono, mas ainda assim firme e acolhedora. Malú engoliu em seco, porém a sua garganta seca dificultava a sua fala naquele momento. O medo ainda pulsava em suas veias, principalmente ao lembrar-se da ameaça anterior dele de chamar a polícia, ela inicialmente ficou sem saber o que responder. Não entendia por que ele estava sendo tão gentil agora. Mas a preocupação com May era maior, por isso respondeu: — Bom dia si... sim estou! — murmurou ela hesitante. Seus olhos não desgrudavam da pequena que estava nos braços dele, seu instinto gritava para protegê-la a qualquer custo. Malú tinha medo de estranhos, principalmente se fossem homens, e não costumava confiar neles. Por isso, levantou-se e foi até ele, pedindo a garota: — Por favor, me devolva a minha May. Posso cuidar dela. Ravi arqueou a sobrancelha, observando-a com atenção, seu olhar afiado captou a tensão em sua postura, e o forte sotaque russo em sua voz o intrigou. —Tem certeza que consegue cuidar dela? — perguntou ele, percebendo o tremor sutil em seus dedos. — Sim! — respondeu ela rapidamente Foi nesse momento que Malú notou que o que estava vestindo. Seu rosto empalideceu ao perceber a camisola leve e absurdamente transparente que cobria seu corpo. O tecido fino revelava muito mais do que deveria, deixando-a exposta de um jeito que a fez sentir-se vulnerável e envergonhada. Seu coração disparou ainda mais forte ao ver o olhar surpreso de Ravi. Ele não disfarçou o impacto de sua visão. Os olhos dele percorreram sua silhueta de forma involuntária, e por um segundo, ele pareceu estupefato. O pavor tomou conta dela. Ela se levantou de um salto e correu de volta para cama, puxando o lençol para cobrir seu corpo completamente. Tinha medo quando os homens a olhavam assim, sentia-se muito mal e suja. Seus lábios tremiam naquele momento e sua voz saiu em um sussurro trêmulo: — Por... por que estou vestida assim? O que aconteceu? foi você quem tirou minha roupa? O que fez comigo? Me dopou? É por isso que estou zonza? Me devolvo a minha May! Seus olhos estavam cheios de desespero e raiva, e sua respiração estava errática. O medo a dominava por completo. Ravi franziu a testa, seu semblante ficando sério. A acusação dela o atingiu como um golpe, ele inspirou profundamente antes de responder com a sua voz grave se intensificando a cada palavra: — Ouça, senhorita! Não é porque é linda que vou te atacar! Não sou nenhum louco abusador. Nunca precisei fazer isso com nenhuma mulher! E não fui eu quem trocou a sua roupa. Foi Camila, a minha governanta. E só está sentindo-se assim porque tive que chamar um médico para lhe atender. Ele te passou alguns calmantes, é por isso que somente agora acordou. Além disso, não entende que, se quisesse me aproveitar de você, teria feito enquanto dormia? Malu abriu a boca para responder mas as palavras não saíram em vez disso lágrimas escorreram silenciosas por seu rosto ela se encolheu tremendo abraçando joelhos sobre o lençol. Ao ver a reação dela, Ravi passou a mão pelos cabelos frustrado consigo mesmo: "Droga, fui um idiota tá na cara que alguém a machucou até a alma. Quem seria o desgraçado capaz de ferir uma mulher tão frágil? Ele suspirou tentando suavizar a sua abordagem, porém ouvi ela sussurrar: — Será que... po... Poderia trazê-la até aqui? — pediu Malú, com a voz trêmula. Ele então se aproximou e lhe entregou a Julian se levantou e caminhou até a cama, entregando a garotinha com delicadeza. — Aqui está a abelhinha! — disse ele brincando com o macacãozinho de abelha da criança, tentando aliviar a tensão. Malú observou, ainda cautelosa. Sentia-se grata por ter sua filha de volta, mas o medo ainda não a abandonava. Ela abraçou a menina e notou que ele se calou, notou também o olhar dele sobre ela. O quarto ficou em silêncio, e apenas o som suave da respiração da garotinha