Malú sentiu o coração disparar ao perceber que o carro estava em movimento, e provavelmente já havia saído do estacionamento. Afinal, ela podia ouvir o barulho de outros carros à sua volta, o suave balanço da estrada, o som abafado de motores roncando ao redor e as buzinas esporádicas confirmavam que não estavam mais no estacionamento.
A angústia apertava seu peito como um laço se fechando. Seu primeiro impulso foi gritar, pedir para parar, mas rapidamente descartou a ideia. Se o motorista fosse o dono do carro, poderia pensar que ela era uma ladra tentando se esconder. E, pior ainda, os homens de Viktor podiam estar nas proximidades. Seu desaparecimento não passaria despercebido por muito tempo, e se a encontrassem... não queria nem imaginar. Sentindo o suor frio escorrer por sua testa, fechou os olhos, então começou a orar pela ajuda de Deus. "Deus, por favor! Nos ajude!", sussurrou baixinho: — Deus, por favor! Nos ajude! No escuro do porta-malas, Malú tentou acalmar a respiração, contando mentalmente os segundos. Malú novamente tentou manter a calma, então pensou que assim que o motorista parasse, sairia de lá correndo o máximo que pudesse com a pequena. Mas, então, um som a fez congelar, a pequena começou a se agitar. O ambiente desconhecido, os ruídos da cidade e a trepidação do carro despertaram a menina. Primeiro, apenas um resmungo. Depois, os olhos dela se abriram, brilhando em meio à penumbra. Confusa, piscou algumas vezes antes de começar a choramingar baixinho. — Shhh, pequena... — Malú sussurrou, segurando-a com delicadeza, tentando embalar seu corpinho. Mas não adiantou. O choro ficou mais alto, ecoando no porta-malas, misturando-se aos ruídos externos. Malú prendeu a respiração. Ela sabia que seria impossível para o dono do carro não ouvir o choro da garota, visto que ela agora chorava a plenos pulmões E então, sentiu quando o carro freou bruscamente. Seu corpo foi lançado levemente para frente, e o choro da menina se tornou um grito assustado. O motor ainda roncava suavemente, mas tudo indicava que haviam parado. Segundos depois, ouviu o som de uma porta batendo e passos firmes rodeando o veículo. O barulho de um chaveiro tilintando preencheu o silêncio repentino, e então um clique metálico anunciou que o porta-malas estava prestes a ser aberto. Malú prendeu a respiração. Preparou-se para o pior. Algumas horas antes... A cobertura do hotel de luxo em Goiás pulsava com música eletrônica. Os graves intensos faziam o chão vibrar, como se acompanhassem as batidas aceleradas dos corações ali presentes. Luzes de néon piscavam em tons de roxo, azul e vermelho, refletindo nos copos cheios de bebidas coloridas e nos corpos que se moviam ao ritmo da festa. A festa de Alexandre ainda estava muito animada, e apesar de ainda ser cedo com certeza passaria da meia-noite, pois ao que tudo indicava não tinha hora para acabar. Naquele momento recostado no sofá de couro branco, Ravi Castellani exalava uma aura de sofisticação e poder. Seu físico esguio e atlético era realçado pelo terno impecavelmente cortado, que parecia ter sido feito sob medida para destacar suas linhas retas e angulares. Seus olhos verdes brilhavam com uma intensidade marcante. E os cabelos loiro, cortado com precisão, enquadrava seu rosto com perfeição. A pele morena, bronzeada por horas passadas ao ar livre, adicionava um toque de masculinidade ao seu já impressionante físico. Mas era sua presença que verdadeiramente o tornava notável. Uma aura de confiança e autoridade o envolvia, como se ele fosse o dono do lugar. E, de certa forma, ele era. Ravi era o tipo de homem que comandava atenção sem precisar fazer esforço. No entanto, aquele momento ele não estava só, afinal ele estava cercado por duas figuras bem conhecidas: Lívia e Ruana. Uma mulher loira de cabelos longos e brilhantes, um vestido justo realçando suas curvas. A outra, ruiva de olhos esverdeados que pareciam pedras preciosas