Parte 3...
Disse que queria saber como uma pobretona fazia sexo, nada demais, apenas diversão momentânea. Que tinha pena dela. A chamou de mentirosa, interesseira e vagabunda.
Ela não recordava de ter ouvido mais nada depois disso. Foi muito duro na hora em que aconteceu. Não sabia nem como tinha conseguido sair dali. Mas recordava bem de ouvir as risadas dos três atrás de si.— Vagabunda, aproveitadora - Márcia gritava — Meu irmão só estava se divertindo. Ridícula! - gargalhou.Anelise nunca se esquecera do quanto foi triste chegar em casa e contar tudo a avó. Lourdes ficou muito triste e com medo do que a mãe dele, Luíza, poderia fazer.Depois de pensar muito, nervosa como estava, ela ajeitou o que podia, comprou uma passagem barata e a enfiou dentro do ônibus antes que a polícia batesse em sua porta e a levasse presa.Lourdes não iria suportar ver a única neta ser presa. Seria demais para ela e sabia que era tudo uma grande mentira. Mas elas não tinham como se proteger daquela gente poderosa.Anelise não conseguia acreditar que o mesmo homem que a pedira em casamento dias antes, estava lhe dizendo aquelas palavras. Foi um golpe muito duro.— Por que não desiste dessa negociação? - Hugo perguntou sereno — Não é como se você precisasse realmente comprar a empresa. Deixe que eles comprem e nós podemos fazer acordos novos com outras concorrentes.— Eu quero ganhar essa - andou até ele — Não acredita que eu possa vencer?— Não se trata disso - ele se recostou — Sabe que aquelas pessoas não são de confiança. Mathias Mazzaro vai brigar. E muito.— Pois que brigue - mexeu o ombro.Ela voltou para o ponto onde estava. A chuva castigava a cidade. Parecia ser mais tarde do que era mesmo. As nuvens pesadas se moviam devagar, escurecendo as ruas lá embaixo. Os carros passavam com seus faróis acesos e as pessoas se encolhiam embaixo de seus guarda-chuvas, procurando abrigo do vento que soprava forte.Seu coração se sentia assim, nublado, toda as vezes em que pensava em Mathias.Ela agora era uma mulher forte, não mais uma garota fraca. Quando Haroldo lhe ofereceu um mundo diferente, ela pegou a chance com unhas e dentes.Estudou com afinco, aprendeu etiqueta, idiomas diferentes, entendeu como era receber com elegância e capacidade e se aventurou nos negócios, desenvolvendo um talento que não sabia ter, mas que seu marido percebera rápido.Mudou seu comportamento e sua aparência. Buscou ser outra pessoa, outra mulher.Haroldo contratou professores e especialistas para ensiná-la como funcionava sua nova vida e o que ela teria dali em diante. Foi uma mudança radical.Difícil e necessária.Ela devolveu seu investimento não apenas com gratidão, mas com todo seu interesse e dedicação e aprendeu cada coisa que foi colocada em sua frente de modo ávido. Foi desafiador.Se tornou excelente nas finanças, por isso Haroldo lhe deixou o comando. Ele sabia que ela estava pronta.Ela mudou da água para o vinho. Seu modo de pensar e agir mudou, era outro. Até sua aparência estava diferente, tinha outra postura, elegância. Após ter dois filhos ela se mantinha em forma como se nunca tivesse engravidado. Mantinha a saúde física com exercícios e boa alimentação. Adicionou pilates, dança e natação e suas curvas se acentuaram, fazendo-a parecer mais jovem.— Fico preocupado que volte para lá sozinha - Hugo suspirou — E além disso, você ainda está se recuperando do susto com as crianças. Elas estão lhe dando muito trabalho nos últimos meses.— Isso não vai me impedir de ir - ela afirmou.Hugo era dez anos mais jovem do que o irmão e doze mais velho do que ela. Apesar de ter sido contra o casamento dela com o irmão, com o tempo eles se tornaram amigos, mas não poderia dizer que eram íntimos de verdade.Em muitas coisas eles pensavam e agiam de modo diferente, o que às vezes causava um atrito entre eles, mas nada grave. Ela tinha um jeito mais ousado e moderno de pensar sobre como gerir os negócios. Já Hugo era conservador.— Não seria bom esperar um pouco mais? - ele se mexeu na cadeira inquieto — Talvez mais um ano e ver como as coisas vão ficar?— De forma alguma - ela respondeu de imediato e segura — Não vou ter outra chance como essa. Não posso deixar que se recuperem. Acho ótimo que briguem. Vai me dar mais prazer quando eu tomar a empresa deles - entortou a boca — Está tudo convergindo para um único ponto. Não vou perder ou atrasar meu plano de expansão porque aquela família está envolvida. Eu quero esse negócio para mim - fez uma cara pensativa — Eles estarem no caminho é apenas um bônus.Ela não iria deixar que Hugo mudasse sua ideia. Era uma chance única. E não tinha procurado por isso, apenas acontecera.