Mãe e filho estavam na cozinha lavando a louça do jantar. Ele se perguntava qual o motivo para a loira fazer questão de contribuir com uma tarefa que, para ela, deveria ser destinada apenas aos empregados. "Essa gente que deve limpar nossas sobras". Era o que sempre dizia e agora estava ali. Com as mãos frias e cobertas por espuma, finalizando o trabalho na última taça.
— A Giovanna poderia cuidar disso, mamãe. — Matheus enxaguava alguns pratos, estando ao lado da mulher, dividindo uma gigantesca pia dupla de mármore negro e brilhante.
— Sua noiva precisa descansar. E eu… Queria ficar mais algum temp
A loira os observava da biblioteca. Os olhos de Lucinda brilhavam de ciúme, enquanto sua expressão se fechava pela incapacidade de interferir. Poderia interrompê-los, mas reconhecia que estava ultrapassando todos os limites e, além do mais, ela não estava disposta a responder perguntas. Letícia era a maior mancha em sua família. A Albuquerque mais velha não poderia correr o risco de Giovanna perceber mais detalhes sórdidos, não por enquanto. A morena era esperta, Lucinda tinha que reconhecer e agir de maneira mais cautelosa. Queria aquela alma derrotada.— Você não me disse como o acidente aconteceu. — Giovanna comentou, sentada em uma cadeira de frente ao noivo. Os olhos de Matheus buscaram um ponto qualquer. Desviando-se da preocupação da morena.— Eu não go
Chegaram à sala. William não estava mais ali. O detalhe não incomodou Giovanna, na verdade ela se sentiu mais tranquila por não ter que olhar para a expressão irritante do doutor.— Vou buscar as chaves em meu quarto. Aguarde um momento, sim?!Giovanna concordou e viu a sogra subir as escadas. Agora era apenas ela e o salão. Sozinha naquele lugar gigantesco, a morena se sentiu mais uma vez ansiosa. Desejava sair daquela casa, definitivamente, nem que fosse por algumas horas. Viver isolada e experimentando tantos problemas também estava afetando sua respiração. Qualquer sensação de desconfortável, por menor que fosse, ela passava a respirar mais rápido, de maneira mais curta. Começava a acontecer. Por isso seguiu até a porta de entrada. Ao abri-la, sentiu o alí
Suas mãos firmes contra o volante estavam trêmulas, o olhar inundado por sentimentos se mantinha fixo sobre o trio. Giovanna, apesar de tudo, já não estava tão nervosa, precisava manter uma mente centrada para lidar com a situação. O clima não contribuira. Agora seu corpo chacoalhava pelo frio, reagindo furiosamente à baixa temperatura da madrugada.Os olhos escuros encaravam a velha maldita, o doutor com cara de psicopata e o seu noivo endemoniado. Eles retribuiam o olhar, enquanto o último carregava consigo algo como um manto escuro. Matheus estava vestido e já insistira inúmeras vezes para que a morena saísse do carro e se vestisse também. Desejando evitá-lo ao máximo, a resposta dela sempre se resumia às mesmas três palavras "Cai fora daqui!"— Não podemos te deixar sozinha. Vamos, minha querida, entre. Já passou. — Lucinda tentava convencê-la inutilmente. Sabia disso. Estava claro que tudo o que Giovanna desejava era vê-la desaparecer, carregando consigo aquel
As batidas eram pesadas, vibravam. Dentro do quarto, Giovanna ouvia o som retumbar, assistia a porta estremecer. A morena não desejava abrir aquela maçaneta, a fechadura estava trancada. Ela sabia quem estava do lado de fora. Era ele, William que batia de maneira insistente. De pé, a psicóloga olhou para a tela do seu celular: nove da manhã. Cedo! Ela já havia ligado para Cláudia, uma de suas amigas. Deveria tê-lo feito há tempos, mas deixou as coisas correrem tortas e agora estava daquele jeito, sentindo-se encurralada.Antes ainda acreditava que haveria alguma salvação, afinal, por mais estranho que fosse, ainda era aceitável. Agora… Ela aceitaria ser chamada de louca, ela mesma se sentia enlouquecendo. Cláudia teria total liberdade para pensar dessa forma. Ouvir a amiga confessar que o noivo havia se transformado em uma criatura
O retorno à mansão foi feito embaladdo pelo som fúnebre das gotas pesadas da chuva. O mundo colapsava mais uma vez e, como esperado, não havia qualquer sinal no celular, Giovanna já desistira de buscar por isso. Sem trocar palavras, a dupla seguiu. Assim que chegou à casa, a morena subiu para seu novo quarto, ignorando qualquer presença, trancando-se mais uma vez, agora para poder lamentar todo seu infortúnio no silêncio e sem ser incomodada.Manter-se centrada em uma situação como aquela mostrou-se quase impossível, mas ela tentou organizar sua mente. Precisava avisar Cláudia. Ou talvez não precisasse. Se a situação não se resolvesse como esperado, sua amiga certamente chamaria a polícia. Era esse o combinado. Giovanna só precisava esperar e se manter sã. A chuva
Quando a madrugada chegou, a chuva permanecia a cair forte, aparentemente com o desejo de ser eterna. Giovanna necessitava de uma companhia naquele momento, a aflição a torturava, mas optara por permanecer sozinha no segundo quarto, lembrando-se do quanto o noivo havia pedido para que passassem a noite juntos mais uma vez. Contudo ela precisava mais do que promessas e pedidos para confiar. Mantinha esperanças de que Matheus poderia ajudá-la, porém não iria se apegar a tal sentimento. Não insistiu em saber dos segredos da família Albuquerque, mas tanto mistério também a incomodava. Se ele não estava disposto a revelar os segredos, talvez não confiasse nela.A morena se sentia cada vez mais sozinha e inquieta, tanto que seu sono estava mais uma vez prejudicado. Eram quase três da manhã e os olhos dela estav
A loira quando preocupada se tornava uma criatura que muitos passavam a odiar. A coragem e a língua ferina se intensificavam, ela se mostrava mais direta do que nunca, destemida. Cláudia estava preocupada. Sua grande amiga não aparecera no hospital como combinado, estava sendo impossível falar com Giovanna pelo telefone. Algo havia acontecido. E essa certeza passava a desesperá-la. Agora ela estava na delegacia, mais uma vez conseguindo irritar todos do lugar com suas cobranças petulantes. Era uma pessoa insistente. Após sua denúncia, toda aquela chuva havia impedido que chegassem à mansão no dia anterior, mas teimosa como ela era, havia dormido em um hotel próximo e logo pela manhã já estava ali mais uma vez, gritando e exigindo.— Quantas vezes vocês deram essa desculpa? Já ouviram falar em barco
Matheus não podia se alegrar pelo que acabara de fazer. Pelo contrário, agora sabia que deveria temer mais do que nunca. Não que houvesse arrependimentos, mas cogitar as consequências lhe trouxe uma imediata inquietude. Levou suas mãos à cabeça, passou os dedos por vários fios, esteve prestes a puxá-los. Tudo ia de mau a pior. Como desejava gritar para libertar toda aquela fúria mesclada a tensão. Não podia. Tinha que controlar as batidas descontroladas sob seu peito. Respirou fundo. Olhou para a jarra de água sobre o criado mudo. Sua garganta parecia sufocar. Foi até a jarra e se serviu de um copo cheio. E mais uma vez se viu assombrado pelo seu passado…Desde sempre o rapaz enxergou o quanto errada era sua família. O pai vivia a alertá-lo sobre a maldição que rondava os Albu