Capítulo 4
Muitas pessoas possuem esse tom, não era nada demais, pensei comigo mesma.Audaciosamente tentei pegá-lo, embora sentia que não devesse. Contudo acabei percebendo que ele estava incomodado com alguma coisa, percebi rapidamente que se tratava das fraldas.— Ok, o neném precisa ser limpo.Puxei as mangas, e fui correndo limpar as mãos. Catei nas gavetas algo que pudesse usar, acendi apenas uma luz extra direcionando para o berço. O garotinho não gostava de iluminação muito forte em cima dele, pelo que pude notar.Limpei-o, e terminei o serviço em tempo recorde. Usei nele uma fralda de pano, já que não havia descartáveis.— Prontinho, meninão.A boquinha dele se curvou para o lado ao bocejar. Revirou os grandes olhos voltando a adormecer.A porta foi aberta bruscamente enquanto buscava uma maneira de jogar aquele lixo fora, mas não deu tempo. Me escondi rapidamente atrás do sofá branco.— Nicolau, papai voltou e… ué…Percebeu que estava dormindo, e que estava trocado. — Mas quem faria isso? Beta veio dos mortos só para limpar sua bunda?Tampei a boca para não deixar a gargalhada sair, por que raios ele está falando assim?— Será que estou ficando doido?Jogou o pacote de fraldas no chão, se pondo logo no sofá. Aquilo me assustou, será que ele ficará sentado invés de ir para a cama?Olhei para aquela caminha de solteiro, descobrindo que se ele fosse realmente para lá descobriria a intrusa aqui. Que merda!Safira, onde você foi se meter? Custava ficar na sua quietinha?Esperei e esperei, ouvindo os murmurinhos daquele homem e do quanto sua vida era infeliz. Os únicos momentos que dizia algo bom, era quando falava sobre seu primogênito. E isso soava agradável aos meus ouvidos, além de deixar meu coração derretido. Mais ou menos uma hora depois, vislumbrei seu braço caindo, revelando uma mão enorme, lotado de veias altas. E nos ossos das costas da mão, pude notar um machucado brotando sangue. Cacilda, esse homem saiu na farmácia ou nocauteou algum desavisado? Será que esse seria um hobie esquisito dele? Socar para desestressar?Não ia ficar muito tempo para descobrir, portanto sai de fininho. Engatinhei lentamente mas seus dedos longos se lançaram sobre a minha face feito uma teia de aranha venenosa. Cai bruscamente de traseiro no chão, doendo no meio das nádegas.— Aí… — resmunguei baixinho fazendo-o murmurar o nome da sua falecida, e o quanto sentia muito.Não desisti e continuei a missão de sair de sua casa, podia pegar mal para mim se ele me encontrasse. Porém antes de abandonar aquele espaço, me atrevi correr outro risco.***Ao abrir num rompante os olhos devido ao choro do meu bebê, me coloquei logo no automático refazendo aquilo que aquela senhora me ensinou.“— O senhor precisa aprender, para quando eu não estiver aqui para fazer.— Não ouse morrer antes do combinado… Aí!Me deu um tapa na nuca.— Vá e aprenda a cuidar do seu filho homem!”Lembranças de uma época boa.A campainha tocou em seguida, era uma das funcionárias. Ainda bem que hoje será a entrevista da nova babá.***— O senhor passou bem a noite? — perguntei ao ver o meu chefe bocejar.— Claro que sim, por que não passaria?Olhou fixamente para a sua mão.— O que houve? O senhor se meteu em uma briga aleatória? Como consegue fazer isso sem beber uma gota de álcool? — questionei reclamando. — Para quem devo ligar dessa vez?Me prontifiquei, sempre alerta. Precisava cuidar desse cara. — Ontem fui à farmácia e na volta...— Hu?— Acho que….— Que…— Recebi a visita de um anjo, não! Uma anja.Sorri internamente sabendo do que se referia. — É a única explicação para isso aqui ter acontecido.apontou para o band aid de pintinhos colado na ferida. — O que isso tem haver? — Indaguei sem entender nada, guardando o celular no bolso da calça.Balançou a cabeça como se estivesse desfazendo alguns pensamentos secretos dentro daquela mente que nunca parava. Será que a senhorita Victoria fez morada nesse coração tão fechado para o amor?Suspirei sonhadoramente. Escolhendo não enche-lo de perguntas.— Solano, vamos ao que interessa.— Sim, chefe.Me alegrei com sua empolgação, fazia tempos que não o via assim desse jeito. Não iria atrapalhar***— Muito obrigado pela sua ajuda, Safira. — ditou ele todo sorridente. Realmente Nan não se importava com a minha falsa feiura.— De nada, pode me chamar quando precisar. — Olhei de relance para os demais carregadores ali presentes fazendo o mesmo que nós. — Eles estão olhando.