Capítulo 2
— Ernes, nosso pequeno Nicolau ficou desamparado mais uma vez, desculpe não conseguir uma boa cuidadora. Hã?Olho para a lápide da minha falecida esposa, sentindo um nó no peito. Uma dor dilacerante. Nem ao menos tenho o direito de chorar, passar pelo luto como uma pessoa normal faz. Meu filho precisava de mim, não deixarei aquela família m*****a tirá-lo do meu hotel.— Está fora de cogitação me casar outra vez, uma nova esposa não fará o papel de mãe. Essa vaga será somente sua, meu amor. Coloquei novamente os óculos escuros e sai do cemitério, mantendo a fachada da frieza mesmo não tendo ninguém nessa área. Comprei esse espaço para Ernes ter o seu próprio recanto de paz, ela merecia depois de tudo que passou para por nosso primogênito no mundo. Aguentou firme os últimos estágios da gestação depois daquele trágico acidente.A polícia ainda não pegou o verdadeiro culpado, mas será uma questão de tempo. Assim me sentirei vingado.***De todas as vagas disponíveis, me botaram logo para limpar a sauna master, além dos banheiros em volta do local. O bom que não estava sozinha, uma equipe de cinco mulheres foram designadas para a mesmíssima função. Porém os comentários sobre o meu rosto não paravam de fervilhar, embora me mantenha focada na limpeza e no atendimento.— Nossa, olha a aparência dessa menina.— Aquela verruga é bizarra, cruzes.— Como puderam colocá-la neste hotel?— Fiquei sabendo que o nosso estimado secretário falou com o pessoal do rh para dar uma vaga para ela, coitadinha. Os cochichos prosseguiram mesmo me afastando dessas pessoas, escolhendo exercer a função sozinha. Na hora do almoço, na cantina, só se ouvia os mochinhos. Peguei a bandeja de comida e sentei na ponta do banco mais próximo. Uma moça muito bonita veio se sentar na minha frente. Achei que ela fosse zombar de mim, mas ficou tentando me olhar melhor enquanto desviava dos olhos atentos dela.— Não se sente desconfortável?— Nem um pouco. — Respondeu seguramente. — Por que deveria?Fitei-a sem temor, vendo-a começar a refeição tranquilamente.A mulher era linda, face meiga. Loira com o corte bem moderno, naquele estilo bicudo de um só lado, as madeixas onduladas com babyliss.— Aparentemente a minha feiura incomoda as pessoas.— Quem disse que você é feia?Arregalei os olhos, ela não pode ter me reconhecido por trás do meu disfarce. Essa produção foi realizada por uma perita credenciada. — Tá cega?Dei uma garfada no prato, pondo comida rapidamente na boca. Sorriu de lábios fechados, parecendo satisfeita consigo mesma.— Não entendo porque se esforça tanto para parecer o que você não é.Fiquei encucada.— Não sei que conversa é essa.— Essas lentes são de verdade?Feito um fleche pegou nos meus óculos antes que pudesse impedir.— Ei! Me dê isso.Ela ergueu os braços negando com a cabeça. Bufei desistindo de tentar pegar, estava com muita fome pra brincadeira sem graça.Tentei pegar no macarrão parafuso outra vez, mas somente via embaçado.— Nossa, você é cegueta mesmo, não está mentindo.Furiosa levantei erguendo-me do assento.— Claro que não droga! Me devolve isso.— Tá bom, tá bom. A loira cuidadosamente me devolveu, mas fiquei feito uma palhaça fazendo os outros rirem.— CalmaVeio até onde estava pondo no meu rosto, mesmo estando tensa pela sua aproximação repentina.— Pra que isso? Gostou de caçoar de mim?— Não foi…— Tenho um grau forte de miopia.— Já tentou lentes? Umas que não matasse essa cor linda de olhos que você tem. Cor de chocolate. — Tenho alergia, entendeu agora? — Perguntei rudemente ao retornar do almoço.— Entendi, mas essa massa marrom grudenta aqui…Apontou para a minha falsa verruga.— Tem creme que faz cair isso daí.— Que foi? — Empinei o queixo. — Não tente me usar para fazer uma super produção.— Tem razão, esquece. Então serei obrigada a ser a sua amiga, afinal vai precisar de uma defensora. O secretário está muito ocupado trabalhando para o viúvo rico.Me interessei por uma parte do assunto.— Me conte sobre o nosso presidente, verdade que só tem um mês que se tornou viúvo?