Giovanna aguardava ansiosa pela chegada do noivo. Desejava saber sobre seu estado, essa vontade era o que mais inquietava seu coração, tanto que a tinha feito se esquecer do desejo de seguir para bem longe daquela casa. Porém, Matheus demorava. As horas se arrastavam, fazendo toda a manhã se estender como um século. Giovanna sequer teve vontade de se levantar do sofá. Uma única vez a morena fez isso, precisou buscar o carregador e usar o banheiro, mas logo estava de volta, sentada de frente à porta, com seus olhos vidrados sobre ela. Tamanha ansiedade fazia com que batesse freneticamente seu pé contra o assoalho de madeira, no celular inúmeras chamadas não atendidas que a própria tinha feito.
"É normal. Devem ter muitas coisas para resolver." — Pensava ela a cada uma de suas chamadas que caíam na caixa postal. Passavam apenas cinco minuto
Giovanna permanecia abalada, agora dentro da biblioteca no primeiro andar. No local, estantes e mais estantes escuras, abarrotadas de livros desconhecidos, todos organizados cuidadosamente, naquele momento sendo as últimas coisas que tomariam o interesse da morena. Mais uma vez ela estava de pé e diante de Lucinda. Ao contrário das vezes anteriores, não se sentia irritada, tampouco corajosa. A mulher recordava das palavras da loira e de suas próprias ações. Lembrava-se da briga com Matheus no dia anterior, tudo por causa de um quadro que o próprio havia pintado e que, segundo Lucinda, tinha muita representação para ele. A velha não mentia nesse ponto, mas claro que manipulava a situação. E se deliciava ao ver a, talvez futura nora, daquele jeito.Lucinda confessava apenas a si que toda a força de Giovanna a incomodava. Ela não era como L
Matheus não era mais uma criança, agora era um homem de 28 anos. Havia crescido, mas toda a dependência pela sua mãe permanecia forte, por mais que ele tentasse se libertar. O moreno ainda dormia, William dopara o rapaz para que descansasse até o início da noite. E naquele instante, de pé ao lado da cama, a mãe o observava. Era tão bonito! Seus cabelos escuros e a pele branca, apesar de não tão pálida quanto a dela. Sob as pálpebras fechadas estavam os olhos que mudavam de tom. Sob a luz do sol a heterocromia se tornava mais evidente, o olho direito ganhava um tom de mel mais acentuado. Lucinda amava aquele olho, era o seu preferido, sua parte que ganhava destaque em seu filho, uma demonstração de marca eterna. Cristiano não possuía a mesma benção, suas íris eram negras como as do seu falecido pai. Lucinda estava certa de que foi por esse motivo que houve a recusa dos antigos ao primogênito, por isso a loucura de Letícia, por isso tudo deveria mudar após o acidente...Lucinda
Mãe e filho estavam na cozinha lavando a louça do jantar. Ele se perguntava qual o motivo para a loira fazer questão de contribuir com uma tarefa que, para ela, deveria ser destinada apenas aos empregados. "Essa gente que deve limpar nossas sobras". Era o que sempre dizia e agora estava ali. Com as mãos frias e cobertas por espuma, finalizando o trabalho na última taça.— A Giovanna poderia cuidar disso, mamãe. — Matheus enxaguava alguns pratos, estando ao lado da mulher, dividindo uma gigantesca pia dupla de mármore negro e brilhante.— Sua noiva precisa descansar. E eu… Queria ficar mais algum temp
A loira os observava da biblioteca. Os olhos de Lucinda brilhavam de ciúme, enquanto sua expressão se fechava pela incapacidade de interferir. Poderia interrompê-los, mas reconhecia que estava ultrapassando todos os limites e, além do mais, ela não estava disposta a responder perguntas. Letícia era a maior mancha em sua família. A Albuquerque mais velha não poderia correr o risco de Giovanna perceber mais detalhes sórdidos, não por enquanto. A morena era esperta, Lucinda tinha que reconhecer e agir de maneira mais cautelosa. Queria aquela alma derrotada.— Você não me disse como o acidente aconteceu. — Giovanna comentou, sentada em uma cadeira de frente ao noivo. Os olhos de Matheus buscaram um ponto qualquer. Desviando-se da preocupação da morena.— Eu não go