sob a luz vibrante. Ambas tinham sorrisos provocantes e estavam sempre juntas – inseparáveis. Diziam as más línguas que elas, muitas vezes, adoravam dividir o mesmo homem ao mesmo, bem fosse ou não verdade, Ravi não poderia dizer, porém, já havia saído com ambas alternadamente e se quisessem também sairia com as duas na mesma noite. "E por que não? Já havia feito aquilo antes com outras mulheres, porque não com as suas queridas amigas?" pensou RAVI, enquanto olhava para as duas mulheres. Normalmente, Ravi gostava desse jogo de olhares e insinuações, mas naquela noite, algo parecia diferente. Na verdade, ele estava até mesmo bastante entediado. O perfume adocicado de Lívia misturava-se ao cheiro de álcool e suor no ar, mas nem isso o prendia. As conversas eram previsíveis, recheadas de duplos sentidos que, em outra ocasião, o teriam entretido. Visto que com frequência, tais conversas o excitava, mas naquele momento, pareciam apenas um ruído a mais em meio à música ensurdecedora e o estavam aborrecendo. Tanto que resolveu voltar para a sua mansão, queria dormir e descansar, afinal, amanhã teria um longo dia de trabalho. Suspirou e tomou um gole de sua bebida, sentindo o líquido queimar levemente na garganta. — Ravi? — Ruana sussurrou perto de seu ouvido, a voz macia e sedutora. Ele desviou o olhar da pista de dança e a encarou, sem muito interesse. — Acho que vou nessa — disse, deixando o copo sobre a mesa. As duas mulheres se entreolharam, surpresas. — O quê? — Lívia franziu a testa. — Mas ainda é cedo! — Amanhã tenho um dia cheio — respondeu com um meio sorriso. Afastando-se delas conseguiu se livrar das suas intenções, então procurou seu amigo Alexandre, o dono da festa. Encontrou-o perto do bar, rindo com alguns conhecidos. Chamou-o à parte e agradeceu pelo convite, disse que já estava indo. Seu amigo estranhou bastante, viu que como sempre Ravi estava cercado pelas garotas mais bonitas da festa, e como sempre deixando os amigos a ver navios. Porém, naquele momento, dava um toco em todas elas, e pelo olhar delas, principalmente de Lívia e Ruana, Ravi as deixou aborrecidas. No entanto, já conhecia o seu amigo e sabia que quando ele decidia algo, ninguém o fazia mudar de opinião. — Mas já, tão cedo amigo? — Alexandre arqueou a sobrancelha. — Sim, tenho minhas responsabilidades amigo — respondeu ele. Porém, antes de sair, Ravi o convidou para uma pequena social à beira da piscina que realizaria no final de semana na sua mansão. Afinal, depois de um bom tempo, Ravi decidiu vender o seu apartamento e morar na mansão que Eduardo seu pai deu para ele. Não somente ele, convidou alguns outros amigo também . — Mas no fim de semana, vou fazer uma social na minha nova casa. Você vem, certo? O rosto de Alexandre se iluminou, então comentou: — Até que enfim! Você percebeu que tem que se divertir um pouco, afinal nem tudo na vida se resume a trabalho, você precisa se divertir mais, cara! — É o que pretendo. — Ravi sorriu. — Aproveitar melhor a vida, principalmente com os meus amigos, é por isso que estou te convidando e peço que não falte em? — Pode deixar, não faltarei por nada, ainda mais sabendo o quanto de gatas você convidou para esta social à beira da piscina! — Falou piscando Alexandre para ele. Ravi sacudiu a cabeça e também sorriu, pensando que Alexandre não tinha jeito mesmo, era muito pegador e irresponsável. Após as despedidas, deixou para trás a agitação da festa e desceu até o estacionamento. O silêncio do local era um alívio bem-vindo depois da barulheira da cobertura. Caminhou até seu carro, um modelo luxuoso que ainda exalava aquele inconfundível cheiro de novo. As luzes do teto refletiam na lataria impecável, destacando o design arrojado e moderno. Ao entrar e ligar o motor, sentiu a potência suave da máquina vibrar sob suas mãos. "Que maravilha", pensou, manobrando para sair.Enquanto dirigia suavemente lembrou que quando chegou à festa, Alexandre