Ir

— Vamos, eu te levo para casa.

— Não! Quero dizer... não.

Seu rosto estava gravado com preocupação, uma linha profunda no centro das sobrancelhas, onde elas se juntavam.

— Não ainda. Eu só preciso de um tempo. — Afirmo.

Seu queixo estava duro quando ele cerrou os dentes, um sinal visível de sua raiva. Seus olhos presos no hematoma roxo e inchado no meu braço.

— Vamos, eu vou te levar a um lugar.

Eu me encolho um pouco e salto da beirada aonde estava sentada.

*

— O seu pai não se importará? — Pergunto quando chegamos ao ferro velho.

— Ele não está. Foi resolver uma papelada no centro.

Nós caminhamos por todo ferro velho. O lugar estava cheio de carros amassados e prensados. Caminhamos pelo corredor mórbido. Até que chegamos há um pequeno prédio de dois andares. O primeiro andar parecia uma oficina. Acho que aqui eles desmontaram carros e viam oque podiam reutilizar. Pois estavam com muitas peças no caminho.

É bizarro pensar nisso, mas em nenhum momento pensou em minha cabeça que ele poderia ser um psicopata. Afinal, havia se mudado há menos de um mês para a cidade, não tinha amigos e era solitário. Os avisos estavam todos ali. Mas de alguma maneira eu não acreditava que ele me machucaria. E eu fui, como uma mariposa atraída pela luz.

Ele me leva até uma escada de ferro no final. Eu caminho atrás dele. Chegamos há uma porta de ferro. E quando ele empurra, vejo que estamos em um corredor. Ele vai até uma porta e abre, imediatamente o cheiro familiar enche o ambiente. Ele entra em um quarto grande, onde tem uma cama, que está desarrumada e uma arara com roupas. Não tem nenhum luxo, a janela está quebrada e tem jornal nas janelas. Também tem um tapete.

— Você, uh, pode entrar.

Eu não tinha percebido, mas estava parada na porta.

Eu dou alguns passos e paro na janela. Olhando toda extensão do ferro velho. Eu estava completamente dormente depois de tudo oque me aconteceu. Eu não fazia ideia de como seria a minha vida daqui em diante. Sheila, ceifou meu único passaporte para sair daquela casa.

— Desculpa, ainda não temos televisão. Vendemos nossas coisas antes de vir para cá.

— Não tem problema. — Dou um sorriso tímido.

Eu só precisava de um tempo.

— Está com fome? Posso fazer uns sanduíches. — Ele empurra os óculos em seu rosto.

— Não estou com fome. — Minha barriga no entanto, não concorda. Justamente porque ronca alto.

— Okay — seus olhos se estreitam no mesmo momento em que ele sorri.

Ele vai até o frigobar no canto do quarto e pega uma coca cola e um sanduíche embalado.

Eu como o sanduíche, e bebo toda a coca cola. Fazia um tempo que não tinha uma alimentação que não fosse macarrão instantâneo. Então eu só aproveito.

Depois disso, Tristan ficou em silêncio por um tempo, no fundo, eu sabia que ele me observava. Só que eu não disse nada de volta. Apenas fiquei sentada no banco do seu quarto. Na verdade eu nunca tinha estado sozinha com um cara dentro de quarto. Não um cara real. Então isso era meio estranho para mim. Não que a gente fosse fazer qualquer coisa, a gente nem havia se beijado... Mesmo que eu não negaria se acontecesse.

— Quer conversar sobre isso? — Ele direciona o olhar para minha ferida no braço.

— Não é nada importante.

— Cat... — seus olhos se aprofundam em um castanho quase preto. — Ninguém deveria machucar você. Especialmente dessa maneira. — preocupação marcava as suas feições.

— Levaram o meu dinheiro.

Compaixão, surgiu em seus olhos.

— Você foi assaltada?

Quase isso.

Dou de ombros e concordo.

— Talvez eu possa ajudar. — Afirma. — Eu não tenho muito...mas talvez ajude.