— E o que vai fazer com a casa?— Vou resolver quando chegar lá e depende também do que for acontecendo. Já está no meu nome. Vovó já tinha feito a mudança há um tempo atrás.— Isso facilita.— De qualquer forma, ela já era minha. Eu paguei todas as dívidas da casa há cinco anos e minha avó já dizia que me pertencia realmente, era só burocracia - enrolou uma mecha do cabelo ruivo nos dedos — Ninguém sabe o que aconteceu comigo quando saí de lá - fez um bico de irritação — Apesar das fofocas e mentiras, ninguém tem ideia da verdade e eu quero que continue assim, vai ser melhor para meu plano.— Vai pegá-los de surpresa - ele assentiu com a cabeça.— A ideia é exatamente essa - ergueu o queixo.— Isso é vingança - ele disse o óbvio.— E porque não me vingar? - fez uma cara irônica — Seu irmão era contra vingança. Ele dizia que fazia mal para o espírito, no entanto ele chegou a se vingar deles de certa forma.— E você não concorda com ele?Parte 4...— Por um tempo eu concordei - ela deu de ombro — Mas passei a observar que os pequenos atos dele influenciavam nos negócios daquela gente - encheu o peito de ar — E isso mudou, agora que a oportunidade surgiu. Eu não procurei por eles. Aconteceu. Porque não aproveitar o que o destino me trouxe?— Mas, tanto tempo depois? - levantou e se aproximou — Já passaram tantos anos, Anelise. Seu coração não está curado?Ela se virou para o cunhado com um brilho estranho no olhar, apertando os olhos.— Não! - ela respondeu depressa e categórica, balançando a cabeça — Nem se passarem cem anos, eu vou esquecer o que me fizeram. Você sabe o que eu sofri, Hugo - ela estremeceu — Eu quase perdi meu filho - engoliu pesado — Isso não é algo que se perdoe. Não tenho sangue de barata... Não mais.— Eu entendo você, mas me preocupa mesmo assim - enfiou as mãos nos bolsos — Mas tem que levar em conta que isso é passado. Meu irmão fez tudo por você e amou seu filho como se fosse dele.— Eu sei be
Parte 5...— Não seja exagerado. Eles são inofensivos e bem calmos.— Inofensivos? Sei bem - fez um som de descaso — Como pode deixar que ele tenha uma cobra? E a Bia? Uma aranha horrível e peluda - estremeceu o corpo de modo exagerado.— Peluda até que ela é mesmo, mas não é horrível. Eu até que a acho bonita - riu baixinho.— Seja como for, se quer que eu visite a casa, aquelas coisas precisam estar presas.— Tudo bem. Eu aviso a Ludmila que deixe os animais trancados quando você for lá.— Os camaleões também - apontou — Não quero que comam minha perna.— Credo - ela riu — Camaleões são vegetarianos. O máximo de carne que eles comem é uma mosca ou um gafanhoto. Você exagera em tudo, Hugo. De qualquer forma, eu não vou me demorar. Só vou ficar por dentro das coisas como estão por lá e tirar vantagem, é claro.— Cuidado, sabe que a família é ruim. Mathias pode estar esperando você aparecer.— Ele não sabe que eu sou a viúva de Haroldo Medeiros Ferroso. O fato de seu irmão me chamar de
Parte 6...Ela passou o resto dia pensando no que Hugo lhe dissera. Era claro que ele não aprovava suas ações, mas poderia tentar ver que a questão maior era ter o controle dos negócios.A pequena companhia Free Carnes já estava quase nas mãos dela, só faltava o alvo maior que era a empresa dele.Estava guardando as roupas simples que havia comprado nas malas usadas que Ludimila lhe dera para levar. Ela não entendera nada quando quis comprar suas malas velhas e ela fez um breve resumo do que queria. Não contou detalhes pois isso não importava, mas a informou de que seria um tipo de espiã.Ludimila riu, mesmo não entendendo nada do que ela dissera. O importante era ajudá-la.— Pode ficar com elas, são velhas.— Eu vou pagar por elas, assim poderá comprar outras.— Tudo bem, então - sorriu e saiu do quarto.— Mami... Onde “cê” vai? - Beatriz subiu na cama carregando seu velho urso de pelúcia azul.— Mamãe vai fazer uma viagem de trabalho.— E vai demorar?Ela olhou o rostinho lindo de