— Nem está interessada na minha amizade? Assim fico chateada. — comentou drasticamente, fazendo-me achar graça da sua incrível performance.Samanta me contou por alto, depois voltamos a trabalhar. Agora menos tensa, pois tinha encontrado um ombro amigoA noite quando todos saíram para as suas casas, fiquei pensativa sobre onde passaria meu primeiro dia nesse país estrangeiro, foi quando recebi uma carta do homem que abriu as portas de um mundo novo para mim. Nela continha um bolo de dinheiro e as chaves do quarto simples deste hotel. Sorrindo fui acompanhada por um rapaz muito gentil até o meu local de descanso.— Então, senhorita, segundo o secretário pode ficar a vontade e pedir serviço de quarto. Esse corredor é da classe econômica, portanto não se acanhe com nada. Ele me solicitou para que falasse em seu nome. — Agradecida. Amanhã mesmo falarei com ele, tem sido de grande ajuda.— Não se preocupe com isso. — Respondeu gentilmente. — Boa noite.— Boa noite… — Nan. Pode me chamar assim.— Tá bom.Sorriu ao vê-lo sorrir.— Descansa.Andou para trás meio tímido, dando tchau.— Amanhã será a minha ajudante no carregamento de malas. — confessou todo bobo— Ah, que legal. Até amanhã então.Ele ficou todo empolgado, parecendo que ia num encontro. Que doideira!Entrei no meu quarto me jogando diretamente na cama fofa.— Ai que tudo!Capítulo 3Passar a noite em uma cama desconhecida não estava sendo uma tarefa fácil, minha ansiedade se encontrava a mil. Ainda mais depois da contribuição daquele estimado senhor. Relembrei dele, daquele rosto pacífico de estrutura fina, completando com aquele queixo irresistível. Com um furinho no meio.— Acho que não seria nada demais bisbilhotar o hotel à noite, já que ele fica aberto vinte e quatro horas.Dei um salto, impulsionando as pernas para fora do colchão. Procurei apressadamente na mochila um conjunto de moletom escuro. Fiquei radiante ao pegar a peça de cima com capuz. Calcei as chinelas do hotel, já que havia trago somente um par de sapatos fechados. Um com cadarços.Me arrumei dando uns pulinhos, contagiada com a empolgação de espionar.Sai do quarto devagar, encostando a porta ao abandonar o local.Caminhei saindo daquele andar, mas ao chegar em outros corredores mais luxuosos percebia aqueles quadros de artistas. Não me dando conta os níveis que havia subido.Cansa
Capítulo 4Muitas pessoas possuem esse tom, não era nada demais, pensei comigo mesma.Audaciosamente tentei pegá-lo, embora sentia que não devesse. Contudo acabei percebendo que ele estava incomodado com alguma coisa, percebi rapidamente que se tratava das fraldas.— Ok, o neném precisa ser limpo.Puxei as mangas, e fui correndo limpar as mãos. Catei nas gavetas algo que pudesse usar, acendi apenas uma luz extra direcionando para o berço. O garotinho não gostava de iluminação muito forte em cima dele, pelo que pude notar.Limpei-o, e terminei o serviço em tempo recorde. Usei nele uma fralda de pano, já que não havia descartáveis.— Prontinho, meninão.A boquinha dele se curvou para o lado ao bocejar. Revirou os grandes olhos voltando a adormecer.A porta foi aberta bruscamente enquanto buscava uma maneira de jogar aquele lixo fora, mas não deu tempo. Me escondi rapidamente atrás do sofá branco.— Nicolau, papai voltou e… ué…Percebeu que estava dormindo, e que estava trocado. — Mas q
Capítulo 5Segundo as instruções da senhora chefe da matriz, precisei usar uma nova vestimenta, além de uma coleção completa da mesma, só que com cores diversas. Não ganhei sapatos como o previsto, portanto ela olhou desagradavelmente para os meus pés.— Assinou o contrato, Safira?O secretário chegou na sala de reuniões executivas.— Assinei, mas a parte de viver para sempre me deixou perplexa.Sorri ao vê-lo sorrir. A senhora se despediu meio enfezada com a nossa interação. — O que aconteceu com ela hoje? — questionou ele coçando a cabeça.— Nada não. — falei balançando o corpo arrumando as mangas estilo balonê.— Já comeu? Parei olhando-o.— Como é?— Perguntei se já almoçou.— Mas por que?— Estou te chamando para comer no espaço reservado para os clientes, será minha convidada. Estou com fome, me acompanha?Ofereceu a mão amiga e fiquei em dúvida, além de sem graça.— Não se acanhe com o meu pedido. — Abriu mais o sorriso. — Quero te passar os últimos detalhes com a senhorita.