Horror me torce por dentro. Tristan, claramente vivia em uma situação financeira tão difícil quanto a minha. E não seria justo. Mesmo que ele tivesse o dinheiro. Eu já estava acostumada a ter meu próprio...eu jamais poderia tomar algo dele.

— Não é necessário...eu vou...vou conseguir de volta.

Não era mentira...eu daria um jeito.

— Eu posso ajudar. — Ele insiste. — Eu quero ajudar.

— Olha. — Me levanto me sentindo um pouco mais calma. — Eu Realmente agradeço. Mas de maneira alguma vou aceitar dinheiro seu.

Ele fica lá por um minuto com o cabelo do tipo perfeito de fodido. Me olhando como se eu estivesse sendo estúpida.

— Me deixe saber, se eu puder fazer qualquer coisa para ajudar. — Encaro seus olhos. No momento, tudo que vejo é preocupação genuína neles.

— Eu, hmm, preciso ir. — Aviso.

— Eu posso te levar, — Insiste.

— Realmente não é necessário. — Digo. Não arriscaria ser humilhada na frente de mais ninguém.

— okay. — Ele levanta da sua cadeira e me encara. — Posso pelo menos ajudar com o curativo?

— Sim, claro. — Sorrio para tentar descontrair.

Ele sai do quarto e posso ver seus passos pesados na escada. Ele estava descendo.

Enquanto ele desce, eu fico no quarto parada. Mais atenta aos detalhes agora, eu vejo um monte de papel em cima da sua cômoda. Curiosa demais para me conter, eu folheio, e me encanto ao perceber que são desenhos. Tristan, desenha extremamente bem. A perfeição e leveza dos traços são genuínos. Tristan é extremamente talentoso.

— É lindo. — Sussurro baixo.

— Obrigada. — Tristan me assusta. Justamente porque ele foi tão silencioso como um gato.

— Deus! — Coloco a mão no peito. — Me assustou.

Ele da um sorriso tenro, quando me dá dois comprimidos para dor. E pede para que eu me sente.

— Hmm, obrigada. — Pego os comprimidos e bebo com o copo de água que ele trouxe. — Você é muito talentoso. Aí! — Gemo baixo, quando ele passa antisséptico na minha ferida.

— Você realmente gosta? — Eu encaro os seus olhos, e percebo que ele pode estar um pouco tímido. Desde que seu rosto está enrubescido.

— Sim, eu gosto.

Estou encarando seus olhos tão de perto. Estamos tão próximos. Mas ele inclina o rosto até meu braço e assopra a ferida. O ar quente fazendo coisas indecentes em meu núcleo.

Tenho certeza que gemi baixo, porque ele segue com os olhos sobre seus óculos que desceram um pouco pelo nariz.

— Me desculpe, eu sei que dói.

— Não, — Meu rosto enrubesce um pouco. Não era dor que eu sentia...não mesmo. — Não se preocupe. Já passou.

Ele cuidadosamente passa uma pomada no local e enrola com uma gaze.

— Isso deve funcionar. — Amanhã posso trocar para você.

Eu não respondo, até porque não sei como agir diante de tanta atenção. Então só concordo.

— Posso ver mais? — Direciono meu olhar para os desenhos.

Ele parece um pouco tímido quando aceita. E caminha comigo até a sua cômoda.

Meu dedo, passa pelos traços enquanto eu vejo o esboço de um corpo esbelto, sem rosto. A precisão e perfeição dos detalhes é perturbadora.

— Perfeito. O mundo deveria te conhecer. — Digo baixo enquanto pego a folha em minhas mãos no mesmo instante que ele. Chame isso de ilusão induzida pelo estresse, mas juro que a eletricidade salta entre nós com esse leve toque. Por um momento, nossos olhares travam e minha respiração fica presa na garganta. Estou congelada. Com a nossa aproximação os olhos dele brilharam. Ele passou a língua sobre os lábios ressecados.

Tudo em mim implorava para me inclinar e pressionar minha boca contra a dele. Selar o momento com um beijo. Mas de alguma maneira eu acabo recuando.

— Eu, hm, tenho que ir.

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