Chegaram à sala. William não estava mais ali. O detalhe não incomodou Giovanna, na verdade ela se sentiu mais tranquila por não ter que olhar para a expressão irritante do doutor.— Vou buscar as chaves em meu quarto. Aguarde um momento, sim?!Giovanna concordou e viu a sogra subir as escadas. Agora era apenas ela e o salão. Sozinha naquele lugar gigantesco, a morena se sentiu mais uma vez ansiosa. Desejava sair daquela casa, definitivamente, nem que fosse por algumas horas. Viver isolada e experimentando tantos problemas também estava afetando sua respiração. Qualquer sensação de desconfortável, por menor que fosse, ela passava a respirar mais rápido, de maneira mais curta. Começava a acontecer. Por isso seguiu até a porta de entrada. Ao abri-la, sentiu o alí
Suas mãos firmes contra o volante estavam trêmulas, o olhar inundado por sentimentos se mantinha fixo sobre o trio. Giovanna, apesar de tudo, já não estava tão nervosa, precisava manter uma mente centrada para lidar com a situação. O clima não contribuira. Agora seu corpo chacoalhava pelo frio, reagindo furiosamente à baixa temperatura da madrugada.Os olhos escuros encaravam a velha maldita, o doutor com cara de psicopata e o seu noivo endemoniado. Eles retribuiam o olhar, enquanto o último carregava consigo algo como um manto escuro. Matheus estava vestido e já insistira inúmeras vezes para que a morena saísse do carro e se vestisse também. Desejando evitá-lo ao máximo, a resposta dela sempre se resumia às mesmas três palavras "Cai fora daqui!"— Não podemos te deixar sozinha. Vamos, minha querida, entre. Já passou. — Lucinda tentava convencê-la inutilmente. Sabia disso. Estava claro que tudo o que Giovanna desejava era vê-la desaparecer, carregando consigo aquel
As batidas eram pesadas, vibravam. Dentro do quarto, Giovanna ouvia o som retumbar, assistia a porta estremecer. A morena não desejava abrir aquela maçaneta, a fechadura estava trancada. Ela sabia quem estava do lado de fora. Era ele, William que batia de maneira insistente. De pé, a psicóloga olhou para a tela do seu celular: nove da manhã. Cedo! Ela já havia ligado para Cláudia, uma de suas amigas. Deveria tê-lo feito há tempos, mas deixou as coisas correrem tortas e agora estava daquele jeito, sentindo-se encurralada.Antes ainda acreditava que haveria alguma salvação, afinal, por mais estranho que fosse, ainda era aceitável. Agora… Ela aceitaria ser chamada de louca, ela mesma se sentia enlouquecendo. Cláudia teria total liberdade para pensar dessa forma. Ouvir a amiga confessar que o noivo havia se transformado em uma criatura
O retorno à mansão foi feito embaladdo pelo som fúnebre das gotas pesadas da chuva. O mundo colapsava mais uma vez e, como esperado, não havia qualquer sinal no celular, Giovanna já desistira de buscar por isso. Sem trocar palavras, a dupla seguiu. Assim que chegou à casa, a morena subiu para seu novo quarto, ignorando qualquer presença, trancando-se mais uma vez, agora para poder lamentar todo seu infortúnio no silêncio e sem ser incomodada.Manter-se centrada em uma situação como aquela mostrou-se quase impossível, mas ela tentou organizar sua mente. Precisava avisar Cláudia. Ou talvez não precisasse. Se a situação não se resolvesse como esperado, sua amiga certamente chamaria a polícia. Era esse o combinado. Giovanna só precisava esperar e se manter sã. A chuva