— Não ligue, só o que importa que posso ver de perto esse sorriso lindo.Comentou olhando diretamente nos meus olhos. Sorri, achando graça do seu comentário.— Tem a mesma cegueira da Samanta? Hein?Empurrei seu ombro enquanto ria mais abertamente para ele, um segundo depois sua mão segurou na minha com precisão absurda.— Que mãos macias, acho que nunca trabalhou no lavabo antes.Imediatamente fiquei séria, puxando o braço com extrema exigência.“— Acha mesmo que um dia vai se livrar de mim!! Olha essas mãos de princesinha!!! Venha aqui sua puta!!!”A perseguição, as coisas sendo quebradas por aquelas mãos pesadas…A respiração ficou presa com as recordações do passado.— Safira! Safira!Não reconhecia esse nome, esse não era o meu real nome.Nan me balançou, fazendo-me retornar para o presente. Sorri, disfarçando o nervosismo.— Vamos ao refeitório tomar um café?— Mas…— Vou lá, estou precisando.— Não terminamos aqui.Não queria ouvi-lo.— Carregador, nos ajude aqui.Uns hóspedes solicitaram seus serviços, e ele não podia recusar.Sai dali correndo, adentrando novamente para o meu novo lar. Respirei fundo, usufruindo bem a fragrância da recepção. — O mocinha, o chefe está esperando. Tá pensando o que dá vida parada feito uma tonta?O líder do departamento do rh me arrastou para uma sala, mesmo dizendo que já estava empregada. — Quer ganhar mais? Trabalhe para o pequeno príncipe, todavia encare a fera primeiro.Ele me deixou num aglomerado de lindas candidatas, e nem ao menos pude levar o meu currículo comigo. Cocei o nariz, e arrumei os óculos de grau. De quebra dei uma conferida na minha nova marca registrada “a senhora verruga”. Me senti incomodada por ver tantos pares de olhos atentos sobre mim, além é claro do muxoxo desagradavel que se seguiu.— Silencio, a entrevista vai começar. A multidão se dissipou instantaneamente, formando uma fila organizada. Assim dei de cara com aquele homem de terno e gravata, parecendo muito sério e de mau humor. Ao lado dele o agradável secretário. Meneei a cabeça quando um adorável sorriso saiu de sua boca. Apaziguando parcialmente o meu temor por ver um rosto amigo.— Sou o Sr.Drummond e quero que cada uma de vocês se apresentem.Meu coração disparou ao notar quem era aquele ser, e de quebra ainda usava o curativo de patinhos. Ai meu Deus, será que ele desconfia? Não, estava escuro e ele estava dormindo. Não existe essa possibilidade.Fechei fortemente os olhos querendo urgentemente desaparecer da face da Terra.— Senhorita.Entreabri os olhos devagar, observando os dois homens me averiguando atentamente. — Pode se apresentar para o CEO, não se preocupe. Peguei seu currículo por garantia. Pedi ao líder do rh para achá-la no hotel. - Apertou os lábios. Os olhares das moças quase me fizeram desistir, mas não podia dar uma de louca agora.Me apresentei formalmente, tentando parecer o mais normal possível. Sr.Drumond aparentava ter quase o dobro da minha idade, embora facialmente falando mostrar que é jovem para essa idade. Uma mistura de rosto quadrado com as bochechas que poderiam possuir covinhas caso sorrisse mais. A dureza daquelas linhas, pareciam enrijecidas feito um gesso. Os olhos eram frios da cor do carvão, contrariando a cor do jambo dos fios jogados para trás meio de lado. Arrumado rigorosamente para não atrapalhar sua olhada crua. Mas a boca…— Está contratada, esteja à tarde nos aposentos da ala presidencial. Secretário, mostre o contrato de fidelidade à moça. — Disse saindo em seguida, deixando todas nós de boca aberta.Capítulo 5Segundo as instruções da senhora chefe da matriz, precisei usar uma nova vestimenta, além de uma coleção completa da mesma, só que com cores diversas. Não ganhei sapatos como o previsto, portanto ela olhou desagradavelmente para os meus pés.— Assinou o contrato, Safira?O secretário chegou na sala de reuniões executivas.— Assinei, mas a parte de viver para sempre me deixou perplexa.Sorri ao vê-lo sorrir. A senhora se despediu meio enfezada com a nossa interação. — O que aconteceu com ela hoje? — questionou ele coçando a cabeça.— Nada não. — falei balançando o corpo arrumando as mangas estilo balonê.— Já comeu? Parei olhando-o.— Como é?— Perguntei se já almoçou.— Mas por que?— Estou te chamando para comer no espaço reservado para os clientes, será minha convidada. Estou com fome, me acompanha?Ofereceu a mão amiga e fiquei em dúvida, além de sem graça.— Não se acanhe com o meu pedido. — Abriu mais o sorriso. — Quero te passar os últimos detalhes com a senhorita.