perguntou se ele havia realmente comprado o carro que tanto desejava, pois sabia do alto valor do tal carro. Mas já sabia a resposta, afinal conhecia a paixão de Ravi por carros modernos e caros. Ao olhar para o painel do carro e todo o seu interior, Ravi levantou a sobrancelha e sorriu, ao lembrar o que conversou algumas horas atrás com Alexandre: — Sim, e ainda está com cheirinho de carro novo! — Se continuar assim, não sei onde irá conseguir estacionamento para tantos carros? — Também não é assim, amigo — respondeu Ravi. — Comprei esse por algo em especial que os outros não têm. — E o que seria? — Perguntou curioso o seu amigo. — Espaço... e conforto — murmurou, lembrando-se do motivo pelo qual havia escolhido aquele modelo específico. — Sou uma pessoa bastante espaçosa e preciso disso para me sentir realmente confortável. Além disso, o vendedor me mostrou o quanto ele era moderno, de toque automático e
Porém, naquele momento pensando rápido, Malú apertou os lábios e, com um leve tremor na voz, respondeu em russo: — Извините, господин, я не понимаю, что вы говорите. (Desculpe, senhor, não compreendo o que diz.) Ravi piscou, de queixo caído, pensou: " Russo?! A garota está falando em russo? É isso mesmo, ou estou ficando louco?" Ele se inclinou ligeiramente para frente, os olhos fixos nela. A mulher, por sua vez, deu um passo para trás instintivamente, apertando ainda mais o bebê contra o peito, e olhando em todas as direções, parecia estar procurando uma possível rota de fuga. Mas Ravi sabia que era impossível ela sair de lá, visto que o portão já estava fechado, e na frente havia três seguranças. No entanto, ela também tentava proteger o bebê do vento e da garoa que havia ficado depois da chuva, enquanto balançava o bebê que gradativamente calou-se. Por isso, Ravi falou novamente: — Perguntei quem é você e ainda não ouvi sua resposta! E novamente ela falou em russo, di
Um arrepio percorreu sua pele quando percebeu que estranho também estava acordando. Ele abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de focar nela. Um sorriso suave curvou seus lábios, e, ao contrário do que esperava, sua expressão não demonstrava ameaça, apenas um misto de curiosidade e gentileza. — Bom dia, senhorita! Por favor, não precisa ter medo. Está segura aqui. Está se sentindo melhor? — perguntou Ravi, a sua voz estava ainda rouca pelo sono, mas ainda assim firme e acolhedora. Malú engoliu em seco, porém a sua garganta seca dificultava a sua fala naquele momento. O medo ainda pulsava em suas veias, principalmente ao lembrar-se da ameaça anterior dele de chamar a polícia, ela inicialmente ficou sem saber o que responder. Não entendia por que ele estava sendo tão gentil agora. Mas a preocupação com May era maior, por isso respondeu: — Bom dia si... sim estou! — murmurou ela hesitante. Seus olhos não desgrudavam da pequena que estava nos braços dele, seu instin
Naquele momento, ao sentir o olhar afiado de Ravi a tensão de Malú era visível, ela engoliu em seco ao ouvir as palavras dele, sentindo seu coração acelerar. O olhar firme dele a atravessava como se pudesse ver além das suas palavras hesitantes, Ravi a encarou e respondeu com franqueza: — É visível que está fugindo de alguém, porém, tenho toda a certeza de que não é da polícia. Malú sentiu um frio na espinha. Apertou instintivamente os dedos contra a barra do lençol que ainda a cobria. — Por que diz isso? — Sua voz soou mais fraca do que ela gostaria. Ravi inclinou-se levemente para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos, sem desviar o olhar. — Porque esse alguém a machucou. Muito. E, pelo jeito, ainda quer machucá-la. Ela arregalou os olhos e, sem perceber, segurou a respiração. A mente dela disparava, tentando encontrar uma resposta convincente. — Não, senhor Castellani, acredite está enganado, não é bem assim eu... eu estava fugindo sim, mas não… — começou a dizer M
