CAPÍTULO 3 - RUSSOS!

Ao chegar ao hotel, um prédio imponente de vidro e mármore, foi direto ao setor de Recursos Humanos.

O corredor tinha um cheiro forte de produtos de limpeza e café requentado. Porém, quando foi falar com o encarregado do RH, um sujeito de rosto severo e terno engomado, nem esperou que ela explicasse.

— Impossível trabalhar aqui com uma criança. No colo!

O coração de Malú afundou. Mas apesar de ter ficado inicialmente triste, ela não desistiria, falaria diretamente com o dono. E se o rapaz do RH não escutaria talvez o dono a escutasse, assim como a senhora Moreira falou. Iria explicar-lhe que daria um jeito e que não levaria a pequena com ela, enquanto estivesse trabalhando. Pois, o rapaz do RH não lhe deu nem oportunidade de lhe explicar direito, já foi logo dispensado-a.

Ela soube então que o dono estaria lá à noite. Resolveu que insistiria. Por isso, quando deu nove horas, Malú voltou novamente ao hotel, dessa vez pela entrada principal. O saguão era luxuoso, com lustres brilhantes refletindo na superfície polida do chão. O perfume floral e amadeirado do ambiente misturava-se ao som de conversas abafadas e passos elegantes sobre o tapete.

Ela esperaria o dono no saguão do hotel.

Porém, assim que entrou, observou dois homens pedindo informações para a recepcionista em um português totalmente arrastado. Os homens estavam de costas, por isso não a viram então, um arrepio subiu por sua espinha ao ouvir um sotaque familiar.

Malú congelou “Russos!”. Seus olhos se arregalaram ao vê-los mostrando sua foto para a recepcionista, ela sentiu o seu coração disparar. “Viktor a encontrou….” Pensou ela

Ela então aproveitou e, com a menina no colo, escondeu-se atrás de uma parede, enquanto via os homens mostrarem a sua foto para a moça, que disse:

— Sinto muito, mas não posso dar informações dos hóspedes do hotel!

— Essa moça não é uma hóspede — dizia um dos homens. — Acreditamos que veio procurar emprego aqui.

— Sendo assim, quem poderá dar-lhes tal informação é somente Rony, o rapaz do RH! — disse um dos funcionários.

Porém, enquanto olhava para frente, a moça avistou Malú, então apontou para ela e falou:

— Vejam, não é a moça que procuram!

Ao perceber aquilo, Malú ficou desesperada e pensou em correr para a porta da frente, porém, sabia que se saísse por lá, provavelmente havia outros lá fora à sua espera. Por isso, segurou a pequena May com força em seu colo, e correu na direção da área de serviço do hotel, com os homens em seu encalço.

Ela não sabia para onde estava indo, mas continuou. Passou pela cozinha, onde o cheiro de carne grelhada e temperos pesados encheu seu nariz, e depois pela lavanderia, onde nuvens de vapor subiam das máquinas barulhentas. Os homens seguiam em seu encalço. Eles não corriam, pois não desejavam chamar atenção demais para si. Ela, porém, corria sem medo, mesmo com a pequena no colo.

Por sorte, ela percebeu quando eles se atrapalharam com dois homens que entravam na lavanderia com três enormes carrinhos de lençóis sujos.

Ela aproveitou e escondeu-se no almoxarifado, visto que naquele momento era a sua única opção. Ao entrar sentiu o cheiro de papelão úmido e produtos de limpeza encheu suas narinas, quando ela se escondeu entre as prateleiras. Com o coração com a cabeça martelando, pensou o que faria a partir dali.

Agradecia ao perceber que a garota estava calma, porém, sabia que a pequena sentiria fome e teria que sair o mais rápido possível daquele hotel. Mas infelizmente não poderia voltar para o seu apartamento, pois tinha certeza de que eles já sabiam onde ela se escondia.

Ela ouviu os passos firmes dos russos se aproximando, suas vozes falando em tons baixos e ameaçadores ao telefone, porém percebeu que eles haviam passado do almoxarifado, e suspirou aliviada, agora tinha que pensar como fugir dos outros que estavam na frente do hotel.

Então, enquanto pensava nisso, alguém entrou no almoxarifado, era um dos funcionário do hotel, que quando a viu lá, falou aborrecido e alto o suficiente para alertar os russos que a procuravam:

— Ei, moça! Não pode ficar aqui, é proibido a entrada de pessoas que não sejam os funcionários!

Ela soube que precisava se mover, então olhando para fora saiu dali. Desesperada sentiu os passos dos russos atrás dela, por isso correu novamente o máximo que podia, deixando o almoxarifado para trás e saindo no estacionamento. O ar frio da noite bateu em seu rosto, mas ela não parou.

A menina já estava bastante sonolenta, o que era incrível visto que ela corria com ela no seu colo. Porém, totalmente alheia a tudo, a garotinha já fechava os pequenos olhinhos.

Ela se abaixou, escondendo-se por trás daqueles carros, ao ouvir passos no estacionamento. Então, os avistou novamente ao longe. Em desespero, ela sentou-se no chão, atrás de um carro que parecia bem grande. Sentindo o cheiro forte de graxa e gasolina. Os russos estavam próximos. O som das solas dos sapatos ecoava no concreto.

Nesse momento, já totalmente desesperada, ela já não sabia mais o que fazer. Então quando ela viu a marca do carro, seu sorriso se iluminou, tirou algo da mochila, com as mãos ágeis e com uma facilidade incrível, conseguiu abrir o porta-malas do carro sem acionar o alarme. O clique da trava em seus ouvidos pareceu como o retumbar de um trovão, mas na verdade foi quase imperceptível.

Malú se enfiou dentro, apertando May contra si, que pela graça de Deus, dormia naquele momento. Ela ainda ouviu os homens falarem em russo e provavelmente era no celular. Eles explicavam que a perderam de vista. Não sabia o que Viktor falou-lhes, mas sabia que ele não era nem um pouco gentil com eles. A voz deles era baixa e ameaçadora, enquanto o som do celular ecoava no estacionamento.

Então, de repente o carro ligou. O som do motor roncando foi como um soco no estômago. O chão parecia estar se movendo sob seus pés, enquanto o carro começava a se afastar do estacionamento. Malú sentiu seu coração bater forte, enquanto tentava manter a calma. O veículo começou a se mover lentamente, ela prendeu a respiração.

Por um instante, seu coração parou. Então, começou a bater tão forte que ela temeu que o som ecoasse dentro do porta-malas apertado. O couro do banco traseiro roçava em sua pele suada, enquanto o ar ali dentro parecia rarefeito, pesado com o cheiro forte de graxa e combustível.

Ela prendeu a respiração quando sentiu o veículo dar um solavanco e começar a se mover. O chão estava desaparecendo sob seus pés. Cada metro que o carro avançava a fazia se sentir mais perdida, mais vulnerável. Aonde estava indo? Quem estava dirigindo? E se parassem o carro e descobrissem ela e May ali dentro?

Um nó apertou seu estômago. Sua mente rodava, cheia de perguntas sem resposta. Cada pequeno solavanco da estrada fazia sua ansiedade crescer. O espaço escuro e apertado ao seu redor parecia se fechar mais e mais, como se estivesse sendo engolida.

Ela precisava manter a calma. Precisava pensar.

O calor do corpo adormecido de May contra seu peito era sua única âncora. O peito da menina subia e descia devagar, seu rostinho relaxado, alheio ao perigo. Malú fechou os olhos por um momento, tentando conter o pânico. Ela precisava de um plano. E rápido.

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