Capítulo 6Tendo a babá aqui pude perceber o quanto uma presença feminina e delicada fazia falta para o cotidiano, embora tenha ficado pouco tempo sem poder usufruir disso, desse tipo de companhia. Querendo ou não acabei me acostumando.Safira era excelente para o cargo, porém o que me fez querer empregá-la estava além das suas qualificações profissionais. Mas não podia alardear, precisa investigar o seu verdadeiro passado, aquele que ela tenta esconder a sete chaves.Sou um homem astuto, não me deixo enganar ou me influenciar fácil. Seus dotes realmente impressionam, mas sei que por trás de sua grande gentileza, esconde profundas mágoas.— Onde está a sua família?Quase cuspiu o pedaço da maçã, em seguida colocou cuidadosamente uma mecha de cabelo atrás da orelha. O formato era idêntico ao da minha falecida, contudo poderia ser a minha mente pregando uma peça. Visto que a semelhança das duas na idade atual da Safira se igualam perfeitamente. E isso mexia demais comigo, além das minhas
Capítulo 7— Acho que conseguimos escapar, Nicolau. Ao olhá-lo pude perceber que dormia profundamente. A injeção não era para fazer esse efeito, no entanto a enfermeira nos avisou que teria uma sonolência. Mas não imaginava que seria tão rápido.Andei pelo bairro aflita, carregando algo precioso nas mãos. Senhor Drummond confia muito na minha pessoa para deixar escapar dessa maneira com o seu rebento. Teria que dar tudo de mim nesse trabalho, Nicol precisava muito de uma babá, assim. Forte como eu.Passei pela calçada de um bar, onde pessoas alegremente bebem suas cervejas, cachaças e outras iguarias. Detestava álcool de qualquer natureza, não tinha boas recordações quando essa intrusa se metia em nossas vidas.Alguém do nada me embarreirou, atrapalhando completamente a passagem. O beco pela qual estimava passar era estreito demais. Porém era o único caminho para não chamar atenção.— Ora, ora… O que bons ventos trazem à senhorita aqui e… Não brinca! Raptou o filho do patrão sua doid
Capítulo 8 — Vamos gata, seu patrão nem vai descobrir. — Me sinto mal por deixar o menino aos cuidados de uma simples babá eletronica. — Apertei a blusa, sentindo um profundo sofrimento interno, mas não deixei que transparece. — É minha obrigação, não devia estar aqui. Vou… Tentei dar meia volta mas Samanta foi mais rápida que eu. — Vamos sim, garota sua melhor amiga estava morrendo de saudades. É sua primeira noite de folga. — Mas o senhor Drummond… — Ele não gostou nada de saber que ia dar uma saidinha à noite, sei disso. Mas você tem que viver além das paredes daquele hotel Safira. — Suspirou cansadamente. — Já basta ter que morar por lá. Continuamos a andar pela rua, a noite estava quente e a agitação das pessoas ao meu redor me incomodava um pouco. Entortei a boca ao pensar neles, um pai que não se sentia à vontade para pegar seu próprio filho. E se o menino chorar querendo colo? — Endireita essa cara menina, você precisa se divertir. Samanta pegou na minha mão, levando
