Suas mãos firmes contra o volante estavam trêmulas, o olhar inundado por sentimentos se mantinha fixo sobre o trio. Giovanna, apesar de tudo, já não estava tão nervosa, precisava manter uma mente centrada para lidar com a situação. O clima não contribuira. Agora seu corpo chacoalhava pelo frio, reagindo furiosamente à baixa temperatura da madrugada.
Os olhos escuros encaravam a velha maldita, o doutor com cara de psicopata e o seu noivo endemoniado. Eles retribuiam o olhar, enquanto o último carregava consigo algo como um manto escuro. Matheus estava vestido e já insistira inúmeras vezes para que a morena saísse do carro e se vestisse também. Desejando evitá-lo ao máximo, a resposta dela sempre se resumia às mesmas três palavras "Cai fora daqui!"
— Não podemos te deixar sozinha. Vamos, minha querida, entre. Já passou. — Lucinda tentava convencê-la inutilmente. Sabia disso. Estava claro que tudo o que Giovanna desejava era vê-la desaparecer, carregando consigo aquel
As batidas eram pesadas, vibravam. Dentro do quarto, Giovanna ouvia o som retumbar, assistia a porta estremecer. A morena não desejava abrir aquela maçaneta, a fechadura estava trancada. Ela sabia quem estava do lado de fora. Era ele, William que batia de maneira insistente. De pé, a psicóloga olhou para a tela do seu celular: nove da manhã. Cedo! Ela já havia ligado para Cláudia, uma de suas amigas. Deveria tê-lo feito há tempos, mas deixou as coisas correrem tortas e agora estava daquele jeito, sentindo-se encurralada.Antes ainda acreditava que haveria alguma salvação, afinal, por mais estranho que fosse, ainda era aceitável. Agora… Ela aceitaria ser chamada de louca, ela mesma se sentia enlouquecendo. Cláudia teria total liberdade para pensar dessa forma. Ouvir a amiga confessar que o noivo havia se transformado em uma criatura
O retorno à mansão foi feito embaladdo pelo som fúnebre das gotas pesadas da chuva. O mundo colapsava mais uma vez e, como esperado, não havia qualquer sinal no celular, Giovanna já desistira de buscar por isso. Sem trocar palavras, a dupla seguiu. Assim que chegou à casa, a morena subiu para seu novo quarto, ignorando qualquer presença, trancando-se mais uma vez, agora para poder lamentar todo seu infortúnio no silêncio e sem ser incomodada.Manter-se centrada em uma situação como aquela mostrou-se quase impossível, mas ela tentou organizar sua mente. Precisava avisar Cláudia. Ou talvez não precisasse. Se a situação não se resolvesse como esperado, sua amiga certamente chamaria a polícia. Era esse o combinado. Giovanna só precisava esperar e se manter sã. A chuva
Quando a madrugada chegou, a chuva permanecia a cair forte, aparentemente com o desejo de ser eterna. Giovanna necessitava de uma companhia naquele momento, a aflição a torturava, mas optara por permanecer sozinha no segundo quarto, lembrando-se do quanto o noivo havia pedido para que passassem a noite juntos mais uma vez. Contudo ela precisava mais do que promessas e pedidos para confiar. Mantinha esperanças de que Matheus poderia ajudá-la, porém não iria se apegar a tal sentimento. Não insistiu em saber dos segredos da família Albuquerque, mas tanto mistério também a incomodava. Se ele não estava disposto a revelar os segredos, talvez não confiasse nela.A morena se sentia cada vez mais sozinha e inquieta, tanto que seu sono estava mais uma vez prejudicado. Eram quase três da manhã e os olhos dela estav
