Toda ansiedade e medo fez com que buscasse o inútil. Giovanna ainda insistiu em uma nova ligação várias e várias vezes, até desistir, sair da banheira e vestir-se com um roupão. Não conseguiria nada estando parada. Estava apavorada, nem um pouco disposta a se tornar refém das sombras. Permanecia com seu celular quando decidiu ir ao porão, mantinha a esperança de encontrar algum sinal. Enquanto descia as escadas ela ainda tentou acessar a internet, o que obviamente não funcionou. A morena sentiu o aperto no peito quando em sua mente a certeza passou a assombrá-la, estava completamente sozinha e sem meios de comunicação. Desesperada, chegou ao cômodo pretendido, desconhecendo seus segredos, prestes a entrar no local enquanto tudo ainda permanecia bem iluminado.
Giovanna parou diante das escadas, virando seus olhos para todos os cantos. Apressou-se em descer os degraus, apoiando sua mão esquerda contra a parede. A visão que tinha nos primeiros segundos era apenas daquilo qu
Por consideráveis segundos Giovanna tateou o escuro, o piso gelado. Para seu desespero não encontrou nada e quando se ergueu, sentindo-se profundamente derrotada, já sentia o ar faltar, estava abafado ali dentro. Convencida de que não poderia fazer muita coisa, decidiu subir as escadas e sair daquele lugar. Pegaria uma vela na cozinha e iria para seu quarto ou talvez voltasse para o porão no caso de encontrar alguma coragem. Na verdade tinha certeza de que isso seria muito difícil de acontecer, impossível na verdade. Aquele lugar fazia com que se sentisse estranha… Os pêlos da nuca já arrepiavam, a energia ali não era positiva.Giovanna se virou na direção de onde deveria estar as escadas, bateu contra alguma coisa, tropeçou em outra, colocou suas mãos para frente, teve cuidado onde posicionava seus pés. Então começou a caminhar como uma cega e era exatamente dessa forma que se sentia naquele instante. A morena não conseguia identificar nada além da escuridão. Caminhou c
FLASHBACK20 anos atrásNão havia música, mas ela dançava ao som dos sussurros em sua mente. As mãos estavam erguidas para o teto, para o lustre, para o profano. Ela o venerava, enquanto em sua destra carregava uma adaga com pequenos resquícios de sangue. Lucinda girava pelo salão, os cabelos castanhos se erguendo e balançando ao ritmo de seus movimentos. O corpo estava nu e vários pequenos cortes haviam sido abertos. As grandes estátuas observavam a belíssima mulher de corpo perfeito. Aqueles olhos de pedra pareciam seguir a dança.Lucinda abaixou sua mão para talhar mais um corte. Este se abriu no centro de seu peito, percorrendo até poucos centímetros acima de seu umbigo. Um corte raso que não deixaria cicatrizes. Dele verteu o sangue maculado que banhou seu umbigo, seu ventre, seu sexo, suas coxas, indo mais além, até seus pés.As estátuas não podiam expressar suas emoções, mas os dois garotinhos presentes no local sim. Estavam apavorados, mais uma
Não seria possível definir quanto tempo havia se passado, quando ela acordou apenas viu que tudo permanecia escuro. Supôs não ter passado tanto tempo assim, na verdade torceu por isso. Sua cabeça latejava fortemente, além de todo seu corpo estar dolorido. Giovanna se moveu sobre o solo frio, deixando escapar gemidos, estava completamente zonza. Não conseguindo se pôr de pé, ela se sentou no chão, amparando-se contra algum móvel. A princípio a mente confusa não permitia que pensasse com clareza, aos poucos foi se organizando. E isso custou alguns minutos.Concluiu que ainda estava no porão da casa, havia sofrido um acidente e tudo continuava escuro. Precisava sair daquele lugar, buscar o hospital, a pancada em sua cabeça parecia ter sido forte ao ponto de embrulhar seu estômago. Mas ela ainda não conseguia se por de pé sem sentir tudo gira