Capítulo 6Tendo a babá aqui pude perceber o quanto uma presença feminina e delicada fazia falta para o cotidiano, embora tenha ficado pouco tempo sem poder usufruir disso, desse tipo de companhia. Querendo ou não acabei me acostumando.Safira era excelente para o cargo, porém o que me fez querer empregá-la estava além das suas qualificações profissionais. Mas não podia alardear, precisa investigar o seu verdadeiro passado, aquele que ela tenta esconder a sete chaves.Sou um homem astuto, não me deixo enganar ou me influenciar fácil. Seus dotes realmente impressionam, mas sei que por trás de sua grande gentileza, esconde profundas mágoas.— Onde está a sua família?Quase cuspiu o pedaço da maçã, em seguida colocou cuidadosamente uma mecha de cabelo atrás da orelha. O formato era idêntico ao da minha falecida, contudo poderia ser a minha mente pregando uma peça. Visto que a semelhança das duas na idade atual da Safira se igualam perfeitamente. E isso mexia demais comigo, além das minhas
Capítulo 7— Acho que conseguimos escapar, Nicolau. Ao olhá-lo pude perceber que dormia profundamente. A injeção não era para fazer esse efeito, no entanto a enfermeira nos avisou que teria uma sonolência. Mas não imaginava que seria tão rápido.Andei pelo bairro aflita, carregando algo precioso nas mãos. Senhor Drummond confia muito na minha pessoa para deixar escapar dessa maneira com o seu rebento. Teria que dar tudo de mim nesse trabalho, Nicol precisava muito de uma babá, assim. Forte como eu.Passei pela calçada de um bar, onde pessoas alegremente bebem suas cervejas, cachaças e outras iguarias. Detestava álcool de qualquer natureza, não tinha boas recordações quando essa intrusa se metia em nossas vidas.Alguém do nada me embarreirou, atrapalhando completamente a passagem. O beco pela qual estimava passar era estreito demais. Porém era o único caminho para não chamar atenção.— Ora, ora… O que bons ventos trazem à senhorita aqui e… Não brinca! Raptou o filho do patrão sua doid
Capítulo 8 — Vamos gata, seu patrão nem vai descobrir. — Me sinto mal por deixar o menino aos cuidados de uma simples babá eletronica. — Apertei a blusa, sentindo um profundo sofrimento interno, mas não deixei que transparece. — É minha obrigação, não devia estar aqui. Vou… Tentei dar meia volta mas Samanta foi mais rápida que eu. — Vamos sim, garota sua melhor amiga estava morrendo de saudades. É sua primeira noite de folga. — Mas o senhor Drummond… — Ele não gostou nada de saber que ia dar uma saidinha à noite, sei disso. Mas você tem que viver além das paredes daquele hotel Safira. — Suspirou cansadamente. — Já basta ter que morar por lá. Continuamos a andar pela rua, a noite estava quente e a agitação das pessoas ao meu redor me incomodava um pouco. Entortei a boca ao pensar neles, um pai que não se sentia à vontade para pegar seu próprio filho. E se o menino chorar querendo colo? — Endireita essa cara menina, você precisa se divertir. Samanta pegou na minha mão, levando
Capítulo 9— Mas que merda é essa? Por acaso descobriu uma doença terminal ou só está gripado? — Perguntou meu secretário pessoal, averiguando meu rosto inteiro, além de me virar de costas para continuar sua apuração.— Para com isso! — Exclamei puto.Tomei a frente, segurando seus dois pulsos no alto.Solano não me compreendia naquele momento, mas em breve tudo vai fazer sentido. Assim espero.— Aquele desgraçado do pai da Ernes, não vai nos deixar em paz. Tenho certeza disso. O Nicol é muito valioso para ele, você sabe. Ele é meu único herdeiro.Abaixei seus braços lentamente me sentindo exausto pela primeira vezAquela família m*****a! Seria uma questão de tempo até descobrirem a verdade, só fiz aquilo para ganhar tempo. Preparar a babá para o que poderá acontecer caso venha faltar na criação do meu menino.— Acha mesmo que seu ex-sogro faria algo tão radical?Olhei-o profundamente.— Ele tem tentado se aproximar pela surdina, estou atento aos seus passos.— Por causa disso sai toda
Capítulo 10— Está passando mal senhorita? — Arqueou uma sobrancelha, deixando-me mais sem jeito ainda.Pisquei, tentando finalmente sair desse maldito transe da qual fui lançada.— Me solte por favor.— Tudo bem. — Falou seriamente sem desviar aquele par de olhos. — Mas se sente melhor? Pareceu pálida. Parecia ter esvaído a vida do seu rosto.Então ao ficar excitada pela primeira vez na vida me fez parecer uma alma penada? Nossa! Que sensual.Pensei desanimada.Pegou delicadamente em meu rosto com intuito de remover meu acessório, nisso acabei eu mesma saindo apressadamente dos seus braços. Desajeitadamente ajeitei o corpo para não precisar ajuda dele.— Melhorou? Posso prosseguir com o plano?Se certificou cuidadosamente.— Não vou me casar com o senhor, tá louco?Cansada joguei a mochila no chão após consertar os óculos.— Não me recordo de ter lhe feito esse tipo de pedido, senhorita.Encabulada balbuciei palavras desconexas.Cruzou os braços torcendo aquela boca convidativa para o