Parte 7...— O Alan tem - fez um biquinho.— Porque eu sou mais velho e sou homem - disse sério.— Não é porque você é homem, meu amor - ela disse — É porque você tem quase dez anos e me mostrou que é responsável. Sua irmã pode ter uma também, mesmo ela sendo mulher - fechou uma das malas — Homens e mulheres são capazes de fazer a mesma coisa.— Mas os homens são mais fortes.— Homens e mulheres são iguais, Alan. As diferenças existem por igual em todos - o ensinou — Há mulheres que são mais fortes do que alguns homens no físico e na capacidade mental. A diferença é única, não é geral. Não se avalia a capacidade pelo gênero.— É sim - Bianca fez uma cara engraçada — Papai disse que mamãe era mais forte do que ele - balançou o cabelo.Ela sorriu emocionada.— Você lembra do que o papai dizia, meu amor? - a puxou para um abraço apertado.— Às vezes eu lembro - ela passou os bracinhos pelo pescoço da mãe e deitou a cabeça.— Eu também lembro, mãe - ele se agarrou a ela também.Momentos c
Parte 8...— Agora vamos ver quem não vai dormir - Felipe riu.— Me conta uma história, Felipe?— Qual você quer?— A do herói japonês.— Que história é essa? - Anelise alisou a cabeça do filho e o beijou na bochecha.— O Felipe está me contando um monte de histórias, mãe - ele riu — Essa ainda falta terminar.— Vou contar só uma e você vai dormir - Felipe avisou.— Certo.Felipe o colocou no chão.— Você não deveria viajar agora. Ainda está se recuperando - falou para ela.— Eu também acho - Ludimila pegou Bianca no colo — Dê um beijo de boa noite na mamãe e vamos para o quarto.— Boa noite, boneca - a beijou — Durma bem.Felipe ainda pediu que ela adiasse ou o levasse com ela, mas Anelise negou.— Sou seu guarda-costas - lembrou-a.— E é excelente - tocou seu ombro — Mas prefiro que fique ao lado das crianças.— E a gente vai brincar - Alan o abraçou.— Viu só que serviço bom? - ela riu — Onde vai ganhar um abraço gostoso assim?— Só mesmo aqui - ele riu e saiu levando Alan pela mão
Parte 1...Mathias estava focado no documento aberto em sua tela do notebook. Há dois dias estava ocupado com a burocracia da empresa, o que era uma chatice e que o mantinha ocupado até demais para o gosto dele, que preferia ficar no campo.Sua secretária bateu na porta e abriu um pouco.— Entre, Priscila.Ela entrou trazendo uma bandeja pequena com café e colocou a xícara na mesa ao lado do notebook.— Tem duas chamadas de sua prima, Camila - informou.— Na certa quer me pedir outro empréstimo - tirou os óculos.— Ela disse que tem algo importante para lhe falar. Pediu que ligasse para ela assim que possível.Camila era sua prima em segundo grau e tinha uma língua maior do que o corpo. Adorava três coisas. Dinheiro, fofoca e homem. Não se dava bem com nenhum deles.Ele mesmo já a ajudara com um empréstimo que ela levou quase três anos para pagar de volta. Mas não era de ligar para ele no trabalho. Ficou curioso.— Obrigado, Priscila. Vou ligar para ela.— Ok. Volto daqui a pouco para
Parte 2...Ela recebia uma pequena pensão do governo pelos anos de trabalho na fábrica de sapatos, mas depois que Anelise se casou com Haroldo, começou a receber uma mesada que ele lhe enviava. No início ela se negou, porém Haroldo era ótimo para convencer os outros e ela aceitou. Isso fez com que vivesse mais tranquila, sabendo que a avó não tinha mais problemas com dinheiro.Anelise não sabia bem quanto tempo ela ficaria na cidade, mas esperava que fosse pouco. Só o suficiente para finalizar seu plano e nem um dia a mais.O quarto que tinha sido da avó ficaria para ela agora e o dela iria montar um pequeno escritório para poder trabalhar e falar com a família. Apesar de estar longe, não deixaria de ficar ligada no que acontecia por lá.Não era nada fácil estar ali após todos os anos e passou um bom tempo chorando, deitada na cama da avó, abraçada ao seu travesseiro. Chorou tanto que ficou sem lágrimas.Respirou fundo. Ela sabia de quem era a culpa por não ter cuidado da avó como s
Parte 3...Ela foi irônica. Ele ficou rígido.— Vim confirmar se era você. O que faz aqui na cidade?— Pensei em aproveitar que tive que voltar, para roubar sua família de novo - foi mais irônica e cruel na piada, lhe devolvendo o olhar frio na mesma moeda — É uma boa hora para roubar mais coisas - indicou a casa com a cabeça — Agora tenho onde esconder melhor.Ele ficou incomodado com a resposta e enfiou os dedos no cabelo, o sol brilhando entre os fios. Incrivelmente bonito, ela pensou. Mas conseguiu se segurar do impacto de vê-lo e manter o semblante calmo e sem mudanças.Ela lembrava como era enfiar os dedos naquela cabeleira macia e farta. Sempre gostou de seu cabelo.Ele soltou um suspiro fundo.— Três semanas depois de tudo, Jason voltou até nossa casa e confessou que você nunca roubara nada.Ela balançou a cabeça. Jason era um dos supostos amantes que a mãe dele pagara para mentir e criar histórias sobre ela. De acordo com o plano nojento e perverso dela, Anelise tinha mais d