quebravam o silêncio. Enquanto a luz suave da manhã entrava pelas janelas, e iluminava o quarto com uma tonalidade amarelada. Ela tentou não sentir medo com a presença dele, mas era quase impossível não sentir isso quando algum homem se aproximava dela. O cheiro do perfume dele — uma mistura amadeirada e cítrica preenchia o ar, tornando sua presença ainda mais marcante, fazendo-a se sentir ainda mais desconfortável. Ela acariciou a garotinha, que acordou e sorriu para ela, emitindo um som doce de bebê. O coração de Malú apertou, e um sorriso involuntário escapou de seus lábios molhados de lágrimas. Ravi assistiu a cena em silêncio. Havia algo hipnotizante na forma como uma Malú segurava o bebê, como se May fosse o bem mais precioso da sua vida. “Ela é uma boa mãe” pensou ele, então falou novamente: — Por favor, desculpe-me por falar assim com você, como se chama? — perguntou ele com a voz mais calma, tentando fazer a garota confiar um pouco mais nele. Porém, mesmo ainda assustada, e hesitante lhe respondeu: — Maria Luiza Martinez mas me chamam de Malú, também peço desculpas por ter lhe julgado tão mal. Ele sorriu levemente antes de responder: — É um belo nome, muito prazer, senhorita Malú. Meu nome é Ravi Castellani. — Prazer, senhor Castellani. Bem... aham... O que aconteceu depois que... desmaiei? — perguntou ela, enquanto abraçava a criança com carinho e beijava o seu rosto. — Bem, como lhe falei, chamei um médico que disse que provavelmente estava com um nível de estresse elevadíssimo, por isso teve uma síncope e desmaiou! — respondeu ele, sério. Malú então abaixou a cabeça, pensativa, mas nada falou sobre o assunto. Depois, perguntou: — E por que a May estava com você? — Ela estava inconsolável enquanto você estava desmaiada e chorava muito no colo de Camila. Porém, quando a peguei, ela calou-se e dormiu. Por isso, não quis correr o risco dela acordar novamente e acabei dormindo com ela no meu colo! — explicou Ravi. — Obrigada, senhor Sampaio! — falou a garota, de forma envergonhada. — Obrigada pelo o quê, senhorita? — perguntou ele, intrigado. — Por tudo, principalmente por não ter chamado a polícia. Eu... — começou a dizer Malú. — Por favor, senhorita Martinez, esqueça aquela bobagem que eu disse, sim? Fui um completo idiota por ameaçar você daquela forma. Afinal, é visível que não é uma ladra, nem tão pouco uma sequestradora de bebês. — disse Ravi. — Por que tem... tem tanta certeza agora? — perguntou Malú. — Bem, você de uma forma mágica conseguiu burlar o alarme de um dos carros mais caros e seguros que tenho e nada roubou. A única coisa que fez foi ter se escondido com a sua bebê nele, porque sei agora que ela realmente é sua. — explicou Ravi. — Sabe?! — perguntou novamente ela, com as sobrancelhas levantadas. — Sim, quando Camila vestiu você. Trocou também as roupas da bebê, então observou nas coxas dela o mesmo sinal em forma de coração que você tem abaixo dos seios! — falou ele, de forma suave. Malú estremeceu levemente por ele saber algo tão íntimo no seu corpo. Ela queria lhe falar algo, no entanto, ele continuou: — Desculpe por ter julgado você erroneamente, embora ainda não entenda totalmente os motivos que a levaram a entrar no meu carro, porém posso imaginar. — disse Ravi. Malú engoliu em seco. Nesse momento, Ravi inclinou a cabeça, observando atentamente as reações dela. Ela então o perguntou: — Pode… imaginar?! Seus olhos se fixaram nele, e naquele instante, percebeu que Ravi não era apenas um homem bonito, também era muito inteligente e perigosamente perspicaz, talvez até demais…Naquele momento, ao sentir o olhar afiado de Ravi a tensão de Malú era visível, ela engoliu em seco ao ouvir as palavras dele, sentindo seu coração acelerar. O olhar firme dele a atravessava como se pudesse ver além das suas palavras hesitantes, Ravi a encarou