O corpo dela tremia, por todo o nervosismo e pelo sangue que não parava de perder. Giovanna não ouvira as palavras do demônio, não sabia que a criatura que adorava espalhar mentiras, dessa vez falava uma verdade. A psicóloga não sabia que estava grávida, que carregava a cria de uma besta que havia sido gerada naquela casa. Mas naquele exato instante isso não fazia diferença. Ela já estava ligada aquele lugar maldito, mas de uma maneira que nenhum daqueles seres profanos desejavam. Enxergar o mal te concede maneiras de se afastar dele. E afastar-se de toda aquela podridão poderia ser possível e por um lugar em que ela não desejava mais visitar.
A intuição é uma lógica sem lógica, um instinto nato, que quando mesclado a sua percepção, pode formar uma ótima dupla. A
Primeiro o clarão cegante cortou o céu, impondo-se com uma potência assustadora, iluminando de maneira vertiginosa um pequeno pedaço do mundo. Poucos segundos depois, um estrondoso trovão explodiu, fazendo estremecer o solo, vibrando nos tímpanos daqueles que puderam se desesperar pelo seu rompante. Tudo a partir de então resumiu-se a escuridão e águas. Naquele começo de tarde, o céu convertera-se em negritude e desabava em um dilúvio. A noite mais escura havia caído precipitadamente.A chuva havia surpreendido a muitos, iniciando-se de forma inesperada, e mesmo depois de meia hora não mostrava nenhuma intenção de abrandar. A tempestade torrencial em poucos minutos começou a provocar inundações, trazendo inquietude ao peito daqueles que se viam aprisionados à fúria das águas. Envoltos pelo cenário que beirava ao caótico estavam Giovanna e
Ainda que a contragosto a bela morena já havia subido, deixando Matheus a se recordar de como ela parara nos últimos degraus da escada. Giovanna olhou para o rapaz com seus olhos escuros e tentadores, como se o chamasse pela última vez, dando-lhe uma última oportunidade para que mudasse de ideia. Foi ignorada e desistiu, desaparecendo em meio à negritude, deixando o noivo a sós com seus fantasmas.O filho mais novo dos Albuquerque permanecia no centro do salão. Inquieto e ao mesmo tempo imóvel. Com a pouca iluminação que conquistava pela sua própria lanterna, conseguia enxergar apenas o vazio. Era estranho. Pelo que se lembrava, e se lembrava muito bem, todo aquele lugar no passado estava abarrotado de bizarrices. Uma mobília que o assombrava e o fazia correr para qualquer cômodo seguinte. Quando era criança e um arrepio estranho lhe subi
O silêncio da noite trazia o sussurro das sombras. Era algo discreto, quase inaudível, carregando consigo toda energia pesada que brotava nos confins malditos daquela mansão assombrada. Matheus e Giovanna dormiam. O começo do sono para ele foi inquieto. As lembranças eram traumáticas ao ponto de obrigarem o atormentado rapaz a retomar o consumo de remédios que há muito tinha abandonado. Foram dois comprimidos fortes e em poucos minutos sua mente simplesmente apagou, entregando-se ao sono profundo e sem sonhos. Foi assim que Matheus passou a dormir, pesado como uma pedra, mas feliz por não ter seu sono interrompido a cada barulho estranho ou a cada manifestar sobrenatural da sua casa de pesadelos.O caso de Giovanna era o oposto e com certeza seu noivo a invejaria. A bela morena nunca apresentava problemas com o sono e, para sua sort
Tudo estava acontecendo muito mais rápido do que ele temera. Agora Matheus carregava uma de suas pinturas malditas, ela aterrorizava sua noiva e não havia se passado nem mesmo um dia completo para que os pesadelos começassem. Pensando sobre isso, com o quadro nos braços e conseguindo driblar toda dificuldade de uma descida, o rapaz seguia pelos últimos degraus da escada e se encaminhava rumo ao porão. Os pés estavam descalços, a calça larga do pijama cinza era a única peça que vestia. Ele tentava não permanecer irritado. Felizmente a manhã estava morna e aconchegante, infelizmente ele também se culpava pela discussão.Forçando-se a se apegar aos seus planos mais otimistas, Matheus recordava que seria questão de apenas uma semana para que ele e Giovanna se tornassem oficialmente um casal. O rapaz queria que tudo fosse tranquilo