Malú corou e murmurou um "obrigada", ainda sentindo-se deslocada. Porém, gostou muito de Gabriela e percebeu que May olhava a todos com os olhinhos curiosos, como se já os conhecesse também. Então, baixando a cabeça, falou envergonhada: — Podem me chamar somente de Malú! — Agora que estamos todos apresentados, posso te chamar só de Malú também? — perguntou Ravi. Ela hesitou, então baixou a cabeça e falou num fio de voz: — Sim, Pode sem problemas… — Ótimo! Prefiro assim, Malú. Também pode me chamar somente de Ravi — falou ele, sorrindo. Camila então falou: — Quanto a mim, prefiro Cami. Mas diga-me, Malú, está melhor? — Sim, senhora estou e... aham... poderia ajudar-me a fazer algo para a minha bebê comer? Ela está com fome e... — Claro, Gabriela pode ajudá-la?! — disse Camila. — Sim, claro! Venha, vamos ver o que temos na geladeira de bem nutritivo para essa garotinha ficar ainda mais forte! — falou Gabriela, olhando para a bebê que já estava novamente no colo de
Ravi notou o silêncio dela por alguns instantes, como se estivesse lutando contra seus próprios pensamentos. Com delicadeza, ela pegou a garotinha dos braços dele, beijando-lhe a cabecinha adormecida. Sentiu a leveza do corpinho infantil se aconchegando e, então, tentou lhe dar uma justificativa aceitável: — Por causa de May. Acredito que o interior seja um lugar melhor para criá-la.Mas Lara Ravi aquelas palavras soaram falsas. Percebeu no mesmo instante que era uma mentira. Não uma mentira qualquer, mas uma que parecia gritar por socorro. Era como se conseguisse enxergar através dela, como se a conhecesse há anos e cada uma de suas mentiras estivesse escrita em sua expressão. Ravi se inclinou ligeiramente para frente, fitando-a com intensidade. — E sobre seu patrão abusivo? Não pretende procurar seus direitos? Posso te ajudar com isso, conheço bons advogados trabalhistas… Malú balançou a cabeça apressadamente, quase como um reflexo automático. — Não! Não é necessário. Já decid
Enquanto isso, longe dali... — Maldição, maldição! Como assim não a encontraram? Como podem ser tão burros! A ponto de ser enganados por aquela criança?! — disse Viktor, jogando o seu copo contra a parede enquanto vociferava para os seus homens que estavam de cabeça baixa para eles. Então, um deles se atreveu a falar: — Senhor, a ga… garota fugiu de nós do hotel, porém não voltou para o apartamento que estava, para buscar as suas coisas. Então, não fazemos ideia de on.. onde esteja, porém, sabemos que agora ela está realmente sem nada. Tudo que tinha deixou para trás! — E julgam que ela seria tão burra a ponto de voltar por meros trapos velhos? A minha menina é muito esperta e não idiota como vocês. É tão esperta que já enganou vocês várias vezes, seus imbecis! Droga! E agora, por suas incompetências, terei que refazer as investigações para saber para onde ela foi! — falou Viktor, aborrecido, segurando o homem pelo colarinho. Então o jogou no chão e com a faca que havia em sua mã
CAPÍTULO 12 – ISSO É DESEJO DOENTIO! Quando Malú finalmente alcançou a mansão de Dmitry, ele já estava lá, como uma sombra que não podia ser escapada. Antes que ela pudesse gritar, ele a agarrou pelo pulso, puxando-a com força brutal para um canto escuro do jardim. Seus lábios encontraram os dela com uma luxúria que parecia consumir tudo ao redor. Ele queria mais—muito mais. Cada pedaço dela, cada suspiro, cada tremor. E quanto mais ela resistia, mais o desejo sombrio dentro dele crescia, alimentado pela luta inútil dela.Mas, como se o destino insistisse em brincar com ele, outra interrupção surgiu. Uma voz familiar ecoou pelo jardim, cortando o ar pesado como uma faca.— Malú, onde você está, querida? Eu vi você chegar, mas não vi você entrar na mansão! — Era Olga, a governanta, com um tom de preocupação que Viktor achou irritantemente falso.Olga era a única naquela casa que não caía em seu charme. Ele sabia que aquela velha intrometida havia aparecido de propósito, como se senti