e respondeu com franqueza: — É visível que está fugindo de alguém, porém, tenho toda a certeza de que não é da polícia. Malú sentiu um frio na espinha. Apertou instintivamente os dedos contra a barra do lençol que ainda a cobria. — Por que diz isso? — Sua voz soou mais fraca do que ela gostaria. Ravi inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos, sem desviar o olhar. — Porque esse alguém a machucou. Muito. E, pelo jeito, ainda quer machucá-la. Ela arregalou os olhos e, sem perceber, segurou a respiração. A mente dela disparava, tentando encontrar uma resposta convincente. — Não, senhor Castellani, acredite está enganado, não é bem assim eu... eu estava fugindo sim, mas não… — começou a dizer M
Malú corou e murmurou um "obrigada", ainda sentindo-se deslocada. Porém, gostou muito de Gabriela e percebeu que May olhava a todos com os olhinhos curiosos, como se já os conhecesse também. Então, baixando a cabeça, falou envergonhada: — Podem me chamar somente de Malú! — Agora que estamos todos apresentados, posso te chamar só de Malú também? — perguntou Ravi. Ela hesitou, então baixou a cabeça e falou num fio de voz: — Sim, Pode sem problemas… — Ótimo! Prefiro assim, Malú. Também pode me chamar somente de Ravi — falou ele, sorrindo. Camila então falou: — Quanto a mim, prefiro Cami. Mas diga-me, Malú, está melhor? — Sim, senhora estou e... aham... poderia ajudar-me a fazer algo para a minha bebê comer? Ela está com fome e... — Claro, Gabriela pode ajudá-la?! — disse Camila. — Sim, claro! Venha, vamos ver o que temos na geladeira de bem nutritivo para essa garotinha ficar ainda mais forte! — falou Gabriela, olhando para a bebê que já estava novamente no colo de
Ravi notou o silêncio dela por alguns instantes, como se estivesse lutando contra seus próprios pensamentos. Com delicadeza, ela pegou a garotinha dos braços dele, beijando-lhe a cabecinha adormecida. Sentiu a leveza do corpinho infantil se aconchegando e, então, tentou lhe dar uma justificativa aceitável: — Por causa de May. Acredito que o interior seja um lugar melhor para criá-la.Mas Lara Ravi aquelas palavras soaram falsas. Percebeu no mesmo instante que era uma mentira. Não uma mentira qualquer, mas uma que parecia gritar por socorro. Era como se conseguisse enxergar através dela, como se a conhecesse há anos e cada uma de suas mentiras estivesse escrita em sua expressão. Ravi se inclinou ligeiramente para frente, fitando-a com intensidade. — E sobre seu patrão abusivo? Não pretende procurar seus direitos? Posso te ajudar com isso, conheço bons advogados trabalhistas… Malú balançou a cabeça apressadamente, quase como um reflexo automático. — Não! Não é necessário. Já decid
Enquanto isso, longe dali... — Maldição, maldição! Como assim não a encontraram? Como podem ser tão burros! A ponto de ser enganados por aquela criança?! — disse Viktor, jogando o seu copo contra a parede enquanto vociferava para os seus homens que estavam de cabeça baixa para eles. Então, um deles se atreveu a falar: — Senhor, a ga… garota fugiu de nós do hotel, porém não voltou para o apartamento que estava, para buscar as suas coisas. Então, não fazemos ideia de on.. onde esteja, porém, sabemos que agora ela está realmente sem nada. Tudo que tinha deixou para trás! — E julgam que ela seria tão burra a ponto de voltar por meros trapos velhos? A minha menina é muito esperta e não idiota como vocês. É tão esperta que já enganou vocês várias vezes, seus imbecis! Droga! E agora, por suas incompetências, terei que refazer as investigações para saber para onde ela foi! — falou Viktor, aborrecido, segurando o homem pelo colarinho. Então o jogou no chão e com a faca que havia em sua mã