Capítulo 9— Mas que merda é essa? Por acaso descobriu uma doença terminal ou só está gripado? — Perguntou meu secretário pessoal, averiguando meu rosto inteiro, além de me virar de costas para continuar sua apuração.— Para com isso! — Exclamei puto.Tomei a frente, segurando seus dois pulsos no alto.Solano não me compreendia naquele momento, mas em breve tudo vai fazer sentido. Assim espero.— Aquele desgraçado do pai da Ernes, não vai nos deixar em paz. Tenho certeza disso. O Nicol é muito valioso para ele, você sabe. Ele é meu único herdeiro.Abaixei seus braços lentamente me sentindo exausto pela primeira vezAquela família m*****a! Seria uma questão de tempo até descobrirem a verdade, só fiz aquilo para ganhar tempo. Preparar a babá para o que poderá acontecer caso venha faltar na criação do meu menino.— Acha mesmo que seu ex-sogro faria algo tão radical?Olhei-o profundamente.— Ele tem tentado se aproximar pela surdina, estou atento aos seus passos.— Por causa disso sai toda
Capítulo 10— Está passando mal senhorita? — Arqueou uma sobrancelha, deixando-me mais sem jeito ainda.Pisquei, tentando finalmente sair desse maldito transe da qual fui lançada.— Me solte por favor.— Tudo bem. — Falou seriamente sem desviar aquele par de olhos. — Mas se sente melhor? Pareceu pálida. Parecia ter esvaído a vida do seu rosto.Então ao ficar excitada pela primeira vez na vida me fez parecer uma alma penada? Nossa! Que sensual.Pensei desanimada.Pegou delicadamente em meu rosto com intuito de remover meu acessório, nisso acabei eu mesma saindo apressadamente dos seus braços. Desajeitadamente ajeitei o corpo para não precisar ajuda dele.— Melhorou? Posso prosseguir com o plano?Se certificou cuidadosamente.— Não vou me casar com o senhor, tá louco?Cansada joguei a mochila no chão após consertar os óculos.— Não me recordo de ter lhe feito esse tipo de pedido, senhorita.Encabulada balbuciei palavras desconexas.Cruzou os braços torcendo aquela boca convidativa para o
Capítulo 11— Revisou tudo direitinho? Não quero que venha reclamar depois. — Retrucou todo eloquente.— Depois quando? Se aproximou juntando os braços na sua extensa escrivaninha.— Olha que posso muito bem retornar ao mundo dos vivos e puxar sua perna. — Ditou sombrio.— Ai para!Dei dois tapas no ombro dele, fazendo-o se distanciar meio esquisito. Sua expressão exalava complexidade.— Uma mulher nessa idade com medo de fantasmas? Não acredito nisso.— Pense o que quiser. — Dei língua, demonstrando um desrespeito incomum entre nós.— Nossa Safira, que modos são esses?— Desculpe. — Respondi toda sem graça.— Melhor pedir diretamente ao seu chefe.— Deixa pra lá.Voltei a olhar seriamente o documento. Lendo até o final decidi assinar logo, já que não tinha outro jeito.***Meses depois tudo parecia normal, nenhum problema sério à vista, portanto prosseguir normalmente com o meu trabalho.— Nicol está bastante coradinho essa manhã. — Disse Solano, pegando na bochecha gordinha do meni
Capítulo 12O senhor Drummond ficou noivo daquela perua mesmo não gostando do seu filho. Eu realmente não entendo que se passa na cabeça desse cara, maior vacilão!Agora tenho que vê-la uma vez na semana pois a mulher acha que pode vir no hotel para atazanar a vida de todos os funcionários. Mas o CEO parece estar alheio a isso tudo. Não me conformo com a situação.— Safira desfaz esse bico, pode assustar a criança. — Disse-me enquanto caminhávamos no parquinho.Devido a melhora de saúde do menino o médico liberou os passeios, e uso o dia de ir pra rua quando a noiva do chefe vem pra infernizar. Aliás, aquela coisa só serve para isso mesmo. Endiabrar o hotel.— Não precisa ficar chateada comigo. — Comentou sem me olhar, conferindo vez ou outra o seu celular.— Minha única preocupação é o meu protegido.— Sei perfeitamente, está cumprindo perfeitamente o seu papel.Bufei, pareando de imediato o carrinho de bebê.— Cadê aquela maldita atriz?Senhor Drummond parou de andar, e me olhou de