Giovanna aguardava ansiosa pela chegada do noivo. Desejava saber sobre seu estado, essa vontade era o que mais inquietava seu coração, tanto que a tinha feito se esquecer do desejo de seguir para bem longe daquela casa. Porém, Matheus demorava. As horas se arrastavam, fazendo toda a manhã se estender como um século. Giovanna sequer teve vontade de se levantar do sofá. Uma única vez a morena fez isso, precisou buscar o carregador e usar o banheiro, mas logo estava de volta, sentada de frente à porta, com seus olhos vidrados sobre ela. Tamanha ansiedade fazia com que batesse freneticamente seu pé contra o assoalho de madeira, no celular inúmeras chamadas não atendidas que a própria tinha feito."É normal. Devem ter muitas coisas para resolver." — Pensava ela a cada uma de suas chamadas que caíam na caixa postal. Passavam apenas cinco minuto
Giovanna permanecia abalada, agora dentro da biblioteca no primeiro andar. No local, estantes e mais estantes escuras, abarrotadas de livros desconhecidos, todos organizados cuidadosamente, naquele momento sendo as últimas coisas que tomariam o interesse da morena. Mais uma vez ela estava de pé e diante de Lucinda. Ao contrário das vezes anteriores, não se sentia irritada, tampouco corajosa. A mulher recordava das palavras da loira e de suas próprias ações. Lembrava-se da briga com Matheus no dia anterior, tudo por causa de um quadro que o próprio havia pintado e que, segundo Lucinda, tinha muita representação para ele. A velha não mentia nesse ponto, mas claro que manipulava a situação. E se deliciava ao ver a, talvez futura nora, daquele jeito.Lucinda confessava apenas a si que toda a força de Giovanna a incomodava. Ela não era como L
Matheus não era mais uma criança, agora era um homem de 28 anos. Havia crescido, mas toda a dependência pela sua mãe permanecia forte, por mais que ele tentasse se libertar. O moreno ainda dormia, William dopara o rapaz para que descansasse até o início da noite. E naquele instante, de pé ao lado da cama, a mãe o observava. Era tão bonito! Seus cabelos escuros e a pele branca, apesar de não tão pálida quanto a dela. Sob as pálpebras fechadas estavam os olhos que mudavam de tom. Sob a luz do sol a heterocromia se tornava mais evidente, o olho direito ganhava um tom de mel mais acentuado. Lucinda amava aquele olho, era o seu preferido, sua parte que ganhava destaque em seu filho, uma demonstração de marca eterna. Cristiano não possuía a mesma benção, suas íris eram negras como as do seu falecido pai. Lucinda estava certa de que foi por esse motivo que houve a recusa dos antigos ao primogênito, por isso a loucura de Letícia, por isso tudo deveria mudar após o acidente...Lucinda
Mãe e filho estavam na cozinha lavando a louça do jantar. Ele se perguntava qual o motivo para a loira fazer questão de contribuir com uma tarefa que, para ela, deveria ser destinada apenas aos empregados. "Essa gente que deve limpar nossas sobras". Era o que sempre dizia e agora estava ali. Com as mãos frias e cobertas por espuma, finalizando o trabalho na última taça.— A Giovanna poderia cuidar disso, mamãe. — Matheus enxaguava alguns pratos, estando ao lado da mulher, dividindo uma gigantesca pia dupla de mármore negro e brilhante.— Sua noiva precisa descansar. E eu… Queria ficar mais algum temp
A loira os observava da biblioteca. Os olhos de Lucinda brilhavam de ciúme, enquanto sua expressão se fechava pela incapacidade de interferir. Poderia interrompê-los, mas reconhecia que estava ultrapassando todos os limites e, além do mais, ela não estava disposta a responder perguntas. Letícia era a maior mancha em sua família. A Albuquerque mais velha não poderia correr o risco de Giovanna perceber mais detalhes sórdidos, não por enquanto. A morena era esperta, Lucinda tinha que reconhecer e agir de maneira mais cautelosa. Queria aquela alma derrotada.— Você não me disse como o acidente aconteceu. — Giovanna comentou, sentada em uma cadeira de frente ao noivo. Os olhos de Matheus buscaram um ponto qualquer. Desviando-se da preocupação da morena.— Eu não go