A loira quando preocupada se tornava uma criatura que muitos passavam a odiar. A coragem e a língua ferina se intensificavam, ela se mostrava mais direta do que nunca, destemida. Cláudia estava preocupada. Sua grande amiga não aparecera no hospital como combinado, estava sendo impossível falar com Giovanna pelo telefone. Algo havia acontecido. E essa certeza passava a desesperá-la. Agora ela estava na delegacia, mais uma vez conseguindo irritar todos do lugar com suas cobranças petulantes. Era uma pessoa insistente. Após sua denúncia, toda aquela chuva havia impedido que chegassem à mansão no dia anterior, mas teimosa como ela era, havia dormido em um hotel próximo e logo pela manhã já estava ali mais uma vez, gritando e exigindo.— Quantas vezes vocês deram essa desculpa? Já ouviram falar em barco
Matheus não podia se alegrar pelo que acabara de fazer. Pelo contrário, agora sabia que deveria temer mais do que nunca. Não que houvesse arrependimentos, mas cogitar as consequências lhe trouxe uma imediata inquietude. Levou suas mãos à cabeça, passou os dedos por vários fios, esteve prestes a puxá-los. Tudo ia de mau a pior. Como desejava gritar para libertar toda aquela fúria mesclada a tensão. Não podia. Tinha que controlar as batidas descontroladas sob seu peito. Respirou fundo. Olhou para a jarra de água sobre o criado mudo. Sua garganta parecia sufocar. Foi até a jarra e se serviu de um copo cheio. E mais uma vez se viu assombrado pelo seu passado…Desde sempre o rapaz enxergou o quanto errada era sua família. O pai vivia a alertá-lo sobre a maldição que rondava os Albu
Ela precisaria se mostrar segura e soberana para todos aqueles que formavam sua família e dividiam os mais macabros segredos da herança. A reunião aconteceria, ela mesma tinha marcado e não poderia voltar atrás, independente dos acontecimentos. A loira precisou acreditar que tudo iria se resolver, ela precisava ter essa certeza também. Não iria falhar. Lucinda ergueu a cabeça e o corpo, pondo-se de pé ainda na sala escura, enxergando a sombra de seu reflexo. Ela deixou o corpo morto de William de frente ao espelho, com mãos e pés amarrados por uma corda negra. Era uma parte dos preparativos para o que viria a seguir... Ele precisava estar bem amarrado, sua alma não poderia atravessar os mundos e ele também não deveria se sentir corajoso quando retornasse para sua última missão.Decidida a n
Estavam na sala quando Matheus os encontrou. O olhar pesado de Cristiano indicou certa tensão no ar. O alerta soou no âmago do mais novo. Ele encarou sua mãe, estava diferente, parecia guardar ódio e desprezo. O rapaz gostaria de pensar que tudo não passava de sua mente fértil lhe pregando preocupações desnecessárias, mas tudo o que tinha acontecido até então não permitiria que baixasse a guarda. Muito ali estava em risco.Para sua sorte os irmãos não eram de muitas representações fraternais. O máximo que acontecia entre os dois era um aperto de mão quando o clima estava mais amistoso, o que não era o caso. Desde a morte de Maurício muito havia mudado entre eles, Cristiano era totalmente a favor da mãe e o que acontecera com Letícia havia oficializado o abismo que havia entre eles. Isso sem falar nas reclamações de Giovanna com rel
O caminho até o endereço de Erick custaria por volta de quatro horas, ela não desejava perder todo esse tempo, principalmente porque pensava que teria que retornar para ajudar sua amiga. Seriam horas preciosas.Sem dúvida seria mais persuasiva estando cara a cara, porém uma ligação se mostrou muito mais prática. Cláudia ligava pela terceira vez. O garoto parecia avesso às ligações também, não atendia. E foram mais cinco, até ela voltar a pedir a ajuda de Júlia. Conseguiu o número da esposa do rapaz e ligou para ela. Na primeira ligação, Olívia atendeu. Hora de fazer uso de todas as informações passadas pela amiga, a loira já imaginava que Erick não a atenderia se ela simplesmente pedisse para falar com ele.— Boa tarde, senhora. Meu nome é Cláudia, lig