A lista perdida em algum canto precisou ser refeita, o banho em dupla carregou qualquer vestígio de mau humor para o ralo. Tudo estava bem agora, Matheus e Giovanna eram mais uma vez o que costumavam ser: um casal cúmplice e muito apaixonado. Ele estava de pé ao lado de seu carro, pronto para sair. Por mais que precisasse fazer isso, ainda abraçava a noiva pelo pescoço, admirando a bela paisagem do lugar. O rapaz ignorava sua morena tentando se afastar daquele abraço.— Tá me sufocando. — Ela disse em meio a sorrisos, desistindo por breves segundos de tirar os braços do amado de sobre si. Abraçou forte aquele amor, mostrando o quanto estava feliz por ter de volta quem conhecia.— Amor saudável não sufoca, protege… — Foi a resposta dele enquanto a libertava apó
A mobília e as caixas iam pouco a pouco ocupando o salão vazio. Giovanna guiava as ações dos trabalhadores com uma liderança nata, uma boa liderança inclusive, já que sabia ser agradável ao mesmo tempo que mestrava as ações dos outros. Vantagens de uma psicóloga. Ela era o oposto de Lucinda, definitivamente, isso Matheus reconhecia e fora esse mais um motivo que fizara com que o rapaz se apaixonasse por ela. Giovanna era o oposto de uma megera abusiva e ele sempre precisou muito disso.A morena se mostrava tão concentrada que durante muito tempo sequer pensou na falta de itens em sua despensa. Ela conversou animadamente com Álvaro, Josias e Sillas, deixando todos à vontade. Foi apenas quando tudo estava finalizando que o pensamento bateu. Para não ficar com a consciência pesada, ofereceu água e algumas notas além do combinado. Os homens r
Toda ansiedade e medo fez com que buscasse o inútil. Giovanna ainda insistiu em uma nova ligação várias e várias vezes, até desistir, sair da banheira e vestir-se com um roupão. Não conseguiria nada estando parada. Estava apavorada, nem um pouco disposta a se tornar refém das sombras. Permanecia com seu celular quando decidiu ir ao porão, mantinha a esperança de encontrar algum sinal. Enquanto descia as escadas ela ainda tentou acessar a internet, o que obviamente não funcionou. A morena sentiu o aperto no peito quando em sua mente a certeza passou a assombrá-la, estava completamente sozinha e sem meios de comunicação. Desesperada, chegou ao cômodo pretendido, desconhecendo seus segredos, prestes a entrar no local enquanto tudo ainda permanecia bem iluminado.Giovanna parou diante das escadas, virando seus olhos para todos os cantos. Apressou-se em descer os degraus, apoiando sua mão esquerda contra a parede. A visão que tinha nos primeiros segundos era apenas daquilo qu
Por consideráveis segundos Giovanna tateou o escuro, o piso gelado. Para seu desespero não encontrou nada e quando se ergueu, sentindo-se profundamente derrotada, já sentia o ar faltar, estava abafado ali dentro. Convencida de que não poderia fazer muita coisa, decidiu subir as escadas e sair daquele lugar. Pegaria uma vela na cozinha e iria para seu quarto ou talvez voltasse para o porão no caso de encontrar alguma coragem. Na verdade tinha certeza de que isso seria muito difícil de acontecer, impossível na verdade. Aquele lugar fazia com que se sentisse estranha… Os pêlos da nuca já arrepiavam, a energia ali não era positiva.Giovanna se virou na direção de onde deveria estar as escadas, bateu contra alguma coisa, tropeçou em outra, colocou suas mãos para frente, teve cuidado onde posicionava seus pés. Então começou a caminhar como uma cega e era exatamente dessa forma que se sentia naquele instante. A morena não conseguia identificar nada além da escuridão. Caminhou c