CAPÍTULO 12 – ISSO É DESEJO DOENTIO! Quando Malú finalmente alcançou a mansão de Dmitry, ele já estava lá, como uma sombra que não podia ser escapada. Antes que ela pudesse gritar, ele a agarrou pelo pulso, puxando-a com força brutal para um canto escuro do jardim. Seus lábios encontraram os dela com uma luxúria que parecia consumir tudo ao redor. Ele queria mais—muito mais. Cada pedaço dela, cada suspiro, cada tremor. E quanto mais ela resistia, mais o desejo sombrio dentro dele crescia, alimentado pela luta inútil dela.Mas, como se o destino insistisse em brincar com ele, outra interrupção surgiu. Uma voz familiar ecoou pelo jardim, cortando o ar pesado como uma faca.— Malú, onde você está, querida? Eu vi você chegar, mas não vi você entrar na mansão! — Era Olga, a governanta, com um tom de preocupação que Viktor achou irritantemente falso.Olga era a única naquela casa que não caía em seu charme. Ele sabia que aquela velha intrometida havia aparecido de propósito, como se senti
Viktor olhava para Malú com um olhar fixo, como se ela fosse uma posse sua. — Você é minha, Malú e nunca mais tente escapar de mim porque seja onde for, vou te encontrar, e você vai pagar muito caro por sua fuga entendeu?! — ele disse isso, com o tom de voz baixo e ameaçador. Malú sentiu um arrepio na espinha, seu medo surreal crescendo a cada segundo. Ela tentou se soltar dos seus braços com desespero e nojo, mas Viktor a segurou, com ainda mais força. — Sinto muito, coelhinha, mas jamais vou deixar você partir. Você é minha agora e será para sempre! — Sua voz ecoou pelo quarto, carregada de uma obsessão que fez o ar parecer mais pesado. Malú sentiu o coração acelerar, as paredes se fechando ao seu redor. Não havia escapatória.Ele avançou, às mãos ávidas, rasgando seu vestido em um movimento brusco. As peças menores seguiram o mesmo destino, caindo em farrapos ao chão. Malú se debatia, os olhos inundados de lágrimas, as unhas arranhando sua pele enquanto socava o peito dele com to
Ravi estava em seu escritório, imerso no trabalho. A manhã havia sido exaustiva, mas ele não reclamava. Afinal, desde a fusão das duas empresas Baby Bliss e Green Valley, há dois anos, sua carga de trabalho triplicou. Ele sorriu ao se lembrar da vídeo chamada que tivera minutos antes com Eduardo, seu pai, e Natália, sua cunhada. — Ué, filho, por que reclamar? — disse Eduardo, com um sorriso maroto. — Não é você mesmo quem sempre diz: “O trabalho dignifica o homem”... Pois então, aproveite e seja o homem mais digno do mundo! — Ele riu, piscando para Natália, que logo acrescentou:— É, cunhado, ninguém disse que seria fácil! — falou ela, com um tom desafiador, mas carinhoso.Ravi sorriu, sentindo-se aquecido pela leveza daquela conversa. — Me sinto o Hércules ultimamente — respondeu, brincando. — Agora, me digam: como faço para descasar você e o Heitor, hein?Era uma piada recorrente entre eles. Ravi sempre dizia que fora graças ao casamento de Natália e Heitor que as duas empresas r
Ravi sabia que Alexandre tinha um fraco por mulheres bonitas, assim como ele. Mas, ao contrário dele, Ravi, era mais seletivo, não saia com mulheres casadas, Alexandre, no entanto não media esforços quando se tratava de uma conquista. E, muitas vezes, isso o colocava em situações complicadas. Olhando para o rosto aflito do amigo, Ravi perguntou, já suspeitando da resposta: — Não me diga que você foi tão indiscreto a ponto de Lívia e Ruana descobrirem? Alexandre coçou a cabeça, em um gesto nervoso, e respondeu: — Elas têm fotos e vídeos... muito comprometedores de Ângela e eu. E isso... — E isso só prova que devemos nos manter muito longe delas! — interrompeu Ravi, firme. — Não quero essas mulheres na minha casa, ainda mais sabendo que... — Sabendo, que o quê? — indagou Alexandre, com a sobrancelha arqueada. Ravi hesitou por um momento, mas logo se recuperou. — Sabendo que... os meus verdadeiros amigos estarão lá. Eu simplesmente não desejo essas mulheres na minha casa.